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Desafios e fatores críticos para o desenvolvimento do Enoturismo

3. Enoturismo

3.5. Desafios e fatores críticos para o desenvolvimento do Enoturismo

Como se demonstrou anteriormente, o desenvolvimento do Enoturismo pode resultar numa diversidade de benefícios para todos os agentes intervenientes. Porém, existem vários fatores que condicionam o seu desenvolvimento. Tal como foi mencionado anteriormente (ver Capítulo 3.2.1), muitos dos destinos enoturísticos situam-se em zonas rurais e de baixa densidade demográfica, caracterizadas também por um baixo nível de desenvolvimento turístico e uma escassa oferta complementar (Torre et al; 2008:86). A acrescentar a este contexto, existe também uma falta de experiência e competências sobre o Turismo, por parte dos viticultores, e uma inadequada promoção dos recursos enoturísticos que impossibilita a sua estruturação e valorização (Inácio; 2008:134, Torre

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Neste subcapítulo, elencam-se os principais desafios para o desenvolvimento do Enoturismo. Estes são: cooperação, conflitos do uso dos solos, legislação e novas gerações e novos públicos.

Para que o Enoturismo seja implementado com sucesso em determinada região, é necessária a cooperação entre o sector vitivinícola e o sector turístico e uma colaboração ativa por parte da comunidade envolvente (Getz; 2000, Hall et al.; 2000, Pina; 2010). Para muitos empresários viticultores, o Enoturismo é entendido como uma atividade secundária, na qual estes apenas lucram marginalmente, sendo o sector turístico o maior beneficiário. Por este motivo, existe uma falta de interesse por parte dos viticultores em desenvolver o Enoturismo, já que gozam de notoriedade e prestígio vinícola (Inácio; 2008:132).

Com o desenvolvimento do Enoturismo, podem surgir conflitos devido à utilização dos solos. Ou seja, por um lado, existe a pressão para o desenvolvimento turístico e imobiliário, por outro, encontra-se a proteção das áreas de vinha e das atividades agrícolas (Getz; 2000:12, Inácio; 2008:134).

Relativamene à legislação, em muitos países, as bebidas alcoólicas estão sujeitas a uma elevada carga fiscal, além de restrições comerciais, campanhas de condução sob o efeito do álcool, licenças para servir bebidas alcoólicas em estabelecimentos e eventos e ainda questões relativas à idade legal para beber, o que condiciona o desenvolvimento da atividade (Getz; 2000:12).

Em relação às novas gerações e novos públicos e de forma a garantir o desenvolvimento a longo prazo do Enoturismo, é necessário formular e implementar estratégias para conquistar novos públicos, e mais jovens. Desta forma, o Enoturismo deve ressaltar a sua ligação com a cultura e o rural, mantendo uma imagem associada a uma vida e ambiente saudável, à autenticidade, estilo de vida, às artes e sofisticação. A imagem “verde” e “amiga do ambiente” permitirá integrar públicos mais selecionados e com maior poder económico (Getz; 2000; Inácio; 2008:212).

De igual modo, importa referir os fatores decisivos para o desenvolvimento dos destinos e empresas enoturísticas. De acordo com vários autores (Getz et al; 1999, Getz; 2000:88, Var et al; 2006, Inácio; 2008:161), os fatores decisivos para o desenvolvimento do Enoturismo são:

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 Reputação de vinhos de qualidade;

 Empresas vinícolas orientadas para o turista;  Experiências vínicas únicas;

 Atrações e serviços;  Proteção dos recursos;

 Acessibilidades e sinalização;

 Concentração em qualidade e segmentos de alto rendimento;  Parcerias;

 Programas especiais e eventos;  Pacotes turísticos organizados;

 Sinergia de vinho e estilo de vida (Comida, Património e Lazer);  Promoção da imagem de marca (Branding).

