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4. ANÁLISE COMPARADA DOS DISPOSITIVOS DE REGISTROS

4.1. Descrição dos Dispositivos de Registro

Importante esclarecer que os Dispositivos de Registro são para preenchimento a partir de informações fornecidas pelos adultos, por exemplo, o acompanhante da criança, o conselheiro tutelar, um parente ou quer estiver com a criança ou adolescente no momento da denúncia. A escuta do relato da criança ou do adolescente sempre será realizada por uma psicóloga ou uma assistente social

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ou por ambas, em ambiente protegido e preservando totalmente a privacidade e bem-estar de todos. O papel destes profissionais é garantir que somente informações relevantes serão compartilhadas para qualificar outros serviços envolvidos, cuidando assim da não revitimização do caso.

1) Ficha de Notificação/Investigação Individual e Ficha de Notificação/Investigação Individual de Violência Doméstica, Sexual e/ou Outras Violências – CRAI

Para análise dos dispositivos de registro do CRAI utilizaremos dois documentos: a Ficha de Acolhida Interdisciplinar e a Ficha de Notificação/Investigação Individual de Violência Doméstica, Sexual e/ou Outras Violências - SINAN, pois a partir destes documentos é que os casos são atendidos neste serviço. Ou os casos chegam tendo como início a Ficha SINAN ou ao final culminam com o seu preenchimento.

A Ficha de Acolhida Interdisciplinar constitui-se de formulário exclusivo produzido pela equipe do CRAI, por meio do qual visa captar o maior número de informações possíveis sobre o fato da suspeita de denúncia. Este é um dos modos de entrada no serviço e a partir destes elementos é traçado um plano de ação de forma peculiar para cada criança ou adolescente.

A Ficha de Notificação/Investigação Individual de Violência Doméstica, Sexual e/ou Outras Violências e seu Instrutivo para o Preenchimento foram construídos em colaboração com gestores e profissionais de saúde deste Ministério e de outras instituições governamentais das três esferas que compõem o SUS, de instituições de ensino e pesquisa e parcerias não governamentais. Composta por um conjunto de variáveis e categorias, que retratam as violências perpetradas contra si próprio (violências autoprovocadas), contra outra pessoa, ou contra grupos populacionais (violências interpessoais).

A Ficha de Notificação/Investigação individual de Violência Doméstica, Sexual e/ou outras Violências (em anexo) do Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net é o aplicativo de entrada de dados no Sinan foi desenvolvido pelo Datasus/MS, no 2º semestre de 2008, em parceria com a Gerência Técnica do SINAN e Área Técnica de Vigilância de Violências e Acidentes. O mesmo tem como objetivos específicos, coletar, transmitir e consolidar dados gerados rotineiramente

pela vigilância epidemiológica dos agravos de notificação compulsória, fornecendo informações para tomada de decisão e análise do perfil da morbidade da população nas três esferas de governo, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).

Deve-se destacar que a notificação de violências contra crianças, adolescentes, mulheres e pessoas idosas é uma exigência legal, fruto de uma luta contínua para que a violência perpetrada contra estes segmentos da população saia do “silêncio e medo”, revelando sua magnitude, tipologia, gravidade, perfil das pessoas envolvidas (vítimas e autores da agressão), localização de ocorrência e outras características dos eventos violentos. De igual forma, a luta pela equidade nas políticas públicas de parte de outros segmentos sociais, como a população negra, população do campo, pessoas com deficiências, lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGTB), coloca no mesmo nível de interesse a detecção das características da violência que afeta esses segmentos.

A notificação é obrigatória nos casos suspeitos ou confirmados de violência extrafamiliar contra Crianças e Adolescentes, de acordo com o Art. 13 da Lei n◦ 8.069/1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente. Uma cópia da ficha de notificação deve ser encaminhada aos Conselhos Tutelares e/ou autoridades competentes (Ministério Público, Juizado da Infância e Juventude do município); Mulher: de acordo com a Lei n◦ 10.778/2003 e o Decreto-Lei n◦ 5.099/2004; Pessoa Idosa: de acordo com o Art. 19 da Lei n◦ 10.741/2003 (Estatuto do Idoso). Esta ficha não se aplica à violência extrafamiliar (criminalidade/delinquência) cujas vítimas sejam adultos (20 a 59 anos) do sexo masculino, como brigas entre gangues, brigas nos estádios de futebol e outras.

