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1.3 Huet – o personagem do INES

1.3.2 Huet: vida e obra

Oviedo (2007) apresenta a biografia mais completa de Huet a que tivemos acesso em nossas buscas. Ele também lamenta a exiguidade de dados biográficos. É ponto pacífico que Huet tenha nascido em Paris, porém Christian Giorgio Jullian Montañés, pesquisador mexicano que se dedicou a reconstruir em detalhes o processo de fundação da Escuela de Sordomudos de México, que escreveu, em 2002, o trabalho de conclusão Génesis de la comunidad silente en México do curso

de História na Universidad Nacional Autónoma de México – UNAM, faz referência a

duas datas diferentes: 1820 e 1822 sem ter como chegar a uma conclusão por falta de documentos confiáveis. Quanto a sua surdez, sem que se tenha podido comprovar, todos que o conheceram, segundo Oviedo, afirmavam que era surdo desde o nascimento, porém sua bisneta, Susana Huet, afirma que ele teria ficado surdo entre 12 e 13 anos em consequência de sarampo.

Quem o conheceu afirmava que Huet falava de forma bastante compreensível quatro idiomas: francês, alemão, espanhol e português, no entanto, preferia comunicar-se por escrito ou por meio de sinais.

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Segundo relata Oviedo, Huet teria nascido em uma família da nobreza francesa, seu pai teria sido um conde e sua neta declarou que ele possuía uma fortuna, porém, parece ter sofrido dificuldades econômicas durante boa parte de sua vida, tendo sustentado uma disputa inútil contra o governo mexicano para que lhe pagasse salários do ano de 1867, o que deixa dúvidas quanto a sua situação financeira.

Após terminar seus estudos, Huet teria fundado o Institut de Sourds-Muets em

Bourges, na França, por volta de 1848.

A data da chegada de Huet no Brasil é de 1852, ainda que alguns autores apontem para o ano de 1855. Ele teria vindo com uma carta de recomendação do Ministro da Instrução Pública da França, Sr. Droyn de Lhys, tendo apresentado-a ao

cavalheiro de Saint George, ministro da França junto ao governo do Brasil, o que lhe

teria facilitado o acesso ao governo imperial brasileiro (RIBEIRO, 1942, p. 4).

Teria estabelecido relações com o diretor do Collégio Imperial Pedro II para dar início a seu plano de abrir a primeira escola para crianças visuais do país. Huet também parece ter tido uma relação pessoal com o próprio imperador D. Pedro II; seu filho teria recebido o mesmo nome do imperador, de quem diziam ser afilhado.

Casou-se com uma alemã chamada Catalina Brodeke, com quem teve dois filhos: María (1854) e Pedro Adolfo (1856), ambos nascidos no Brasil. Catalina, sua esposa, e seu filho, Pedro Adolfo, teriam trabalhado por muitos anos com educação para visuais.

No dia 26 de setembro de 1857, concretizou a fundação do Collégio Nacional para Surdos-Mudos, atualmente Instituto Nacional de Educação e Surdos – INES, do qual foi o primeiro diretor.

Sabe-se que o motivo de sua saída do INES teria sido sua vida pessoal. Em documento de 13 de dezembro de 1861, há o relato da reunião em que o marquês de Abrantes, que havia sido destacado pelo governo imperial para acompanhar o processo de criação da primeira escola para visuais do país, apresentara os acertos para a saída de Huet, conforme o excerto seguinte:

Em meados do ano 1859, começaram as perturbações não só da economia e da disciplina, mas até da moralidade do estabelecimento: desinteligências, a principio, e, depois, graves conflitos, entre Huet e sua esposa, destruíram

36 todo o respeito e força moral, sendo inevitável a anarchia.8 (ROCHA, 2008. p.34).

Para deixar o INES, Huet recebeu uma indenização pelo patrimônio material do Instituto e uma pensão anual como reconhecimento por ter fundado a primeira escola para visuais no Brasil.

Huet permaneceu no Brasil por cerca de nove anos, tendo emigrado novamente para o México em princípios de 1866 com o projeto de fundar outra escola para visuais na capital mexicana. Antes de partir, teria enviado seus dois filhos para a França para que aí continuassem seus estudos.

Segundo Oviedo, há duas explicações para a ida de Huet ao México. A primeira versão é a de que o presidente do México, Benito Juaréz, teria enviado Luís G. Villa Acázar ao Rio de Janeiro com uma carta oficial de convite para que Huet fosse à Cidade do México fundar uma escola para visuais. Porém, esta versão é questionada porque a essa época o México estaria passando por grave crise política e o presidente acabou por ser afastado durante um tempo devido a uma invasão francesa que colocou Maximiliano de Habsburgo no poder.

A outra explicação, mais confiável: Maximiliano era primo de D. Pedro II e teria ido ao Brasil antes de invadir o México. Como Huet frequentava o palácio de D. Pedro, poderia ter se encontrado com Maximiliano de quem recebera o convite pessoalmente.

Em junho de 1966, Huet fundava sua escola no México sob o regime de ocupação francesa, o que lhe causou problemas para o resto da vida, as autoridades mexicanas o viam com receio e, em 1878 foi afastado da função de diretor da escola, porém manteve-se como docente até sua morte em janeiro de 1882.

Nos meses que antecederam sua morte, Huet estaria preparando um dicionário de sinais que apresentaria no Congresso Mundial de Surdos que aconteceria na Inglaterra no final da década de 1880.

Apesar das contribuições de grande valia para a educação de visuais pelo mundo, como a introdução do ensino formal de língua de sinais em dois países, Brasil e México, muitas passagens e dados da sua história continuam obscuros ou

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esquecidos pela falha ou ausência de registros históricos, o que demandaria pesquisas mais acuradas para que enfim se fizesse jus a sua obra.

1.4 Contextualização histórica da Língua de Sinais Francesa e da Língua