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CAPÍTULO 1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.2. LINGUÍSTICA DE CORPUS E O ENSINO-APRENDIZAGEM DE

1.2.2. Desenvolvimento de metodologias ou abordagens de ensino

A Linguística de Corpus, aplicada ao desenvolvimento de metodologias ou abordagens de ensino, favorece a adoção de princípios da Aprendizagem Movida a Dados, que auxiliam o estudante na obtenção da autonomia e da

capacidade de cooperação. Para Johns (1991), os estudantes devem ter acesso a um corpus e, a partir dos dados, responder a suas próprias perguntas ou verificar suas hipóteses.

Apresentamos, a seguir, três propostas desenvolvidas para o ensino de inglês como língua estrangeira, apoiadas na Linguística de Corpus: Lexical

Syllabus, Lexical Approach e Data-Driven Learning.

O Lexical Syllabus, ou Currículo Lexical, foi desenvolvido por Dave Willis (1993; 1990) e está baseado no projeto Cobuild, corpus de sete milhões e trezentas mil palavras. A descrição desse corpus serviu para identificar os pontos mais relevantes da língua inglesa a partir da perspectiva do corpus. Como o léxico era a base da descrição da linguagem no projeto Cobuild, o curso também desenvolveu-se a partir dele.

A ideia central é a de que os sentidos mais comuns da linguagem são expressos pelo vocabulário mais frequente. A vantagem é que os estudantes se identificaram mais rapidamente com o conteúdo do curso.

A preocupação central era evitar a intuição na especificação do conteúdo, de acordo com o que Sinclair defendia na Linguística de Corpus.

Os autores de curso criticam os livros didáticos baseados exclusivamente na intuição pelo fato de, agindo assim, tais livros acabarem por introduzir distorções no curso. Criticam, também, a gramática tradicional e suas variedades pedagógicas.

A metodologia utilizada baseia-se em tarefas (task-based) e enxerga a linguagem como sistema semântico de troca de significados, segundo Halliday. Assim sendo, o curso encoraja a fluência e não a exatidão na produção da língua. O estudante, em tal sistema, assume a condição de protagonista, sendo ele o responsável pela aprendizagem, cabendo ao professor, em sala de aula, o papel de orientador.

O curso concebe o estudante como descobridor, característica similar à evocada pelo Data-Driven Learning (DDL) de Tim Johns (1986).

Outra proposta de ensino baseada na Linguística de Corpus é a Lexical

Approach, ou Abordagem Lexical, formulada por Michael Lewis (1997; 1993).

Assim como o Currículo Lexical, a Abordagem Lexical caracteriza-se também pelo papel central do léxico no conteúdo e na metodologia. Mas, aqui, o léxico é descrito por porções (‘chunks’) léxico-gramaticais.

Por porções o autor entende itens lexicais pré-fabricados e armazenados como tais na memória, com a finalidade de reduzir as dificuldades de processamento da linguagem (LEWIS, 1993).

Os principais tipos de exercícios utilizados na Abordagem Lexical são: identificar porções lexicais no texto, comparar itens, completar lacunas, categorizar itens de acordo com características variadas, sequenciar itens lexicais e apagar itens de uma lista.

Segundo Lewis, a Abordagem Lexical enfatiza o caráter composto do léxico por meio de porção (‘chunk’), polipalavras (‘polywords’) e colocação, diferente do Currículo Lexical de Willis, que entende o léxico como palavra isolada.

Essa proposta apresenta uma dicotomia entre léxico e gramática, na medida em que os exercícios propostos não diferem dos tradicionais, constantes nos livros didáticos. A diferença reside nos princípios que subjazem à escolha dos exemplos e dos assuntos a serem trabalhados.

O autor defende o uso de exemplos prováveis e úteis e critica os materiais que utilizam uma linguagem pouco provável, não obstante tida como correta.

