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2. ENQUADRAMENTO TEÓRICO PARA A VERTENTE DE INVESTIGAÇÃO/AÇÃO

2.2 Materiais didáticos

3.1.3 Descrição das aulas – Política

Seguindo o Programa, passamos para o ponto “3.1.4. Ética, direito e política (AAVV, 2001).

Para a abordagem desta temática, optei por seguir a estrutura proposta pelo manual, começando por efetuar uma introdução ao tema, com as definições de direito e política, e qual a relação entre esses dois conceitos, e a ética (ver anexo 4).

Explicitados estes conceitos, e a relação entre eles (em linhas extremamente simples: a ética dá-nos forma de refletir sobre como devemos agir, enquanto que a política tem como objetivo organizar a melhor forma possível a convivência social, recorrendo à formulação de leis), introduzi também conceito de desobediência civil. Estudados estes conceitos, selecionei duas notícias de jornal para serem trabalhadas no âmbito da matéria lecionada, abordando os temas de leis (i)morais e desobediência civil.

A primeira notícia foi retirada do jornal Público (ver anexo 10), e data de 14-01-2014, sendo referente à recente lei assinada pelo Presidente da Nigéria Goodluck Jonathan, que criminaliza a homossexualidade, banindo também associações de defesa de direitos dos homossexuais. Esta notícia foi projetada em sala de aula na íntegra, sendo que também nela se refere a crítica feita por diversos países e organizações como ONU, que considerou que esta lei

legislação “ataca os direitos básicos”. Esta notícia serviu para fomentar a discussão sobre a legitimidade de existência preceitos morais na criação e execução de leis. Uma vez mais, este exercício foi útil para demonstrar a utilidade do estudo da filosofia, sendo essencial para a abordagem a estas questões.

A notícia seguinte, também do jornal Público (ver anexo 10), datada de 07-03-2014, foi antecipada pelos alunos, uma vez que tratava da desobediência civil, e foi publicada no rescaldo de vários protestos das forças policiais, manifestando-se em prol de melhores condições salariais e laborais. Na véspera da aula, os manifestantes subiram, de forma considerada pacífica, parte da escadaria do Parlamento em São Bento, sendo que é prática ilegal. Esta notícia, também projetada em sala de aula, foi usada como mote para um debate sobre a legitimidade desta forma de protesto, incentivando os alunos a fundamentarem as suas opiniões, e sempre que possível, a invocarem argumentos deontológicos ou utilitaristas.

As lições número 64 a 69 (ver anexo 5) destinaram-se ao estudo da legitimidade do Estado, segundo a perspetiva naturalista de Aristóteles, a perspetiva contratualista de John Locke, culminando com o visionamento na íntegra, apoiado em guião, do filme “O Senhor das Moscas” (baseado no clássico da literatura de William Golding), efetuando-se a realização verbal de uma pequena ficha de trabalho.

Após análise da estrutura proposta pelo manual optei por iniciar a lecionação desta temática abordando, de forma genérica, a importância de existência e legitimidade do Estado, questionando os discentes, sobre quais as suas ideias relativamente a este assunto, anotando no quadro as ideias propostas, como “segurança”, “ordem”, “estabilidade”.

Só depois desta primeira aproximação efetuada com o objetivo de esclarecer quais as questões que seriam abordadas (“o que legitima o Estado”; “como existe o Estado”; e “o que é o Estado”) passei à lecionação da perspetiva naturalista de Aristóteles.

Tal como anteriormente, optei por fazer uma breve contextualização histórica da vida desse filósofo, recorrendo como base a pequena biografia disponibilizada no manual, recordando, também, alguns aspetos da vida da Grécia Antiga, já abordados pela Professora titular Dra. Paula Ribeiro, aquando da introdução do conceito de filosofia.

O desenvolvimento da ciência política foi o ponto mais focado nessa contextualização, assim como o debate que surgiu em torno do conceito de politeia (da constituição), onde a reflexão cairia sobre qual seria o melhor modelo de constituição que asseguraria um elevado nível de bem-estar para o maior número de cidadãos (com todas as condições que eram

necessárias para se ser considerado cidadão na Grécia Antiga – tendo sido estas condições também recordadas).

Após a contextualização, foram estudados na teoria de Aristóteles os conceitos de vida boa ou felicidade, assim como as ideias de família, aldeia, e cidade, e conceito do homem ser um animal político por natureza.

O trajeto usado para a lecionação da perspetiva contratualista de Locke foi semelhante, recorrendo sempre ao manual, ao uso do quadro para registo das principais ideias a reter, e a questões colocadas gradualmente: contextualização histórica, explanação dos principais conceitos como o de estado de natureza e contrato social. Para a abordagem destes conceitos, recorri, uma vez mais, à narração de situações hipotéticas, colocando questões que situassem os alunos numa perspetiva de primeira pessoa.

Para culminar a lecionação desta matéria, e de forma a consolidar a perspetiva de Locke, preparei o visionamento na íntegra do filme “O Senhor das Moscas”.

Selecionei este filme por diversos motivos. Num aspeto mais geral, e como referido anteriormente, constatei que o visionamento de filmes (ou excertos) funciona muitíssimo bem nesta turma, desde do ponto de vista motivacional (desperta sempre o interesse), como do ponto de vista pedagógico (ajuda-os a visualizar e a interiorizar melhor alguns conceitos considerados mais abstratos).

De forma a perceber o interesse deste filme para a lecionação desta parte do Programa, passo a fazer a um fazer um pequeno resumo do enredo: o filme começa com o despenhamento de um avião num oceano. Os passageiros desse avião são jovens membros de uma escola militar, sendo que o único adulto presente é o capitão do avião (que fica extremamente enfermo devido a ferimentos provocados pelo acidente). Os sobreviventes, em botes insufláveis, chegam a uma ilha deserta. Esta ilha proporciona recursos aparentemente abundantes, comida, água, abrigo. Uma vez que não há sociedade instaurada, este cenário representa, na perfeição, o conceito de estado de natureza. Dado que os jovens se encontram sem as regras impostas (leis) “pelos adultos” (Estado), e consequentemente sem as represálias de não seguir essas regras, depressa os protagonistas começam a divergir relativamente à forma com acham que devem agir. Um grupo tenta criar uma sociedade organizada, com regras, enquanto outro grupo apenas faz o que quer, tornando-se inclusive violentos. Este cenário é demonstrativo de uma das justificações do Estado – segurança.

Dado o enredo acima descrito, considerei que este filme fosse especialmente cativante, pois as personagens principais do filme são jovens, com idades muito próximas das dos alunos, o que ajuda sempre na autoprojeção para o enredo do filme, ou seja, a identificarem-se com as personagens, a “viver” as situações representadas no filme, e mais importante de tudo, a questionarem-se o que fariam naquela posição.

Uma vez que no filme é representada uma situação do estado de natureza, os alunos ficaram com uma ideia bem mais concreta do cenário proposto por Locke, para justificar a existência do Estado. Dado que um dos grupos de sobreviventes optou pelo recuso à violência para se impor ao outro grupo, fiz também, após o visionamento do filme, e apesar de não fazer parte do Programa, uma breve referência a Thomas Hobbes, e ao seu conceito de estado de natureza, e à sua justificação de Estado. Fiz este pequeno parêntesis com o objetivo de recordar os alunos que há muita mais filosofia para além do que é lecionada nas aulas do ensino secundário, e para dar uma outra perspetiva sobre os conceitos abordados.

Após o filme, foi realizada oralmente, em sala de aula, uma pequena ficha referente de consolidação dos pontos-chave abordados no filme (ver anexo 11).

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