Informações adicionais para preenchimento do instrumento foram retiradas do “Instrutivo para Preenchimento da Ficha de Notificação/Investigação Individual de Violência Doméstica, Sexual e/ou Outras Violências no Sistema de Informação de Agravos de Notificação – SINAN NET” (Ministério da Saúde, 2011).

2) Ficha de Notificante – SPC

A Ficha de Notificante do Serviço de Proteção à Criança foi disponibilizada pela coordenação do serviço, não souberam especificar a data de sua criação, mas foi organizada em conjunto pelos profissionais da equipe.

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3) Cadastro de Atendimento – CRVV

O Centro de Referência é um serviço gratuito aberto à população e em geral, tendo como pressuposto o trabalho desenvolvido quanto à questão da garantia e a não violação dos direitos. Como forma de publicizar as atividades prestadas, desenvolve a implementação de um Banco de Dados sobre violência e vitimização referente às atividades desenvolvidas pelo programa.

O Cadastro de Atendimento está no formato de intranet, ou seja, somente pode ser acessado por uma rede de computadores privada de uso exclusivo de um determinado local, neste caso a rede da PMPA, que só pode ser acessada por seus usuários ou colaboradores internos. Os profissionais realizam o atendimento pessoalmente na sede do CRVV, ou por telefone. O atendimento pela internet também é uma opção. Após o acolhimento inicial, no qual os dados são coletados de forma dialogada e depois serão inseridos no Cadastro de Atendimento.

4) Registro de Recebimento de Denúncia – CT

Consta no manual de PROCEDIMENTOS PARA O CONSELHO TUTELAR DE PORTO ALEGRE (1998, p. 7), organizado pela Coordenação dos Conselhos Tutelares do Município de Porto Alegre e a Equipe Técnica de Assessoria aos Conselhos Tutelares/SGM/PMPA, orientações sobre o RECEBIMENTO DE DENÚNCIAS. Apresentaremos o que é chamado de “Sugestões de Procedimentos”: 51º Receberá a denúncia com atenção, socializando ao usuário o conhecimento sobre o Conselho Tutelar e suas respectivas atribuições.

52º Colherá o maior número de elementos possíveis, tais como: nome, endereço, data de nascimento, nome dos pais ou responsável, grau de instrução, teia familiar da criança/adolescente, local de emprego pai/mãe.

53º Se a denúncia for por telefone, colher o maior número de elementos possíveis, buscando comprometer o denunciante a vir ao Conselho Tutelar formalizar a denúncia, porém, respeitando o direito ao anonimato.

54º Se a denúncia for efetuada pessoalmente, os relatos deverão ser o mais completo possível, obedecendo uma ordem cronológica dos fatos que desencadearam o atendimento e qual a providência sugerida pelo usuário, a fim de, possivelmente, envolvê-lo na efetiva proteção da criança/adolescente.

55º Verificará a segurança da informação buscando outras fontes e o interesse real do usuário, utilizando para tanto perguntas tais como: grau de parentesco com a criança/adolescente, bem como com o agente violador, qual sua relação com os mesmos, se presencia o fato gerador da denúncia esporádica ou sistematicamente, etc.

56º Será utilizado o formulário “ Recebimento de Denúncia” quando a denúncia for por telefone, quando os dados forem insuficientes, ou quando a denúncia for realizada por pessoa não diretamente envolvida. Casos em contrário abrir-se-á expediente. Quando a denúncia não for constatada será feito o registro no próprio formulário de denúncia em campo específico.

57º Caso a situação de denúncia caracterizar-se como Demanda Extraordinária registrar a mesa em formulário próprio.

58º O horário e o local a ser efetuada a averiguação da denúncia, deverá constar no documento da mesma, para que esta aconteça no prazo mais curto possível.

59º Registrará o fato ocorrido, verificando se existe direitos violados, clarificando ao máximo a tipologia da denúncia e estabelecendo prioridades. 60º Quando o Conselho Tutelar repassar algum caso para outro município, os conselheiros deverão enviar cópia de toda a documentação pertinente ao caso, com descrição dos procedimentos afetos.

5) Boletim e Ocorrência – DECA

O Boletim de Ocorrência (BO), em anexo, é um documento produzido pela Polícia Militar. As informações nele contidas podem ser cruciais no desfecho de um processo judicial, visto terem sido colhidas ou observadas imediatamente após os acontecimentos. É através do BO que se leva à autoridade policial ou judiciária a notícia crime, fornecendo-lhes uma série de dados (nomes de agentes, vítimas, testemunhas, vestígios, instrumentos e produtos de crime). É um meio de resguardo da legalidade em que se pautou a ação ou operação policial.

