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A metodologia de estudo de caso foi escolhida por possuir uma adequação melhor ao objeto da pesquisa do presente trabalho. Essa metodologia permite que tenhamos uma visão significativa de todo o processo estudado no tempo e no espaço. O estudo de caso contempla (YIN, 2005):

• Uma análise contextual e suas inter-relações;

• Permite a replicação e a comparação entre os casos estudados;

• A análise dos dados qualitativos;

• A utilização de diversas técnicas de coleta de dados; e

• A triangulação dos dados coletados.

Corroborando o entendimento de Malhotra (2006), acreditou-se que esta pesquisa seria realizada para ajudar a identificar um problema que não está na superfície, mas que necessariamente existe.

Yin (2005) aborda as principais questões para a definição da metodologia que são:

• Como definir o caso que está sendo estudado;

• Como determinar os dados relevantes a serem coletados;

• O que fazer com os dados depois de coletados;

Yin (2005) considera que questões do tipo “por que”, que são a base deste estudo, são mais explanatórias por estarem ligadas a fatos operacionais que necessitem serem traçados ao longo do tempo, ao invés de ser encarada como mera repetição ou incidência. Como o estudo buscou responder “por que” organizações hospitalares efetuam cobranças maiores de atendimentos a particulares do que de atendimentos cobertos por Planos de Saúde, entendeu- se estar dando ênfase à pesquisa explanatória. Por outro lado, como também se buscou a identificação de “quais” os métodos de custeio e os critérios de discriminação de preço que as

organizações de saúde utilizavam para definir os preços a serem cobrados junto a seus clientes, houve um pequeno viés exploratório.

Yin (2005) afirma que o estudo de caso é preferido no exame de eventos contemporâneos por não haver a possibilidade de manipulação dos dados. Deste modo, utilizaram-se dados primários e alguns secundários, além da realização de entrevistas e de observações diretas.

Uma decisão a ser tomada seria a de realizar a pesquisa em uma ou mais unidades de análise. Poderia, assim, realizar-se um estudo de caso único. Entretanto, o projeto de caso único é justificável sob certas condições, quando o caso representa (YIN, 2005):

• Um teste crucial da teoria existente;

• Uma circunstância rara ou exclusiva;

• Um caso típico ou representativo, ou quando o caso serve a um propósito;

• Revelador;

• Longitudinal.

Aquino (2005) entende que limitando a análise a uma única unidade, poder-se-ia abordar melhor a questão da validade interna. Ele considera que essa unidade única pode trazer maior homogeneidade na análise.

Por outro lado, Yin (2005) afirma que o estudo de casos múltiplos proporciona vantagem se comparado ao estudo de caso simples, haja vista que as provas resultantes são mais convincentes, embora exijam maior tempo e recursos do pesquisador.

Utilizou-se, assim, a taxonomia definida por Yin (2005), direcionando o estudo de caso como múltiplo com duas unidades de análise: a primeira unidade localizada no bairro de Realengo, na Zona Oeste e, a segunda, no bairro de Engenho de Dentro, na Zona Norte. Ambas no município do Rio de Janeiro.

A pesquisa foi feita em cada um dos dois casos, buscando mostrar “por que” o fenômeno acontece em cada unidade analisada e “quais” os critérios que levam a essa decisão. Utilizando as duas unidades de análise, evidencia-se o estudo de caso como sendo múltiplo, com fortes características explanatórias e algumas exploratórias.

Pelo conhecimento adquirido por este pesquisador durante o levantamento dos dados e atendendo a solicitação dos gestores, os nomes dos entrevistados e das unidades de análise serão mantidos em sigilo. Tal solicitação se deve em virtude das possíveis observações que possam indiretamente ter uma conotação pessoal no desempenho profissional dos gestores.

Yin (2005) defende que a utilização de estudos de casos múltiplos deve seguir a lógica da replicação e não da amostragem, tendo o pesquisador que escolher os casos com critério. Yin (2005) sugere que a escolha dos casos a serem estudados funcione de maneira semelhante aos experimentos múltiplos, com resultados similares ou contraditórios. Sendo assim, a escolha da estratégia de estudo de casos múltiplos segue o propósito direto que é investigar “por que” organizações hospitalares efetuam cobranças maiores de atendimentos a particulares do que os atendimentos cobertos por planos de saúde.

Quando se efetua um estudo de caso, uma preocupação que vem à mente é como dispor os dados levantados e estudados de modo a mostrar confiabilidade. Yin (2005) nos conduz a alguns princípios predominantes que são importantes para o trabalho da coleta de dados na realização do estudo de caso. São eles:

a) Várias fontes de evidências;

b) Um banco de dados para o estudo de caso; c) Um encadeamento de evidências.

Yin (2005) apresenta e discute seis evidências básicas que são as mais comumente utilizadas ao realizar estudos de caso. São elas:

• Documentação: Para o estudo de caso, o uso mais importante de documentos é corroborar e valorizar as evidências oriundas de outras fontes. Em primeiro lugar, os documentos são úteis na hora de verificar a grafia correta e os cargos ou nomes de organizações que podem ter sido mencionados na entrevista. Segundo, os documentos podem fornecer outros detalhes específicos para validar as informações específicas através de outras fontes. Se uma prova documental contradizer em vez de corroborar, o problema precisa ser investigado mais profundamente. Para esta pesquisa, os principais documentos que foram utilizados foram os contratos das organizações de saúde com seus convênios e relatórios de cobrança para os dois tipos de clientes estudados.

