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as duas últimas décadas, acordos e metas fi xadas em torno

do termo desenvolvimento sustentável51 sinalizam para a

implementação de mecanismos de gestão pública e privada que controlem os impactos negativos do crescimento econômico sobre o meio ambiente e as sociedades.

A abrangência da Pesquisa de Informações Básicas Munici- pais 2002 e a heterogeneidade do Território Brasileiro se refl etem nos diferentes níveis de densidade populacional e de contribuições de atividades como a pesca, agricultura e pecuária para a economia dos 5 560 municípios pesquisados. Estas atividades, identifi cadas com o setor primário da economia e fortemente dependentes da qualidade do meio ambiente, mereceram uma análise diferenciada dos resultados do Suplemento de Meio Ambiente.

A análise que se segue focaliza as alterações ambientais apontadas pelo gestor ambiental do município em suas conse- qüências para o desenvolvimento local sustentável. Isto é, frente à importância atribuída pelo gestor à pesca, à agricultura e à pecuária, explora-se os problemas ambientais identifi cados na pesquisa enquanto entraves ao desempenho satisfatório destas atividades econômicas e, conseqüentemente, à melhoria das condições de vida das populações que delas dependem.

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O termo “desenvolvimento sustentável”, cunhado pelo Relatório Brundtland, em 1987, legitimado na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento - CNUMAD, conhecida como Rio –92, e atualizado pela Cúpula de Joanesburgo, ou Rio +10, em 2002, reafi rma o crescimento econômico como “motor do desenvolvimento”; enquanto a Rio –92 enfatizava o componente am- biental como forma de garantir a sustentabilidade do desenvolvimento, na Rio +10 o componente social passou a ter um papel determinante neste objetivo.

Começamos com uma caracterização mais detalhada das variáveis para elucidar como estas se inserem na metodologia da MUNIC, e permitem, com o enfoque proposto, analisar as atividades econômicas (pesca, agricultura e pecuária) prejudicadas por alterações ambientais e as principais causas destas alterações por município.

Cabe esclarecer, preliminarmente, que os resultados analisados refl etem o nível de informação do gestor e sua avaliação sobre os problemas aborda- dos. Estas informações, quando comparadas com cautela nos agregados por estado e regiões, poderão subsidiar o planejamento e as políticas públicas centralizadas que se direcionam para inclusão de regiões e populações no objetivo do desenvolvimento sustentável.

Adicionalmente, nunca é demais lembrar que a análise e seus resultados estão sujeitos aos parâmetros técnicos que orientam a totalidade da pesquisa, bem como ao grau de importância dada à área ambiental na estrutura admi- nistrativa do município. O informante da pesquisa é a prefeitura municipal: o próprio prefeito, o secretário do meio ambiente ou pessoa responsável pela área de meio ambiente indicada pelo prefeito. Para os principais quesitos aqui analisados a pesquisa estabelece como período de referência os 24 meses anteriores à data de coleta no campo. Assim sendo, todas as respostas devem ser interpretadas tendo em conta a ótica do gestor municipal neste espaço de tempo; mais precisamente, são informações coletadas sobre alterações ambientais que foram reconhecidas pelo gestor municipal e que prejudica- ram a pesca, a agricultura e a pecuária, desde que estas atividades fossem importantes para a economia local, segundo seu ponto de vista.

No que se refere à abrangência das atividades, alguns limites analíticos também devem ser observados: a atividade pesqueira diz respeito à pesca extrativa, não se considera a aqüicultura (criação de peixes, crustáceos, ma- riscos e outros); a atividade agrícola trata de cultivos de lavouras permanen- tes, temporárias e da prática de horticultura, o que inclui fl orestas plantadas e exclui o extrativismo vegetal em fl orestas primárias; na atividade pecuária enfatiza-se a fi nalidade econômica para a prática da criação de bovinos, suí- nos, porcos, aves, cavalos, etc., o que sugere ênfase na criação cuja fi nalidade principal é o mercado.

Diante das considerações acima, o percurso analítico que se segue pro- cura articular a heterogeneidade socioeconômica dos municípios brasileiros com os diferentes aspectos que traduzem a atuação das instâncias pública e privada na área ambiental no Brasil.52

A diminuição da quantidade ou da qualidade da água, a degradação de matas ciliares ou de manguezais, o esgotamento e a erosão do solo, são in- dicações que, ao serem confrontadas com informações internas ou externas à pesquisa, visam a reconhecer limites ao exercício da vocação natural ou econômica de uma atividade nos municípios de uma dada região ou estado da federação. Dentre as demais fontes aqui utilizadas, destacam-se: a Produ- ção Agrícola Municipal 2002 e Pesquisa da Pecuária Municipal 2002, ambas

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A análise tem como enfoque o desenvolvimento sustentável na atualidade da economia brasileira (rica em recursos naturais e geradora de desigualdades sociais e regionais), sugerindo a existência de uma questão socioambiental a ser enfrentada por diferentes instâncias do poder público e pela sociedade civil organizada.

do IBGE; e a Estatística da Pesca 2001, da Diretoria de Fauna e Recursos Pes- queiros, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA.

Finalmente, procura-se avaliar o grau de associação entre o quadro institucional da prefeitura dedicado à área de meio ambiente e o estágio de implantação da Agenda 21 e do seu fórum —refl exo da sensibilidade e parti- cipação da sociedade civil local — nos municípios que declararam problemas ambientais na agricultura e na pesca e estão situados em áreas estratégicas

do ponto de vista do desenvolvimento sustentável53 (Amazônia Legal, Bacia

de São Francisco e Zona Costeira).