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4.3 Vestígios históricos e etimológicos da Libras nos sinais da LSF

4.3.1 Descrição dos sinais da LSF e da Libras, suas correlações e analogias

Visografema 1: Polegar fechado na palma ou sobre os demais dedos: Année – Ano; Anniversaire – Aniversário; Jour – Dia.

ANNÉE - ANO

O sinal para année - ano na LSF: representar, com a mão esquerda, o sol que é preciso estar fixo no centro dos movimentos da terra e dos outros planetas (Figura 99), percorrendo um grande círculo ao redor do sol, explicação de Sicard (1808), retomada por Pélissier (1865): figura do movimento em círculo da terra ao redor do sol, e a de Lelièvre (1880): descrever um círculo ao redor do punho esquerdo esboçando o sol (figura 100). Se acompanhado de uma expressão interrogativa, toma o sentido de quel âge? – quantos anos/que idade?

Figura 99 Figura 100

Fonte: Delaporte, 2007

119 Na Libras, este sinal mantém-se inalterado em relação à LSF nos registros de 1969 (figura 101), 2001 (figura 102), 2009 (figura 103) e 2017 (figura 104), respectivamente abaixo.

Figura 101 Figura 102

Fonte: Oates, 1969 Fonte: Capovilla; Raphael, 2001

Figura 103 Figura 104

Fonte: Honora e Frizanco,2009 Fonte: Vecchio, 2017 ANNIVERSAIRE – ANIVERSÁRIO

Para o sinal de anniversaire - aniversário, a LSF já teve a forma de dedos estendidos da mão aberta estilizando as velas de um bolo sobre as quais se sopra (figura 105), atualmente só difere de année - ano pela mão aberta no início do sinal (figura 106) que remete a um emprego de année com sentido de anniversaire seguido de an passé, jour pareil – (ano passado ou mesmo dia) em 1865; apresenta também a forma de bravo dos ouvintes: batidas de mãos que acompanham ritualmente as festas de aniversário (figura 107).

120 Figura 105 Figura 106 Fonte: Delaporte, 2007 Figura 107 Fonte: Delaporte, 2007

Em Libras, este sinal, na obra de Oates (1969), apresenta configuração de mãos em I, horizontal, palmas para dentro, fazer movimento de riscar as costelas levemente, para cima, duas vezes, com as pontas dos dedos mínimos (figura 108). Na nova edição da obra (2017), o sinal tem configuração da mão direita em 1, posicionada na frente da boca, palma virada para o lado esquerdo, simular soprar uma vela, em seguida, bater palmas (figura 109). Capovilla e Raphael (2001) trazem dois sinais para aniversário, o primeiro, usado por crianças, tem a mesma configuração e movimentos de Vecchio (2017) (figura 110), o segundo, usado por adultos, retoma a forma apresentada por Oates, com alteração da configuração das mãos para Y e orienta a expressão facial de alegria (figura 111).

121 Figura 108 Figura 109

Fonte: Oates, 1969 Fonte: Vecchio, 2017 Figura 110

Fonte: Capovilla; Raphael, 2001

Figura 111

Fonte: Capovilla; Raphael, 2001

Na LSF, o sinal para âge – idade (figura 112) é o mesmo de anniversaire (figura 113) e só com essa associação se esclarece o primeiro, na verdade, o sentido de anniversaire fornece o étimo, o gesto de aplaudir. Em Libras, o sinal para idade está igualmente associado ao de aniversário registrado em Oates e em Capovilla e Raphael (figura 114), com configuração de mão em Y, porém o movimento é realizado apenas com a mão direita.

