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Desafios para o Nível Meso Curricular – Escolas / Agrupamentos

Capítulo III – Experiência Chave de Investigação

1. Desafios para a Organização Curricular no º CEB

1.3. Desafios para o Nível Meso Curricular – Escolas / Agrupamentos

meso curricular consiste na autonomia62 da escola/agrupamento, percecionada por Morgado, em duplo sentido. Por um lado, a autonomia decretada pelo estado em matérias relevantes como a organização de atividades mas dependentes de excessivas normas de regulação, e por outro, a autonomia construída pela própria escola, que sem menosprezar os objetivos propostos pelo nível macro, se baseia no “reconhecimento de capacidades autónomas quer à organização escolar quer a cada um dos elementos que a integram”(Morgado, 2000, p. 53), permitindo a partilha de poderes e a criação de espaço para que a escola se organize e crie os próprios mecanismos de atuação. Como tal, considera o autor que a autonomia seja vista “numa perspetiva de territorialização das políticas educativas e reconhecida como um valor intrínseco à própria escola ou agrupamento de escolas, (...) constituindo não um fim em si mesmo, mas um meio de perseguir em melhores condições as finalidades educativas” (Morgado, 2000, p. 95). Segundo Gimeno (1989, citado por Morgado, 2004, p. 434)esta autonomia curricular justifica-se não apenas pela necessidade de “um plano de aprendizagem diferenciado para os alunos, em função das suas características pessoais, dos seus interesses, das suas raízes culturais de referência” existindo a possibilidade de uma certa “heterogeneidade no currículo que se aborda numa escola ou grupo de escolas”, mas também pela facilidade que a comunidade escolar tem em manter uma certa margem de opções pedagógicas. Opções estas atualmente desvalorizadas, tanto pelo nível central de decisão como pelos próprios agentes educativos, como mais à frente será discutido.

Assim, este poder reconhecido à escola de tomar decisões nos domínios estratégico, pedagógico, administrativo, financeiro e organizacional, exige que se tenha em consideração as diferentes dimensões de gestão escolar bem como a relação entre os vários níveis administrativos. Portanto, a escola deve construir a sua autonomia a partir da comunidade em que se insere, e de situações concretas, materializando esta autonomiaa partir da conceção e operacionalização de

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Entende-se por autonomia “a capacidade que qualquer organismo/entidade, individual ou coletiva, detém de se poder reger por leis próprias, de atuar, de se orientar, de resolver os seus problemas, sem ter necessidade de recorrer a outrem, pressupondo, portanto, um determinando grau de independência, não vituperando nunca os postulados mais elementares da responsabilidade” (Morgado, 2000, p. 49).

umProjetoEducativo (PE) próprioe de outros instrumentos como o Regulamento Interno (RI) e o Plano Anual de Atividades (PAA). O PE possibilita a explicitação dos princípios, valores, metas e estratégias segundo os quais a escola pretende atuar durante os três anos seguintes. O RI permite a definição do regime de funcionamento da escola e de cada um dos seus órgãos de administração e gestão, das estruturas de orientação e dos serviços de apoio educativo, para além dos direitos e deveres dos membros da comunidade escolar. O PAA é o documento de planeamento, elaborado e aprovado pelos órgãos de administração e gestão da escola, que, em consonância com o PE, pretende definir os objetivos, as formas de organização e de programação das atividades gerais(Lemos & Silveira, 2001, p. 32). Uma vez que o PEé odocumento orientador de todas as ações que a escola assume e, portanto, o núcleo central de referência e enquadramento da mesma, podemos refletir que a sua concretização apenas terá eficácia quando existir um efetivotrabalho de equipa. No sentido de tornar o documento na justificação plena de todas as opções pedagógicas tomadas, como Pacheco (2000, citado em Morgado, 2004, p. 436) reforça, ao invés do simples cumprimento dos normativos redigidos pela administração, pois, caso contrário, não deixará de ser uma simples formalidade administrativa sem qualquer significado para a comunidade educativa(Morgado, 2004, p. 429).

