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A TRADIÇÃO MANUSCRITA

1. Descrição dos códices

Da primeira parte da Crônica de D. Duardos conhecem-se hoje 7 cópias: número nada desprezível, embora não se aproxime dos 33 manuscritos da Crônica de D.

Belindo, de D. Leonor Coutinho. Ainda assim, a quantidade de cópias que sobreviveu

até hoje permite supor que a Crônica de D. Duardos tenha gozado de certo prestígio e aceitação junto ao público, visto que a maioria dos livros de cavalaria manuscritos da época encontra-se conservada em cópia única.

Os 7 manuscritos que conservam a primeira parte da Crônica de D. Duardos encontram-se em Lisboa: um deles na Torre do Tombo e os outros, na seção de Reservados da Biblioteca Nacional. São cópias do século XVII e de modo geral estão bem conservadas. Os códices, acompanhados das respectivas siglas com que serão designados doravante, são os seguintes:

A – Lisboa, BNL: cód. 12904 B – Lisboa, BNL: cód. 620 C – Lisboa, BNL: cód. 658 D – Lisboa, BNL: cód. 6828

E – Lisboa, TT: Manuscritos da Livraria: cód. 1773 (1ª parte) F – Lisboa, BNL: cód. 483

G – Lisboa, BNL: cód. 619

As bibliografia em que se mencionam tais manuscritos é muito escassa e, conforme já tivemos oportunidade de ressaltar anteriormente, resume-se em sua quase

totalidade apenas à notícia de sua existência. Em síntese, a história da descoberta e identificação dos testemunhos da Crônica de D. Duardos é a que se segue.

João Franco Barreto atribui a Fernão Rodrigues Lobo, o Soropita, a autoria ou a revisão do texto da Terceira e Quarta Partes do Palmeirim de Inglaterra, relativas a D. Duardos, que “andão impressas” em nome de Diogo Fernandes. Já vimos que a informação não permite inferir conclusões sobre as continuações manuscritas do

Palmeirim, que o bibliógrafo provavelmente não conheceu119.

Barbosa Machado atribui a D. Gonçalo Coutinho a autoria de uma Historia de

Palmeirim de Inglaterra e de D. Duardos, em 3 tomos; trata-se, com toda a

probabilidade, das 3 partes do livro que apelidamos de Crônica de D. Duardos, cuja atribuição a D. Gonçalo Coutinho julgamos digna de crédito120.

Fidelino de Figueiredo informa a localização de cinco dos códices da Crônica de

D. Duardos, Primeira Parte (os manuscritos B, C, D, F e G) mas, enganado pela

discrepância dos títulos, não notou que se tratavam de cópias de um mesmo texto. Massaud Moisés corrige o equívoco e acrescenta à lista de Figueiredo o códice E, o único que não se encontra na Biblioteca Nacional de Lisboa. A organização dos textos proposta por Massaud Moisés foi reproduzida em todos os estudos posteriores que mencionam os referidos manuscritos, como os de Ettore Finazzi-Agrò e Luciana Stegagno Picchio, entre outros121.

João Palma-Ferreira apresenta descrição mais detalhada dos cinco manuscritos já localizados por Figueiredo na Biblioteca Nacional, considerando que seu autor deve ser D. Gonçalo Coutinho122.

Foi apenas muito recentemente que surgiu a primeira notícia sobre a existência do cód. BNL 12904 (A), encontrado por Aurelio Vargas Díaz-Toledo no decurso de suas pesquisas sobre os livros de cavalarias manuscritos em Portugal123.

119 Bibliotheca Luzitana, op. cit., tomo III, p. 423. 120 Bibliotheca Lusitana, op. cit., tomo II, 1ª parte, p. 360.

121 Figueiredo, História da Literatura Clássica, op. cit., v. III, p. 29-33; Moisés, A novela de cavalaria

portuguesa: achega bibliográfica, op. cit.; Finazzi-Agrò, op. cit., p. 65-71; Picchio, op. cit., p. 205-206.

122 Palma-Ferreira. Prefácio, in: Crônica do Imperador Maximiliano, op. cit., p. 9-33. 123 Vargas Díaz-Toledo, A. Os livros de cavalarias em Castela e Portugal, op. cit.

