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CAPÍTULO 4 − PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

4.1 METODOLOGIA DA COLETA DOS DADOS

4.1.3 Os instrumentos de pesquisa

A coleta de dados ocorreu entre outubro e dezembro de 2006 e entre março e maio de 2007. Para que conseguíssemos atingir os objetivos estabelecidos nesse trabalho, utilizamos vários instrumentos de pesquisa: o LD23, a entrevista e a observação.

ƒ Os livros didáticos

Os livros considerados, neste trabalho, são aqueles utilizados pelas escolas envolvidas na pesquisa. Em princípio, a intenção era considerar apenas três livros, mas identificamos a necessidade de equiparar o número de livros com o número de escolas, uma vez que não poderíamos relacionar a proposta do livro à prática de sala de aula se não conhecêssemos a proposta metodológica dos materiais utilizados.

Os seis livros analisados participaram do PNLD: dois do PNLD 2004 (o da editora Saraiva e o da editora Ática) e quatro do PNLD 2007. Na tabela que segue, apresentamos algumas informações sobre os LD:

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O LD é considerado não só como instrumento por fornecer informações referentes à organização do ensino de LP na 4 série do ensino fundamental, como também um objeto de análise.

90 Escola onde é adotado EM1 EM2 EE1 EE2 EF1 2 Avaliação PNLD

Livro organizado em unidades temáticas. Recomendado com ressalvas quanto ao conhecimento lingüístico: são excessivamente enfatizados e repetitivos. Focaliza-se a aprendizagem de diferentes nomenclaturas e definições gramaticais. Livro organizado em unidades temáticas sensíveis a gênero/tipo de texto.

Recomendado com restrições quanto à compreensão e produção de textos orais e escritos e à gramática.

Livro organizado em unidades temáticas. Recomendado com algumas observações quanto ao trabalho com o oral e à escrita. Livro organizado com base em textos. Recomendado com ressalvas quanto à temática e à produção de textos.

Livro organizado em unidades temáticas. Recomendado com ressalvas quanto às propostas de trabalho com o oral (restringem-se às conversas assistemáticas) e às atividades de produção textual por não orientarem em relação à avaliação e às condições de produção, circulação e recepção do texto.

Livro que apresenta projeto temático.

Número de páginas 206 224 224 224 272 Número de unidades 10 15 10 16 12 Ano de publicação 2003 2004 2005 2005 2004 Editora Saraiva Atual FTD FTD Ática Nome do (s) autor (es) Cloder Rivas Martos & Joana D’Arque G. Aguiar

Maria do Rosário

Gregolin

Márcia Leite & Cristina Bassi Isabella Carpaneda & Angiolina Bragança Cláudia Miranda, Angélica Lopes & Vera Rodrigues

Quadro 4 − Dados sobre os livros didáticos analisados

Livro didático Viver e Aprender Português − 4ª série Os caminhos da Língua Portuguesa − 4ª série L.e.r Leitura, Escrita e Reflexão Porta aberta Língua Portuguesa − 4ª série Coleção vivência e construção: Língua Portuguesa Projeto Pitanguá: − 4ª

ƒ As entrevistas

Nesta pesquisa, utilizamos uma entrevista focalizada24: elaboramos algumas perguntas (Cf. nos anexos, p. 195-196) − tendo em vista o objetivo a ser alcançado − que fizemos às seis professoras para verificar as suas representações sobre o LD e o modo como elas usam esse material.

Por meio das entrevistas, buscamos analisar que tipo de relação o professor mantém com o LD, ressaltando os aspectos influenciadores no processo de seleção, o objeto de ensino priorizado e a interação, mediada pelo LD, entre professor e aluno.

Durante a realização delas, encontramos certa dificuldade para gravá-las. Superávamos a recusa inicial, quando explicávamos que a identidade da entrevistada ficaria resguardada. Ainda assim, algumas professoras queriam que nós entregássemos o modelo e só em outro momento realizássemos a gravação, porque assim teriam tempo de refletir sobre as perguntas e, se necessário, consultar outras pessoas que pudessem auxiliá-las em suas respostas. Contudo, não concordamos com essa proposta, pois isso poderia alterar os dados levando-nos a resultados não representativos da realidade e descaracterizar o próprio instrumento.

Apesar de alguns contratempos, gravamos as entrevistas em áudio e, em seguida, as transcrevemos (Cf. nos anexos, p. 200-226).

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Nessa modalidade de entrevista, “há um roteiro de tópicos ao problema que se vai estudar e o entrevistador tem liberdade de fazer as perguntas que quiser: sonda razões e motivos, dá esclarecimentos, não obedecendo, a rigor, a uma estrutura formal”. (MARCONI & LAKATOS, 1990, p. 85)

ƒ As observações

Durante as aulas de LP, utilizamos a técnica de observação sistemática25, pois a finalidade era observar uma parte da realidade a partir de nossa proposta de estudo. Para isso, tomamos como referência uma ficha (Cf. nos anexos, p.198).

Por meio das observações, verificamos que as turmas, em sua maioria, eram extremamente barulhentas e mostravam diferenças quanto ao desenvolvimento lingüístico- discursivo. Alguns alunos não conseguiam sequer copiar do quadro de forma legível: as palavras eram copiadas de forma incompleta. Eles tinham também muita dificuldade para reconhecer informações do texto e decifrar a relação grafofonêmica da língua.

É importante destacar que as aulas não foram gravadas em vídeo, porque não dispúnhamos de condições materiais nem em áudio, porque o ambiente era demasiadamente barulhento. Chegamos a fazer uma tentativa, contudo a gravação (em áudio) ficou incompreensível. Além disso, a maioria das professoras explicava o conteúdo durante, aproximadamente, cinco minutos e, raramente, solicitava a participação do aluno. Na maior parte do tempo, elas ficavam sentadas e quando um aluno tentava perguntar alguma coisa (algo que ocorria raramente), quase sempre, elas o repreendiam. Dessa forma, na maioria das escolas, não havia, de fato, uma sala de aula se entendermos esta como “um espaço aberto que deve favorecer e estimular a presença, o estudo e o enfrentamento de tudo o que constitui a vida do aluno” (MASETTO, 1997, p.34) e como um espaço de interação que favorece a construção do conhecimento e uma aprendizagem coletiva.

Para a efetivação das 56 horas-aula de observação, enfrentamos algumas dificuldades posto que, muitas vezes, a professora ou ensinava, no horário de português, uma outra disciplina

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Caracterizada pelo uso de instrumentos para a coleta de dados e pela atitude consciente do observador em relação aquilo que procura. (MARCONI & LAKATOS, 1990)

ou faltava no dia da aula. Na escola EE2, por exemplo, fomos nove vezes para conseguir observar 8 horas-aula. Nos outros dias, ou a professora decidia ensinar matemática, ciências ou faltava.

A partir das observações, buscamos analisar as práticas de sala de aula mediadas pelo LD, percebendo qual objeto de ensino priorizado, qual seção do livro era mais utilizada pelo professor e de que maneira este intervinha na relação entre o aluno e o material.