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DESIGN E PRODUTOS INFANTIS

7. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

7.7 Descrição do experimento

Conforme já detalhado, ao longo de três encontros foram aplicadas etapas dos experimentos como forma de promover uma aproximação com as crianças e coletar as informações de maneira segmentada. Como as crianças entre três e cinco anos caracterizam-se por um público ainda de difícil acesso, era necessário fracionar a quantidade de respostas a serem coletadas para não cansar os sujeitos ou utilizar formas muito complexas de apropriação das informações. O experimento foi montado de forma progressiva, em que um encontro dava margem para um seguinte acontecer e gerava informações/bagagem para que as crianças compreendessem o objetivo das ações e fosse dia a dia confiando na pesquisadora. O último dia de coleta de dados, quando as crianças já estão familiarizadas com a pesquisadora, culmina com o recolhimento da informação mais importante junto aos sujeitos.

Por questões éticas devido à pesquisa envolver crianças, o protocolo do experimento foi submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e teve parecer aprovado para aplicação junto às crianças. A escolha das creches e o roteiro do experimento foram validados e aprovados inicialmente pela Prefeitura Municipal de Caruaru, que regula as entidades e, pelo CEP, que libera o parecer autorizando a aplicação da pesquisa. Os documentos de submissão, aprovação e os termos de assentimento livre e esclarecido (TALE) submetidos aos pais e responsáveis encontram-se anexos ao fim desse documento. Para que a pesquisa acontecesse, os pais ou responsáveis deveriam assinar os termos, autorizando a participação das crianças. Devido à dificuldade de se ter acesso aos pais das crianças, por conta do trabalho ou que irmãos eram responsáveis pelo transporte dos alunos, em alguns casos as creches assumiram a função de responsáveis pelos sujeitos ao entender que a pesquisa não iria gerar prejuízos para os alunos.

Para apontar os passos conferidos em cada fase do protocolo, os encontros são descritos abaixo: Encontro 1

Após ajustadas em conformidade com o experimento piloto, foram apresentadas cartelas contendo imagens ou conteúdos formais para nivelamento das turmas. As cartelas foram dispostas tomando como embasamento a ISO 9186/2001, como forma de apresentar as informações para os sujeitos. Foram dispostas em quatro temas:

1 – Uma cartela que dispunha 16 cores [temas neutro, meninas e meninos] e continha janela vazada para visualização das opções cromáticas por grupos;

150 2 – Doze cartelas com formas diversas em preto e branco [temas neutro, meninas e meninos];

3 – Nove cartelas com texturas diversas em preto e branco [temas neutro, meninos e meninas] e; 4 – Nove cartelas com personagens diversos [temas neutro, meninas e meninos].

As cartelas foram aplicadas para os dois grupos de crianças, com três e quatro anos.

Função: nivelamento do grupo e aproximação pesquisador > sujeitos.

Materiais: 31 cartelas medindo 20X20cm, com imagens impressas centralizadas, como sugere a ISO

9186/2001.

Abordagem: Em grupo em forma de aula, com as professoras atuando como tutoras, utilizando as cartelas

como suporte de aula normal.

Questionamentos: não.

Desfecho: As crianças recebiam desenhos para pintar e escolhiam livremente dentre os apontados nas

cartelas de personagens (Figura 87).

Figura 81. Exemplos de desenhos coloridos pelas crianças durante o encontro.

Fonte: Arquivo pessoal (2013)

Encontro 2

No segundo encontro as camisetas foram apresentadas com cores, formas e texturas misturadas para escolha das crianças. Cada camisa desenvolvida utilizava os elementos misturados entre si, não necessariamente adotando um padrão estereótipo de mercado, com escolhas e padrões de meninas ou meninos (Figura 88). As peças estavam dispostas em uma arara de exposição, penduradas em cabides a exemplo das dispostas em lojas comerciais, para aproximar mais da realidade da proposta da etapa, fazendo com que a criança pudesse entrar no jogo do faz de conta. Essa atitude possibilitou que os sujeitos percebessem que as peças pertenciam à creche/pesquisadora e seriam devolvidas após a brincadeira, não gerando expectativas e possíveis frustrações nas crianças.

Função: os sujeitos escolhem as camisas que mais agradam e respondem às questões.

Materiais: 30 camisetas impressas na parte frontal da peça, confeccionadas para sujeitos entre três e

cinco anos [com ilustrações e cores diversas].

