4. ESCOLHA DO LIVRO DIDÁTICO E CRITÉRIOS DE ANÁLISE
4.2. Descrição do livro didático selecionado
As autoras do livro didático escolhido são Mércia Maria Silva Procópio e Jane Maria Aparecida Passos. Procópio é pedagoga pela Universidade Estadual de Montes Claros, Minas Gerais, pós-graduada em Especialização do Pedagogo. A autora, que estuda alfabetização e aprendizagem desde 1987, atua como consultora em Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio e é organizadora de cursos para formação de professores da Educação Básica. Passos é pedagoga pela mesma universidade e pós-graduada em Psicopedagogia. Já atuou como professora, psicopedagoga e supervisora escolar. Atualmente é tutora do Projeto Veredas, da Secretaria do Estado de Educação de Minas Gerais, pela Universidade Federal de Juiz de Fora, e professora de Psicologia da Educação na Faculdade do Vale do Gorutuba de Nova Porteirinha.
O livro ‘Trocando idéias’ é definido pelo Guia Nacional do Livro Didático de 2007 como o único que apresenta uma proposta por projetos de trabalho. São sete os projetos: “Todo mundo tem um nome”, “Histórias em quadrinhos, gibis e outros
9 De acordo com Hernández (1998), projeto de trabalho é uma metodologia pedagógica na qual o processo de ensino e aprendizagem decorre de uma situação-problema negociada com o aprendiz. Esta situação pode ser uma dúvida, um questionamento, uma curiosidade ou necessidade de confeccionar algo.
A busca de solução ao problema proposto inicia com a investigação dos conhecimentos prévios do aluno para levantar questionamentos e planejar a busca conjunta de informações. Embora o livro didático analisado se proponha a apresentar uma organização por projetos de trabalho, este não constitui o tema desta dissertação.
“bichos””, “Quem conta um conto aumenta um ponto”, “É junho, pessoal!”, “Folclore”,
“Plantas e bichos” e “Histórias de vida”. No texto para os professores são apresentados as justificativas e o desenvolvimento de cada projeto proposto.
Dentro de cada projeto, são propostas oficinas para trabalhar a oralidade, a escrita, o jogo e a avaliação. As atividades propostas pelos projetos são divididas nas seguintes oficinas: oficina de idéias, oficina de linguagem oral, oficina de linguagem escrita, oficina divertida e roda de avaliação.
Na “Oficina de idéias” são propostas questões iniciais para professor e alunos planejarem o projeto. Por exemplo, no projeto “Todo mundo tem um nome” o livro coloca a seguinte questão: “O que você gostaria de estudar no projeto todo mundo tem um nome?” (PROCÓPIO & PASSOS, 2006). Interessante observar que as questões colocadas pelo livro quase sempre se referem ao que o aluno gosta ou não gosta, não explorando de fato seus conhecimentos prévios ou trazendo questões instigantes que levem ao debate e formulação de hipóteses. Apenas no projeto “Histórias de vida”, há maior exploração dos conhecimentos prévios do aluno, quando o livro questiona o que os alunos pensam sobre preconceito e quais seus sonhos para o Brasil.
Na “Oficina de linguagem oral” não constam sugestões de temas a serem debatidos entre alunos e professor, tampouco questões instigantes e polêmicas. Em poucas atividades os conhecimentos científicos são colocados como temas de debate, embora o livro proponha o estudo dos animais e das plantas. Neste capítulo, único sobre conhecimento científico, a oficina de linguagem oral limita-se à decisão em grupo sobre como será feito um relatório de observação de animais. As oficinas, em geral, referem-se mais à realização de atividades a partir da instrução do professor, ou brincadeiras e jogos nas quais a criança precisa representar ou ler em voz alta. São atividades que permitem a expressão oral.
Na ‘Oficina de Escrita’ são propostas leituras e produções de texto. São poucas as propostas de produção de textos. Os tipos de textos que o livro apresenta são:
convite, letra de música, história, história em quadrinhos, poemas, relato de opiniões, texto informativo, cartaz, receita culinária, instrução de jogo, biografia e autobiografia.
São colocadas questões sobre as diferenças entre um tipo de texto e outro.
A “Oficina divertida” apresenta sugestões de jogos, brincadeiras e atividades artísticas. Neste ponto, o livro propõe algumas brincadeiras interessantes, que serão analisadas mais adiante.
A oficina “Roda de Avaliação” é o momento no qual o livro propõe questões para o aluno avaliar sua participação no projeto.
Desde as primeiras páginas, o livro apresenta textos grandes e, em algumas atividades, sugere que o professor leia em voz alta, demonstrando referir-se a um aluno que ainda não domina o código escrito.
Nota-se, nos projetos propostos no livro didático, uma ausência de questionamentos iniciais para introduzir conceitos científicos a partir dos conhecimentos prévios do aluno. São feitas propostas para o estudo das plantas e dos animais através de textos retirados de enciclopédia e poesias. A extinção dos animais é referida através de um poema, que não trata nem das causas e nem das conseqüências deste problema ambiental.
O livro traz muitas imagens, fotos, desenhos e espaços para o aluno escrever, desenhar e recortar. Propõe leitura de imagens, principalmente de obra de artistas famosos. Este aspecto será objeto da análise realizada no próximo capítulo.
O livro não apresenta nenhum tipo de preconceito religioso, racial ou de gênero.
Utiliza sempre o gênero masculino e feminino. Por exemplo, ao fazer alusão ao professor, refere-se “professor e professora”.
Quanto à linguagem empregada, a interlocução do livro é com o aluno. Ao se dirigir ao aluno o livro diz o que o professor deve fazer, como fica exemplificado neste trecho: “Para iniciar o estudo sobre nomes, você, seus colegas e seu professor ou sua professora irão organizar uma roda para começar a conversa.” (PROCÓPIO &
PASSOS, 2006: 11). Neste modo de o livro comunicar-se com o professor, se evidencia uma concepção pedagógica centrada no aluno. No texto para o professor, intitulado pelo livro como ‘assessoria pedagógica’, a interlocução é com um leitor ausente. O texto de assessoria pedagógica não faz uma interlocução com o professor porque se dirige a este na terceira pessoa. Apenas no último tópico do texto, o livro se dirige ao professor, ao oferecer trinta e três sugestões complementares ao livro didático de alfabetização. Neste tópico, o livro utiliza o modo imperativo, como no seguinte trecho: “Desenvolva trabalhos em grupos cooperativos para possibilitar as trocas entre as crianças”.
(PROCÓPIO & PASSOS, 2006: 26)
O livro traz um texto de assessoria pedagógica que orienta o professor quanto às concepções teóricas que fundamentam a proposta.
A seqüência de atividades, sugerida pelo livro, demonstra certa concepção de desenvolvimento da escrita pela criança. Nas primeiras atividades, o livro apresenta
fotos de crianças em diferentes idades e, ao lado, suas escritas, sendo que algumas demonstram o não domínio do sistema gráfico. Após as fotos, o aluno é encorajado a escrever, do seu jeito, o que é para ele ler e escrever. A seguir é apresentada a foto de uma inscrição feita em rocha por um povo primitivo e um pequeno texto que fala que a escrita não foi sempre do jeito que é hoje. A atividade seguinte é o projeto “Todo mundo tem um nome”, que traz várias atividades envolvendo a escrita do nome próprio.
O livro finaliza com três páginas pautadas em branco, lugar reservado para o professor fazer suas anotações.