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Os resultados da Pesquisa de Informações Básicas Municipais - MUNIC mostram-se também relevantes em relação ao descarte das embalagens vazias de agrotóxicos, que quando não são recolhidas de forma adequada tornam- se um fator de risco de contaminação ambiental, que pode ser agravado pela proximidade de residências, mananciais de abastecimento de água, como também de áreas com potencial erosão do solo.

As embalagens vazias de agrotóxicos, se destacam entre os resíduos sólidos que podem causar impacto no ambiente. Entende-se por resíduos sólidos qualquer forma de matéria ou substância, nos estados sólido e semi-sólido, que resulte de atividade industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços, de varrição e de outras atividades da comunidade, capazes de causar poluição ou contaminação ambiental (PARANÁ, 1999).

Cabe ainda acrescentar que a classifi cação das embalagens vazias de agrotóxicos entre os resíduos sólidos da Classe 1 (Perigosos, pela Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT) também não deixava dúvidas sobre a urgência de uma solução para o problema. Vários segmentos da sociedade, como entidades de classe ligadas ao meio rural, órgãos públicos, universida- des, cooperativas, entre outros, envidavam esforços para que efetivamente houvesse o descarte adequado das embalagens, culminando com a adesão das empresas produtoras e revendedores de fi tossanitários.

Assim, foi elaborada uma legislação específi ca, a Lei no 9.974, de 6 de junho de 2000, que, alterando a Lei no 7.802, de 11 de julho de 1999, propor- cionou que se cuidasse mais de perto da questão. Foi então criado o Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias - INPEV, em 14 de dezembro de 2001, que é uma organização específi ca para tratar da questão das emba- lagens vazias, de forma autônoma, com uma estrutura especializada, focada exclusivamente no tema do processamento de embalagens que depois de devidamente recolhidas serão destinadas à reciclagem ou à destruição em fornos de cimento, por exemplo, de acordo com suas características58.

Com esta prática pretende-se solucionar o grave problema ambiental representado pelo acúmulo de embalagens nas propriedades rurais, que crescendo a cada ano, não tinha até então, nenhuma proposta de solução defi nitiva. O objetivo desta lei é dar um tratamento adequado ao problema agrotóxico, atuando em todas as fases, desde a produção, comercialização e utilização até a destinação fi nal, regulando, estabelecendo responsabilidades e fi scalizando, buscando assim a solução e o controle do lixo tóxico, altamente prejudicial à natureza.

Pela legislação em vigor, Decreto no 4.074, de 4 de janeiro de 2002, os

usuários de agrotóxicos e afi ns deverão efetuar a devolução das embalagens vazias e respectivas tampas aos estabelecimentos comerciais em que foram adquiridos, ou em postos ou centros de recolhimento, observando as instru- ções constantes dos rótulos e das bulas, no prazo de até um ano, contado da

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data de sua compra, conforme consta na nota fi scal. Ao término deste prazo se remanescer produto na embalagem, ainda no seu prazo de validade, será facultada a devolução em até seis meses após o término do prazo de valida- de. Os usuários deverão manter à disposição dos órgãos fi scalizadores os comprovantes de devolução das embalagens vazias, fornecidas pelos estabe- lecimentos comerciais, postos ou centros de recolhimento, pelo prazo de um ano, após a devolução da embalagem. As embalagens rígidas, que contiverem formulações miscíveis ou dispersíveis em água, deverão ser submetidas pelo usuário à operação de tríplice lavagem, ou tecnologia equivalente, conforme orientação constante de seus rótulos, bulas ou folheto complementar.

O Gráfi co 79 nos mostra o número de municípios brasileiros segundo os diferentes destinos das embalagens vazias de agrotóxicos, conforme infor- mado no Suplemento de Meio Ambiente da Pesquisa de Informações Básicas Municipais - MUNIC. Observa-se que é grande a participação de municípios que destinam as embalagens para posto de coleta em outro município, o que evidencia o importante papel da prestação desse tipo de serviço por parte do município receptor da embalagem. Um ponto de certa forma alarmante é o número acentuado de municípios que declaram fazer o descarte em vazadouro a céu aberto, prática essa de elevado risco ambiental.

0 200 400 600 800 1 000 1 200 Número de municípios Outros V a zadouro céu aber to no município V a zadouro céu aber to fora do município Incinerador

Gráfico 79 - Destino das embalagens vazias de agrotóxicos - Brasil - 2002

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Pesquisa de Informações Básicas Municipais 2002.

Po s to fora do município Po s to recebimento no município Ater ro sanitário no município Ater ro

sanitário fora do município

O descarte seguro das embalagens vazias de agrotóxicos, embora seja determinado por lei, na prática não é observado. O abandono junto às lavouras e a queima de embalagens no próprio local de uso e o descarte em corpos de água acontecem com freqüência no campo, onde também é comum se enterrar as embalagens. Sabe-se que esse processo poderá se constituir em fonte potencialmente poluidora do ambiente podendo contaminar corpos de água, intoxicar pessoas e animais (SOARES; FREITAS; COUTINHO, 2004). As precárias condições de fi scalização em muitos estados são um dos fatores que contribuem para essa situação.

