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CAPÍTULO 4 RESULTADOS

4.3 Presença/ausência de expressão âncora: macacos x guaribas

Nesta seção podem ser observadas, mais claramente, as diferenças decorrentes da presença (Texto 1A) ou ausência (Texto 1B) de expressão candidata à âncora marcada no texto. Tanto nas respostas às questões, quanto nos recontos produzidos, podem ser percebidos dados importantes sobre a diferença entre os textos.

4.3.1 NAS RESPOSTAS

As tabelas 4.17 e 4.18 mostram o contraste entre os dois textos nos grupos de crianças e de adultos, respectivamente, na questão O que são bugios?

TABELA 4.17

Proporção de acertos e erros de crianças à questão O que são bugios,

texto com âncora x texto sem âncora(%)

Acerto Erro

1A 55,3 44,7

1B 29,4 70,6

TABELA 4.18

Proporção de acertos e erros de adultos à questão O que são bugios?: texto com âncora x texto sem âncora (%)

Acerto Erro

1A 85,3 14,7

1B 62,7 37,3

Por esses resultados, fica claro que o texto que não apresentava uma candidata à âncora foi mais difícil tanto para crianças quanto para os adultos. Houve, no texto 1B, um acentuado aumento da porcentagem de erro nas respostas dos dois grupos e, conseqüentemente, um decréscimo na porcentagem de acertos. Isso evidencia que, na ausência de uma expressão âncora, os sujeitos tiveram mais dificuldade do que quando havia uma expressão nominal com SN conhecido para ancorar a construção do referente.

As tabelas 4.19 e 4.20 mostram as diferenças entre textos na resposta à questão O texto fala

de macho. De que macho está falando?

TABELA 4.19

Proporção de crianças que erraram/ acertaram a questão O texto fala

de macho. De que macho está falando? (%)

Acerto Erro

1A 60,5 39,5

TABELA 4.20

Proporção de adultos que erraram/ acertaram a questão O texto fala

de macho. De que macho está falando? (%)

Acerto Erro

1A 82,4 17,6

1B 62,7 37,3

Há evidências que apontam que, também para a compreensão da anáfora associativa, o texto 1B impôs aos sujeitos maior dificuldade.

4.3.2 NOS RECONTOS

Nesta seção são apresentadas as diferenças do confronto entre as estratégias usadas na leitura dos textos 1A e 1B.

A tabela 4.21 mostra as semelhanças e diferenças no comportamento de crianças em função da modificação do texto. A tabela 4.22 mostra o comportamento dos adultos em função da mesma modificação. Na última coluna, itálico indica diferença maior em 1B; negrito indica maior diferença em 1A.

TABELA 4.21

Comportamento das Crianças em função da modificação do texto: operações adequadas (%)

Crianças 1A -bugios, símios/macacos

Crianças 1B- bugios,

símios/guaribas Diferença

Tipo de operação Adequada Adequada

Construção tópico discursivo 11,0 4,7 6,3

Construção do tópico da sentença 15,0 3,9 11,1

Repetição literal 13,0 26,8 13,8

Paráfrase 19,0 15,7 3,3

Implicatura 12,0 11,0 1,0

A construção de tópicos discursivos e de tópicos da sentença é, em 1A, maior do que em 1B, entre as crianças. É relevante o aumento de repetições em 1B.

TABELA 4.22

Comportamento dos Adultos em função da modificação do texto: operações adequadas (%)

Adulto 1A – bugios, símios/macacos

Adulto 1B bugios,

símios/guaribas Diferença

Tipo de operação Adequada Adequada

Construção tópico discursivo 2,8 3,0 0,2

Construção do tópico da sentença 10,6 4,8 5,8

Repetição literal 43,0 33,3 9,7

Paráfrase 17,0 22,5 5,5

Implicatura 17,1 23,1 6,0

Destacam-se as diferenças na produção de repetições e construção de tópico da sentença em 1A e as inferências e paráfrases que foram maiores em 1B.

Não foram sistemáticos os dados sobre problemas na construção de tópico discursivo: os

adultos tiveram mais problemas em 1A, as crianças tiveram mais problemas em 1B. Chama

a atenção o fato de que, no grupo de crianças em 1B, o aumento de construção de tópico

discursivo foi bastante expressivo. As tabelas 4.23 e 4.24 evidenciam as operações

problemáticas no grupo de crianças e de adultos, respectivamente.

TABELA 4.23

Comportamento das Crianças em função da modificação do texto: operações problemáticas

Crianças 1A –bugios, símios/macacos

Crianças 1B -bugios,

símios/guaribas Diferença

Tipo de operação Problemática Problemática

Construção tópico discursivo 10,0 18,9 8,9

Construção do tópico da sentença 10,0 8,7 1,3

Extrapolação 8,0 8,7 0,7

TABELA 4.24

Comportamento dos Adultos em função da modificação do texto: operações problemáticas (%)

Adulto 1A- bugios, símios/macacos

Adulto 1B - bugios,

símios/guaribas Diferença

Tipo de operação Problemática Problemática

Construção tópico discursivo 3,3 1,9 1,6

Construção do tópico da sentença 4,0 2,8 1,2

Em síntese, houve, no texto 1B, um acentuado aumento da porcentagem de erro nas respostas dos dois grupos e, conseqüentemente, um decréscimo na porcentagem de acertos, o que evidencia o seguinte: a cadeia referencial do texto que não apresentava âncora (1B) impôs mais dificuldades aos sujeitos do que a que apresentava (1A).

4.3.2.1 Outras observações nos recontos

Há ainda outras diferenças nos padrões de respostas: A freqüência com que o segmento 3 - no texto 1A e 1B - (e se alimentam de quase tudo que existe na mata: folhas, brotos de

árvores, frutinhas) aparece nos recontos é alta nos grupos. Isso pode ser um indício da

relevância que essa expressão teve para os sujeitos tanto em 1A quanto em 1B. As expressões parecido com lutador de luta livre e bater no peito (segmentos 8 e 9, respectivamente), ambas ligadas diretamente a macacos/guaribas, são citadas 32 vezes, nos recontos das crianças, quando a âncora estava presente (em 1A), mas somente 11 vezes, quando não há expressão que funcione como âncora. Nos recontos dos adultos, há diferença também, embora não seja tão expressiva. O inverso se deu com outras informações como

colocar o filhote nas costas e ameaçado pelo gavião (segmentos 13 e 14, respectivamente):

com a âncora (em 1A) essas informações apareceram 13 vezes, mas sem a âncora apareceram 27 vezes nos recontos das crianças.

Outra curiosidade é que a inserção de comentários foi uma estratégia usada basicamente pelas crianças, enquanto o estabelecimento de contato com o leitor e a avaliação foram usadas somente pelos adultos.

Quando se comparam os recontos dos adultos com o texto original, percebe-se que a operação que eles mais realizaram foi a repetição literal das informações do texto. Os recontos dos adultos revelam, também, que eles fizeram muitas inferências, a partir da mobilização de conhecimentos previamente adquiridos.

4.4

COMPARAÇÃO DAS RESPOSTAS ÀS QUESTÕES COM OS