122 Figura 112 Figura 113

Fonte: Delaporte, 2007

Figura 114

Fonte: Capovilla; Raphael, 2001 JOUR – DIA

Jour – dia: na LSF, executa-se descrevendo com o indicador o movimento

solar durante o dia, do nascente ao poente (PÉLISSIER, 1856) (figura 115). O elo etimológico rompe-se quando o movimento se desloca para outro plano, de modo a evitar uma incômoda torção do punho (figura 116). Com o J manual, fazer o movimento do nascer ao pôr do sol; em Paris, o movimento em arco do antebraço transformou-se, por economia gestual, em uma simples rotação do punho (figura 117). O sinal que mostra o nascer do sol (figura 118) contribuiu para a formação de um dos sinais de Bonjour – Bom dia (figura 119).

123 Figura 115 Figura 116 Figura 117

Fonte: Pélissier, 1856 Fonte: Delaporte, 2007 Figura 118 Figura 119

Fonte: Delaporte, 2007

Na Libras, Dia: mão direita em D, palma para a esquerda, ao lado direito, elevar a mão em um semicírculo para o lado esquerdo, dando a ideia do nascer e pôr do sol (OATES, 1969) (figura 120). Em Gama (1875), o sinal era formado pelas mãos situadas sobre o peito, sobrepostas e cruzadas, com o movimento de abrir os braços para os lados ao mesmo tempo em que se levanta a cabeça (figura 121). Honora e Frizanco (2009) apresentam o sinal da seguinte forma: mão em “D” com a palma para fora tocando a lateral da cabeça, na sequência, afastar a mão para a lateral (figura 122). Em Vecchio (2017), mão direita em D com a palma para frente, tocar a ponta do indicador na lateral direita da testa e movimentar a mão, levemente, para cima e para o lado direito (figura 123). Vale ressaltar que, na LSF, a configuração de mão é em J manual, em referência à palavra da língua francesa jour

– dia e que, na Libras, associa-se a configuração à letra manual D, referindo-se à

palavra da língua portuguesa, dia. Essa alteração na Libras trata-se claramente de uma nacionalização do sinal, associando-o à língua oralizada do Brasil. Nos dois

124 casos, ocorre a transliteração da letra inicial das palavras das línguas oralizadas respectivamente.

Figura 120 Figura 121

Fonte: Oates, 1969 Fonte: Gama, 1875 Figura 122 Figura 123

Fonte: Vecchio, 2017 Fonte: Honora. Frizanco, 2009

Visografema 2: Polegar curvo: Intelligent – Inteligente; Frère/Soeur - Irmão/irmã; Beau – Bonito; Élegant - Elegante; Débat – Debate.

INTELLIGENT – INTELIGENTE

Baseado na mesma metáfora de enseigner – ensinar, o sinal para intelligent – inteligente, na LSF, é descrito por Lambert (1865) como: lançar um punhado de inteligência de sua testa e poderia ser traduzido também por instruit- instruído,

savant – sábio, erudito, comprendre – compreender. A configuração das mãos em

Pélissier - 1856 (figura 124) é em D ou em 1, diferindo da de Lambert (1865), em feixe (figura 125). Por sua vez, o sinal atual de inteligente provém menos de uma mudança morfológica de intélligent (figura 126) do que de uma mudança semântica

125 de réflechir – refletir: levar o indicador à testa, traçar com o dedo pequenos círculos nessa região (figura 127).

Figura 124 Figura 125 Figura 126

Fonte: Pélissier, 1856 Fonte: Delaporte, 2007 Figura 127

Fonte: Delaporte, 2007

Os sinais para inteligente, em Libras, têm apresentado a configuração em V, palma para dentro e os dedos um pouco curvados, com movimento de encostar o dorso dos dois dedos em V na testa, acima do olho direito e afastar a mão ligeiramente para cima (figura 128), segundo Oates (1969), este sinal teria também como sentidos: intelectual, inteligência, sábio, que compreende facilmente, compreensão fácil. Esta forma repete-se em Capovilla e Raphael (2001) (figura 129). E modifica-se apenas para a configuração em 5, tanto em Honora e Frizanco (2009) (figura 130), quanto em Vecchio (2017) (figura 131).

