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CAPÍTULO 5 − DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

5.1 DESCRIÇÃO DOS DADOS

5.1.2 Descrição das entrevistas

Nesta seção, trataremos das entrevistas feitas com as professoras. Elas seguiram um modelo (Cf. nos anexos, p. 195-196) pré-definido.

Essas entrevistas são muito significativas, porque nos possibilitaram conhecer a forma de seleção e verificar se há ou não a consulta a materiais que poderiam auxiliar no momento da escolha do LD mais indicado para atender o projeto pedagógico da escola e desenvolver a competência comunicativa do aluno. Além disso, forneceram-nos informações sobre qual objeto de ensino e quais seções são priorizadas no momento da prática de sala de aula.

No que diz respeito à seleção do material, as entrevistas nos informam que são disponibilizados vários LD de diferentes editoras aos professores e que cada dupla ou grupo escolhe o livro de uma disciplina. Após analisarem cada um − quando isso ocorre, pois alguns só conseguem folhear um livro em razão do tempo − decidem qual adotar. Em cada seleção, os professores devem apresentar duas sugestões de dois livros, conforme mostra o trecho abaixo:

E: mas é só uma opção de cada disciplina... ou vocês apresentam duas opções? P: Não... nós apresentamos duas opções... quer dizer ... no caso duas editoras. E: Hum duas editoras. Não são dois livros? São duas editoras?

P: [duas editoras.

Nesse trecho, a PEE2 mencionou que os professores da escola onde trabalha apresentaram duas editoras, entretanto não podemos generalizar, uma vez que ela foi a única a afirmar isso, ainda que pelo discurso da PEM1 possamos entender que houve a escolha de dois livros de editoras diferentes.

Quanto ao que é priorizado na seleção, as professoras consideram o texto porque, segundo

PEE1, as questões gramaticais podem ser criadas a partir dele: “eu particularmente priorizo os textos porque através dos textos éh eu faço a criação da gramática... entendeu? da

interpretação... até a própria interpretação eu gosto de criar... de formular as questões... entendeu? mas eu priorizo mesmo os textos”. Além desse, elas apontaram o conteúdo, o manual do professor, a linguagem, a produção textual e as perguntas de compreensão como elementos importantes nesse processo. Elas verificaram também se o livro está próximo ou não da realidade do aluno.

Quando perguntamos se houve o contato com o Guia de Livros Didáticos, cinco professoras disseram que sim, mas, em seguida, percebemos que elas estavam se referindo à ficha de seleção, na qual se colocam os códigos das coleções escolhidas, como revela o seguinte trecho:

E: /.../ Mas assim... o guia auxiliou vocês... na... na escolha ou não? P: se ele interferiu muito?

E: [isso... se ele auxiliou assim... vocês assim... de repente aí na

decisão de escolher um ou outro livro?

P: não... porque tem um negócio de um código lá né?... tem uma... tem assim... você

pode escolher... tem assim umas observações... mas nós não se preocupamos assim muito assim.

(Entrevista com PEM1, 31/10/06)

Ainda no tocante à seleção do material, consideramos que os PCN, entre outras coisas, poderiam auxiliá-las nesse processo, já que os critérios avaliativos presentes no Guia são

baseados nesse documento. Por isso, procuramos saber se as entrevistadas já os tinham lido. Uma reconheceu não ter lido e cinco disseram sim, entretanto, ao serem questionadas sobre a proposta referente à LP, apresentaram respostas imprecisas, demonstrando o desconhecimento desta, como podemos confirmar por meio do fragmento abaixo:

E: E em relação aos PCNs... como você os avalia? ((neste momento, a professora dirige-

se a outra e pergunta sobre os PCN, demonstrando certa aflição. Quando percebe que a gravação ainda está em curso, fica preocupada com o registro das informações)). (incompreensível)

P: Nós estudamos... nós estudamos todos os dias de PCNs... só que nós não temos... nós

não temos.../ se discute os PCNs. ((a professora sinaliza para que a gravação seja parada)).