1.1. Códice A (BNL, cód. 12904)

Crônica de Primaleão, Emperador de Grecia. Primeira Parte. Texto composto por 80

capítulos.

Descrição externa

1. O códice encontra-se na Biblioteca Nacional de Lisboa, onde está registrado sob o número 12904. A capa é dura e está em mau estado de conservação; a parte da frente está solta. Na lombada, onde seria o título, vêem-se apenas algumas letras gravadas, sem que seja possível identificar o que estaria escrito.

Na contra-capa da frente, há duas etiquetas: a do canto superior esquerdo contém: “Nº ... | Estante 53 | Prateleira 163”; a outra, no meio da contra-capa, apresenta o ex-libris dos Condes do Bomfim. Abaixo da primeira etiqueta, foi anotado “cod | 12904” e próximo à segunda etiqueta há anotação a lápis, que diz: “aa.v.chu | ± bjjjjo”, inscrição cujo significado não pudemos descobrir. No alto da contra-capa, centralizado, há outra anotação a lápis, onde se lê: “José Mª Rodrigues | Leilão 20, nº 624”124.

O fólio inicial está rasgado, e há um remendo no canto inferior direito. É neste fólio que está registrado o título: “Chronica | de | Primaleão Emperador | de Grecia | Primeira Parte | Em que se da conta das façanhas, que obrou o Prin|cepe D. Duardos, e os mais Princepes | que com elle se criarão, na Ilha Perigoza | do Sabio Daliarte | Composta | Por Guilherme Frusto, Author Hi|bernio, e copiada, por Simisbero | Pachorro, em quanto esteve occupado, ou | encantado no Cume da Penha Riguro|za, da Serra da Lua, pello odio do | Sabio Bragamante”.

Embaixo, há uma inscrição em que se lê: “M. Barba Bibliot. Lusit. tom. 2o pag.

289 | col. 2o Francisco de Moraes, a quem fas Autor | da 1a e 2a pe. do Palmeirim de

Inglaterra, e | de los valerosos y esforçados hechos [rasura] | [rasura] en Armas de Primaleon hijo del Empera|dor Palmerim y de su hermano Polendos y D. | Duarde,

124 Na descrição codicológica, as informações não redigidas pelo copista (ou as que julgarmos ter sido

acrescentadas posteriormente) serão reproduzidas segundo as normas tradicionais das transcrições diplomáticas. O título e as partes do texto redigidas pelo amanuense responsável pela cópia são transcritas de acordo com as normas definidas no cap. 3.

Princepe de Inglaterra. Lisboa, por Simão Lopes 1598 fol. 1”125. Esta anotação deve ter sido feita depois de o fólio ter sido rasgado, pois a escrita se adapta ao pedaço que falta e o remendo não a afeta. Ao final da inscrição, há carimbo da Biblioteca Nacional de Lisboa. No verso do fólio de título, há um carimbo: “compra | 287921” e novamente uma anotação a lápis “cod | 12904”.

2. Os fólios medem 294 x 207 mm e o códice é composto por 262 fólios, mais a folha de título e uma folha de guarda ao final. O texto termina no f. 258r, e entre os fols. 259r a 262v há um “index” dos capítulos da obra.

A numeração, feita pelo próprio copista no canto superior dos fólios retos, é registrada com algarismos arábigos. Começa no f. 1r, onde se inicia o texto, e segue até o f. 258r, sem qualquer erro. A numeração dos fols. do índice foi feita por mão mais recente, e segue o mesmo critério do resto do códice, com a diferença que a contagem começa novamente e o primeiro fólio do índice não foi numerado.

Não foi possível identificar os cadernos originais que formariam o códice antes de sua encadernação.

3. De modo geral, os fólios estão bem conservados. Há alguns trechos com tinta repassada, mas não a ponto de impedir a compreensão do texto, fato que ocorre principalmente nos fols. 6v, 17v-30v, 44v-47v, 52v, 61r-62r, 66v-74v, 89v, 96r-v, 103v, 129v, 131v-134r, 163v-164v,167v-179v, 185v, 188r-v, 197r-v, 200r-v, 206v, 208r-v, 209v e 224r-238r (sendo que neste caso o repasse da tinta parece ter sido ocasionado por uma mancha de água que atingiu principalmente a parte inferior dos fols.). Há borrões de tinta nos fols. 38r-v e 196r-v.

