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2.1 Conceitos convergentes sobre linguagem nos estudos bakhtinianos e na

2.1.5 Sobre as mudanças linguísticas e o termo evolução: o que dizem a

Considerando que o assunto central deste estudo são os empréstimos linguísticos de origem francesa à Libras e nosso objetivo principal é mostrar o movimento desses sinais no decurso do tempo, ponderamos sobre como entendemos a mudança linguística ou evolução linguística.

Portanto, vejamos como se posicionam teoricamente a Ecolinguística e os Estudos Bakhtinianos a esse respeito.

Couto (2009), ao abordar a Ecologia da evolução linguística, cita Mufwene, logo ao início da sua discussão, para deixar clara sua posição sobre o termo evolução: “o termo evolução não sugere nenhum tipo de progresso de um estado menos satisfatório para um estado mais satisfatório, nem necessariamente de um sistema mais simples para um mais complexo ou vice-versa” (MUFWENE, 2001

apud COUTO, 2009, p. 62, grifo do autor). Concordamos com essa forma de

entender o termo, ao estudarmos a língua, precisamos nos despir de preconceitos e pré-julgamentos, aceitando suas variações e modificações como parte da sua dinâmica natural, atendendo a novas necessidades e gerando transformações lexicais, semânticas e sintáticas. No entanto, concordando com o pensamento de

68 Bakhtin sobre o signo linguístico e de que cada palavra traz consigo uma carga ideológica que simboliza as forças sociais nela impressas, não empregamos o termo evolução. Optamos pelas palavras mudanças, alterações ou transformações da língua por concordarmos com Bakhtin quando afirma que

A palavra não é um objeto, mas um meio constantemente ativo, constantemente mutável de comunicação dialógica. Ela nunca basta a uma consciência, a uma voz. [...] Nesse processo, ela não perde seu caminho nem pode libertar-se até o fim do poder daqueles contextos concretos que integrou. (BAKHTIN, 1981, [1972], p. 176, grifo nosso).

Acrescentamos outras considerações de Mufwene (2016), em artigo sobre perspectivas evolutivas a partir da visão da Ecologia da língua, que afirma a importância da atuação dos indivíduos, ou falantes, para a transformação da língua, agindo sobre a propagação ou eliminação de variantes pelas seleções que ele faz, sejam línguas ou traços linguísticos; na emergência de novas normas; e na emergência de novas variedades. Segundo o autor, é necessário entender a dinâmica das interações interindividuais e intergrupais para assimilar a forma como as estruturas das línguas se alteram “na direção de novas normas, como especiam e como mantêm ou perdem sua vitalidade” (MUFWENE, 2016, p. 484).

E deve-se considerar que os falantes têm histórias interacionais diferentes e, portanto, sempre haverá variação entre eles. Neste ponto, associamos essa ideia à do Sujeito em Bakhtin, segundo quem cada qual se constitui Sujeito nas interações sociais de que participa; além disso, ao expressar-se, considerando a linguagem como sócio-histórica, reflete a ideologia e o meio social em que está imerso. Essas condições se refletem, por sua vez, no seu discurso, e nas alterações que surgem nas formas linguísticas.

Para Bakhtin, o enunciado enquanto unidade essencial da comunicação discursiva é o elemento que permitirá a integração das transformações linguísticas ao sistema da língua. Apenas após terem sido vivenciadas em enunciados, imersos na vida, após terem feito parte da língua viva, as novas formas linguísticas poderão ser incorporadas ao código da língua. Na visão bakhtiniana, a língua não evolui, seguindo a ideia de inacabamento, apenas contempla as necessidades do momento sócio-histórico.

Neste capítulo, tivemos como objetivo associar os conceitos bakhtinianos inerentes a língua e linguagem aos da ecolinguística, mostrando diálogos possíveis

69 entre essas teorias para o desenvolvimento de estudos linguísticos. Consideramos relevante escrever sobre as visões que estas duas tendências trazem a respeito do léxico e da palavra visto ser este o aspecto da língua que mais possibilita a ocorrência de empréstimos. Da mesma forma, julgamos coerente explicitar nossa compreensão sobre o uso do termo evolução quando empregado para designar as mudanças da língua, porque lidamos com os sinais e suas modificações no decorrer do tempo.