(Entrevista com PEF2, 22/05/07)

Entre essas cinco, três disseram serem os Parâmetros importantes no momento do planejamento, destacando que aproveitam os objetivos, mas também foram vagas em suas respostas. Abaixo um trecho da entrevista com PEM2:

E: /.../ Em relação aos PCNs... você os leu? P: leio

E: Qual sua opinião em relação a eles?

P: é um apoio muito bom pra mim... sabes? Eu busco nos PCNs as questões... até

mesmo quando vou traçar os planejamentos... os meus objetivos... em relação ao que é necessário pro ciclo que to trabalhando.

E: Você acha que ele auxilia P: [auxilia

E: [na utilização do livro? P: auxilia

E: E qual seria a maior contribuição deles?

P: olha... ele ele traz muitas estratégias boas... como eu te falei em relação aos

objetivos... ele... clareia muitas dúvidas que possa ter... os PCNs... ele traz.

(Entrevista com PEM2, 16/04/07)

Quanto à importância do LD para o ensino-aprendizagem, cinco professoras o consideraram importante. Quando indagadas do porquê de ele ser necessário, as respostas são diversas, a saber:

ƒ Serve para o aluno aprender a escrita e a leitura; ƒ Possibilita o acesso ao mundo letrado;

ƒ Ajuda o trabalho do professor, porque evita a cópia de textos no quadro; ƒ Ajuda tanto o aluno quanto a família acompanharem o programa.

Uma professora apenas afirmou não ser tão necessário, porque os professores têm seus próprios textos. A outra disse que, apesar de importante, quando o LD chega às mãos do professor, o planejamento já está pronto. É interessante destacar que essa justificativa é válida apenas para o primeiro ano de utilização do material, pois o LD deve ser utilizado durante pelo menos três anos.

Em relação à freqüência de uso do LD em sala de aula, duas professoras declararam usá- lo constantemente; três afirmaram às vezes e uma disse não. E quando sondadas a respeito da parte do LD priorizada, o texto foi o mais mencionado. Elas também disseram aproveitar as perguntas de compreensão e os exercícios gramaticais, mas em menor número. Entretanto, durante as observações, percebemos que apenas duas o usavam com mais constância, a PEF1 e a PEM2.

Quanto aos pontos negativos e positivos, pudemos perceber que o aspecto positivo praticamente está relacionado à importância do LD para o aluno, como: ajuda a melhorar a escrita e a leitura, possibilita o contato do aluno com livros etc. Uma entrevistada, contudo, destacou ser interessante, porque traz proposta para o uso da Internet. Por sua vez, o ponto negativo está associado ao conteúdo. Quatro professoras citaram como negativo a existência de textos longos,

três a superficialidade da gramática e uma o excesso de gramática. A PEF1 afirmou o seguinte: “Algumas coisas assim/ alguns enfoques é que... por exemplo... na pontuação né? ele fala... pontuação mas a gramática mesmo que a gente dá o assunto em sala de aula... ele não trabalha/ é mais textos e produção de texto” e disse também não gostar do material. A PEM1 mencionou que

as propostas de produção não estão voltadas para a realidade do aluno e que elas deveriam sugerir a criação de histórias em quadrinho, preenchimento de cheques, carta etc.

Indagadas em relação às estratégias adotadas na utilização do LD, apenas uma professora afirmou seguir a proposta, retornando a algum tópico em caso de revisão. Quatro disseram não seguir página por página, mas selecionam partes de acordo com o que estão trabalhando, pois elas têm planejamento próprio. Três delas, quando recorrem ao LD, procuram por textos para explorarem aspectos gramaticais ou a leitura. Para complementar o trabalho didático, sobretudo em relação à gramática, todas disseram recorrer a outros materiais, principalmente, a LD, como:

Descobrindo a gramática, Eu gosto de português e Marcha Criança. Além disso, citaram como

material didático utilizado: dicionários, músicas, figuras, jornais, revistas etc.

