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CAPÍTULO 4 RESULTADOS

4.2 Diferenças entre crianças e adultos

4.2.1 Descrições definidas

4.2.1.1 Respostas à questão O que são bugios?, feita para o texto 1A - com âncora

(os bugios, estes símios, destes macacos)

Ao responder à questão O que são bugios?, os sujeitos estariam fornecendo pistas de como construíram um referente a partir da cadeia referencial do texto. As respostas obtidas poderiam fornecer evidências ou a favor da previsão de que as crianças, leitores com menos experiência, teriam maior dificuldade do que os adultos de construir uma cadeia referencial a partir das instruções do texto-base, ou contra essa previsão.

A tabela 4.1 mostra a proporção de acertos e erros de crianças e adultos para essa primeira questão que lhes foi apresentada. Apesar de, em ambos os grupos, a porcentagem de acertos ser superior a 50%, é alto o número de erros, principalmente no grupo de crianças. Considerando-se que, no texto, está presente a palavra macaco, forte candidata à âncora conceitual, não seria de se esperar erro na leitura dos adultos. A tabela permite visualizar que existe diferença importante entre as respostas dos grupos de Crianças e de Adultos, no que se refere a essa questão. A proporção de acertos atingida pelo grupo de Adultos é bem superior à proporção de acerto do grupo de leitores Crianças.

TABELA 4.1

Proporção de acertos e erros de crianças e adultos questão O que são bugios? Texto com âncora (%)

Acerto Erro

Crianças 55,3 44,7

Adultos 85,3 14,7

A tabela 4.2 indica que a reação à instrução conceitual presente em macacos foi bem mais forte que a reação à instrução gramatical presente em estes (símios). Tanto a maioria das crianças quanto a maioria dos adultos respondeu macacos em vez de símios. Foi pequeno o número de sujeitos que indicou o nome de outros animais primatas como micos ou gorilas, nessa resposta.

TABELA 4.2

Proporção de crianças e adultos que responderam macacos, símios ou outros (gorilas, micos) (%)

Crianças Adultos

Macacos (âncora) 90,4 82,8

Símios 4,8 10,3

Outros (micos, gorilas) 4,8 6,9

Dizer apenas que os grupos acertaram ou erraram não é suficiente, quando se tem o objetivo de captar evidências sobre o processo por que passaram. É preciso, sim, buscar ver

o que os sujeitos fizeram, quando acertaram, mas é necessário também tentar entender o que fizeram quando erraram.

Analisando-se os erros, é possível ver, na tabela 4.3, que a maioria dos leitores que erraram a questão, tanto no grupo de crianças quanto no de adultos, citou o nome de animais que não têm nenhuma relação com macacos. Nos dois grupos, o número de respostas genéricas (animal, bicho) ou a ausência de qualquer resposta foi inferior ao de animais como cupins,

TABELA 4.3

Proporção de respostas dadas incorretamente (%)

Crianças Adultos

Cópia 0 0

Genérico (animal,bicho) 17,6 40

Outros (cupim, inseto, etc.) 70,6 60

NR 11,8 0

Como a diferença entre as respostas do grupo de adultos e do de crianças foi importante nessa questão, foi levantada a hipótese de que a palavra macaco, que poderia funcionar como âncora, mesmo sendo apresentada tardiamente, traria uma carga conceitual muito fácil de ser acionada, dada a sua freqüência de uso. Por isso foi feita uma variação do mesmo experimento com o texto 1B, no qual a retomada de referentes foi realizada com expressões desconhecidas dos leitores. O fato de trabalhar com todos os SNs da cadeia referencial desconhecidos do leitor faria com que, para o leitor, não houvesse uma expressão para ancorar a construção do referente.

4.2.1.2 Respostas à questão O que são bugios?, feita para o texto 1B - sem âncora

(os bugios, estes símios, destes guaribas)

O resultado da questão O que são bugios? no texto modificado coincide com o encontrado para a versão original. A tabela 4.4 mostra que, também com o texto 1B, houve diferença expressiva entre os grupos de crianças e adultos. A proporção de acertos atingida pelo grupo de adultos - 62,7% - foi bastante superior à proporção de acerto do grupo de crianças - 29,4%.

