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QUALIDADE DE CARNE

2.2.1 Desenho do veículo

Foi demonstrado que a plataforma e o ambiente do compartimento de transporte influenciam o bem–estar, a qualidade da pele e da carne. Suínos transportados nos compartimentos da frente e de trás tiveram pior qualidade de carne (DFD ou PSE) e maiores níveis de lactato em comparação aos que viajaram nos compartimento centrais (Guise e Penny, 1989; Barton-Gade et al., 1996). Além disso, os transportados nos compartimentos inferiores apresentam um maior incidência de carne PSE, especialmente se a baia for mal-ventilada (Guise e Penny, 1992), ou uma tendência à carne DFD, que possivelmente se deve aos efeitos do estresse físico causado pela necessidade de manter-se de pé para suportar o nível mais alto de vibrações (Randall, 1994; Barton-Gade et al., 1996). O escore de dano na pele também é maior nestes animais, pois suínos em pé estão mais sujeitos a caírem ou tropeçarem e por isso podem se ferir durante o transporte (Barton-Gade et al., 1996)

(Tabela 3). Finalmente, o efeito do andar de baixo tem impacto sobre o bem–estar do suíno durante o transporte. Suínos transportados no nível mais baixo têm maior temperatura corporal e maiores níveis sanguíneos de cortisol, e demonstram um grau mais alto de desidratação (Lambooj et al., 1985; Lambooj e Engel, 1991; Barton-Gade

et al., 1996).

Tabela 3 — Valores médios de dano na pele e incidên-

cia de rigor rápido (%) em suínos de acordo com o nível de transporte (modificado de Barton-Gade et al., 1996)

Andar Dano na Pele* Rigor Rápido (%)** Pernil Meio Paleta Paleta Inferior 1.40 1.75 1.12 1.2 Superior 1.27 1.43 1.09 4.2

* Medido por uma escala de 4 pontos scale (1= nenhum, 4=

grave)

** Desenvolvimento do rigor medido em uma escala de 4 pontos

(1=sem rigor, 4 =rigor completo) 30 min post mortem

Para otimizar as condições de transporte, o veículo deve ser coberto (teto e laterais), ter ventilação mecânica eficaz e aberturas laterais para ventilação na parte de baixo e na parte de cima ajustadas semi-automaticamente a partir da cabine do motorista, além de um andar superior hidráulico, divisórias móveis de compartimentos, uma superfície de borracha anti-derrapante no piso e um sistema de aspersão (Christensen e Barton-Gade, 1996). As laterais e o teto devem ter isolamento térmico e refletir a luz para proteger os animais das variações climáticas do exterior. Um levantamento recente na Espanha demonstrou que todos os caminhões tinham as laterais abertas e especialmente durante o inverno, os animais ficavam menos estressados (menores níveis sanguíneos de cortisol) quando transportados em alta densidade (<0,40 m2/suíno) pois suportavam melhor o estresse pelo frio

amontoando-se (Oliver et al., 1996).

A ventilação mecânica eficaz foi considerada responsável pela redução de 50% das mortes no caminhão (Nielsen, 1982). No entanto, na prática, a escolha de ventilação mecânica ou natural depende do clima. Em todos os transportes pesquisados em sete países da UE (EC–AIR3–CT92–0262), todos os países usavam ventilação natural e ajustavam as aberturas para ventilação de acordo com a temperatura exterior e a altura do andar. Quanto mais baixo o andar, maior deve ser a abertura (Christensen

et al., 1994). Pesquisas demonstraram que uma abertura muito pequena (largura de

150 mm) em combinação com um andar baixo (900 mm) causou 50% de aumento na frequência cardíaca e pior qualidade de carne em comparação com maior abertura de ventilação e/ou altura do andar (350–500 mm e 1100–1300 mm, respectivamente) (Barton-Gade et al., 1996; Christensen et al., 1996).

Deve ser dada atenção especial ao ambiente de transporte no andar superior pois a temperatura pode ser 6oC mais alta em comparação ao andar inferior quando a

temperatura exterior está entre 12 e 16oC (Christensen et al., 1996). Como a zona de

termoneutralidade de suínos é 26–31o

C, a temperatura do ar não deve ser maior que 30oC (Randall, 1993).

O caminhão ideal para o transporte de suínos é dois andares, pois nestes veículos a altura dos andares permite que o tratador entre e descarregue os animais sem estressá-los. Já os de três andares, que são usados freqüentemente na Itália, Espanha, Holanda e Bélgica, a prática de desembarque é difícil pois a altura entre os andares em geral é de apenas 90 cm e os suínos devem ser forçados de alguma forma (com choque e chutes) a sair do caminhão (Christensen et al., 1994). A disponibilidade de um segundo andar móvel poderia ser uma solução se puder ser levemente erguido para que o tratador entre no andar inferior e descarregue os animais (Christensen

et al., 1994).