Abordagem: Através da entrevista-conversa relacional, com grupos de até três crianças na sala. Questionamentos: Qual escolheria se estivesse em uma loja? Por que? Querem trocar com alguém?

As respostas foram assinaladas na ficha 1 (escolha de camisetas).

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Fonte: Arquivo pessoal (2013)

Encontro 3

No terceiro encontro foram apresentadas fichas com cinco opções de uma mesma figura [duas com características mais femininas, duas mais masculinas e uma neutra]. Foram apresentadas cinco figuras diferentes para validação da melhor forma por idade.

Foi desenvolvido um modelo de ficha único para os dois grupos, entre três e cinco anos. Ao final foi perguntada para cada criança “qual camisa ele escolheria para si”, de modo a fazer as anotações relacionadas às escolhas de gênero das crianças. Como forma de aproveitar a coleta de dados, foram realizadas perguntas adicionais que poderiam ser utilizadas ou não no tratamento de dados. Essas perguntas complementares possibilitam a geração de resultados a partir da compreensão que as crianças têm acerca do gênero oposto. Foi questionado “qual escolheria para um colega de gênero oposto” e “qual ele acharia que poderia ser vestida por meninas e meninos”.

Temas das imagens | Menina

- princesa, chapeuzinho vermelho, textura de corações, estrelas e flores. Temas das imagens |Menino

- carro, robô, textura de background radical, de bolhas e pegadas de animais. Temas das imagens | Neutro

- caixa de pincéis de pintura, textura de persponto, de ondas, em espiral.

Função: Aplicação de modelo semelhante à ISO 9186-2001 com imagens impressas em cor preta,

distribuídas de forma seqüencial para a escolha dos sujeitos a partir da observação de imagens sem texto adicional.

Materiais: 25 fichas com 5 grupos de 5 imagens enfileirados para análise dos sujeitos entre três e cinco

anos (Figura 89). Cada criança respondeu em uma ficha própria e as imagens foram circuladas a partir das perguntas com cores distintas.

A abordagem escolhida como mais adequada para demonstrar as imagens utilizou as figuras em uma ficha de impressão em face única, visto que as crianças ainda são muito pequenas e poderiam cansar durante o experimento e até não entender a diferença entre as imagens caso elas fossem apresentadas em forma de livro, com um exemplo em cada página.

Abordagem: Através da entrevista-conversa relacional, em grupos de três alunos [de preferência mistos,

com meninas e meninos], com coleta de dados individual. As tutoras já selecionavam as crianças que seriam observadas, o que favoreceu a coleta de dados entre gêneros opostos.

Questionamento principal: Quais imagens você queria na sua roupa?

Questionamentos complementares: E na do seu amigo [de gênero oposto]? Alguma poderia ser usada na

roupa dos dois?

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Fonte: Arquivo pessoal

Além do questionamento específico proposto pelo objetivo geral dessa investigação, mais duas indagações foram feitas aos sujeitos como forma de aproveitar o experimento e coletar dados sobressalentes e complementares à pesquisa. Os dados tratados em conjunto certamente rederam resultados mais ricos e abrangentes.

O objetivo do experimento residiu em validar se o elemento da linguagem gráfica responde pela escolha por gênero dos sujeitos. Para tanto, as abordagens como supracitado foram gravadas, fotografadas e feitas anotações ao longo dos encontros, com o propósito de auxiliar na coleta e tratamento dos dados. A pesquisa foi desenvolvida dentro do ambiente escolar, que já configura familiaridade e segurança para os sujeitos. A proposta do experimento foi montada seguindo critérios de segurança propostos pelo Comitê de Ética e Pesquisa da UFPE. Esses critérios regularam o protocolo e ajustaram-no como forma de garantir uma coleta de dados válida de forma uniforme para todos os sujeitos abordados. São eles:

7.7.3 Procedimentos: os pais ou responsáveis foram informados dos objetivos e da justificativa desta pesquisa, de maneira clara e detalhada, bem como receberam orientações sobre os procedimentos em que os participantes estariam envolvidos. Seus dados pessoais foram mantidos em sigilo.

7.7.4 Riscos possíveis: existiu o risco de o participante ficar inibido, não interagir a partir da solicitação da tutora ou se negar a realizar a atividade. Nestes casos, sua decisão foi respeitada e o participante não foi questionado de forma alguma sobre sua decisão ou pôde se recusar a participar das atividades da pesquisa a qualquer momento, sem quaisquer ônus ou implicações para o mesmo.