O mesmo dano sofrido pela capa da frente atingiu também os cantos inferiores da junção entre os fólios no início do códice. Apenas a folha de título e os fols. 1 e 2 estão atingidos, mas em nenhum deles o texto foi afetado.

125 A anotação no manuscrito reproduz a informação errônea registrada por Diogo Barbosa Machado, que

atribui equivocadamente o Primaleón a Francisco de Morais. Cf. Bibliotheca Lusitana, op. cit., tomo II (1ª parte), p. 192.

4. O códice foi escrito por um único copista e não apresenta decoração. A letra aparenta ser do séc. XVII e é bastante clara126.

Todo fólio reto e verso apresenta reclames.

5. O manuscrito foi adquirido pela Biblioteca Nacional em 1987, em leilão promovido pelo livreiro José Manuel Rodrigues, conforme inscrição da contra-capa. O catálogo do leilão, por nós consultado, não traz qualquer indicação sobre a origem do códice, embora se saiba que pertenceu à família dos Condes do Bomfim, como testemunha o ex-libris encontrado127.

Descrição interna

[1r: início do texto] Capitulo 1º | Em que se da conta da vida, que fazia | o Emperador Primaleão, e os outros | Principes e como Daliarte detreminou | de trazer os Donzeis, que criava à corte. | Reedificado tinha o Emperador Primaleão | os muros de Constantinopla, e reduzido aquel|la cidade quanto aos edifficios, não só ao esplendor

[258r: fim do texto] queria com as palavras de confiança que | pedia a materia. | Publicouce a jornada para breves | dias com grande alvoroço do Reyno, e dos | Princepes, que logo se offerecerão ao acõ|panhamento, do qual a seu tempo | daremos conta.

[258v: em branco]

[259r] Index | Capitulo 1º em que se da conta da vida | que fazia o Emperador Primaleão, e os ou|tros Princepes, e como Daliarte detremi|nou de trazer os Donzeis, que criava á Cor|te. fol. 1.

126 Este é o único códice para o qual não dispúnhamos de quaisquer estimativas de datação, por ter sido

descoberto há poucos anos. Embora não tenhamos prática em exames paleográficos, a comparação com outros textos da época parece indicar a segunda metade do séc. XVII como data provável da cópia.

127 Embora não haja informações seguras a respeito, o catálogo do leilão no qual o códice foi adquirido

pela Biblioteca informa que boa parte dos livros leiloados pertencia a Arnaldo H. Oliveira, de quem não conseguimos outras informações.

[262v: fim do index] Capitulo 80. Da Entrada do Embaixador na | cidade, e de como ElRey depois de o ouvir de conta | á Princeza, e do que ella Respondeu, e de como se decla|rou sua jornada para Constantinopla fol. 255.

1.2. Códice B (BNL 620)

Crônica de Primaleão, Emperador de Grecia. Primeira Parte. Texto composto por 80

capítulos.

Descrição externa

1. O códice está na Biblioteca Nacional de Lisboa, registrado sob o número 620. A capa é dura e está um pouco corroída por traças. Na lombada, que está muito danificada, é possível ler: CHRÕ | DE | PRIMAL. Em um dos remendos da lombada, há selo com o número 620.

Na contra-capa inicial, há anotação a lápis com o código antigo com que o códice estava catalogado na BNL: “B | 10 | 7”. Na folha de guarda, foi anotado com giz azul o número 620 e, abaixo, a lápis, a inscrição: “igual ao 483”, numa referência ao códice que será descrito abaixo (F).

Na folha de título, está registrado: “Chronica | de | Primaleão Emperador | de Grecia | Primeira parte | Em que se da conta das façanhas, que obrou | o Principe D. Duardos, e os mais Principes | que com elle se criarão na Ilha Perigoza do | Sabio Daliarte. | Composta | Por Guilherme Frusto Author Hibernio, e | copiada, por Simisberto Pachorro, emquanto esteve | occupado, ou encantado no cume da Penha Riguroza, | da Serra da Lua, pello odio do Sabio Bragamante”.