Ainda quanto às estratégias, das cinco que utilizam o LD, todas disseram solicitar atividades como dever de casa. Indagadas em relação à correção, elas afirmaram corrigir ou individualmente ou com a turma. Nesse último modo de correção, há o jogo de perguntas e respostas: o professor pergunta e o aluno apresenta sua resposta.

Buscamos também saber qual a opinião das entrevistadas sobre o manual do professor.

Quatro responderam ser ele importante, porque

ƒ Fornece respostas e idéias;

ƒ Possibilita que o professor aprenda;

ƒ Enriquece o trabalho pedagógico, pois traz estratégias, objetivos. Apesar de o considerarem importante, destacam que:

ƒ O professor não pode se restringir a ele;

ƒ Algumas repostas apresentam uma linguagem complicada; ƒ Ele deveria orientar em relação a projetos;

ƒ É difícil de o professor utilizá-lo.

Entre as professoras apenas uma admitiu não ler o manual, porque adota a sua própria metodologia. Afirmou ainda ser ele importante somente para quem está iniciando no magistério. Realmente, segundo as observações, a PEE1 utilizou o livro apenas para o trabalho com a cópia, exercício de leitura e uma vez tomou um texto para identificação de aspectos gramaticais, demonstrando não seguir nem conhecer as orientações do manual do professor.

É interessante destacar que, apesar de a maioria delas apontarem o manual do professor como necessário, as suas respostas nos indicam que talvez elas não detenham um conhecimento mais aprofundado sobre ele − o que seria importante, pois ele traz reflexões sobre concepções de língua, orientações sobre o trabalho com o oral, a compreensão e produção escrita, etc − como percebemos nesse trecho da entrevista com PEM2:

E: E em relação ao manual do professor? Aquela parte que vem pra... orientando o

professor?

P: vou te confessar que é um pouco difícil a gente parar pra ler... mas sempre que a

gente precisa a gente pede socorro.

E: E em relação ainda ao manual... o que você acha que é de difícil compreensão no

manual? Nesses poucos contatos que vocês têm.

P: Não... não considero isso difícil... ele traz estratégias boas... ele traz objetivos bons...

os objetivos nem sempre se encaixam né? porque o livro não tem muito a ver com a realidade daquilo que a gente ta trabalhando... com a realidade do aluno... mas eu não considero nada assim de negativo... sempre vêm boas sugestões.

E: Você acha que o manual auxilia o professor assim... na...na realização das atividades

de produção oral...?

P: [com certeza... com certeza... ele dá... ele dá uma linha legal de pensamento pra nós.

(Entrevista com PEM2, 16/04/07)

Apresentamos, abaixo, as principais informações coletadas a partir das respostas dadas pelas professoras:

Quadro 5: Informações referentes às representações das professoras no respeitante ao LD

Conteúdo das perguntas Conteúdo das respostas Quantidade de

professoras por resposta

Critério priorizado na seleção do LD Texto 05

Acesso ao guia de livros didáticos Possivelmente não 06

Conhecimento das propostas do LD Vago 06

Freqüência de uso do LD Algumas vezes 03

Parte priorizada do LD em sala de aula Texto 05

Ponto negativo do LD Presença de textos longos 04

Ponto positivo do LD Auxilia o aluno e o professor 04 O modo de seleção das seções do LD a

serem utilizadas

De acordo com o tópico trabalhado 04

Uso de outros materiais Outros LD 06

Importância do manual do professor Auxilia o professor no trabalho docente

04

De um modo geral, o quadro demonstra que os livros ainda são bastante freqüentados como base para a preparação das aulas, mas, sobretudo, aqueles que privilegiam um ensino baseado no reconhecimento e na catalogação de classes gramaticais e exercícios ortográficos. Ele permite ainda dizer que existe certa incoerência entre o que é declarado pelas professoras e o que foi observado em sala. Por exemplo, o texto não é priorizado em sala e sim exercícios ortográficos.