• Registros em arquivo: Os registros em arquivos documentais e em mídia eletrônica também foram utilizados. Foram utilizados os registros sugeridos por Yin (2005), que incluem os registros de serviço (mostram o número de clientes atendidos em determinado período de tempo); os registros organizacionais (tabelas e orçamentos de organizações em determinado período de tempo); mapas e gráficos (geográficos e de atendimento); listas (de nomes e de outros itens); dados secundários oriundos de levantamentos (censo IBGE e outros) e registros pessoais (anotações realizadas por observação direta).

• Entrevistas: Para Yin (2005), uma das mais importantes fontes de informações para um estudo de caso. As entrevistas são fontes essenciais de evidência dentro de um estudo de caso porque, geralmente, estes versam sobre questões humanas e sociais. Foram realizadas entrevistas abertas com os principais tomadores de decisão das unidades estudadas.

As entrevistas realizadas com os tomadores de decisão tanto quanto com os funcionários das unidades analisadas foram despadronizadas, isto é, não estruturadas, não existindo rigidez de roteiro e podendo se explorar, mais amplamente, as questões centrais.

• Observação direta: Foi realizada no espaço de observação quando das visitas para estudo. Yin (2005) corrobora que haverá comportamentos ou condições ambientais relevantes que estarão disponíveis, haja vista os fenômenos estudados não possuírem interesse histórico, além de serem mais uma fonte de evidência em estudo de caso. As evidências observacionais são, freqüentemente, usadas no fornecimento de informações adicionais sobre o tópico que está sendo estudado. Os objetivos dessas observações diretas foram os de fazer um estudo mais aprofundado sobre as rotinas desses processos que envolviam a formação do preço dos valores cobrados.

• Observação participante: Para Yin (2005), a observação participante é uma modalidade especial de observação na qual o pesquisador não é apenas um observador passivo. Ele assume uma variedade de funções dentro de um estudo de caso e pode, de fato, participar dos eventos que estão sendo estudados. Em virtude de este pesquisador ser externo aos locais estudados, não foi possível a realização da observação participante, limitando assim esta pesquisa.

• Artefatos físicos: Yin (2005) demonstra como uma última fonte de evidências o artefato físico ou cultural, como um aparelho de alta tecnologia, uma ferramenta ou instrumento, uma obra de arte ou alguma outra evidência física. Podem ser observados como parte de uma visita de

campo, entretanto, eles têm uma importância menor na maioria dos estudos de casos. Os artefatos físicos utilizados nesta pesquisa consistiram de ferramentas tecnológicas usadas, como programas, sistemas e equipamentos.

Conforme orientação de Yin (2005), seguimos seus três princípios para a coleta de dados, com a finalidade de maximizar os benefícios dos resultados, procurando, posteriormente, atingir a validade do construto e a confiabilidade do estudo. Os princípios são:

• Utilizar várias fontes de evidência: Com isso pode-se efetuar a triangulação dos dados, desenvolvendo linhas convergentes de investigação. Sua orientação é de que é necessário efetuar a triangulação dos dados, a triangulação de pesquisadores, a triangulação da teoria e a triangulação metodológica.

• Criar um banco de dados para o estudo de caso: É um princípio que deve ser respeitado durante a coleta de dados. Tem a ver com a maneira de organizar e documentar os dados coletados para os estudos de caso. Yin (2005) ainda alerta para a falta de dados formais para a maioria dos estudos de caso. Em resumo, o banco de dados deve conter notas, documentos, tabelas e narrativas.

• Manter o encadeamento de evidências: Procura aumentar a confiabilidade das informações do estudo. O princípio consiste em permitir que um leitor externo siga a origem de qualquer evidência, indo das questões iniciais da pesquisa até as conclusões finais do estudo de caso. Além disso, o observador externo deve ser capaz de seguir as

etapas em qualquer direção, ou seja, das conclusões para as questões iniciais da pesquisa, ou destas para as conclusões.

Vergara (2006) qualifica a pesquisa em dois aspectos: quanto aos fins e quanto aos meios.

Quanto aos fins, a presente pesquisa poderia ser classificada como exploratória e descritiva. Exploratória porque há poucas pesquisas na literatura que enfoquem a discriminação de preços dos hospitais nas relações com planos de saúde e pacientes particulares; e descritiva porque procurou descrever como o fenômeno da discriminação de preços ocorria no cenário apresentado.

Quanto aos meios, a pesquisa foi de campo, afinal os fenômenos foram investigados nos locais em que ocorrem; bibliográfica, pois foram utilizados leituras em materiais publicados em livros, revistas especializadas, jornais, teses, dissertações, papers e outros artigos disponíveis obtidos em algumas bibliotecas ou em meio eletrônico; e de estudo de caso, porque foi direcionado às unidades analisadas, com caráter de detalhamento e profundidade.

Paralelamente à pesquisa bibliográfica, foram utilizados alguns dados secundários oriundos de periódicos da área acerca de planos de saúde e de atendimentos médicos, bem como dados coletados por este autor em outros trabalhos realizados na mesma área.

Por fim, foi adotado o delineamento da pesquisa com corte seccional. Segundo Vieira (2004), esta é a pesquisa onde o interesse é no momento atual, sobre qual os dados são coletados.

As pesquisas com cortes seccionais refletem os acontecimentos no curto prazo. Sendo assim, o presente estudo foi conduzido em uma dimensão pontual, privilegiando o período atual. Os métodos de custeio e os critérios de discriminação de preços porventura existentes

em outros períodos que não foram abrangidos por esta pesquisa não foram levados em consideração.