2. A capa mede 334 x 219 mm e a dimensão dos fólios é de 320 x 214 mm. O códice é composto por 179 fólios de texto, numerados pelo copista, mais uma folha de guarda ao início, a folha de título e, depois do texto, o índice (que ocupa 3 fols) e as duas folhas de guarda ao final.

A numeração dos fólios foi feita pelo próprio copista e consiste na anotação de numeração arábiga corrente nos fólios rectos (canto superior direito) e versos (canto

superior esquerdo). A numeração segue sem erro desde o f. 1r até o f. 65v onde, ao invés de anotar o número 130, foi registrado 120. O erro persiste, sempre com a marcação de 10 números abaixo da contagem correta, por exatamente 100 fólios, até o f. 165r, onde o copista registrou corretamente o número 333. Ao longo de todo o intervalo, porém, os números estão corrigidos, aparentemente pelo próprio copista, mas de modo que muitas vezes torna difícil a leitura correta. A partir do f. 165r, a numeração prossegue sem erros até o final do texto, no f. 179v (358, na numeração do copista). Entre os fols. 180r e 182v há o índice dos capítulos, que não foi numerado.

Não foi possível identificar os cadernos que compunham o códice antes de sua encadernação.

3. O códice está muito bem conservado e não há passagens com borrões de tinta que dificultem a leitura. O único dano significativo foi, como se disse, devido à ação das traças, que corroeram parte da capa da frente e fizeram um furo nos 5 fólios iniciais, ou seja, na folha de guarda, na folha de título (onde há um furo que não impede a leitura) e nos 3 primeiros fols. do texto. Dado, contudo, que o furo diminui a cada novo fólio, o texto praticamente não foi afetado.

4. O códice foi escrito por uma única mão, e a letra, excepcionalmente clara e legível, aparenta remontar ao século XVII128. Não há decoração.

As margens são bastante regulares e o códice apresenta reclames ao final dos fols. retos e versos.

5. Não foi possível descobrir qualquer indicação sobre os antigos proprietários do códice ou quando ele foi adquirido pela Biblitoteca Nacional de Lisboa.

Descrição interna

128 João Palma-Ferreira afirma tratar-se de códice “bem caligrafado, provavelmente em meados do século

XVII”(op. cit., p. 33). Figueiredo diz acreditar que o códice seria do séc. XVII, embora Esteves Pereira tenha sugerido a datação do séc. XVIII (História da Literatura Clássica, op. cit., vol. III, p. 32). Não descobrimos a que textos de Esteves Pereira e Xavier da Cunha o autor se refere nesta passagem.

[1r: início do texto] Capitulo 1º | Em que se da conta da vida, que fazia | o Emperador Primaleão, e os outros Princepes, | e como Daliarte de triminou de trazer | os Donzeis, que criava á Corte. | Reedificado tinha o Emperador Primaleão os muros | de Constantinopla e Reduzido aquella Cidade quanto | aos edifficios, não só ao esplendor e sumptuozidade

[179v: fim do texto] Ao outro dia dando Reposta ao em|baixador, e a Dramusiando na conformidade doque o | Emperador queria com as palavras de confiança que | pedia amateria. | Publicouce a jornada para breves dias | comgrande alvoroço do Reyno e dos Pincepes129, que logo | se offerecerão ao acompanhamento, do qual aseu tem|po daremos conta.

[180r] Index | Capitulo 1. Em que se dà conta davida, o130 Emperador Primaleão, eos

outros | Principes, ecomo Daliarte determinou detrazer os Donzeis, que | criava á Corte ... f 1.

[182v: fim do índice] Capitulo 80. Da Entrada do Embaixador na Cidade, e de | como ElRey depois de o ouvir deu conta á Prin|ceza doª que vinha, e oque ella respondeu, edecomo | se declarou sua jornada para Constantinopla. Fl. 354 | Fim.

1.3. Códice C (BNL 658)

Chronica do Emperador Primaleão e outros Principes. Texto composto por 80

capítulos.

Descrição interna

1. O códice está na Biblioteca Nacional de Lisboa, registrado sob o número 658. A capa é dura, e não traz qualquer inscrição. A lombada foi restaurada e possui apenas a inscrição 658.