Parte desses fatos pode estar sendo revelado pelos resultados da MUNIC referentes à categoria outros, que é um dos principais destinos das embala- gens vazias, abrangendo cerca de 1 008 municípios. Embora não tenha sido abordado de forma direta no questionário dessa pesquisa, as práticas citadas podem estar incluídas na categoria outros.

Quanto à presença de central ou posto de recebimento de embalagens vazias de agrotóxicos, aproximadamente 600 municípios reportaram possuir posto ou central, o que mostra um certo grau de adequação desses municí- pios ao recebimento das embalagens vazias. Entretanto, os dados atuais do Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias - INPEV apontam para cerca da metade dos postos verifi cados na pesquisa. O fato da pesquisa não questionar a existência de cadastro ofi cial pode ter levado o informante a considerar estabelecimentos comerciais ou outros locais como unidade de recebimento.

No Mapa 14 observa-se os municípios que declararam, na MUNIC, ter uma central ou posto de recebimento de embalagens vazias de agrotóxicos e aqueles que fazem uso de posto ou central situado em outro município. Veri- fi ca-se que existe uma concentração nas Regiões Sul, Sudeste e Centro Oeste do País, onde o uso de agrotóxicos é também mais signifi cativo.

Adicionalmente, o Mapa 15 mostra a cobertura de posto de recebimento de embalagens vazias segundo os estados brasileiros. O interessante é que se verifi ca a situação dos principais estados agrícolas no País, uma vez que fornece o cruzamento com informações de área da PAM 2002. Observa-se que os principais estados agrícolas do País tem maior cobertura de posto de rece- bimento, tanto para posto no próprio município quanto para posto localizado fora. Uma exceção é o Estado da Bahia, onde a área agrícola é expressiva, e apenas cerca de 6% do total de municípios têm posto ou central de coleta de embalagens vazias de agrotóxicos, de acordo com as informações prestadas à MUNIC59.

Esse mapa possibilita também que se visualize a distribuição das unida- des de recebimento de embalagens vazias em relação à área agrícola colhida, onde Santa Catarina se destaca pela proporção de postos de recebimento, mesmo não estando entre os Estados que apresentam maior área agrícola colhida. Já o Estado de Mato Grosso, cuja área agrícola colhida é uma das maiores do País, tem uma proporção de postos de recebimento de embala- gens vazias menor. Como há uma correlação entre a área agrícola colhida e a quantidade de agrotóxicos utilizada, as regiões com as maiores áreas agrí- colas colhidas deveriam estar apresentando maiores proporção de unidades de recebimento de embalagens vazias.

No outro lado extremo quanto aos riscos ambientais, pode-se verifi car no Mapa 16 os municípios que admitiram descartar as embalagens em vazadouros a céu aberto, segundo os estados brasileiros. Ao contrário do que foi observado

59Apenas três municípios do oeste da Bahia (Barreiras, Luis Eduardo e São Desidério) representam cerca de 16% da área

agrícola total do estado, segundo dados da PAM 2002, o que mostra uma certa concentração da área agrícola nesse estado, principalmente no que se refere a produção de grãos. Como esses municípios possuem cobertura de posto ou central de coletada de embalagens vazias de agrotóxicos, a baixa taxa de cobertura de postos observada na Bahia não necessariamente sugere uma pequena adequação à lei por parte desse estado.

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Pesquisa de Informações Básicas Municipais 2002.

Mapa 14 - Municípios que utilizam postos de recebimento de embalagens vazias de agrotóxicos, segundo os gestores municipais - Brasil - 2002

Mapa 15 - Proporção de postos de recebimento de embalagens vazias e área colhida, por Unidades da Federação - Brasil - 2002

Fontes: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Pesquisa de Informações Básicas Municipais 2002; Produção agrícola municipal 2002. In: IBGE. Sistema IBGE de Recuperação Automática – SIDRA. Disponível em: <http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/>. Acesso em: ago. 2004.

Mapa 16 - Destino das embalagens vazias de agrotóxicos em vazadouro a céu aberto, segundo os gestores municipais - Brasil - 2002

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Pesquisa de Informações Básicas Municipais 2002. .

na categoria posto de recebimento de embalagens vazias, a concentração do descarte em vazadouro a céu aberto é nas áreas do Norte e Nordeste do País, o que poderia estar apontando para uma menor adequação dos municípios dessas regiões às questões atinentes à legislação de agrotóxicos.

Apesar dessa constatação, expressa no Mapa 16, hoje o Brasil é líder, ao lado da Alemanha, em retirada de embalagens vazias de agrotóxicos do meio ambiente. O Brasil recolhe 50% do material, enquanto nos Estados Unidos, o índice é de 25%. Hoje existem 230 unidades em todo o País, coordenadas pelo Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias. Nos três primeiros meses de 2004, foram recolhidas 3,8 mil toneladas de embalagens, o mesmo volume obtido em todo o ano de 2002 (LULA..., 2004).

Impactos ambientais do uso de agrotóxicos e