TABELA 4.4

Proporção de acertos e erros de crianças e adultos à questão O que são

bugios? Texto sem âncora (%)

Acerto Erro

Crianças 29,4 70,6

Adultos 62,7 37,3

A tabela 4.5 mostra que houve crianças que prestaram atenção nas instruções gramaticais das descrições definidas da cadeia referencial. Isso pode ser suposto a partir da observação das porcentagens de quem respondeu símios e guaribas e da porcentagem de quem respondeu macacos. Se os sujeitos não sabiam o que eram símios e não sabiam o que eram

guaribas, só pode ter sido o conhecimento de que estes e destes funcionam como instruções

de retomada que os orientou nessa resposta. O mesmo não aconteceu no grupo de adultos. Somente 7,2% indicaram símios como resposta, e nenhum deles apontou guaribas.

TABELA 4.5

Proporção de crianças e adultos que responderam macacos, símios, guaribas ou outros (gorilas, micos) (%)

Crianças Adultos

Macacos 40 83,3

Símios 50 7,2

Guaribas 10 0

Outros (gorila, micos) 0 9,5

Dos sujeitos que erraram, quase 80% das crianças citaram o nome de outros animais. Entre os adultos, destacaram-se 36% que responderam de forma genérica (animal) e 48% que citaram outras respostas. Tanto no grupo de crianças quanto no de adultos houve quem apenas copiasse um pedaço do texto. É o que mostra a tabela 4.6

TABELA 4.6

Proporção de respostas dadas incorretamente (%)

Crianças Adultos

Cópia 4,2 4

Genérico (bicho, animal) 16,6 36

Outros (lagarta, inseto,

urso, etc.) 79,2 48

NR 0 12

4.2.1.3 Respostas à questão: Escreva as duas palavras do texto que foram usadas para não se repetir "albinismo”, feita para o texto 2 - com rotulação e avaliação

Na cadeia referencial do texto As causas da brancura, as duas expressões usadas para não se repetir albinismo cumprem, além do papel de rotular, também o de avaliar o referente. Os resultados obtidos na pesquisa revelam que, para as crianças, essa foi uma tarefa muito difícil. Nenhuma delas conseguiu indicar ambos, defeito e anormalidade, como elementos de retomada de albinismo. Houve algumas crianças que identificaram um ou outro dos termos como parte da cadeia referencial - 27%. Um número bastante expressivo (69%) de sujeitos indicou expressões da primeira linha do texto como, por exemplo, modificação

genética, células, fecundação como elementos de retomada. Já em relação aos adultos, foi

pequena a porcentagem dos que não identificaram os elementos de retomada adequadamente, mas os erros de alguns adultos são muito semelhantes aos das crianças. Quando erraram, tenderam a indicar expressões da primeira linha como resposta. A tabela 4.7 mostra como crianças e adultos se comportaram na identificação de retomadas no texto 2.

TABELA 4.7

Identificação das expressões de retomada (%)

Crianças Adultos Reconhecem defeito e

Anormalidade como elementos de retomada 0 73

Reconhecem apenas uma das expressões como

elemento de retomada 27 18

Apontam outras expressões como resposta Não respondem

69 4

9 0

Quando se observa a média do tempo gasto na execução da tarefa de leitura com esse segundo texto, independentemente da resposta dada às questões, é possível perceber que não há diferenças acentuadas entre o grupo de crianças (6 min) e o de adultos (7 min). Todavia, a observação individual do procedimento dos dois grupos durante a realização da tarefa evidencia que há diferenças na relação que estabelecem com o texto. As crianças, em geral, leram o texto apenas uma vez e não retornaram a ele enquanto resolviam as tarefas. Quando encontravam dificuldades em responder, paravam e ficavam pensando, mas sem recorrer a uma segunda leitura. Isso pode indicar que gastaram mais tempo nas questões do que na leitura do texto. Essa observação pôde ser feita porque o texto de leitura e a tarefa encontravam-se em folhas diferentes. Os sujeitos adultos, ao contrário, recorriam a todo momento à folha de texto para resolverem suas dúvidas.

No geral, não é possível afirmar que houve uma correlação estreita entre tempo de realização da tarefa e tipo de respostas dadas, embora, em casos individuais, pudesse ser percebido que os adultos, quando demoravam mais tempo, estavam perseguindo uma resposta mais adequada, apoiando-se numa releitura.