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Nesse exemplo de programa, precisamos demarcar as habilidades que serão desenvolvidas e saber do que tratam, como podem ser avaliadas e o papel que cumprem em relação ao currículo.

a. Reconhecer a Sociologia como um conhecimento sistematizado da realidade social: o primeiro grande desafio do debate epistemológico da sociologia na escola está na transposição didática dos seus pressupostos metodológicos. O segundo, consiste em estabelecer uma relação direta com a realidade dos estudantes e com os demais componentes curriculares. Uma boa estratégia para abordar esses desafios é partir da apresentação da relação entre indivíduo e sociedade. Durkheim, Weber e Marx servem aqui como representantes de três visões diferentes dessa relação, a partir da qual torna possível ensinar a relação entre ação e estrutura e, logo, entre liberdade e coerção. São conceitos centrais para o reconhecimento da Sociologia como ciência interessada em compreender como se processam os conflitos e as transformações das sociedades.

Espera-se, assim, que nesse processo de alfabetização científica os estudantes possam i) identificar o discurso científico como uma das formas de descrever a realidade; ii) compreender

que um fato social somente se explica a partir de outro fato; iii) reconhecer a relação entre indivíduo e sociedade como motor das transformações sociais; iv) utilizar o método sociológico para analisar, avaliar e propor soluções a problemas sociais a partir da identificação do conflito existente, dos agentes envolvidos e dos seus respectivos interesses.

b. Compreender a relação dos meios de comunicação de massa com a vida cotidiana (indústria cultural, estilos de vida e consumo): o estudo dos meios de comunicação de massa é um elemento fundamental para compreensão de nossa sociedade, tanto nos seus aspectos técnicos, quanto culturais. Sabemos que a difusão da mídia eletrônica (rádio e televisão) promoveu em meados do século XX a formação de uma cultura de massa em oposição ao modelo aristocrático anterior. A Sociologia, com suas pesquisas, revela os elementos estruturais dessa organização social mediada pelos novos meios de comunicação. Dentre os elementos estruturais fundamentais está a cultura, caracterizada como complexos de símbolos que dão sentido à vida social.

A partir daí é possível compreender o papel da mídia digital (telefonia celular e Internet) nos processos de interação social na atualidade. Esse tema se revela nas mudanças das formas de socialização a partir da universalização do acesso à mídia eletrônica. A mídia eletrônica estabelecerá uma passagem de um dispositivo um-todos (um emissor, muitos receptores), para outro do tipo todos-todos (muitos emissores, muitos receptores). Com veremos, isso não será sem consequências. A formalização teórica desse tema no campo da Sociologia está organizada pela Teoria Crítica por meio do conceito de indústria cultural estabelecido no pós-Segunda Guerra. Portanto, a indústria cultural está associada aos meios de dominação dos regimes totalitários do século XX. A dominação da população não se dava apenas pela força, mas, também, pela alienação e consentimento das

massas. Portanto, o meio de propagação das ideias e os interesses de seus emissores são variáveis fundamentais no debate que relaciona meios de comunicação, dominação, formação e aceitação de estilos de vida específicos. Desse ponto decorre também a necessidade de trabalhar o conceito de ideologia. Ao articular cultura, ideologia e indústria cultural compreende-se a relação entre os meios de comunicação e os processos de socialização da atualidade.

Uma boa forma de gerar questões orientadoras sobre esse tema é partir de uma questão motivadora abrangente. Por exemplo, “como os meios de comunicação influenciam o comportamento dos jovens?”. Ao responder a essa questão, pode-se avaliar a capacidade dos estudantes de: i) reconhecer a indústria cultural como uma forma de difusão dos valores culturais, marcado por um emissor forte e milhares de receptores passivos; ii) compreender esse processo como disseminador de valores e interesses dos grupos que são o polo forte dessa relação; iii) analisar essa relação por meio do conceito de ideologia; e iv) contrapor os efeitos da submissão a interesses específicos frente às possibilidades de ação promovida pelo acesso universal à produção cultural.

c. Relacionar as tecnologias às novas formas de interação e interatividade: um bom aproveitamento nas habilidades “a” e “b” apresentadas acima permite ao estudante estabelecer relações entre o avanço da tecnologia e os processos de interação que forma identidade social. Nesse ponto, é possível estudar os processos atuais de transformação da tecnologia, da cultura e das formas de interação social. Agora, os estudantes podem aprender esse tema a partir de suas próprias experiências de vida e do que observam nos diferentes meios de comunicação. Isso, cada vez mais, se dá por meio das novas tecnologias da informação e comunicação (NTICs).

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O campo de pesquisa sobre a relação da tecnologia com as novas formas de interação concentra-se, como não poderia deixar de ser, sobre as NTICs. Nesse campo, existem duas avaliações principais sobre os efeitos desses novos processos de interação. A primeira observa que as novas formas de interação proporcionadas pela comunicação instantânea e onipresente da Internet são forças negativas para o ideal moderno, pois promovem alienação e individualismo, enfraquecendo as relações de reciprocidade típicas de uma sociedade democrática.

Por outro lado, uma segunda avaliação entende que os avanços tecnológicos são contínuos e imparáveis. Esse movimento produz não apenas o enfraquecimento de laços sociais tradicionais, mas também a construção de novas formas de socialização capazes de democratizar a sociedade. Essa

socialização é resultado da transformação