126 Figura 128 Figura 129

Fonte: Oates, 1969 Fonte: Capovilla; Raphael, 2001

Figura 130 Figura 131

Fonte: Honora; Frizanco, 2009 Fonte: Vecchio, 2017 FRÈRE / SOEUR – IRMÃO / IRMÃ

Nos séculos XVIII e XIX, o sinal para frère – irmão, na LSF, realizava-se pelo emprego do sinal polissêmico même – mesmo, pareil – igual: os indicadores das duas mãos estendidos horizontalmente, esfregar um contra o outro pelo lado externo, como para o sinal pareil - igual. As descrições antigas do sinal irmão eram reproduzidas de forma idêntica para irmã: um mesmo sinal que acumulava os sentidos de irmão e irmã (figura 132). Para evitar a polissemia, realizava-se o sinal de homem, mão no chapéu, antes do sinal de mesmo (figura 133) e, para irmã, o sinal de mulher, deslizando o polegar na lateral do rosto (figura 134). Posteriormente, a distinção entre os sexos se faz de forma mais econômica introduzindo ao sinal a transliteração da letra inicial da palavra frère – irmão (figura 135). Em Paris, a realização do F manual por uma única mão situada mais ao alto introduziu uma ruptura na história do sinal (figura 136). Da mesma forma, ocorreu

127 com o sinal de irmã, passando a usar configuração da mão da letra inicial S da palavra da língua francesa soeur – irmã (figura 137) e, mais tarde, por economia gestual, realizando o sinal com apenas uma mão e mais alto (figura 138).

Figura 132 Fonte: Pélissier, 1856 Figura 133 Figura 134 Fonte: Delaporte, 2007 Figura 135 Figura 136 Fonte: Delaporte, 2007

128 Figura 137 Figura 138

Fonte: Delaporte, 2007

O sinal de irmão em Libras em Gama (1875) (Figura 139) tem a mesma forma inicial de frère, (PÉLISSIER, 1865), sendo também o sinal de irmã.

Figura 139

Fonte: Gama, 1875

Em Oates (1969), o sinal para irmão é o de igual, também precedido do sinal de homem (figura 140), ou de mulher, para formar o sinal de irmã (não traz imagem para irmã, apenas a descrição do sinal), ou seja, acompanhou a alteração da LSF e é o sinal que se mantém até hoje (VECCHIO, 2017): irmão (figura 141), irmã (figura 142).

Figura 140 Figura 141

129 Figura 142

Fonte: Vecchio, 2017

Capovilla e Raphael (2001) apresentam um sinal para irmão e irmã como o mesmo de Igual (figura 143) e outro com a descrição: mãos em D horizontal, palmas para baixo, indicador para frente, tocando-se para os lados, mover as mãos alternadamente para frente e para trás (figura 144). Nas orientações para esses sinais, não se determina realizar os sinais indicadores de gênero.

Figura 143 Figura 144

Fonte: Capovilla; Rappahel, 2001

BEAU – BONITO

Beau – no século XX, beau – bonito, o sinal era realizado beijando a ponta

dos dedos reunidos em feixe, empréstimo da gestualidade mediterrânea e que se mantém até hoje no interior da França (Le Puy) (figura 145). Depois, esse sinal tomou o sentido de bon – bom, bien – bem enquanto o sentido beau era transferido para o sinal que anteriormente tinha o valor de joli – bonito, gentil – gentil (figura 146) retomando uma forma próxima à mencionada anteriormente por Ferrand (1785): passar a mão sobre o contorno do rosto, outro empréstimo da gestualidade dos ouvintes (figura 147).