129 Pincepes por Princepes. 130 O por do.

Na contra-capa da frente, há inscrição com giz azul, com o número 658, e a lápis o registro do código com que a obra anteriormente havia sido catalogada na Biblioteca: “B, 10, 45” (havia sido anotado “B, 5, 39” por engano, mas a anotação foi riscada e corrigida). No centro, há um selo da “Biblioteca de historia nacional, e bellas letras de António Lourenço Caminha” e, abaixo, duas inscrições a lápis: “He a continuação do | Palmeirim d´Inglaterra | em 2 vol. Do Primº ha ja na | Bibliotheca 2 exem|plares; porem do 2º não | há nenhum. | O 2º vol. [ilegível]”. A outra inscrição é idêntica à presente no códice B: “ver cod. 483”.

Na folha de guarda ao final do códice, há outra inscrição a lápis, certamente posterior à cópia: “Segue-se 2ª parte chamada de D. Duardos”.

A folha de título possui nova inscrição com o número 658 em giz azul e o título da obra: “Chronica do Em|perador Primalião, | e | outros Principes”.

2. A dimensão da capa é de 302 x 210 mm e os fólios medem 207 x 191 mm. O códice é composto por 202 fólios de texto, mais a folha de título no início e uma de guarda ao final.

A cópia doi realizada por dois copistas e há igualmente duas numerações dos fólios. Uma delas, aparentemente feita pelo primeiro copista, consiste em marcar o canto superior dos fólios retos com numeração arábiga crescente, agrupando-os dois a dois, sem contar a folha de título. Assim, o f. 1r recebe o número 1, o número 2 aparece apenas no f. 3r e assim por diante. Boa parte dos números não podem ser vistos, provavelmente porque os fólios foram cortados para a encadernação. O número 12 é contado duas vezes (na primeira, o número não aparece, mas na segunda vez – onde deveria estar o número 13 – vê-se claramente o número 12, e a contagem continua daí). O numero 22 é pulado: no fólio em que deveria aparecer o 22, há o número 23. Esta numeração segue até o 84, quando muda o copista. Esta numeração pode indicar que pelo menos a porção inicial do códice, que corresponde ao trabalho do primeiro copista, foi formado por cadernos constituídos por 2 fólios.

O copista da porção final do texto não numerou os fólios. Há, contudo, uma outra numeração mais recente, que anota apenas algumas dezenas a lápis e que, diferentemente do copista original, leva em conta a folha de título para a numeração.

Durante a encadernação alguns fólios saíram da ordem primitiva: identificamos ao menos um trecho (entre os fols. 159 e 161) em que eles estão na posição errada.

O códice não apresenta índice dos capítulos.

3. De maneira geral, o códice está bem conservado e a cópia é clara e bem redigida. Infelizmente, há numerosos fólios com manchas de tinta, o que por vezes dificulta bastante a leitura, em particular nos fols. 1r, 11v, 14r-v, 17r-18v; 20r-21v; 22v-31v; 36r- v; 37r-v, 39v-41v; 42r-v, 44v-50v; 53r-60v; 63v, 67r-69v; 72r-73v; 79r-82v; 89r, 92r- 93v; 100r; 102r-103v; 111r, 112v-133v; 140r-v; 154r-v; 158v; 170r-v, 176v; 178v-181r; 198r-202r. Algumas palavras riscadas pelo copista ocasionaram manchas no verso do fól., como é o caso dos fols. 138r e 154r.

4. Como os demais, este códice não apresenta decoração. A singularidade deste manuscrito é que o texto foi copiado por duas mãos diferentes: o segundo copista inicia no f. 169r, em meio ao cap. 64. A letra dos dois copistas aparenta ser da segunda metade do séc. XVII131.

Na parte do primeiro copista, a tonalidade da tinta, o espaço entre as linhas e o tamanho da letra vai se modificando sensivelmente. No entanto, não parece haver uma troca de copista e sim ser o mesmo copista que vai progressivamente escrevendo com letra maior e dando mais espaço entre as linhas. Por exemplo:

Fl. 1v = 32 linhas; caixa de texto: 143 x 133 mm. Fl. 32r = 26 linhas; caixa de texto: 154 x 130 mm. Fl. 137r = 25 linhas; caixa de texto: 162 x 143 mm.

