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3. DISPOSITIVOS DE REGISTRO E MALHA COMUNICATIVA NOS SERVIÇOS

3.3 Instâncias para coleta dos documentos

Através da observação do mapeamento dos fluxos de encaminhamento e visando a escolha dos dispositivos de registro na rede de atendimento a crianças e adolescentes vítimas de violência sexual foram identificados quais os serviços que são especializados no atendimentos de crianças e de adolescentes nos casos de violência sexual. Neste sentido, foram definidos como campo de coleta dos documentos os seguintes serviços:

Centro de Referência no Atendimento Infanto-Juvenil (CRAI): O Centro de Referência no Atendimento Infanto-Juvenil (CRAI), presta atendimento a crianças e adolescentes vítimas de violência. Composto por uma equipe formada por assistentes sociais, psicólogos, psiquiatras, pediatras, ginecologistas, advogados e policiais civis, fornece acompanhamento integral, desde o registro da ocorrência policial, preparação para a perícia médica, notificação ao conselho tutelar e avaliação clínica até o encaminhamento para tratamento terapêutico na rede de saúde do município de origem da vítima. Consiste, sobretudo, numa experiência intersetorial de abordagem à vítima, onde três segmentos importantes de intervenção e combate à violência sexual infanto-juvenil (Hospital Materno Infantil Presidente Vargas/HMIPV - Departamento Médico Legal/DML - Departamento Estadual da Criança e Adolescente/DECA) atuam de forma interdisciplinar. A criança ou adolescente recebem atendimento integral (biopsicossocial). Na acolhida, direcionam-se todos os encaminhamentos necessários em saúde e proteção para cada caso, incluindo Boletim de Ocorrência Policial e exames periciais, quando necessário.

Iniciou sua história em 2001, como resultado do processo de implantação de ações e serviços entre o Governo do Estado e a Prefeitura Municipal de Porto Alegre dentro do Plano Nacional de Enfrentamento da Violência (2000), tendo por premissa a promoção dos direitos da criança e do adolescente, conforme preconiza o Estatuto da Criança e Adolescente - ECA. Essa política pública surge, principalmente, em consonância com o Artigo 5° do ECA: “Nenhuma criança ou adolescente será objeto

de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão aos seus direitos fundamentais.”

Inicialmente o CRAI prestava o atendimento a situações de maus tratos contra crianças e adolescentes. A partir do ano de 2003, com a frequente demanda ao atendimento das situações de violência sexual, o CRAI buscou especializar-se e se instrumentalizar nesta temática, se tornando não só uma referência ao atendimento de vitimas de violência sexual para Porto Alegre, como referência para todo o Estado.

O diferencial do serviço está na sua concepção de um atendimento humanizado e integral à criança e adolescente tendo como premissa as diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS) e do ECA, entendendo que a violência sexual a que elas estão submetidas é uma questão de saúde pública, de segurança e de justiça. Na composição de sua equipe, conta com profissionais da SMS (Secretaria Municipal da Saúde), DML (Departamento Médico Legal) e DECA (Delegacia Especializada da Criança e Adolescente), tornando-se um Centro que comporta diferentes áreas/saberes profissionais para prestar o atendimento das diversas intervenções necessárias às situações de violência sexual, visando minimizar os efeitos destas vivências.

O CRAI, além de ser um serviço de pronto-atendimento na área da violência sexual contra crianças e adolescentes, também desenvolve ações preventivas que visam divulgar, sensibilizar, capacitar e instrumentalizar a rede pública de serviços: de saúde, de educação, da assistência social, Conselhos Tutelares e a sociedade em geral, para o enfrentamento da violência, buscando romper seu ciclo.

Todo e qualquer cidadão que tome conhecimento ou suspeite de casos de violência sexual contra a criança e/ou adolescente. Salientamos que, sempre que possível, torna-se prioritária a notificação ao Conselho Tutelar, considerando a obrigatoriedade da notificação conforme Art. 13 ECA. O CRAI funciona no HOSPITAL MATERNO INFANTIL PRESIDENTE VARGAS - Av. Independência, 661 - 6ºandar - Bloco C - Sala 619 - Bairro Independência - Porto Alegre – RS, telefones de contato ( 51 ) 3289.3367 e Fax - 3289.3354, Horário de Atendimento: 2ªf à 6ªf das 8h às 18h. Os atendimentos fora do horário estabelecido poderão ser encaminhados para a Emergência do HMIPV, para avaliação.