No que tange à metodologia, a proposta de Lewis difere da de Willis. Enquanto o Lexical Syllabus adota um enfoque por tarefas, com atenção à fluência, cuidando para que a descrição do corpus seja a mais criteriosa possível e que o material de ensino seja fiel à descrição, o Lexical Approach centra-se na forma, sendo a descrição tratada informalmente, sem haver definições para a incorporação da descrição nos materiais.

Outra abordagem importante que aplica os conceitos e as ferramentas da Linguística de Corpus ao ensino de línguas estrangeiras é a Data-Driven

Learning/DDL (Aprendizagem Movida a Dados), elaborada por Tim Johns

(1986) para o ensino de gramática inglesa a partir da análise de concordâncias. Essa proposta, bastante sólida, visa desenvolver no estudante a habilidade da descoberta. Ao professor compete criar meios para que os estudantes desenvolvam estratégias de descoberta, daí seu papel de orientador.

O computador assume grande importância no processo de aprendizagem, atuando como informante.

Segundo a proposta, o estudante deve encontrar suas próprias respostas por meio da observação e da análise de concordâncias obtidas no computador ou preparadas pelo professor em papel impresso.

Berber Sardinha (2004) apresenta três vantagens da abordagem DDL: - os estudantes desenvolvem a habilidade de identificar regularidades ou

padrões e de definir generalizações, podendo, inclusive, explicá-las; - o professor assume o lugar de orientador ou coordenador de pesquisa; - o ensino de gramática muda de foco, não estando mais apoiado na

transmissão de regras.

Trata-se de uma abordagem indutiva, ou seja, baseada na observação dos dados. O que a difere de outras abordagens indutivas é que o professor não detém a resposta de um exercício, já que podem haver muitas respostas, ou seja, trata-se de uma abordagem que permite realizar atividades com resposta aberta. O estudante segue três princípios indutivos na consecução de suas tarefas: identificação, classificação e generalização. Tribble e Johns (1990) e Johns (1991) afirmam que a essência desse tipo de aprendizagem é a apropriação indutiva, por parte do estudante, de regras gramaticais ou regularidades mediante a análise dos padrões de uso da língua a partir de evidências extraídas de um corpus.

Cobb (1999) amplia e fundamenta teoricamente a DDL ao estabelecer uma ponte entre o uso de concordâncias para a aquisição de vocabulário e as teorias construtivistas.

Na proposta DDL, o que o estudante descobre por si mesmo, ou a partir da orientação fornecida pelo professor, pode ser mais facilmente retido na memória e transferido a novos contextos; mas, para tanto, deve se comportar como um pesquisador capaz de formular teorias e testar hipóteses levantadas.

Cobb desenvolveu um programa de computador parecido com as ferramentas utilizadas por lexicógrafos na produção de dicionários e comparou a aquisição de vocabulário em dois grupos de estudantes. No primeiro, a expansão do vocabulário ocorria a partir da aprendizagem da definição de palavras, assim como nos dicionários.

Já o segundo devia construir suas próprias definições, utilizando concordâncias. Como resultado, os dois grupos apresentavam a mesma

capacidade de definir as palavras, no entanto, o segundo grupo mostrou maior capacidade de transferência dessas palavras a novos contextos.

Desse modo, pode-se concluir, outrossim, que o conhecimento construído pelo estudante parece ser mais facilmente transferível a novos contextos do que o conhecimento meramente transmitido.

Atualmente, os materiais de ensino de línguas com corpora ainda estão bastante marcados pelo DDL. Römer (2009) destaca alguns problemas da prática do professor, como por exemplo, dar feedback e preparar materiais, e mostra algumas maneiras de preparar atividades com o apoio em corpora. No entanto, quase todas as sugestões se baseiam em concordâncias, ainda que existam outras alternativas, como listas de palavras, palavras-chave e pacotes lexicais/clusters; e não se restringem à concordância como texto de trabalho, podem, por exemplo, também enfocar textos escritos, música e vídeo. Mas, para este estudo, vamos nos centrar basicamente nas concordâncias como base para a elaboração das atividades.

1.2.3. Aspectos da linguagem e o ensino de idiomas a partir da análise de