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Depois do Mensalão— o ano de

No documento Direito, cultura POP e cultura clássica (páginas 70-76)

Mas, poder-se-ia argumentar, o mensalão não despertou um interesse pelo Su- premo que persistiria depois do julgamento? Ou seja, a população não se acos- tumou a tratar cotidianamente do Supremo, fazendo com que ele se mantenha na pauta diária da mídia? Neste caso, a Ação Penal 470 não seria um evento isolado, mas apenas uma continuação no movimento de maior cobertura midi- ática do Supremo. A hipótese é plausível, mas não é o que mostram os dados de alguns dos principais jornais do país. De acordo com eles, o auge da cober- tura midiática se deu em 2012, ano principal do julgamento, tendo as menções ao STF se mantido altas, embora menores, em 2013, ano em que foram julgados os embargos infringentes, também durante alguns meses.

Não obstante, em 2014, ano em que o Mensalão não foi pauta do Supremo, a cobertura midiática sobre a Corte caiu, voltando a patamares similares aos do ano anterior ao julgamento, como pode ser visto abaixo:

*Pesquisa realizada por meio da busca do termo “STF” no acervo online dos jornais O Globo, Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo.

*Pesquisa realizada por meio da busca do termo “Supremo” no acervo online dos jornais O Globo, Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo.

É claro que, com apenas um ano após o julgamento, e especialmente por se tratar de ano eleitoral, essa queda pode não ser deinitiva. Mas, em regra, mesmo os casos de alto impacto da Corte acabam por ser objeto de destaque apenas por alguns dias, antes, durante e depois do julgamento50. Não houve, até o momento, caso que precisasse de tanto tempo da Corte e, simultanea- mente, despertasse tanto interesse da sociedade, dando tamanho destaque ao Supremo e seus ministros.

Com a divulgação da operação Lava-Jato51, e a possibilidade do evolvi- mento de políticos e empresários renomados, é possível que haja, nos pró- ximos anos, um novo caso que atraia a atenção de todos para o Supremo. Há, no entanto, diversos fatores a serem considerados, como a possibilidade de desmembramento do inquérito e do caso, o que levaria muitos réus para longe do STF.

Não apenas isso, dada recente alteração do Regimento Interno da Corte, o julgamento agora deverá ser feito por uma das Turmas da Corte, e não por seu plenário. Como as sessões das turmas não são televisionadas, há uma chance de, caso não haja mudanças até o julgamento, haver uma redução de transpa- rência, um dos primeiros itens ressaltados neste artigo como uma das causas para o aumento da cobertura midiática e aumento de representações sobre o Supremo. Se essa possibilidade se concretizar, sem acesso ao desenrolar do julgamento, o interesse da mídia será o mesmo? Sem imagens dos ministros, a

50 Como ocorreu, por exemplo, com os casos sobre aborto de feto anencefálicos e cotas ra- ciais em universidades públicas.

51 Operação da polícia federal que trata de suposto esquema de corrupção e propina em que estariam envolvidos políticos, importantes empreiteiras brasileiras e a Petrobras.

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atenção da população ao tema será igual? Como essa mudança inluenciará a transmissão de informações sobre o julgamento?

Independentemente destas respostas, é certo que o Supremo continua a julgar diversos casos de interesse nacional, e a mídia continnua a retratá-lo com frequência, como fazia antes do Mensalão. Não é mais possível voltar à década de 90, com um Supremo coadjuvante, pouco conhecido da mídia e da popu- lação. O diálogo entre Supremo, mídia e cultura é um caminho sem volta. Mas não houve, até o momento, casos em que esse diálogo tenha sido tão intenso quanto no Mensalão. Resta saber, agora, como esta conversa vai continuar.

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