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A análise dos dados relativos aos séculos XVII ao XX teve um caráter essencialmente pancrônico. Os textos escolhidos como representativos do século XVII foram as Cartas de Vieira, do século XVIII, as Cartas baianas setecentistas, do século XIX, o volume 38 dos Anais do Arquivo do Estado da Bahia e do século XX os Diálogos do Projeto NURC, conforme já destacado. Como ressaltado na Introdução, foram analisados os elementos prefixados a formas nominais (substantivos e adjetivos) e verbais. Também, salvo raras exceções, analisaram-se somente aquelas palavras que os falantes contemporâneos, intuitivamente, reconhecem como contendo formas prefixais, ou seja, palavras das quais se podem destacar afixos reconhecíveis no funcionamento atual da língua. Como auxílio na identificação desses prefixos, foram consultados o Dicionário de Ferreira (1999) e o Dicionário etimológico da língua portuguesa, de Antônio Geraldo da Cunha (1991).

Analisaram-se apenas os elementos prefixais que ainda não perderam a sua função prepositiva e que foram estudados por POGGIO (2002). Não foram estudados, assim, prefixos como TRANS-, EX-, EXTRA- e A- (do latim AB), derivados de preposições latinas, mas que perderam o valor prepositivo, na passagem do latim para o português.

Os seguintes prefixos foram estudados25:

1) A- do latim AD

2) ANTE- do latim ANTE 3) COM- do latim CUM

4) CONTRA- do latim CONTRA 5) DE- do latim DE

6) EM- do latim IN

7) INTER- do latim INTER 8) POS- DO LATIM AD + POST 9) SEM- do latim SINE

10) SUB- do latim SUB 11) SOBRE- do latim SUPER

Um total de 1044 palavras com prefixos derivados de preposições foram recolhidas e estudadas.

Inicialmente, analisaram-se os dados com o auxílio das teorias do localismo e dos protótipos. Nessa análise, compararam-se os dados dos séculos XVII e XVIII entre si e com os dados etimológicos apresentados por Romanelli (1964) e Cunha (1991), tendo o objetivo de verificar variações ou manutenção de características semânticas e formais dos prefixos encontrados nos corpora selecionados, em relação ao étimo e de um século para o outro. Para a correta identificação do valor semântico dos itens prefixais nos corpora, foi fundamental a análise desses elementos no seu contexto, o que comprova a postulação de Halliday (1985) de que a unidade maior de funcionamento da língua é o texto. Foram comparados também os dados dos séculos XVII e XVIII com os dados de Poggio (2002) sobre o uso das preposições no século XIV, com a finalidade de identificar variações

semânticas provocadas pela mudança preposição > prefixo.

Nesta tese, inclui-se a análise de dados de sincronias posteriores, do século XIX até a contemporaneidade, almejando verificar a continuidade, ou não, das tendências apontadas na dissertação Prefixos derivados de preposições em textos de língua portuguesa dos séculos XVII e XVIII. Em relação especificamente ao século XX, consideraram-se materiais coletados em dois períodos distintos. O primeiro, compreendendo diálogos ocorridos entre 1974 e 1978 (doravante DPN1) e o segundo, diálogos entre 1998 e 2000 (doravante DPN2). Note-se que há, entre esses períodos, um intervalo de em média vinte e cinco anos. Comparando-se os dois conjuntos de diálogos entre si, acredita-se que é possível ter uma idéia do ritmo com o qual vem se processando a mudança preposição > prefixo na contemporaneidade.

Em seguida, a meta foi a identificação dos processos e princípios de gramaticalização aplicáveis à mudança preposição > prefixo. Como explicado no capítulo três, os processos de gramaticalização que resultam em alterações gramaticais, possíveis em uma mudança lingüística são, conforme explanação de Castilho (1997): sintaticização, morfologização e fonologização. Quanto aos princípios de gramaticalização, adotaram-se como referência os postulados por Hopper (1991): divergência, persistência e descategorização.

Foram aplicados os parâmetros propostos por Lehmann (1982 apud CASTILHO, 1997) e discutidos no capítulo três, objetivando comparar os prefixos entre si e com a forma prepositiva da qual se originaram, quanto ao grau de gramaticalização.

Em virtude de algumas dificuldades encontradas em se aplicar os pressupostos teóricos relacionados com o princípio da unidirecionalidade aos dados recolhidos, realizou-se, finalmente, uma breve aplicação da nova proposta de estudo multissistêmico de Castilho (2003) às mudanças envolvendo os prefixos, por se tratar de uma interessante alternativa à abordagem clássica da teoria da gramaticalização. De acordo com o princípio da unidirecionalidade, como já considerado no capítulo três, de uma categoria de palavras surge outra, em um processo irreversível que ocorre sempre da esquerda para a direita, havendo, durante esse processo, enfraquecimento ou “desbotamento” semântico do item que muda. Contudo, todos os elementos pesquisados já eram usados, desde o latim, como preposição e como prefixo. Além disso, alguns dados, considerados mais adiante, parecem mostrar mais a ocorrência de processos simultâneos de perdas e ganhos de determinados traços semânticos, quando um item prepositivo se torna um prefixo, do que propriamente processos de “desbotamento” de sentido. Por esses motivos, considerou-se apropriado adicionar a esta

pesquisa uma breve análise do corpus, aplicando a proposta de estudo multissistêmico.

Freqüentemente, foram tecidos comentários gerais sobre os resultados deste estudo, verificando-se até que ponto as diversas premissas teóricas foram comprovadas, no que se refere aos processos de mudança, envolvendo os prefixos. É importante ressaltar, contudo, que, na maioria dos casos, as conclusões são parciais e dizem respeito exclusivamente aos corpora em análise.

6 ANÁLISE DOS DADOS À LUZ DE TEORIAS FUNCIONALISTAS

Dentre os prefixos analisados, alguns são bastante produtivos como elementos formadores de vocábulos no português, como os prefixos a- e em-. Outros se fazem presentes, em sua maioria, apenas em palavras cujo processo de derivação se deu já no próprio latim.