130 Figura 145 Figura 146 Figura 147

Fonte: Delaporte, 2007

Bonito – Libras, na obra de Gama (1875), aparece com as entradas bello (figura 148) e bonito (figura 149), sendo que bello apresenta a mesma configuração de joli - bonito e bonito, a mesma forma de beau - belo em Pélissier. Gama orienta, ao realizar o sinal de bonito: dar ao rosto apparencia agradavel. Em Oates (1969), a palavra usada é belo e sua realização se dá com a mão direita aberta, palma para dentro, dedos separados e apontando para cima, colocada diante dos olhos; descrever um semicírculo com a mão, dirigindo-se para a esquerda e para baixo, perto do rosto; próximo à boca, unir as pontas dos dedos e descrever uma ligeira curva para cima e para a direita; este sinal era usado também para lindo, bonito, formoso, beleza e formosura (figura 150). Vecchio, na versão atualizada da obra de Oates, apresenta belo realizado com a mão direita aberta colocada diante do rosto, palma para dentro fechando-a em seguida (figura 151).

Figura 148 Figura 149

Fonte: Gama, 1875

131 Figura 150 Figura 151

Fonte: Oates, 1969 Fonte: Vecchio, 2017 ÉLÉGANT – ELEGANTE

A configuração das mãos em pinça para a realização do sinal élégant – elegante, em LSF, é portadora da semântica de fineza, delicadeza, distinção e daí resultam as traduções possíveis para chic – chique, efféminé – afeminado,

mademoiselle – senhorita, méticuleux – meticuloso, maniaque – maníaco. Deve ser

modulado pela expressão facial e um movimento circular das mãos mais ou menos afetado (figura 152).

Figura 152

Fonte: Delaporte, 2007

Para a realização do sinal elegante, em Libras, Oates (1969) orienta da seguinte forma: com as mãos abertas, palmas para dentro, dedos separados e apontando uns aos outros; colocar os polegares no alto do peito e passá-los sobre o tronco até a cintura, fechando os dedos gradualmente, começando com os dedos mínimos. Assumia os possíveis sentidos: alinhado, elegância, chique, bacana, alinho, caprichoso, vistoso, asseio, nitidez, esmero no vestir (figura 153). Em Capovilla e Raphael (2001), o sinal está mais próximo daquele da LSF, mantém-se a

132 configuração das mãos em pinça, em seguida, mover as mãos para frente e para trás, diferindo também do movimento circular do sinal na LSF (figura 154). Mesmo sinal encontrado em Vecchio (2017) (figura 155).

Figura 153 Figura 154

Fonte: Oates, 1969 Fonte: Capovilla, Raphael, 2001

Figura 155

Fonte: Vecchio, 2017

Encontramos uma formação totalmente diferente do sinal para ELEGANTE em Honora e Frizanco (2011), sua realização se dá com as mãos abertas, palmas para cima, movimentando à frente e para cima em arco (figura 156). Ao pedirmos informação via email à professora Márcia Honora, ela nos esclareceu tratar-se de um sinal empregado na região de São Paulo. Inferimos tratar-se de um sinal regional, pelo fato de não o termos encontrado em nenhum dos outros materiais consultados.

133 Figura 156

Fonte: Honora; Frizanco, 2011 DÉBAT – DEBATE

Débat – debate, sua etimologia na LSF encontra-se na entrada discuter -

discutir, a palavra da língua francesa oralizada, tendo o sentido de manifestar uma opinião diferente, contestar, lançando os indicadores sucessivamente um contra o outro (figura 157), como para ennemi - inimigo (figura 158). Da mesma forma que

causer – conversar e discuter – discutir (figura 159), o sinal debate pertence à

família lexical baseada na imagem de um duelo de espada, metáfora equivalente à expressão francesa duel – duelo, joute oratoire – torneio de oratória. Da mesma forma, dialoguer – dialogar só difere na formação do sinal por ter a configuração das mãos em chave, substituindo os indicadores estendidos (figura 160).

Figura 157 Figura 158

Fonte: Delaporte, 2007

134 Figura 159 Figura 160

Fonte: Delaporte, 2007

Na Libras, o sinal para debate/debater, discutir/ discussão é o mesmo, mantendo o movimento do sinal da LSF, porém, com a mão em configuração em D, transliteração da letra inicial dessas palavras na língua portuguesa (figura 161).