Foram usados diversos tipos de papéis, com marcas d´água muito distintas. Em um trecho (fols. 115 a 120), o papel é realmente de qualidade, textura e cor diferentes, o que motiva mudança acentuada de comportamento do copista: quase não há margens, o papel é todo preenchido. Ao voltar ao tipo de papel anterior, as margens retornam ao padrão normal.

O fl. 78r está em branco, o que não acarreta perda de parte do texto; o final do f. 77v é, inclusive, o único que apresenta reclame, porque o copista provavelmente quis assegurar aos leitores a integridade do texto.

O segundo copista ocupa os 33 fólios finais do texto (fols. 169-202). A partir do f. 189, o canto inferior direito dos fólios retos está gasto e se perdeu, o que chega, sobretudo nos últimos fólios, a danificar ligeiramente o texto.

O códice não apresenta reclames, a menos no fl. 77v.

5. O códice pertenceu a António Lourenço Caminha, de quem Inocêncio Francisco da Silva diz que “obteve de Elrei o senhor D. João VI a nomeação de Official da Bibliotheca Publica d´esta cidade [Lisboa], com o ordenado de tresentos mil réis, como remuneração (diz-se) do donativo que fizera áquelle estabelecimento de uma porção de livros velhos, e alguns manuscriptos, que elle qualificava de raríssimos. Morreu em edade muito provecta (...) no mez de Julho de 1831”, além de atribuir-lhe obras poéticas e uma série de opúsculos históricos, traduções e edições de textos antigos132.

Descrição interna

[1r] Chronica | e133 | Capitulo primeiro emqueseda conta da | vida que fasia oemperador pri|malião eosoutros principes | e como daliarte determinou | detraser os donseis que criava | a corte | Reedificado tinha oemperador primaleão os muros de Constantinopla | eredusida aquella cidade quanto aos edifficios não so aoesplendor | esumptuosidade

[Fl. 78: em branco]

[Fls. 168v – 169r.: mudança de copista] que me digais se sabeis | adevação das meninas de santo Erasmo eadascan|deias de São Pedro por que deseio tirar hũa alma com | que me ejde Casar. A outra companheira que nunca fallou | pallavra selevantou epuxando pella das praticas || [169r: novo punho] A outra companheira que nunqua fallou pallavra selevantou | e puxando pella das praticas recolherãseambas rebentanto | com riso sem falarem mais pallavra algũa

132 Diccionario bibliographico portuguez: estudos de Innocencio Francisco da Silva applicaveis a

Portugal e ao Brasil. Lisboa: Imprensa Nacional / Casa da Moeda, 1973, vol. I, p. 188-190.

[Fl. 202v: fim do texto] Tras disto chamando os grandes desua corte deulhes | conta do emque estava detreminado, que todos appro|varão como cousa quelhes melhor estava. Então dando | ao outro dia resposta ao Embaxador, e a Dramusiando, | na conformidade que o Emperador queria com as pala|vras deconfiança, que a materia pedia, publicouse a jornada | parabreves dias com grande alvoroço do Reino e dos Princi|pes que logo se offerecerão ao acompanhamento doqual a seu | tempo trataremos. | Fim da primeira parte.

1.4. Códice D (BNL 6828)

Crônica do Invicto D. Duardos de Bretalha. Composta por 80 capítulos. Descrição externa

1. O códice está na Biblioteca Nacional de Lisboa, registrado sob o número 6828. A capa é mole e foi recoberta com um papel amarelado, no qual foi registrado duas vezes “1a parte”, uma a tinta e outra a lápis, por mãos diferentes. Na lombada há apenas selo com o número 6828.

Há duas folhas de guarda. Na segunda, há várias inscrições a lápis: “Ordenados e Decima ou ordenados”134 e o registro do código antigo com que o códice estava catalogado na BNL: U | 2 | 100. Com giz azul, há o número 6828. Embaixo, a lápis novamente: “microfilmado F.R. 1156. 07-05-04”, seguido de uma rubrica.

Antes do 1o fólio, há uma carta de 2 páginas colada, datada de 14/02/1875, de

Inocêncio Francisco da Silva, que diz:

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