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7.7.5 Benefício: as crianças foram beneficiadas pela atividade grupal, divertida e educativa, acrescentando e relembrando alguns conceitos já vistos em sala de aula, tendo como diferencial o suporte no qual a atividade é aplicada.

7.7.6 Gravações: durante a abordagem, as crianças foram gravadas e filmadas para facilitar a análise dos dados. Tais dados serão de uso exclusivo da pesquisadora, não sendo utilizados para outros fins além da pesquisa. As informações foram armazenadas em computador próprio da pesquisadora, sendo esta responsável pelos dados obtidos. O sigilo garantirá a privacidade dos entrevistados durante a pesquisa e será assegurado pela pesquisadora.

13.13 Os encontros

Para a coleta de dados foram necessários três encontros aplicados em dias distintos, para que todos os dados pudessem ser coletados de forma segura, prazerosa e não cansassem os sujeitos abordados. As turmas foram observadas nos dias 20, 21 e 22 de novembro de 2013. As turmas da creche Tia Clarice foram observadas no turno da manhã, entre as 8h e 10h e as turmas da creche Érika Patrícia tiveram experimentos aplicados no turno da tarde, das 14h às 16h. Os encontros não podiam se estender por mais tempo para respeitar os horários de lanche e banho das crianças, visto que por regimento das creches são horários em que não se pode ter a presença de estranhos nas instituições21.

Como já citado, o encontro serviu para o primeiro contato com as turmas, conhecimento dos alunos e nivelamento das temáticas necessárias para a aplicação total do experimento. As crianças ao participarem ativamente da abordagem, respondiam às questões indagadas pelas tutoras. De início os sujeitos ficaram inibidos com a presença da pesquisadora, mas com a continuação da aula esse sentimento foi substituído pelo interesse em participar da aula lúdica, repleta de elementos incomuns na sua realidade de ensino (Figura 90).

Figura 84. Aplicação do experimento no primeiro encontro.

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Fonte: Arquivo pessoal(2013)

Ao longo do segundo encontro, os sujeitos tiveram contato com as camisas e realizaram suas escolhas conforme suas preferências pessoais (Figura 91). Agrupados em grupos de três alunos, os sujeitos eram abordados individualmente para realizar suas escolhas.

Figura 85. Aplicação do experimento no segundo dia.

Fonte: Arquivo pessoal (2013)

Durante o terceiro encontro, os sujeitos apenas responderam à ficha de análise, apontando suas escolhas quanto à imagem, personagem e texturas. Com o término da coleta de dados, foi possível acumular relatos suficientes para favorecer a validação da pesquisa. A aplicação do experimento foi eficaz e as informações coletadas quando tabuladas e tratadas geraram resultados precisos na investigação. Ao longo dos três encontros, esta pesquisadora conforme supracitado, apenas observou a abordagem junto às crianças, ficando a condução dos encontros sob a responsabilidade das tutoras (professoras e assistentes das turmas). Para tanto, as abordagens foram gravadas, fotografadas e anotadas com o intuito de facilitar a compreensão e contagem dos dados, que por fim geraram resultados quantitativos e qualitativos.

155 Um dado relevante durante a coleta de dados foi a presença de um sujeito autista entre os alunos.

De início não se sabia como ele iria participar do experimento visto que não interage normalmente como os outros alunos. Mas dentro do universo dele ele atuou nos encontros, realizou as atividades propostas e contribuiu com dados tão relevantes quanto aos outros sujeitos. Os dados coletados foram avaliados posteriormente juntamente com todos os outros sujeitos. Os resultados propostos pelo experimento com esse sujeito foram descritos e tabulados normalmente como os outros. Não foi feita uma análise específica sobre esse caso, pois não fazia parte dos objetivos da pesquisa esse tipo de indagação, o que poderá servir de desdobramento para outra fase de análise.

Após a validação dos experimentos aqui propostos, os dados foram tratados e o que gerou resultados para a conclusão da pesquisa aqui proposta. A apresentação do próximo capítulo consiste em lapidar e analisar as informações obtidas ao longo da coleta de dados com o objetivo de observar a pertinência e relevância dos resultados obtidos. Dessa forma, o capítulo seguinte tratou de tecer os comentários acerca das coletas, o que possibilitou que se desse os primeiros passos rumo à conclusão da presente investigação.

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CAPÍTULO 8