Figura 161

Fonte: Capovilla, Raphael, 2001

Visografema 3: Polegar estendido transversalmente à base

metacarpofalangeana: Professeur – Professor; Enseigner – Ensinar; Argent – Dinheiro; Choisir – Escolher.

PROFESSEUR - PROFESSOR

No século XIX, na LSF, o sinal de professeur – professor (figura 162) era o mesmo de enseigner – ensinar (figura 163 ); esta polissemia manteve-se na província da França (Poitiers, Le Puy, Saint-Laurens-en-Royans). O sinal atual parece ter que ser interpretado como um derivado de Monsieur – Senhor (figura 164), com o qual apresenta apenas uma pequena diferença na direção do movimento. Em contexto escolar, monsieur e professeur estão associados no sintagma monsieur le professeur – senhor professor, ou permutam um com o outro,

135 por exemplo, nos cumprimentos: bonjour monsieur; bonjour maître – bom dia, senhor; bom dia, professor/mestre.

Figura 162 Figura 163 Figura 164

Fonte: Pélissier, 1856 Fonte Delaporte, 2007

O sinal para professor, em Libras, repete-se em todos os autores consultados (à exceção de Gama que repete o sinal de Pélissier), desde 1969, em Oates, (figura 165), Capovilla e Raphael (2001) (figura 166), Honorata e Frizanco (2009) (figura 167) e em Vecchio ( 2017) (figura 168), com a seguinte descrição: baixar a mão direita em P, movê-la em arco para cima e para a direita.

Figura 165 Figura 166

Fonte: Oates, 1969 Fonte: Capovilla; Raphael, 2001

136 Figura 167 Figura 168

Fonte: Vecchio, 2017 Fonte: Honora; Frizanco, 2009 ENSEIGNER – ENSINAR

O sinal para enseigner – ensinar, na LSF, traz como motivação: pegar à frente, com os dedos, coisas que representem a ciência e imitar a ação de fazer essas coisas entrarem na cabeça das crianças, explicação de Sicard (1808); os dedos da mão reunidos em feixe, levá-los à testa, simular a ação de tirar alguma coisa de seu cérebro e de lançá-la à cabeça de outro separando os dedos (BLANCHET, 1850); pegar da sua testa punhados de inteligência e atirá-los sobre a testa de outro que estaria a nossa frente (LAMBERT, 1865) (figura 169). No sinal atual, apenas a segunda parte do movimento permaneceu (figura 170). E ainda há a variante em que as mãos não se abrem mais no fim do movimento (Paris,

Chambéry,Poitiers) (figura 171).

Figura 169 Figura 170

Fonte: Delaporte, 2007

137 Figura 171

Fonte: Delaporte, 2007

Os sinais para ensinar, em Libras, desde 1969, em Oates (figura 172), têm mantido a mesma forma daquele da LSF atualizado e simplificado, mantendo apenas o movimento de lançar algo a alguém que esteja a sua frente. Ver também Capovilla e Raphael (figura 173), Honora e Frizanco (figura 174) e Vecchio (figura 175).

Figura 172

Fonte: Oates, 1969

Figura 173

Fonte: Capovilla; Raphael, 2001

138

Fonte: Honora; Frizanco, 2009 Fonte: Vecchio, 2017 ARGENT – DINHEIRO

A realização do sinal de argent – dinheiro, na LSF, explica-se: simular a ação de contar dinheiro sobre a palma da mão; esse gesto de esfregar o polegar e o indicador evocava anteriormente peças que se engrenavam uma a uma, depois se referia a um maço de notas (figura 176). Hoje o sinal se realiza sem a mão esquerda (figura 177) que permanece mobilizada em outros derivados como acheter comprar.

Figura 176 Figura 177

Fonte: Delaporte, 2007

Esta configuração repete-se na Libras, assim descrita: mão em A, palma para cima, roçar rapidamente o dedo indicador na parte interna do polegar (OATES, 1969) (figura 178). Mantém-se em Capovilla e Raphael (2001), Honora e Frizanco (2009) (figura 179) e em Vecchio (2017) (figura 180).

