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Descidas recentes dos preços das matérias-primas atenuam pressões ascendentes sobre os preços no produtor

A inflação do IHPC da área do euro continua a ser afectada pelos efeitos indirectos associados a aumentos passados dos preços das matérias-primas – em particular produtos energéticos – e à depreciação do euro, que ocorreu durante a maior parte de 1999 e 2000. Entretanto, as pressões ascendentes sobre os preços no produtor dos preços das matérias-primas quer energéticas quer não energéticas desceram. Neste contexto, esta caixa analisa a relação entre os preços das matérias-primas e os preços no produtor da área do euro.

A evolução dos preços das matérias-primas – expressos em euros – indica-nos as variações dos preços numa fase inicial da cadeia de produção, as quais poderão subsequentemente ser transmitidas aos preços dos bens e serviços finais medidos pelo IHPC. Para fins analíticos, a evolução do índice de preços das matérias-primas, compilado pelo Institut für Wirtschaftsforschung de Hamburgo (HWWA), é dividida em duas componentes: produtos energéticos e produtos não energéticos. Esta desagregação é compatível com a nova classificação aplicada pelo Eurostat, a qual separa os preços dos produtos energéticos dos preços dos bens intermédios (ver Caixa 3, intitulada “Divulgação das estatísticas harmonizadas dos grandes agrupamentos industriais em estatísticas de curto prazo”, na edição de Agosto de 2001 do Boletim Mensal). Apesar de existirem diferenças, em termos de cobertura e ponderação dos produtos, entre, por um lado, o índice de preços das matérias-primas e, por outro lado, os preços dos produtos energéticos e dos bens intermédios medidos pelo índice de preços no produtor (IPP) da área do euro, existe uma forte relação positiva entre ambos. O índice HWWA de preços das matérias- -primas é publicado muito atempadamente e, consequentemente, pode disponibilizar informação actualizada sobre a recente e provável evolução futura dos preços no produtor.

Os preços dos produtos energéticos têm um peso de quase 17% no IPP global da área do euro. A evolução de um determinante principal como os preços dos produtos energéticos é muito importante para a avaliação potencial das pressões dos custos a curto prazo sobre os preços no sector industrial. A volatilidade mais elevada dos preços das matérias-primas energéticas deve-se à elevada percentagem de petróleo bruto (92%), enquanto o petróleo em rama e a sua refinação representam apenas cerca de um terço da componente energética do IPP (no qual a electricidade tem o maior peso). Além disso, a inclusão dos impostos (com excepção do IVA), incluindo os impostos sobre o consumo, atenua os movimentos dos preços dos produtos energéticos no IPP. O abrandamento das taxas de crescimento homólogas dos preços das matérias-primas energéticas, iniciado no princípio de 2000, precedeu o abrandamento dos preços no produtor dos produtos energéticos na área do euro por altura da transição 2000/2001 (ver Gráfico A). No entanto, apesar deste abrandamento, a taxa de crescimento homóloga dos preços das matérias-primas energéticas foi de quase 60%, em média, no segundo semestre de 2000. A queda continuou nos primeiros oito meses de 2001, tendo-se

Fontes: HWWA – Institut für Wirtschaftsforschung (Hamburgo) e Eurostat.

Nota: O índice de preços das matérias-primas era expresso em ECU até Dezembro de 1998, enquanto o IPP tinha por base índices em moedas nacionais. A partir de 1999, ambos os índices são expressos em euros.

Gráfico A: Evolução dos preços das matérias-primas energéticas e dos preços da produção indus- trial de produtos energéticos

1997 1998 1999 2000 2001 -24 -16 -8 0 8 16 24 -6 -4 -2 0 2 4 6 preços das matérias-primas não energéticas (escala da esquerda)

preços da produção industrial de bens intermédios (escala da direita)

registado taxas de crescimento negativas em Julho e Agosto. A evolução recente do índice HWWA de preços dos produtos energéticos sugere, assim, a existência de nova pressão descendente sobre os preços no produtor canalizada através da componente produtos energéticos.

Para além dos preços dos produtos energéticos, uma parcela muito significativa – cerca de 32% – do IPP da área do euro consiste em bens intermédios. A evolução desta componente evidencia um elevado grau de movimentação conjunta com os preços das matérias-primas não energéticas (ver Gráfico B). Deste modo, tomando também em consideração a evolução dos preços das matérias-primas não energéticas (produtos alimentares, bebidas tropicais e matérias-primas industriais e agrícolas), surge um panorama mais abrangente relativamente à evolução mais recente e potencial do IPP da área do euro. A taxa de variação homóloga dos preços das matérias-primas não energéticas revelou uma tendência ascendente entre o quarto trimestre de 1998 e o início de 2000. Esta foi posteriormente seguida por abrandamento no último semestre de 2000 e início de 2001. No segundo trimestre de 2001, a taxa de variação homóloga das matérias-primas não energéticas situou-se em -0.9%, 20.8 pontos percentuais abaixo do máximo atingido no primeiro trimestre de 2000. Assim, os dados recentes da componente não energética do índice HWWA de preços das matérias-primas indicam a eventualidade de nova pressão descendente sobre os preços no produtor da área do euro após Julho de 2001 (o último mês para o qual estão disponíveis os dados dos preços no produtor da área do euro). É de salientar, no entanto, que quaisquer efeitos sobre os preços dos bens intermédios associados a variações dos preços das matérias-primas não energéticas podem diferir, dependendo do facto do movimento resultar de uma variação da taxa de câmbio do euro ou dos preço das matérias-primas denominadas em dólares dos EU. Uma das razões prende-se com o facto da taxa de câmbio também afectar os preços dos bens importados, incluídos no índice de preços dos bens intermédios, mas não no índice de preços das matérias-primas não energéticas.