No próximo capítulo, abordaremos os empréstimos linguísticos, desenvolveremos uma reflexão sobre as variações linguísticas em referência à Libras, à Língua Portuguesa e à LSF. E, finalmente, dissertaremos sobre o conceito Contato de línguas, apresentando a análise de sinais da Libras e da LSF por este viés teórico.

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CAPÍTULO III

EMPRÉSTIMOS LINGUÍSTICOS

Neste capítulo, aprofundamos os conhecimentos dos movimentos de constituição da Língua Brasileira de Sinais, investigando primordialmente o seu aspecto lexical, compreendido como o mais suscetível às mudanças, que possibilita a percepção da integração de termos de outras línguas, os chamados empréstimos

linguísticos. Deparamo-nos com uma grande variedade de termos para denominar

esse fenômeno: cópia lexical, transferência, importação, no entanto, optamos pelo termo empréstimos linguísticos.

Carvalho (1989, p. 42) indicava que “os empréstimos linguísticos pressupõem uma interpretação e uma adaptação à estrutura da língua importadora”. E que, para estudá-los, deve-se adotar uma visão diacrônica, histórica da língua, levando em conta sua permanente elaboração em mudança. Esta ideia encontra sintonia em Volóchinov

A língua não é algo imóvel, dada de uma vez para sempre e rigidamente fixada em “regras” e “exceções” gramaticais. A língua não é de modo algum um produto morto, petrificado, da vida social: ela se move continuamente e seu desenvolvimento segue aquele da vida social. (VOLÓCHINOV, 2013, p. 157).

Volóchinov assume ainda, quanto ao caráter restritivo da sincronia nos estudos da língua, que:

O sistema sincrônico da língua existe somente do ponto de vista da consciência subjetiva de um indivíduo falante pertencente a um grupo linguístico em um determinado momento do tempo histórico. Do ponto de vista objetivo, esse sistema não existe em nenhum dos momentos reais do tempo histórico. (VOLÓCHINOV, 2017, [1929], p. 174).

Segundo Duarte (2011, p. 30), “A Língua de Sinais, como quaisquer outras línguas, orais ou gestuais, perfaz o mesmo processo sócio-histórico, dinâmico e necessário que constitui o arcabouço vivo de uma língua”, seguindo, portanto, a trajetória das línguas naturais em sua formação e transformações, em que há trocas recíprocas de empréstimos com outras línguas, sejam oralizadas ou sinalizadas.

Considerando a visão dialógica da linguagem dos estudos bakhtinianos, bem como a visão da Ecolinguística, estamos assumindo, para este estudo, que os

71 empréstimos linguísticos são as consequências ou resultados do diálogo existente entre as diversas línguas, ocasionado pelo contato entre os povos, e interessa-nos refletir mais estreitamente sobre como esse fenômeno ocorre no contato entre a Libras, a LSF e a LFO, num esforço para compreender como se produziram essas heranças, em quais aspectos se deram, desvelando um possível trajeto.

A migração dos povos que causa a diversificação linguística tem agido como causa de uma determinada convergência linguística, com a influência de uma língua sobre a outra. A proximidade espacial facilita a convergência linguística; a distância espacial, a divergência linguística.

Esse contato de línguas pode ocorrer de diversas formas ocasionando essas influências de modos diversos: quando os imigrantes constituem uma grande comunidade, poderão formar “colônias” ou ilhas linguísticas ou, mais tarde, também sofrerem um processo assimilatório da língua do país hospedeiro; os resultados do contato linguístico que acontece quando das conquistas podem ser diversos, o mais comum é a implantação total da língua e da cultura dos conquistadores (ex: a língua portuguesa, no Brasil); outra possibilidade ainda é a formação de línguas crioulas14

(Guiné Bissau), pidgins15 (República dos Camarões) ou língua indigenizada (Índia)

(COUTO, 2009).

3.1 Língua padrão, norma culta, variações linguísticas: uma contribuição da sociolinguística

Como parte das discussões que julgamos relevantes no contexto desta investigação, estabelecemos, sob o viés sociolinguístico, conceitos como norma, norma culta, norma padrão dentro dos estudos sobre a Língua Portuguesa. Permeamos esta discussão com a forma como esses fenômenos têm sido vistos ou questionados na Libras e mesmo na LSF, acrescentando nossas opiniões e atrelando-as aos conceitos bakhtinianos e ecolinguísticos que estão imbricados na nossa concepção de linguagem, e acrescentando nossa contribuição à questão.

