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Descrição dos dados documentais

No documento SIMONE DE OLIVEIRA CAMILLO TESE REVISADA (páginas 69-74)

6. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

6.3 Descrição dos dados documentais

aprofundamento no assunto e nas temáticas, ampliando discussões sobre preconceito, ética e sensibilização.

Percebemos que o espaço de livre expressão dado aos docentes, teve um amplo espectro de comentários, que foram desde a sua atuação propriamente tratada até um viés crítico reflexivo sobre as diretrizes atuais sobre o tema, indicando que foi um espaço interessante de reflexão e finalização da primeira parte da pesquisa.

6.3 Descrição dos dados documentais

Os conteúdos programáticos descritos nos planos de ensino foram avaliados com base no conteúdo do Plano Estratégico do Programa Nacional de DST e aids, do Ministério da Saúde (2005) e do Programa Municipal de DST e aids do município de São Paulo (Prefeitura da Cidade de São Paulo, 2008). Por meio do Guia de Registro, que serviu para coletar os dados dos planos de ensino, obteve-se informações, que se apresentam de maneira sistematizada no Quadro 4 (ANEXO L). Esses dados referem-se às disciplinas que apresentam os conteúdos sobre HIV/aids, contemplando os conteúdos que conferem as dimensões biológicas e as dimensões psicossocio-políticas sobre o HIV/aids, do ponto de vista documental e enunciativa.

De acordo com as informações sistematizadas no Quadro 4, todos os sujeitos que participaram deste estudo, ao mostrar os planos de ensino, priorizam a dimensão biológica do conteúdo sobre HIV/aids, que consiste na história do aparecimento da doença, a transmissão, as manifestações clínicas, o diagnóstico, o exame, o tratamento, a prevenção e as doenças oportunistas.

Os temas relacionados à dimensão psicossocio-política consiste em: Tendências da epidemia, Comportamento sexual da população brasileira, Plano de ações e metas de prevenção, Plano de ações e metas em diagnóstico laboratorial, Rede de serviços em aids e a política dos medicamentos antiretrovirais, Plano de ações e metas em articulação com a sociedade civil, em defesa de direitos humanos e na elaboração da política de inclusão social, Plano

de ações e metas em pesquisas e desenvolvimento tecnológico em HIV/aids e outras DST, Legislação brasileira em DST e aids (Leis aprovadas em relação aos direitos das pessoas que vivem com HIV/aids, Portarias e resoluções, Benefícios Previdenciários em HIV/aids), Políticas públicas de saúde em DST/HIV/aids, Assistência de enfermagem em relação ao indivíduo com HIV/aids, A visão interdisciplinar na área da saúde em relação ao fenômeno HIV/aids e A vida psíquica e suas implicações na aquisição e convívio com o HIV/aids.

Em relação a essa dimensão, quase todos os docentes, apresentaram registrado em seu plano de ensino o conteúdo “Assistência de enfermagem em relação ao indivíduo com HIV/aids”, seguido do “Plano de ações e metas de prevenção” e das “Políticas públicas de saúde em DST/HIV/aids”.

Sobre a “Tendência da epidemia” e o “Comportamento sexual da população brasileira”, seguido dos temas, “Rede de serviços em aids e a política dos medicamentos antiretrovirais” e “A visão interdisciplinar na área da saúde em relação ao fenômeno HIV/aids”, percebe-se que há um maior número de afirmações enunciadas pelos professores, do que constam em seus planos de ensino. O mesmo ocorre com o tema “A vida psíquica e suas implicações na aquisição e convívio com o HIV/aids”. Nota-se que não há nenhum registro do conteúdo nos planos de ensino dos docentes pesquisados, porém, o E. 2, o E. 3, o E. 5, o E. 6, o E. 9, o E. 11 e o E. 13 enunciaram que ministram esses conteúdos.

Os temas “Plano de ações e metas em diagnóstico laboratorial”, “Plano de ações e metas em articulação com a sociedade civil, em defesa de direitos humanos e na elaboração da política de inclusão social”, “Plano de ações e metas em pesquisas e desenvolvimento tecnológico em HIV/aids e outras DST” e “Legislação brasileira em DST e aids”, poucos docentes tem registrado em seus planos de ensino os assuntos elencados nessa dimensão da doença (respectivamente em relação aos temas citados acima temos: E. 4, E. 5 e E. 11; E. 9; E. 4 e E. 5; E. 2).

É importante ressaltar, que não diferente da análise feita em relação à dimensão biológica, observa-se que os temas elencados na dimensão psicossocio-política, apresentam-se com um maior número de afirmações

enunciadas pelos docentes em relação ao conteúdo ministrado do que registrado nos planos de ensino, ou seja, o conteúdo registrado no plano de ensino, nem sempre confere com o que o docente relata ministrar.

Entretanto, convém lembrar por meio de Sant’anna et al (1995) que o plano de ensino, onde estão contidos os conteúdos programáticos, é apenas um roteiro de referência, que é abreviado, esquemático e, portanto, cabe ao professor que o elaborou, dar-lhe vida, relevo e colorido no ato da sua execução, imprimindo-lhe seu dinamismo, vibração, entusiasmo e expressividade.