Fontes: HWWA – Institut für Wirtschaftsforschung (Hamburgo) e Eurostat.

Nota: O índice de preços das matérias-primas era expresso em ECU até Dezembro de 1998, enquanto o IPP tinha por base índices em moedas nacionais. A partir de 1999, ambos os índices são expressos em euros.

Gráfico B: Evolução dos preços das matérias-primas não energéticas e dos preços de bens intermédios

(taxas de variação homólogas (%); dados mensais)

Uma vez que os preços das matérias-primas transaccionadas no mercado mundial são geralmente denominados em dólares dos EU, a taxa de câmbio EUR/USD tem um impacto substancial sobre os preços das matérias-primas e os preços no produtor na área do euro. Uma parte significativa do recente abrandamento das taxas de crescimento homólogas dos preços das matérias-primas e, logo, dos preços no produtor dos produtos energéticos e dos bens intermédios na área do euro, reflecte o facto de, no seguimento de um período de queda, a taxa de câmbio EUR/USD ter flutuado num intervalo estreito desde o segundo semestre de 2000. Outro factor a afectar os preços das matérias-primas é a procura mundial. A descida das taxas de variação homólogas dos preços das matérias-primas em 1998 coincidiu com o abrandamento do crescimento económico causado pela crise asiática. Mais recentemente, o abrandamento observado no crescimento do produto dos EU e do produto mundial pode, em certa medida, explicar a recente evolução dos preços das matérias-primas e dos preços no produtor. Dado que se prevê que estas pressões de preços mais baixos se transmitam à cadeia de produção, elas irão também afectar, em última análise, os preços a nível do consumidor na área do euro.

As descidas passadas dos preços do petróleo denominados em euro deverão continuar a exercer uma maior pressão descendente sobre a taxa de variação homóloga dos preços no produtor (a Caixa 4 discute os efeitos dos preços das matérias-primas nos preços no produtor da área do euro). Considerando a evolução mais recente do Índice de Preços da Área do Euro, que mede os custos dos factores de produção no sector transformador, pode-se esperar novos movimentos descendentes nas variações dos preços no produtor (ver Gráfico 24).

Evolução salarial mantém-se moderada

Como anteriormente apresentado, os dados disponibilizados mais recentemente sobre os custos do trabalho no primeiro trimestre de 2001 indicam que as pressões salariais na área do euro se mantiveram moderadas. A taxa de variação homóloga da remuneração por trabalhador situou-se em 2.3% no primeiro trimestre de 2001, ou seja, um aumento de 0.1 pontos percentuais em comparação com o quarto trimestre de 2000, embora ligeiramente abaixo da taxa de crescimento média no conjunto de 2000. O crescimento dos custos unitários do trabalho aumentou para 2.0% em termos homólogos no primeiro trimestre de 2001, isto é, uma subida de 0.2 pontos percentuais face a 1.8% no último trimestre de 2000. O aumento constante do crescimento dos custos unitários do trabalho durante o último ano reflecte o abrandamento cíclico do crescimento da produtividade do trabalho, não reflectindo qualquer formação de pressões salariais subjacentes.

A informação disponibilizada mais recentemente sobre as actuais negociações salariais parece apontar no sentido da continuação da moderação salarial. A descida esperada da inflação global deverá apoiar a moderação salarial, pois vai sublinhar o facto de que movimentos cambiais passados e choques nos preços (petróleo e produtos alimentares) deveriam ser vistos como temporários.

Melhoria das perspectivas de inflação, apesar da continuação dos riscos

A prazo, é provável que as pressões inflacionistas reflictam uma diminuição dos efeitos ascendentes directos e indirectos associados aos aumentos dos preços das importações e dos produtos energéticos em 1999 e 2000. Além disso, o impacto dos recentes choques nos preços dos produtos alimentares deverá começar a dissipar-se. O abrandamento da actividade económica e a apreciação da taxa de câmbio do euro deverão reforçar estes desenvolvimentos. No entanto, após os fortes e favoráveis efeitos de base que terão lugar em Setembro de 2001, espera-se que as novas descidas da taxa de variação homóloga da inflação global medida pelo IHPC sejam limitadas até aos primeiros meses de 2002. De igual forma, não se prevê que a inflação medida pelo IHPC, excluindo os preços dos produtos alimentares não transformados e dos produtos energéticos, desça até à primeira metade de 2002, em reflexo dos efeitos indirectos tardios de aumentos passados dos preços das importações e dos produtos energéticos. O mais recente Inquérito aos Analistas Profissionais do BCE (Agosto de 2001) confirma a tendência descendente esperada da inflação (ver Caixa 5).

Diversos riscos ascendentes e descendentes continuam a estar relacionados com as perspectivas da evolução futura dos preços. As perspectivas dos preços dos produtos alimentares não transformados permanecem incertas visto que, até ao momento, é pouco claro até que ponto estes passarão a estar de acordo com o nível geral dos preços, ou se o impacto da BSE e da febre aftosa causou uma mudança ascendente permanente no nível dos preços dos produtos alimentares não transformados em relação a outros preços. O Gráfico 25 mostra que antes dos desenvolvimentos recentes o índice de preços dos produtos alimentares não transformados tinha, em larga medida, desde 1995, acompanhado os preços globais, embora tenha havido flutuações de ±2% entre o índice de preços dos produtos alimentares

Caixa 5