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Realização: Margarethe Von Trotta | Ano de edição: 2012 | Duração: 109 min Algumas das figuras históricas retratadas no filme

Hannah Arendt | Nascida a 14 de Outubro de 1906, em Hanôver, Hannah Arendt cresceu com os

pais, judeus assimilados sociais-democratas. Estudou filosofia e teologia em Marburg e Heidelberg e entre os seus professores incluem-se Karl Jaspers, Edmund Husserl e Martin Heidegger, com quem teve um caso amoroso. O seu primeiro casamento, de 1929 a 1937, foi com o filósofo Günther Anders. Em 1933, após ter sido presa por pouco tempo pela Gestapo, fugiu para Paris, via Carlsbad e Genebra. Trabalhou para a Juventude Aliyah, uma organização judaica que ajudava crianças judias a emigrar para a Palestina. Em Paris, em 1937, conheceu Heinrich Blücher, antigo comunista e autodidata oriundo da classe operária, com quem casou em 1940. Após um período de detenção e fuga do infame campo de concentração de Gurs, emigrou em 1941 com o marido e a mãe para os Estados Unidos (nesse processo de fuga passa por Portugal). Durante muitos anos, subsistiu escrevendo artigos e trabalhando na área editorial, até encontrar trabalho como secretária executiva da organização Reconstrução da Cultura Judaica. Em 1951, obteve cidadania americana e nesse mesmo ano foi publicado o seu livro As origens do totalitarismo – um estudo exaustivo dos regimes nazi e estalinista. Este tornou-se imediatamente num clássico intelectual e lançou a sua carreira nos Estados Unidos. Após ser professora convidada nas universidades de Princeton e Harvard, tornou-se professora na Universidade de Chicago e na Nova Escola de Investigação Social, em Nova Iorque. Em 1958, publicou o livro A condição humana e, em 1961, deslocou-se a Jerusalém para cobrir o julgamento de Eichmann para a revista “The New Yorker” – os seus artigos foram publicados em cinco partes, em 1963, e despoletaram intensa cobertura mediática. Foi alvo de resistência violenta e de críticas devastadoras pela descrição dos conselhos judaicos e pelo retrato de Eichmann. Mas o livro seguinte, Eichmann em Jerusalém: uma reportagem sobre a banalidade do mal, alcançou um lugar de grande respeito, ainda que sempre controverso, na maior parte dos debates sérios acerca do Holocausto. É hoje encarado como um dos seus livros mais importantes. Morreu em Nova Iorque, a 4 de Dezembro de 1975.

Adolf Eichmann | Nasceu em 1906, em Solingen. O pai era contabilista. Ele abandonou o ensino secundário e

ANO LETIVO

2013/2014

ASSUNTO

Ficha de Exploração do filme «Hannah Arendt»

DATA

mais tarde, juntou-se ao Partido Nazi Austríaco e às SS. Em 1935, Adolf Eichmann foi transferido para a recém- criada “Secção dos Judeus”, tornando-se “Administrador para os Assuntos Judaicos”. Ambicioso e ávido de sucesso, tornou-se, mais tarde, chefe da Unidade IV D 4/4 e IV B 4, que era responsável pela organização geral da deportação de judeus da Alemanha e dos países europeus ocupados. Supervisionava toda a logística, da compilação dos transportes à utilização dos comboios. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, Adolf Eichmann fugiu de um campo de detenção americano. Sob um nome falso e com a ajuda de monges católicos, bem como de um passaporte do Vaticano, conseguiu escapar para a Argentina. Após ser alertada por judeus alemães que viviam nas redondezas, agentes da Mossad (serviços secretos israelitas) raptaram-no em 1960. O julgamento em Jerusalém atraiu atenção mundial. Mais de 600 jornalistas estavam presentes quando Adolf Eichmann se declarou “inocente das acusações”. O veredicto final, no entanto, foi “culpado” e a sentença “morte por enforcamento”. Após o seu apelo legal ser rejeitado, Adolf Eichmann foi enforcado, em Israel, a 31 de Maio de 1962. Para evitar enterrar os seus restos mortais em solo israelita, foi cremado e as suas cinzas espalhadas no Mediterrâneo.

Martin Heidegger | Nasceu em 1889, em Meßkirch. Tornou-se num dos filósofos mais importantes da Alemanha