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Serviço de Proteção à Criança (SPC): A Secretaria Municipal de Saúde mantém o Serviço de Proteção à Criança - SPC, localizado no Centro de Saúde IAPI, voltado ao atendimento de vítimas de violência e abuso sexual com até 18 anos incompletos e familiares. O SPC acolhe crianças e adolescentes encaminhados pelo CRAI e também aqueles que já realizaram perícia e efetivaram os procedimentos legais em relação à violência sofrida. Sua equipe técnica é formada por assistentes sociais e psicólogas responsáveis pelo acolhimento, tratamento psicoterápico e atendimento psicossocial.

A abordagem do serviço é interdisciplinar e o trabalho é estruturado em conjunto com a rede de proteção existente nas comunidades de origem das vítimas e famílias. O atendimento inicia pelo acolhimento, primeiramente com os adultos responsáveis pela vítima. Em seguida, o caso é levado para reunião de equipe onde é avaliada a forma de abordagem de cada situação. O trabalho pode ser em grupo ou individual, que ocorre através da psicoterapia sistemática semanal. Já os atendimentos em grupos acontecem por indicação técnica, podendo ser extensivos às famílias (grupos de responsáveis, grupo de sexualidade). O núcleo familiar é trabalhado de forma concomitante à abordagem psicossocial.

O trabalho em rede é uma constante na atuação do SPC, que mantém troca permanente com instituições como o Juizado da Infância e Juventude, o Ministério Público, os Conselhos Tutelares, as escolas, os CRAS, os CREAS, as Casas de Acolhimentos-abrigos e demais grupos sociais que integram a ampla rede de proteção aos direitos das crianças e adolescentes no município.

Somente no primeiro quadrimestre de 2012, o SPC realizou 730 atendimentos em psicoterapia, 427 atendimentos psicossociais e familiares, totalizando 1.157 acompanhamentos. A equipe técnica trabalhou no acolhimento de 26 crianças e efetuou 485 contatos institucionais. O serviço atende de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 13h30 às 17h30 no Centro de Saúde IAPI, na Rua Três de Abril, 90, área seis. (51) 3289.3436.

Centro de Referência às Vítimas de Violência (CRVV): No ano de 2004, o Centro de Referência às Vítimas de Violência (CRVV) se originou de um convênio com a Secretaria de Direitos Humanos – Presidência da República do Governo Federal. Hoje é um serviço da Secretaria Municipal de Direitos Humanos, pois a parceria com o Governo Federal durou até 2008, criado para prestar informações e orientações às

vítimas de violações de direitos, abuso de autoridade, exploração sexual e qualquer tipo de discriminação. O CRVV possui profissionais capacitados para diagnosticar e orientar a população sobre direitos e possibilidades de defesa, em casos de crime e de violências contra: a vida e a integridade; a mulher, a criança e o adolescente; idosos, negros, gays, lésbicas, bissexuais, transgêneros e portadores de necessidades especiais. O CRVV se destina a qualquer pessoa, vítima de violência ou testemunha e que necessite orientação sobre como agir nestes casos.

O Centro de Referência é um serviço gratuito aberto à população e em geral, tendo como pressuposto o trabalho desenvolvido quanto à questão da garantia e a não violação dos direitos. Entretanto, como forma de publicizar a importância das atividades prestadas, desenvolve demais atividades, como: Organizar e promover atividades pedagógicas, psicossociais e palestras com grupos de vítimas, familiares e amigos das vítimas por categorias de violência; Capacitar atores sociais para atuarem como multiplicadores de ações educativas voltadas para a prevenção da violência; Participar de movimentos e lutas contra a impunidade, a violência e em defesa da vida e dos Direitos Humanos, Estabelecer parcerias com instituições do setor público e privado para o desenvolvimento de atividades voltadas para a prevenção da violência; Implantar um Banco de Dados sobre violência e vitimização referente às atividades desenvolvidas pelo programa.