O tipo de piso também é importante para o conforto dos animais durante o transporte. O material mais recomendado é a borracha leve (Christensen e Barton- Gade, 1996) devido a suas propriedades anti-derrapantes e anti-ruído. Palha ou maravalha alta e seca devem ser usadas para cobrir o piso do andar se a temperatura estiver abaixo de 10oC para manter a temperatura corporal do suíno. Na realidade, o

estresse por frio pode levar à morte durante o transporte (Clark, 1979) e a perdas de qualidade da carne devido ao excesso de aparas (Berg, 1999). Quando a temperatura for maior que 20oC, deve ser evitado o uso de cama de palha para evitar o risco de

estresse por calor, sendo substituída por areia molhada ou maravalha para manter os animais frescos (Warriss, 1996b).

2.2.2 Densidade

Escolher as lotações adequadas para suínos terminados durante o transporte tornou-se uma preocupação porque, por um lado, há a pressão econômica para aumentar a densidade a fim de obter o lucro máximo de uma única viagem, i.e., quanto mais suínos transportados, menor o custo por unidade. Por outro lado, o bem–estar animal (mortalidade) e a qualidade da carcaça e da carne podem ser comprometidos com densidades muito altas ou muito baixas.

A legislação européia atual (95/29/EC) especifica que a densidade de carregamen- to de suínos de aproximadamente 100 Kg não deve exceder 235 Kg/m2(0,425 m2/100

Kg) e que um aumento máximo de 20% (0,510 m2/100 Kg ou 196 Kg/m2) também pode

ser necessário, dependendo das condições meteorológicas e da duração da viagem. No Canadá, a densidade recomendada varia de 0,34 (<16oC) a 0,41 (24oC) m2/100

Kg (AAC, 1993). No entanto, estas recomendações raramente são seguidas na prática porque as densidades escolhidas são ajustadas às diferentes condições de transporte (clima, tipo de estrada, distância, linhagem e tamanho do suíno) em diferentes países. Na maioria dos países da UE, as densidades variam de 0,35 a 0,39m2/100 Kg e vão

até 0,43–0,50m2/100 Kg na Alemanha (Warriss, 1998). Densidades entre 294 e 312 Kg/m2(média 0,33m2/100 Kg) foram relatadas em diferentes condições comerciais no

Canadá (Aalhus et al., 1992). Com base nas medidas do espaço necessário para decúbito esternal, hoje se sugere que o espaço mínimo necessário é equivalente a aproximadamente 250 Kg/m2 para suínos terminados de 90–100 Kg de peso vivo

(Warriss, 1998).

A densidade tem uma importante influência sobre o comportamento de suínos durante o transporte. A baixas densidades (0,66 m2/suíno), os animais tendem a

se acalmar em duas horas do início da viagem (Lambooj et al., 1985). No entanto, também foi observado que dar mais espaço (0,42 e 0,50 m2/suíno), especialmente em

viagens curtas, não resulta necessariamente em mais animais deitados, mas causa maior perturbação e dificuldade dos animais manterem o equilíbrio quando o veículo faz curvas ou anda em estradas ruins (Barton-Gade e Christensen, 1998). Quando a densidade é alta (>250 Kg/m2 ou <0,39 m2/suíno), observa-se uma perturbação contínua dos animais deitados pelos que estão procurando um lugar para deitar (Lambooj e Engel, 1991). Esta situação causaria o comportamento de monta, que por sua vez provoca interações agressivas entre os animais, levando a escores mais altos de dano na pele (Guise et al., 1989). Em resumo, parece que tanto a densidade alta, quanto a baixa, podem ser fontes prováveis de altos escores de dano na pele e de prolapso de reto.

Os suínos terminados têm maior mortalidade (estresse por calor), ferimentos (hematomas) e pior qualidade de carne se não houver espaço adequado. O transporte de suínos em densidades maiores que 0,40m2/suíno (2,5 suínos/m2) aumentou a taxa de mortalidade de 0,04 para 0,77% no transporte para um abatedouro espanhol (Guàrdia et al., 1996). O mesmo aumento foi observado em densidades maior que 238 Kg/m2na GB (Riches et al., 1996).

A densidade parece ter efeito sobre a segurança alimentar pois afeta o nível de limpeza da pele do porco. Segundo Riches et al. (1998), os suínos ficam mais sujos no transporte quando estão em densidade maior que o limite de 235 Kg/m2 imposto pela UE.

Há evidências conflitantes sobre os efeitos da alta densidade sobre a qualidade da carne devido ao efeito sobreposto da genética e da distância transportada. No entanto, para viagens mais longas (25–44 horas), há evidência que a alta densidade (>250 Kg/m2) prejudica a qualidade da carne e o rendimento de carcaça (Lambooj e

Engel, 1991).