139 Figura 178 Figura 179 Figura 180

Fonte: Oates, 1969 Fonte: Honora; Frizanco, 2011 Fonte: Vecchio, 2017 CHOISIR – ESCOLHER

Choisir – escolher, na LSF, a origem concreta desse sinal é a homonímia com

o verbo cueillir – colher notada por Lambert (1865), assim como a aproximação com o gesto do compositor de tipografia que escolhe os tipos e os coloca nas páginas (figura 181). Nos dias de hoje, a semântica da configuração em pinça não remete apenas ao tamanho pequeno ou à finura do objeto escolhido, já que o sinal é o mesmo para a escolha de uma balinha ou de um apartamento, mas sobre a maneira como uma escolha deve ser feita, com reflexão e sutileza.

Figura 181

Fonte: Delaporte, 2007

O sinal para escolher, em Libras, não se modificou ao longo do tempo, é o mesmo originário da LSF, conforme podemos verificar pelas figuras a seguir, sendo que Oates (1969) informa como outros possíveis sentidos: escolha, preferência, preferir, escolhido, selecionado, selecionar, favorito (figura 182). Vecchio (2017)

140 (figura 183); Capovilla e Raphael (2001) (figura 184); Honora e Frizanco (2009) (figura 185).

Figura 182 Figura 183

Fonte: Oates, 1969 Fonte: Vecchio, 2007

Figura 184 Figura 185

Fonte: Capovilla; Raphael, 2001 Fonte: Honora; Frizanco, 2009

Visografema 4: Polegar estendido paralelamente à base

metacarpofalangeana: Ami – Amigo; Bonjour - Bom dia; Fils/Fille - Filho/Filha;

Aujourd’hui – Hoje; Chocolat – Chocolate; Congé – Feriado; Bon – Bom.

AMI – AMIGO

O sinal para ami – amigo na LSF realizava-se da seguinte forma: as duas mãos postas uma acima da outra com as palmas para cima, afastando-se e aproximando-se alternadamente do coração (Figuras 186 e 187), representando as efusões do coração e sua reciprocidade, ou ainda a corrente de afeto que circula de um coração a outro, ou permuta entre corações (LAMBERT, 1865). Esse sinal persistiu em Paris até os anos 1970 e manteve-se nos derivados amicale amigável, em que o ponto de articulação baixa do peito para a lateral do corpo e

141 com um movimento circular (figura 188) e copain – companheiro, porém, neste com a configuração em meia lua pequena (Petit croissant), variante da letra manual C, inicial das palavras francesas copain, camarade – camarada ou collègue - colega (figura 189). Posteriormente, passou a ser realizado com uma única mão e na lateral do corpo, essa dupla economia (de reduzir para uma mão e baixar o ponto de articulação) provocou uma ‘homonímia do acaso’22 com mère – mãe (figura 190).

Figura 186 Figura 187 Figura 188

Fonte: Delaporte, 2007

Figura 189 Figura 190

Fonte: Delaporte, 2007

Em Libras, Oates (1969) descreve o sinal para amigo: mão direita aberta, palma para cima, dedos juntos, apontando para a esquerda. Portanto, apresentando a forma já alterada na LSF do movimento para uma das mãos apenas, como economia gestual (figura 191). Capovilla e Raphael (2001) orientam tocar levemente o peito duas vezes e demonstrar a intensidade da amizade pela expressão facial

22 Delaporte define ‘homonímia do acaso’ ao fenômeno linguístico que ocorre com sinais que se assemelham não por terem um étimo comum, mas pelas modificações que ocorrem ao longo da história da língua.

142 (figura 192); Honora e Frizanco (2009) também descrevem dois toques no peito (figura 193); Vecchio (2017) apresenta um toque apenas (figura 194).