Qualquer pessoa pode acessar o Centro de Referência às Vítimas de Violência, através do Disque-Denúncia: 0800-6420100 (ligação gratuita de qualquer celular) de segunda a sexta-feira, das 8h30min às 18h; pessoalmente na sede do CRVV e pelo site da Prefeitura Municipal de Porto Alegre. O Centro conta com uma equipe de assistentes sociais e psicólogos, que realizam atendimento integrado. Esses profissionais atendem os usuários do serviço pessoalmente na sede do CRVV, ou por telefone. O atendimento pela internet também é uma opção. Seja qual for o tipo de acesso escolhido, será dado o devido acolhimento e encaminhamento.

O CRVV pode ser procurado em todas as situações que envolvam violação de direitos humanos. A partir do atendimento prestado pelo profissional do Centro, o usuário recebe um número de protocolo para acompanhar o andamento do acolhimento, pelo fone 0800-6420100. O usuário do CRVV pode ser atendido e receber orientações sem ser identificado. Independente da identificação do usuário

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do serviço, são prestadas informações quanto às medidas legais voltadas à resolução da violação de direitos e à responsabilização dos envolvidos.

O CRVV está à disposição de toda a comunidade para o esclarecimento de dúvidas relativas às atividades desempenhadas ou das políticas de direitos humanos. Com isso, fortalece, sensibiliza, fomenta e potencializa os serviços da rede em todos os seus níveis.

Conselho Tutelar de Porto Alegre (CT): O Conselho Tutelar é um órgão permanente e autônomo, encarregado de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente. De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, o CT tem a incumbência de atender casos de crianças ou adolescentes ameaçados ou violados em seus direitos e tomar as providências adequadas para efetivar esses direitos, a Gerência Operacional do Conselho Tutelar encontra-se na Secretaria Municipal de Governança Local.

É um órgão importante da municipalização do atendimento, pois se trata de uma equipe (ou equipes, pois os municípios podem ter tantas quantas forem necessárias ou possíveis) autônoma e independente, que cobrará dos responsáveis pela efetivação dos direitos elencados no ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente, encaminhando, quando necessário, práticas de atos ilegais ou criminosos à Justiça.

O CT, enquanto representação da sociedade, compartilha com o Estado e com a família a incumbência de executar a política de atendimento social da criança e do adolescente e resguardar seus direitos. Em Porto Alegre, o CT está organizado em dez microrregiões, cada equipe formada por cinco conselheiros eleitos pelo voto direto facultativo, para um mandato de três anos, com direito a uma recondução.

O Conselho Tutelar de Porto Alegre conta com dez Microrregiões. Tem uma infraestrutura básica para o atendimento das situações de violação de direitos de crianças e adolescentes, vitima de maus tratos físicos e psicológicos, negligência, discriminação, violência, crueldade e opressão, tais como: sede com salas de atendimento ao público, assistentes administrativos e estagiários, material de expediente, telefone/fax, computadores, transporte para averiguação das denúncias/visita domiciliar. Conta ainda com uma Gerência de Apoio Operacional e uma Equipe Técnica de Assessoria multidisciplinar para promover atividades de qualificação dos Conselheiros Tutelares.

Os Conselhos Tutelares atendem das 8hs às 18hs, de segunda à sexta-feira nas Microrregiões; e das 18hs às 8hs do dia seguinte, bem como, nos fins de semana e feriados, em regime de plantão, contando sempre com dois Conselheiros Tutelares de Microrregiões diferentes. Nas terças-feiras não há atendimento externo, pois os Conselheiros estão em reunião colegiada, para discussão dos casos e encaminhamentos dos atendimentos. Porém, ficando sempre um conselheiro plantonista para o atendimento dos casos de emergências.