Faraco (2004) define como norma linguística o uso comum de determinadas formas da língua por determinado grupo social e, considerando a grande

14 A língua crioula “surge quando crianças adquirem um pidgin como sua língua nativa”. (BICKERTON, 1984, apud COUTO, 1999, p. 9).

15 O pidgin, por sua vez, “é uma língua auxiliar que surge quando falantes de diversas línguas mutuamente ininteligíveis entram em contato estreito” (Id., Ibid.)

72 diversificação e estratificação da sociedade brasileira, consequentemente, temos no país inúmeras normas linguísticas. A norma linguística de cada grupo age como fator de identificação, ou seja, não se trata de mero conjunto de formas linguísticas isoladas, mas trazem em si valores socioculturais articulados a elas. O movimento da sociedade é dinâmico e constante e propicia, evidentemente, contatos entre esses grupos e seus membros e sua língua, ocasionando, por conseguinte, interinfluências – normas hibridizadas – e mudanças linguísticas.

Ainda para este autor, o grupo social que lida mais diretamente com a língua escrita também tem sua norma peculiar a que geralmente se designa norma culta. No entanto, necessitamos atentar para um entendimento crítico da designação ‘culta’ porque, se for tomada em sentido absoluto, pode-nos induzir a considerar que é uma norma que se opõe a outras, ‘incultas’ ou de grupos destituídos de cultura. Devemos, portanto, reconhecer seu limite legítimo, a norma culta está relacionada a uma dimensão da cultura, a cultura escrita, em geral, aquela escrita legitimada pelos grupos de controle social.

O próprio grupo falante dessa norma, pela sua valoração do mundo e posição econômico-social privilegiada, representa a si próprio como ‘mais culto’, por ter se apropriado dessa norma como bem exclusivo, transformando-a em instrumento de poder, atribuindo-se o direito de considerá-la melhor diante das outras no âmbito social, suscitando pré-juízos e preconceitos linguísticos.

Por outro lado, a cultura escrita fomentou o processo unificador da língua, pretendendo uma relativa estabilidade da língua, na tentativa de neutralizar a variação e controlar a mudança. Deste processo, surge a norma estabilizada, denominada norma-padrão ou língua-padrão, que Faraco define como “um complexo entrecruzamento de elementos léxico-gramaticais e outros tantos de natureza ideológica” que exige um estudo multidisciplinar, e não apenas linguístico (FARACO, 2004, p. 38).

A norma-padrão acaba por tornar-se uma referência ‘suprarregional’ e ‘transtemporal’, por apagar marcas dialetais mais evidentes. E esse padrão age como força centrípeta para as práticas de escrita, com efeito unificador, porém sem estar isento de influências das demais normas. Esse processo de padronização, no entanto, apesar de necessário, imputa à língua um caráter de homogeneidade que leva a ver a variação e a mudança linguísticas como desvios, erros ou não língua.

73 Concordando neste ponto com a sociolinguística de que há um caráter excessivamente artificial do padrão brasileiro, visto como uma camisa-de-força e que gera preconceitos, em se tratando, claro, do português brasileiro, voltando a nossa pesquisa, é necessário pensar que, para a Libras, que está ainda em busca de consolidação em nível nacional, há uma necessidade de estabilidade mínima para que se torne a língua nacional da comunidade visual brasileira, observando e respeitando, obviamente, suas variações.

Nota-se uma atitude de não-aceitação por estudantes visuais no ensino, ao ingressarem na universidade ou em escolas de ensino de Libras, de muitos dos sinais da língua ali ensinados pelos professores, seja por desconhecimento da origem desses sinais na formação da língua, seja pela falta de compreensão de que a língua precisa ter uma unidade relativa, passando a criar outros sinais para se expressarem, contribuindo para uma ‘despadronização’ de certa forma perigosa à língua. Perigosa porque pode causar uma desagregação à língua, causando inclusive problemas de desentendimento ou desconhecimento de sinais entre comunidades, mesmo vivendo numa mesma região linguística. O que dizer, então, de línguas de sinais ensinadas em estados diferentes, pensando na extensão territorial do Brasil? Como este problema se manifestaria em situações que exigem o conhecimento da norma considerada padrão da Libras, como provas, concursos, palestras etc? Discussão premente com a qual esperamos contribuir com esta pesquisa que pretende aclarar a origem de alguns sinais que têm sido alterados por desconhecimento.