O Boletim de Ocorrência pode ser conceituado como sendo o registro ordenado e minucioso das ocorrências que exigem a intervenção policial. Ocorrência policial, por sua vez, é todo fato que, de qualquer forma, afete ou possa afetar a ordem pública e que exija a intervenção policial por meio de ações ou operações. O boletim de ocorrência é um documento oficial. Portanto, deve seguir os princípios

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expressos e reconhecidos da Administração Pública (legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência, motivação, entre outros).

A redação do BO deve se caracterizar-se pela impessoalidade, uso do padrão culto da língua, clareza, concisão, coerência e objetividade. Na redação oficial, não há lugar para impressões pessoais. O BO deve ser isento da interferência da individualidade da pessoa que o elabora.

Via de regra, o BO é constituído de vários campos, principalmente descritivos, a fim de serem relacionados dados como qualificação dos envolvidos, materiais apreendidos, integrantes da equipe policial, entres outros.

O histórico de ocorrência deve conter: Quem? Personagens.

Quê? Atos, enredo.

Quando? Dia, hora, momento. Onde? O lugar da ocorrência.

Como? O modo como se desenvolveram os acontecimentos. Por quê? A causa dos acontecimentos, se for sabida.

No histórico do BO, deve relatar apenas o que é significativo, selecionar fatos relevantes e evitar acontecimentos sem nenhum significado. Os dados que forem lançados em campos parametrizados não precisam ser repetidos no histórico, exceto se forem importantes para a narrativa. O histórico de BO deve ser fiel à realidade, dando noção do lugar, circunstâncias e participação dos envolvidos. Deve narrar, de forma concisa e objetiva, todas as informações colhidas no local da intervenção policial, as quais terão valor inestimável nas investigações posteriores.

Enfim, será considerado um BO bem confeccionado aquele que narra os acontecimentos de maneira ordenada, coerente, clara, concisa, precisa, objetiva e que resguarda as ações e providências adotadas pelos policiais explicitando os fundamentos de fato e de direito, estabelecendo uma lógica entre estes.

6) Ficha de Notificação de Suspeita ou confirmação de Maus Tratos contra Crianças e Adolescentes – MP

A Ficha de Notificação de Suspeita ou confirmação de Maus Tratos contra Crianças e Adolescentes (em anexo), foi normatizada pela PORTARIA N° 1968/2001, que dispõe sobre a comunicação, às autoridades competentes, de casos de suspeita ou de confirmação de maus-tratos contra crianças e adolescentes atendidos nas entidades do Sistema Único de Saúde. Em 25 de outubro de 2001 e dispõe sobre a comunicação, às autoridades competentes, de casos de suspeita ou de confirmação de maus-tratos contra crianças e adolescentes atendidos nas entidades do Sistema Único de Saúde.

O Ministro de Estado da Saúde, com apoio Art. 87, inciso II, da Constituição Federal, considerando o disposto no Capítulo I do Título II da Lei n° 8.069, de 13 de julho de 1990; os termos da Política Nacional de Redução de Morbimortalidade por Acidentes e Violências, publicada pela Portaria GM/MS nº 737, de 16 de maio de 2001, no Diário Oficial da União de 18 de maio de 2001, resolve: Art. 1º Estabelecer que os responsáveis técnicos de todas as entidades de saúde integrantes ou participantes, a qualquer título, do Sistema Único de Saúde – SUS deverão comunicar, aos Conselhos Tutelares ou Juizado de Menores da localidade, todo caso de suspeita ou confirmação de maus-tratos contra crianças e adolescentes, por elas atendidos.

Art. 2° Definir que a comunicação de que trata o Artigo 1° deverá ser feita mediante a utilização de formulário próprio, constante do Anexo desta Portaria, observadas as instruções e cautelas nele indicadas para seu preenchimento. Parágrafo único. O formulário objeto deste Artigo deverá ser preenchido em 02 (duas) vias, sendo a primeira encaminhada ao Conselho Tutelar ou Juizado de Menores e a segunda anexada à Ficha de Atendimento ou Prontuário do paciente atendido, para os encaminhamentos necessários ao serviço.

Finalizamos aqui a apresentação dos serviços e temos descrição detalhada de todos os elementos dos documentos em anexo. A partir deste levantamento e com as questões que são apresentadas em cada um dos dispositivos de registro, vamos nos deter a seguir numa analise categorial detalhada.

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