antes de fazer trinta anos. Com o seu trabalho principal, O ser e o tempo, publicado em 1927, estabeleceu uma nova orientação filosófica no que diz respeito ao conceito fundamental de existência humana, de Ser. De 1923 a 1927, foi nomeado professor na Universidade de Marburg, onde Hannah Arendt foi uma das suas alunas. Começou um caso amoroso ardente. A relação entre o professor casado e pai de dois filhos e a sua aluna de dezanove anos foi, naturalmente, bastante problemática. Martin Heidegger adorava a sua brilhante aluna, mas não queria pôr em perigo o trabalho e não tinha qualquer intenção de deixar a mulher. Depois de Hannah Arendt deixar Marburg, o caso acabou finalmente pouco tempo antes de ela se casar com Günther Anders. Apesar de não terem estado em contacto durante vários anos, ela ficou chocada e desapontada quando Martin Heidegger, o seu prezado professor e primeiro amor, tomou a decisão surpreendente de se juntar ao Partido Nazi em 1933. Apesar de tudo, ela renovou a amizade deles em 1950 e, apesar de várias longas interrupções, a relação permaneceu importante para ambos ao longo de todas as suas vidas. Depois da guerra, Martin Heidegger foi grandemente renegado e foi em grande medida graças aos esforços de Arendt que pôde finalmente ensinar e publicar novamente. Ela não lhe perdoou o comportamento, mas acreditava que ele era um dos filósofos mais importantes do século XX e que se tem de atribuir um lugar de destaque ao seu trabalho no cânone do pensamento ocidental.

In http://alambique.pt/uploads/dossiers/hannah_arendt_-_di_final1.pdf

DISCURSO DE HANNAH ARENDT NA UNIVERSIDADE DE CHICAGO

HANNAH ARENDT: «Talvez me permitiram fumar imediatamente, só hoje. Quando a New Yorker me

enviou para cobrir o julgamento de Adolf Eichmann, julguei que um tribunal só tinha um interesse: cumprir as exigências de justiça. Esta não era uma tarefa simples, porque o tribunal que julgou Eichmann confrontava-se com um crime que não aparece nos livros de direito e com um criminoso desconhecido de qualquer tribunal anterior aos Julgamentos de Nuremberga. Ainda assim, o tribunal tinha de definir Eichmann como um homem que estava a ser julgado pelos seus atos. Não estava a ser julgado nenhum sistema, nenhuma história, nenhum “ismo”, nem sequer o antissemitismo, mas apenas uma pessoa. O problema com um criminoso nazi como Eichmann era que ele insistia em renunciar a todas as características pessoais, como se não restasse ninguém para ser punido ou perdoado. Ele protestou repetidamente, contra as afirmações da acusação, que tinha apenas obedecido a ordens. Este apelo tipicamente nazi torna claro que o maior mal do mundo é o mal cometido por zés-ninguém, o mal cometido pelos homens sem razões, sem convicção, sem corações perversos ou vontades demoníacas, por seres humanos que se recusam a ser pessoas. E foi a este fenómeno que chamei a “banalidade do mal”.»

PROFESSOR MILLER: «Senhora Arendt, está a evitar a parte mais importante da controvérsia. Alega

que teriam morrido menos judeus se os líderes não tivessem cooperado!»

HANNAH ARENDT: «Essa questão surgiu no julgamento. Eu escrevi sobre isso e tinha de clarificar o

papel desses líderes judeus que participaram diretamente nas atividades de Eichmann.»

PROFESSOR MILLER: «Culpa o povo judeu pela sua própria destruição.»

HANNAH ARENDT: «Eu nunca culpei o povo judeu! Era impossível resistir. Mas talvez haja algo entre a

resistência e a cooperação. E só nesse sentido é que digo que talvez alguns dos líderes judeus se poderiam ter comportado de forma diferente. É profundamente importante colocar estas questões, porque

o papel dos líderes judeus permite entender de forma surpreendente todo o colapso moral causado pelos nazis na respeitável sociedade europeia. E não apenas na Alemanha, mas em quase todos os países, não apenas entre os perseguidores, mas também entre as vítimas.»

ELISABETH: «A perseguição era feita aos judeus. Porque é que descreve os delitos de Eichmann como

crimes contra a humanidade?»

HANNAH ARENDT: «Porque os judeus são humanos. Precisamente o estatuto que os nazis lhes

tentaram negar. Um crime contra eles é, por definição, um crime contra a humanidade. Eu sou, como sabem, judia. E fui atacada por ser uma judia que se detesta, que defende os nazis e desdenha o seu próprio povo. Isso não é um argumento. É um assassinato de carácter. Não defendo o Eichmann, mas tentei reconciliar a mediocridade chocante do homem com os seus atos estarrecedores. Tentar compreender não é o mesmo que perdão. Considero minha responsabilidade tentar compreender. É responsabilidade de qualquer pessoa que se atreva a escrever sobre este assunto. Desde Sócrates e Platão que, normalmente, chamamos pensamento a estar envolvido num diálogo silencioso consigo mesmo. Ao recusar ser uma pessoa, Eichmann desistiu completamente da característica que mais define o humano, a de ser capaz de pensar. E, consequentemente, deixou de ser capaz de fazer juízos morais. Esta incapacidade de pensar tornou possível que muitos homens comuns cometessem atos maldosos a uma escala gigantesca, como nunca antes se vira. É verdade que abordei estas questões de uma maneira filosófica. A manifestação do vento do pensamento não é conhecimento, mas a capacidade de distinguir o bem do mal, o belo do feio. E eu espero que o pensamento dê às pessoas a força para prevenir catástrofes nestes raros momentos críticos. Obrigada.»