Apesar de tratarmos especificamente dos empréstimos de origem francesa à Libras, citamos como exemplo o sinal de Libras para ódio, que tem configuração de mãos em S, sendo um empréstimo da ASL que, por sua vez, recebeu a interferência da língua inglesa oralizada, da palavra spite – ódio, rancor, malevolência, despeito mas que, às vezes, tem sido modificado para a configuração de mãos em O por buscarem uma associação, ou uma aproximação, na realização do sinal, com a língua portuguesa oralizada, fazendo uma transliteração da letra inicial da palavra ódio. Temos também o exemplo do sinal da conjunção condicional Se que, na Libras, é realizado pela datilologia das letras S e I, por ser um empréstimo linguístico da LSF que, por sua vez, tem o sinal calcado na palavra da LFO: si – se e cuja

74 realização, às vezes, é modificada para a datilologia das letras manuais S e E, por se acreditar que se refira à conjunção da língua portuguesa: se.

Dando sequência à discussão sobre a aceitação ou não de sinais da Libras, faz-se necessário distinguir variações provocadas pela situação social, motivadas pela necessidade de acompanhar os movimentos da vida, daquelas originadas da vontade de adequar os sinais ao bel prazer, por ‘não concordar com a configuração do sinal’, ‘não gostar do sinal’ ou ‘não considerar o sinal bonito’.

Beline (2003, p. 126) pergunta-se quais são os limites da variação de uma língua, ou seja, “a língua é um fenômeno inerentemente variável, heterogêneo por definição, ou, diferentemente, é um sistema homogêneo que pode apresentar casos eventuais de heterogeneidade?”. Para nós, na posição bakhtiniana, a resposta é óbvia, a língua é inerentemente variável e heterogênea, pela ótica da dinâmica histórico-social, cultural e política que a move, a forma e a modifica constantemente. Seguindo com este autor, as variações linguísticas podem ser lexicais, fonéticas, sintáticas, morfológicas, tendo por motivadores a localização geográfica e os aspectos sociais, como grau de escolaridade e nível de formalidade da situação de fala. No entanto, se não houver limites, podemos pensar que as variações podem nos levar ao caminho da não comunicação, porque cada qual falaria sua própria língua. (Conforme comentamos anteriormente nesta seção, a respeito da Libras e sua carência de padronização.) Sem exageros, porém. É evidente que as limitações vão se dando pelos próprios membros da comunidade de fala da qual o falante participa, o que nos faz retomar o conceito de norma linguística enquanto uso comum de determinadas formas da língua por determinado grupo social. Os traços de determinada comunidade linguística acabam por se manter pela comunicação intensiva entre seus membros e, da mesma forma, a falta de contato entre essas comunidades é propícia ao surgimento das diferenças linguísticas entre eles. É inegável então que teremos uma tendência a “falar como aquelas pessoas com

quem mais falamos.” (BELINE, 2003, p. 129, grifo do autor).

Para retomar a questão da força conservadora exercida pela forma escrita da língua, recorremos a Chagas (2003), segundo quem a língua escrita não reflete de imediato as mudanças que ocorrem na língua falada, há um certo descompasso entre a manifestação das mudanças na fala e sua aceitação na língua escrita. Como acontecem essas mudanças, então? A partir da perspectiva variacionista, presume-

75 se que, para haver mudança, deve ter havido um período de variação, coexistindo duas variantes. Para tornar um pouco mais didático: supondo que haja duas variantes apenas, uma mais antiga e outra mais atual, progressivamente elas passarão por um tempo em que a variante mais antiga predomina, depois, a mais atual a suplanta e, por fim, ocorre a substituição integral.

Há uma ressalva, porém, de que nem todos os teóricos variacionistas pactuam com essa concepção de mudança gradual. E acrescentamos nossa visão aqui de que não necessariamente ocorre a substituição, e que é possível que uma ou mais variantes continuem a coexistir durante muito tempo sem que uma suplante a(s) outra(s), já que os fatores que contribuem para a existência de uma palavra são inúmeros e continuamente mutáveis, podendo agir para sua manutenção ou exclusão, ou, ainda, para sua ressignificação.