Portanto, também compete à escola e agrupamento de escolas a gestão de currículos, programas e atividades curriculares, através de uma coordenação consoante o nível macro mas também o nível micro. O que poderá permitir componentes curriculares regionais e locais e, portanto, facilitar a conceção de experiências e inovações pedagógicas de acordo com o desenvolvimento de um currículo emergente. Tornando-se ainda possível a gestão de espaços/tempos escolares assim como a articulação curricular, prevista no DL n.º 115-A/98 através de conselhos de docentes, a qual “visa o desenvolvimento de planos de estudos que, através de uma gestão equilibrada de programas definidos a nível nacional e de componentes curriculares de âmbito local, assegurem aos alunos a aquisição das competências definidas para o final de cada ciclo” (Lemos & Silveira, 2001, p. 95).Ainda no que diz respeito à gestão tanto de programas como de conteúdos, importa clarificar o nível de autonomia que o ME proporciona aos agrupamentos, escolas e professores tal como descrito na lei. O que de outra forma nos levaria a

considerar como austero aquilo que está definido pelo ME, tendo em consideração a forma como muitos dos professores se têm submetido a planificações e avaliações mensais, uniformes a todo o agrupamento. Este facto foi observado em contexto de prática educativa (1.º CEB), num agrupamento em que a dispersão geográfica é evidente, a existência da contínua planificação e avaliação mensal transversais para todas as escolas do agrupamento, independentemente dos diferentes contextos e heterogeneidade dos públicos alvo, sem ter em consideração as particularidades de cada um que obrigariam a uma gestãocurricular como se encontra previsto na lei. Ainda que esta gestão seja de conhecimento e acordo de todo o agrupamento, em reunião de conselho, a equipa de estágio verificou a dificuldade, por parte de vários professores, em dar continuidade ao trabalho até então desenvolvido. Foram várias as questões que surgiram, desde a inadequação da planificação mensal ao contexto de cada turma, dificultando o aprofundamento de interesses locais ou o respeito pelo ritmo de cada aluno. No que diz respeito à avaliação, desde os conteúdos em avaliação aos instrumentos utilizados, esta revela a incoerência existente entre planificação previamente decidida em agrupamento e a necessidade de práticas diferenciadas, levando a discussões que levantam as questões que aqui se debatem, a autonomia de cada nível de gestão curricular em prol de um currículo emergente. Uma das questões levantadas prende-se com a adaptação dos instrumentos de avaliação, quer ao nível de conteúdos quer de duração das provas. No entanto, estas alterações são realizadas na clandestinidade uma vez que o agrupamento pressupõe o controlo de tais variáveis para comparação de resultados, mais uma vez sem tomar em consideração essas e outras variantes de cada contexto em particular. Surge, assim, enquanto desafio a este e a outros agrupamentos, a autonomia concedida pelo ME, quanto à planificação e avaliação, permitindo aos professores o desenvolvimento de práticas pedagógicas diferenciadas. Consequentemente, levanta- seoutro dos desafiosrelacionados com este episódio e que realça o benefício da criação de equipas de trabalho, questão essa debatida mais pormenorizadamente na experiência-chave seguinte.

Os desafios passam também pelo aproveitamento das oportunidades existentes, importa portanto referiros contratos de autonomia que, uma vez mais, apenas se desenvolvem consoante a iniciativa da escola,segundo um processo faseado em que

lhe serão conferidos níveis de competência e de responsabilidade acrescidos, sendo estes objeto de negociação prévia entre o ME, a administração municipal e a escola. Neles devem constar objetivos e condições que viabilizem o desenvolvimento do PE apresentado pelos órgãos de administração e gestão de uma escola. Na primeira fase do desenvolvimento da autonomia, encontra-se previsto pelo artigo 49.º do DL n.º 115-A/98 a gestão flexível do currículo com possibilidade de inclusão de componentes regionais e locais, desde que exista o respeito pelos núcleos essenciais definidos a nível nacional. É ainda possível, de entre outras competências, a adoção de normas próprias sobre horários, tempos letivos, constituição de turmas e ocupação de espaços (Lemos & Silveira, 2001, p. 117).