Tópicos para Debate

1. Tendo por base o julgamento de Adolf Eichmann, nomeadamente os testemunhos deste, Hannah Arendt construiu e fundamentou a teoria da «Banalidade do Mal», segundo a qual o mal pode originar-se não da monstruosidade de uma opção política ou ideológica mas, simplesmente, da obediência cega de funcionários medíocres e zelosos, da inabilidade para pensar autonomamente e até mesmo da falta de motivo. Discute a teoria da «Banalidade do Mal», tendo em atenção os seguintes aspetos:

a. Os alemães que, durante o Nazismo, mataram judeus seriam todos pessoas agressivas e violentas?

b. Eichmann seria um monstro violento ou apenas um funcionário zeloso que tentou cumprir a todo custo as ordens que recebeu?

c. «Em tempo de guerra, de violência, todos pensavam que “era inútil resistir”» é outro dos argumentos usados por Eichmann para justificar o cumprimento de ordens que levavam ao extermínio dos judeus. Concordas com esta posição ética? Porquê?

d. A teoria da «Banalidade do Mal» poderá ser entendida como uma banalização do mal ou relativização da responsabilidade dos oficiais nazis, como Adolf Eichmann?

2. Uma das questões mais polémicas levantadas por Hannah Arendt no seu livro “Eichmann em Jerusalém. Uma reportagem sobre a banalidade do mal” foi a do papel dos Judenrat (Conselhos Judaicos) na política de extermínio dos judeus pelos nazis. Os Conselhos Judaicos eram organizações judaicas criadas dentro das comunidades judaicas ocupadas pelos Nazis e que tinham a responsabilidade de fazer cumprir as políticas nazis relativamente aos judeus,

extermínio. Discute o papel polémico e controverso destas organizações, tendo em atenção as seguintes posições:

a. Para Hannah Arendt, “esta participação dos dirigentes judaicos na destruição do seu próprio povo é, sem dúvida alguma, o mais negro capítulo de uma história que foi, toda ela, bastante negra” pois “sem a colaboração das vítimas, teria sido praticamente impossível que uns milhares de pessoas, das quais a maioria eram funcionários de escritório, tivessem conseguido liquidar tantas centenas de milhar de outras pessoas…”.

b. Claude Lanzmann, realizador judeu que realizou diversos documentários sobre o Holocausto a partir de testemunhas da época, sendo o último “Le dernier des Injustes” (“O último dos Injustos”) sobre Benjamin Murmelstein, Grande Rabino de Viena durante a ocupação, que Adolf Eichmann, o chefe da logística de extermínio, nomeou em 1944 para liderar o Conselho Judaico do campo de Theresienstadt e executar os seus planos, tem uma posição completamente oposta à de Hannah Arendt, afirmando que os responsáveis por estes Conselhos Judaicos “nunca quiseram matar judeus, não partilhavam a ideologia nazi e eram infelizes sem poder”. Annete Wieviorka, especialista na história dos judeus no século XX, concorda com Lanzmann: “A grande perversidade do nazismo foi confiar a administração de uma população aos que estavam destinados a ser assassinados.”

3. O Julgamento de Adolf Eichmann apenas aconteceu porque o mesmo foi raptado pela Mossad (Serviços Secretos Israelitas) na Argentina e levado para Jerusalém para ser julgado. Há mesmo quem afirme que este Julgamento foi um espetáculo político organizado por Ben Gurion (Primeiro Ministro de Israel à época) como ato fundador para a criação do Estado de Israel. Ou seja, que o que estava em jogo não era o apuramento da efetiva responsabilidade de Eichmann por crimes contra a Humanidade mas sim a exposição do sofrimento dos judeus no Holocausto para fins políticos. Eichmann estaria condenado de antemão, caso contrário jamais teria sido sequestrado na Argentina para ser julgado em Jerusalém, ato que violava as leis internacionais.

a. Sabendo que Eichmann foi um dos principais responsáveis pelo genocídio dos judeus durante a II Guerra Mundial, debate a posição do Estado de Israel relativamente ao sequestro e julgamento efetuados.

b. Comenta a afirmação de Heinrich Blücher, marido de Hannah Arendt, sobre a notícia da prisão de Eichmann: «Deviam-no ter morto logo ali, em Buenos Aires».

4. Apesar de Martin Heidegger se ter juntado ao Partido Nazi e de certa forma ter sido um dos filósofos do regime, Hannah Arendt nunca cortou completamente a sua relação de amizade (amor?) com ele. Como avalias esta posição da vida pessoal de Hannah Arendt?

Sugestões de Trabalhos Individuais ou de Pares

1. Recensão crítica do livro “Eichmann em Jerusalém. Uma reportagem sobre a banalidade do mal” de Hannah Arendt.

2. O papel dos Judenrat (Conselhos Judaicas) no processo da «Solução Final»: dilemas éticos.

3. O dever da obediência e a consciência moral: os argumentos de Eichmann e os de Aristides de Sousa Mendes.

Anexo 8 – Ficha de visionamento Batman O Cavaleiro

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