Em Porto Alegre, os Conselhos Tutelares contam ainda com uma coordenação estabelecida na Lei Municipal n.º 7394/93 e no Regime Interno, constituída por um membro de cada Conselho e é o órgão que disciplina a organização interna do conjunto dos Conselhos Tutelares no município. Reúne-se semanalmente nas quintas-feiras. Bimestralmente, são realizadas assembleias gerais onde os conselheiros aprofundam assuntos pertinentes aos Conselhos e aos encaminhamentos das comissões temáticas formadas por membros de Microrregiões diferentes.

Os Conselhos Tutelares de Porto Alegre compõem uma das regionais da Comissão Estadual dos Conselhos Tutelares do Rio Grande do Sul, que tem como finalidade articular as ações conselheiras em nível estadual, bem como na organização de atividades nacionais, endereços em anexo.

Departamento Estadual da Criança e do Adolescente (DECA): O DECA atua em defesa da Criança e do Adolescente e apuração de atos inflacionais, articulando-se com as delegacias de proteção do interior através da Rede Estadual de Polícia. O Departamento Estadual da Criança e do Adolescente (DECA), se situa no Centro Integrado de Atendimento da Criança e do Adolescente (CIACA), localizado na avenida Augusto de Carvalho, 2000 em Porto Alegre, sendo um trabalho entre a Polícia Civil e o Judiciário. A cidade de Porto Alegre possui a 1ª Delegacia para Proteção à Criança e ao Adolescente Vítima – DPCAV/RS, que está incluída no Departamento Estadual da Criança e do Adolescente, localizada no CIACA.

No CIACA funciona o projeto “Justiça Instantânea”, que promove o atendimento de crianças vítimas de maus-tratos e jovens infratores. No local, trabalham integradas as unidades do Juizado da Infância e da Juventude, com a Justiça Instantânea, da Promotoria de Justiça, da Polícia Civil, do Instituto-Geral de

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Perícias e um setor de Assistência Social, além da Defensoria Pública e a equipe técnica que atende adolescentes em conflito com a lei.

O Centro Integrado de Atendimento à Criança e ao Adolescente (CIACA) possui a seguinte estrutura: um juiz no horário de expediente e um juiz plantonista fora do horário de expediente, um delegado da Polícia Civil – 24 horas, um promotor de justiça no horário de expediente e um promotor plantonista fora do horário de expediente, Defensoria Pública, Fundação de Atendimento Socioeducativo, Posto de Identificação do Adolescente. Funcionam 24 horas, no mesmo espaço do Centro Integrado de Atendimento à Criança e ao Adolescente - CIACA, uma Delegacia para Atendimento de Criança e Adolescente Vítima – somente atendimento policial – e o Núcleo de Custódia.

Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP/RS): Nos termos do art. 127 da Constituição Federal, o Ministério Público é uma instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. O Ministério Público tem por chefe o Procurador-Geral de Justiça, nomeado pelo Governador do Estado dentre integrantes da carreira, indicados em lista tríplice, mediante eleição. para mandato de dois anos, permitida uma recondução por igual período, na forma da lei complementar.

Enquanto Instituição, o Ministério Público tem autonomia orçamentária, administrativa e funcional, gerindo os recursos que lhe são destinados pelo orçamento, dirigindo suas Procuradorias e Promotorias e atuando, na atividade de execução, com independência funcional, sem qualquer subordinação, exceto à Constituição e legislação vigente. No plano funcional, o Ministério Público é integrado por membros, servidores e estagiários, sendo que, dentre os primeiros estão os Procuradores e Promotores de Justiça e os demais constituem os serviços auxiliares. A carreira dos membros do Ministério Público é composta por Promotores e Procuradores de Justiça, que atuam nas funções de execução, em atividades judiciais (perante o Poder Judiciário) e extrajudiciais, nas áreas criminal, cível e especializadas (cidadania, meio ambiente, cível e defesa do patrimônio público, infância e juventude, consumidor, ordem urbanística).

Nesta pesquisa o nosso foco será a Promotoria de Justiça da Infância e da Juventude – Articulação/Proteção de Porto Alegre, localizada no prédio-sede na Av. Aureliano de Figueiredo Pinto, nº 80, no Bairro Praia de Belas.