Recai especial atenção para o último fator apresentado – Promoção da imagem de marca. A promoção da imagem de marca permite não só a diferenciação quer do produto, da empresa e da região, relativamente à concorrência, como também a sua valorização (Getz; 2000). De forma a prosperar no mercado, um destino deve construir uma imagem de marca que reúna as suas qualidades, a sua essência física, paisagem, pessoas, cultura e o seu ambiente (Dawson et al.; 2011), o que se aplica também às empresas vitivinícolas. Getz (2000:196) indica que é necessário uma combinação de valores funcionais e emocionais para criar uma marca. O passado, as histórias das pessoas, dos lugares e os processos de vinificação são particularmente importantes na promoção das experiências enoturístcas, pois estimulam crenças, emoções e provocam comportamentos (Dawson et

al.; 2011).

Neste sentido, criar uma base de dados sobre os visitantes, realizar estudos e registos de mercados alvo e da concorrência, e desenvolver uma relação de longo prazo com os visitantes são atividades de extrema importância para uma empresa enoturística. Pois, não só permitem conhecer o mercado como também permitem desenvolver produtos e serviços que satisfaçam as necessidades e desejos dos seus visitantes (Hall et al.; 2000:138). Além disso, criar e desenvolver uma relação com o visitante é considerada uma forma de alcançar a sua fidelização (Inácio; 2010:47), ou seja, este não só continuará a consumir o vinho da região, mas também partilhará as imagens, histórias e experiências com potenciais visitantes (Dawson et al.; 2011). Uma vez conhecido o público-alvo, é

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fundamental comunicar e informar sobre a atratividade em questão. Brochuras, feiras nacionais e internacionais são uma grande oportunidade para o fazer. No entanto, construir e promover um website com informação detalhada sobre o vinho e a região, e estar ativo nas redes sociais é considerada uma estratégia promissora (Var et al.; 2006:15, Bruwer & Thach; 2013:223). Atualmente, a internet é considerada uma importante ferramenta de promoção de vendas para todas as empresas e destinos enoturísticos dando visibilidade às práticas e modalidades existentes, contribuindo, simultaneamente, para a divulgação da atratividade das regiões (Inácio; 2008:266, Barber, et al.; 2008:46) e para a otimização dos canais de distribuição. Além disso, considera-se que a internet é capaz de melhorar significativamente a experiência dos turistas através de aplicações móveis (Cabal; 2014:16). As aplicações móveis, mediante smartphones e tablets, permitem o acesso, fácil e instantâneo, a informação dinâmica e adaptada ao contexto do destino e/ou empresa a visitar, e, ainda, a interação entre turistas e organizações turísticas (Wang et

al.; 2012:371, Ceh-Varela & Hernandez-Chan; 2015:357). Graças aos componentes dos

dispositivos móveis (como GPS, acelerómetro, giroscópio, entre outros), as aplicações podem apresentar serviços baseados na localização dos turistas, fornecer informações adicionais, apresentar sugestões personalizadas de acordo com os interesesses do utilizador, além de permitirem a partilha de conteúdos nas redes sociais (Ceconello; 2012:1, Wang et al.; 2012:372, Ceh-Varela & Hernandez-Chan; 2015:354). Por conseguinte, considera-se que as aplicações móveis representam uma mais-valia para a satisfação da experiência do turista (Karanasios et al.; 2012:166). No âmbito do Enoturismo, é possível encontrar aplicações de recomendação e planificação de rotas e atividades enoturísticas (Borràs et al.; 2012:219).

O Enoturismo é uma importante atividade seja para o setor vitivinícola, para o setor turístico como para as regiões vinícolas. O seu conceito e práticas encontram-se todavia em evolução, acompanhando as diferentes características das regiões onde ocorrem, embora a sua prática mais comum seja através das Rotas do Vinho. Da mesma forma que as regiões vinícolas apresentam diferentes características, também são reconhecidos diferentes perfis de enoturistas. O estudo do enoturista torna-se, então, fundamental para o desenvolvimento de experiências enoturísticas e atividades de Marketing contribuindo para o crescimento da atividade enoturística. De igual forma, é necessário compreender os obstáculos ao desenvolvimento do Enoturismo com a finalidade de maximizar os benefícios resultantes desta atividade para todos os agentes envolvidos.

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