Portanto, considera-se também importante relatar, os conteúdos programáticos que os docentes enunciaram, independente de estar ou não registrado em seu plano de ensino. Sabe-se que os conteúdos programáticos descritos nos planos de ensino são importantes à medida que constituem a tessitura básica sobre a qual o aluno constrói e reestrutura o conhecimento.

Dessa forma, pode-se dizer que o conteúdo é o ponto de partida tanto para a aquisição de informações, conceitos e princípios úteis, como para o desenvolvimento de hábitos, habilidades e atitudes (Haidt, 2004).

Reiterando, Fusari (1998) refere que um dos aspectos importantes do processo ensino-aprendizagem é a competência político-pedagógica do educador que deve ser mais abrangente do que aquilo que está registrado no seu plano. As ações conscientes, competentes e críticas do educador é que transforma a realidade, a partir das reflexões vivenciadas no planejamento e, conseqüentemente, do que foi proposto no plano de ensino.

A Bureau international d’éducation (BIE) uma organização privada, não governamental, criada com objetivo de tratar das questões da educação e que faz parte integrante da UNESCO (responsável pelo conteúdo, métodos de ensino e estratégias de ensino-aprendizagem por meio do desenvolvimento do currículo), em 2001 em resposta à exigência do Diretor Geral da UNESCO, estabeleceu um programa para a educação sobre o HIV e a aids, no sentido de contribuir para o reforço dos programas para a educação sobre o tema (BIE,2009).

Dessa forma, passou a elaborar programas escolares sustentáveis e adaptados a cada situação nacional, regional e mundial, criando um centro

internacional de intercâmbio de informações sobre os currículos e programas escolares para a educação sobre HIV e aids (BIE, 2009).

A finalidade deste centro de intercâmbio é recolher, avaliar e difundir exemplos de currículos e material escolar de educação sobre HIV e a aids e, também, colocar à disposição dos profissionais da educação recursos técnicos úteis na elaboração dos currículos e programas escolares sobre o HIV e a aids, a fim de desenvolver e melhorar a educação sobre a temática, aproveitando a experiência e a especialização já acumulada em várias partes do mundo (BIE, 2009).

Embora, essa organização trabalhe com a educação escolar básica e secundária, algumas informações vão ao encontro com o que acontece nas instituições de Ensino Superior em Enfermagem dessa pesquisa.

A BIE(2009) revela algumas deficiências graves e comuns em vários países que já integram a educação sobre o HIV/aids nos seus programas, entre elas: a educação sobre HIV/aids é acrescentada a currículos já sobrecarregados, dedicando pouco espaço e tempo à temática; o assunto é abordado de forma muito resumida, concentrando‐se nos aspectos técnicos ou científicos; o processo ensino-aprendizagem centra‐se em alguns conhecimentos fatuais e negligência à questão das atitudes e dos comportamentos de proteção para se evitar a infecção; o material pedagógico e de aprendizagem é escasso e até inexistente; os métodos pedagógicos não são adequados, designadamente no que concerne às questões de equidade entre homens e mulheres, no contexto sócio‐cultural e na educação em competências para a vida; os professores não recebem uma formação adequada ou o apoio necessário a uma administração eficaz da educação sobre o tema; não há uma avaliação específica do processo ensino-aprendizagem, nomeadamente no que se refere à aquisição de competências para a vida.

Pensando em Instituições de Ensino Superior em Enfermagem, um aspecto importante a ser mencionado a respeito da priorização da dimensão biológica do conteúdo sobre HIV/aids, pelos docentes pesquisados, é que não podemos esquecer que a Enfermagem se constituiu dentro do modelo biomédico, fruto do paradigma cartesiano.

Dessa forma, o modelo biomédico, fruto do paradigma cartesiano, no qual a enfermagem encontra-se inserida, influenciou os profissionais da área a também agirem muitas vezes de maneira mecânica, valorizando muito mais os aspectos técnicos e biológicos em detrimento dos aspectos psicológicos, emocionais, sociais e espirituais.

Portanto, os cuidados voltados à expressão do desenvolvimento da pessoa num contexto biopsicossocial, levando em consideração as suas necessidades, os seus recursos, o seu cotidiano recheado de valores, crenças e mitos, não são valorizados nesse modelo e, com isso, não são contemplados (Camillo, 2007).

Percebe-se que há pouca preocupação com o que a pessoa doente pensa e sente, contrastando com o grande valor que é atribuído às técnicas que se executam, particularmente as mais sofisticadas. A formação dos profissionais de saúde, enquanto restrita ao modelo biomédico, encontra-se com possibilidades limitadas de considerar a experiência do sofrimento como integrante da sua relação profissional (Camillo, 2004).

6.4 Análise de Conteúdo Temática das Entrevistas Individuais em

No documento SIMONE DE OLIVEIRA CAMILLO TESE REVISADA (páginas 69-74)