Figura 191 Figura 192

Fonte: Oates, 1969 Fonte: Capovilla; Raphael, 2001

Figura 193 Figura 194

Fonte: Honora; Frizanco, 2009 Fonte: Vecchio, 2017 BONJOUR – BOM DIA

Bonjour – Bom dia: na LSF, no século XIX, era um sinal composto – jour (dia) seguido de bon (bom): vous, jour bon moi désirer (você, dia bom desejar) tradução literal de je vous souhaite une bonne jounée (Eu te desejo um bom dia) (figura 195). Com a queda de jour permaneceu apenas bon, cuja forma era à época a do atual

merci – obrigado, mão reta, para a frente a partir da boca: assim se explica a atual

polissemia de bonjour e merci (figura 196). O sinal de bon realizado pela mão esquerda enquanto a mão direita faz o sinal de jour, no entanto, foi praticado até a metade do século XX (figura 197).

143 Figura 195 Figura 196 Fonte: Delaporte, 2007 Figura 197 Fonte: Delaporte, 2007

Na Libras, Bom dia – em Oates (1969), realizado com a mão direita aberta, palma para dentro, dedos curvados, colocar a mão perto do lado direito da testa e simular alguém saudando outrem, elevando ligeiramente a mão em uma curva para frente e distendendo os dedos ao mesmo tempo, acenando a cabeça (figura 198). Em Vecchio (2017), o sinal tornou-se composto como na LSF, realizando o sinal de bom (figura 199) e em seguida o sinal de dia (figura 200).

Figura 198 Figura 199 Figura 200

144 Fils/ Fille – Filho/Filha

Nos séculos XVIII e XIX, a mão em mufla afasta-se do ventre transformando- se em feixe, para simular a ação de tirar alguma coisa desse órgão (figura 201); é a metáfora que expressa o parto e a filiação, também descrita como: a fonte de onde saiu o filho ou tirado do seio. Era o mesmo sinal para enfant – criança. A substituição da configuração em feixe pela letra F, inicial das palavras francesas fils – filho e fille - filha verifica-se desde o século XVIII: “F manual que se retira diretamente da frente do estômago”. Essa configuração para o sinal filho foi atualizada para a forma de pinça pela proximidade morfológica do F manual (figura 202).

Figura 201 Figura 202

Fonte: Delaporte, 2007

O sinal para fille – filha, no século XIX, era o mesmo de filho (figura 203). No século XX, passou a ser realizado pelo sinal de femme – mulher que, por vezes também se estende ao sentido de mère – mãe.

Figura 203

145 O sinal para filho não se encontra em Flausino da Gama (1875); o de filha, criança descreve-se como: fingir embalar nos braços, em seguida, elevar a mão da altura dos joelhos até a cabeça indica menino, rapaz etc. (figura 204). Oates (1969) assim apresenta o sinal para filho: mão direita aberta, palma para dentro, dedos esticados e separados, colocar as pontas dos dedos no meio do peito e afastar a mão para frente, unindo as pontas ao mesmo tempo. Em seguida, fazer a mímica23

de homem (figura 205). Para o sinal filha, Oates não apresenta foto, mas descreve: fazer a mímica de “filho” e, logo depois, fazer a mímica de “mulher”.

Figura 204 Figura 205

Fonte: Gama, 1875 Fonte: Oates, 1969

Capovilla e Raphael (2001) apresentam o sinal sem a definição do gênero, apenas a primeira parte do movimento apresentado em Oates é realizada (figura 206). Em Vecchio (2017), filho (figura 207) e filha (figura 208), novamente a distinção é apresentada, sem alteração em relação àqueles de Oates.

Figura 206 Figura 207

Fonte: Capovilla, Raphael, 2001 Fonte: Vecchio, 2017

146 Figura 208

Fonte: Vecchio, 2017

AUJOURD’HUI – HOJE

Aujourd’hui – hoje: na LSF era um sinal composto, jour – dia (figura 209),