Ainda pelo olhar sociolinguístico, os elementos que podem conduzir às mudanças podem ser linguísticos, assim como já citamos para a variação linguística, de ordem sintática, fonética, morfológica ou lexical; e também extralinguísticos. Uma das formas de se dar início a uma mudança é por meio do contato entre línguas ou por fatores internos à própria língua e a sua comunidade.

Como se propaga uma mudança linguística? Em geral, como dissemos no início desta seção, em função da ação centralizadora e conservadora da norma padrão, há uma reprovação, a princípio, quando ocorre uma mudança. Exemplo citado por Beline (2003, p. 157), a vocalização do [ l ] em final de sílaba no português do Brasil, no século XX, que passou a ser pronunciado como [ u ], mudança muito mal vista pelos ‘depositários’ da norma culta à época, porém, que acabou por ser incorporada à fonética de quase todas as regiões do país.

Entretanto, nem toda variação que acontece na fala termina por ser incorporada como uma mudança linguística que permanece e passa a fazer parte da língua.

Qual seria o caminho a seguir? Na sociedade brasileira, de gigantesca extensão territorial e que facilita, por sua grande estratificação, a existência de uma grande diversidade de normas linguísticas, a função básica da norma padrão da língua é estimular, assim na língua portuguesa como, acreditamos, na língua de sinais, uma relativa e necessária uniformização linguística para que a língua tenha ou mantenha seu status de língua nacional.

76 Tema de muitas discussões, é ponto pacífico que a padronização e a estabilidade de uma língua ocorrem com mais facilidade em sua forma escrita, por permitir maior controle reflexivo. Conforme Faraco

[...] um padrão de linguagem para as atividades escritas tende a ser bastante estável durante um período longo de tempo, principalmente porque o poder social de polícia sobre a escrita é muito maior do que sobre a fala. E isso é facilitado pelo fato da escrita, em razão de seu suporte físico ser menos fluido, conhecer permanência maior que a fala. (FARACO, 2012, p. 45).

Por este viés, para que se atinja essa estabilidade relativa e padronização da Libras, acreditamos ser essencial o desenvolvimento, o ensino e a propagação da sua escrita.

O caminho da escrita das línguas de sinais já é longo, apesar de pouco conhecido e, certamente, inscreve-se no escopo das iniciativas para facilitar a aprendizagem, não apenas da língua, mas também do acesso à educação das pessoas visuais. Bébian, no século XVIII, criou a Mimographie; Stokoe (1919-2000) desenvolveu a Notação de Stokoe; porém os mais conhecidos no Brasil são o Sign

Writing, desenvolvido pela estadunidense Valerie Sutton; a Escrita das Línguas de

Sinais (ELiS), da professora brasileira Mariângela Estelita Barros, Universidade Federal de Goiás – UFG; o Sistema de Escrita para Línguas de Sinais (SEL), da professora brasileira Adriana Stella Cardoso Lessa-de-Oliveira, da Universidade Estadual do Sudoeste Baiano (UESB); e o recente Visografia, sistema desenvolvido por Claudio Alves Benassi, professor do curso de Licenciatura Letras Libras da Universidade Federal de Mato Grosso, com base nos sistemas Sign Writing e na ELiS (BENASSI, 2017; 2019).

Estes estudiosos e muitos outros já se sentiram tocados pelo desejo de contribuir com o ensino e o desenvolvimento das línguas espaço-visuais visando uma melhoria da qualidade da aprendizagem da língua de sinais como da língua do ouvinte, também necessária à integração do visual ao mundo.

A ausência da escrita da língua de sinais e da deficiência provocada pela falta do seu ensino aos visuais tem encontrado eco também nos estudos de Dallan (2013), que confirma sua ação essencial ao aprendizado pelos estudantes visuais tanto da língua de sinais quanto da língua portuguesa escrita. Em defesa da modalidade escrita da Libras, a autora afirma que sua aquisição pode beneficiar o

77 aluno visual com outros mecanismos para aprender a abstrair e teorizar sobre o mundo porque complementa os conhecimentos que ele já teria construído em suas interações discursivas. Além disso, e corroborando a tese da contribuição da escrita para a consolidação da língua de sinais, a escrita propicia a ampliação e divulgação