• Nenhum resultado encontrado

Segundo Vigotski, (2004) nos processos psíquicos do homem há dois níveis distintos: o primeiro é a razão entregue a si mesma; o segundo é a razão armada de instrumentos e meios auxiliares. Em analogia, a atividade prática também teria dois níveis: o primeiro, a “simples mão”, o segundo a mão armada de ferramentas e elementos auxiliares. Nessa perspectiva, tanto na esfera prática do homem quanto na psíquica, a importância fundamental estava no nível dos instrumentos. Ao se referir ao campo dos fenômenos psíquicos, o autor nomeou o primeiro nível de processos psíquicos “naturais” e o segundo foi denominado de processos psíquicos “culturais”. O processo “cultural” é o natural convertido em mediato por meio de instrumentos e meios auxiliares psíquicos específicos.

Tal dicotomia entre os níveis, nos postulados vigotskianos, foi estabelecida em função do realce decisivo, que deveria ser dado, ao valor dos instrumentos psicológicos na evolução dos processos psíquicos humanos, transformando na tese principal dessas postulações.

Vigotski (2004), orientava-se para o estudo da atividade prática com a ajuda de objetos, pois compreendeu o papel da atividade laboral, destacando o instrumento como o elemento de mediação das funções psíquicas em sua determinação histórico-social no homem.

A nova solução proposta por Vigotski, (2004) a respeito do problema da relação entre as funções psíquicas superiores e as elementares, foi a de que as funções elementares se relacionariam com a base dos processos psíquicos naturais, e as superiores com os processos mediados culturais. Encontra-se aí a explicação inovadora tanto sobre a diferença qualitativa

entre as funções psíquicas superiores e as elementares (que dependem do caráter mediado das superiores por meio de “instrumentos”) como o nexo que há entre ambas (as funções superiores surgem sobre a base das inferiores). Por fim, as peculiaridades das funções psíquicas superiores (por exemplo, seu caráter arbitrário) tinham sua explicação na existência de “instrumentos psicológicos”.

Por meio da hipótese do caráter mediado dos processos psíquicos, por meio de “instrumentos” peculiares, os postulados vigotskianos introduziam na ciência psicológica as diretrizes da metodologia dialética marxista, materializada em um método.

Pode-se afirmar que o problema da metodologia é central na obra de Vigotski, (2001). A dialética interna tornou-se arraigada à sua forma de pensar. O caráter histórico de sua obra veio da tentativa de aplicar em psicologia o método de Marx. Assim, estabeleceu que os determinantes na evolução psíquica do homem são as atividades laborais com a ajuda de instrumentos. (Vigotski, 2004)

Ao ser questionado sobre o que são instrumentos psicológicos e qual o mecanismo de sua ação mediadora, o exemplo que Vigotski recorria, era de um senhor parksoniano internado em uma clínica. Quando lhe era pedido que andasse, seus temores se intensificavam de forma a impedi-lo de caminhar. Quando se colocavam à sua frente, papéis brancos alinhados, e, lhe solicitavam que andasse, o tremor arrefecia e o senhor conseguia andar, pisando em um papel, após o outro. Sua explicação era que o paciente se encontrava diante de duas séries de estímulos: os de ordem verbais que eram incapazes de despertar o comportamento adequado; e a segunda série de estímulos se refere aos pedaços de papéis que agem de forma mediada na reação do paciente. Tal série de estímulos age como meio ordenador do comportamento e foi denominada por Vigotski, (2004) de estímulos-meios.

Vigotski (1930), (conforme citado por Vigotski, 2004) apresenta como exemplos de estímulos-meios (instrumentos psicológicos) a língua, as diferentes formas de numeração e

cálculo, os mecanismos mnemotécnicos, os simbolismos algébricos, as obras de arte, a escrita, os esquemas, os diagramas, os mapas, os desenhos, todo tipo de signos convencionais, etc.. Todos esses elementos, apesar de heterogêneos, são criações artificiais dos seres humanos e que se constituem parte da cultura (por isso a denominação de histórico-cultural dada à teoria de Vigotski). Todos esses estímulos-meios ou instrumentos psicológicos, inicialmente estão dirigidos para fora do homem, para os seus pares. Depois é que tais estímulos-meios ou instrumentos psicológicos passam a si dirigirem para nós mesmos, a se transformarem em um meio direcionador dos processos psíquicos no plano individual, para depois se desenvolverem internamente. A função psíquica age de forma mediatizada desde dentro e decai a necessidade de um estímulo-meio externo. Todo esse processo, do início ao final, o autor chamou de “círculo completo de desenvolvimento histórico-cultural da função psíquica”. (Vigotski, 2004, p. 451)

Com o decorrer de suas pesquisas, os experimentos mostraram como resultado, que, o sujeito transformava a tarefa de generalizar as figuras, com ajuda dos estímulos-meios, na de descobrir o valor dos estímulos-meios. Com isso, os estímulos-meios ou instrumentos psicológicos se convertiam em portadores de significados. Então a denominação precisou ser modificada e os instrumentos psicológicos ou estímulos-meios receberam o nome de signos.

O desenvolvimento da linguagem, assim como todas as outras operações psicológicas que se baseiam no uso de signos, passa por quatro estágios básicos: o primeiro é chamado de natural ou primitivo, se relaciona ao momento da linguagem pré-verbal e do pensamento pré- intelectual, em que as operações são originais, conforme evoluíram na fase primitiva do comportamento.

O segundo estágio foi denominado de “psicologia ingênua”, por se tratar do primeiro exercício de inteligência prática, surgido na criança por meio de suas experiências com seu próprio corpo, com objetos que a circundam e pelo emprego das experiências com o uso de

instrumentos à sua volta. A experiência é ingênua e ocorre o emprego inadequado das propriedades, estímulos e reações psicológicas.

Nesse estágio, o desenvolvimento da linguagem infantil é facilmente observável na assimilação pela criança, das estruturas e formas gramaticais que ocorre primeiro do que a assimilação das estruturas e operações lógicas correspondentes. Portanto, ela assimila a sintaxe da linguagem antes da assimilação da sintaxe do pensamento.

O terceiro estágio tem como característica, a utilização de signos externos para ajudar na resolução de problemas externos. Pode ser chamado de estágio dos signos mnemotécnicos externos no processo de memorização. Corresponde à linguagem egocêntrica, no desenvolvimento da fala.

O quarto estágio Vigotski (2001), utilizando uma metáfora, denominou-o de crescimento para dentro, pois, há uma mudança substancial nas operações que eram externas e se interiorizam. A criança opera mentalmente utilizando-se da memória lógica, ou seja, opera com relações interiores em forma de signos, também interiores. No desenvolvimento da fala, a isto corresponde a linguagem silenciosa ou interior. Existe uma interação dinâmica entre as operações externas e internas, uma se transformando facilmente na outra.

As fases do desenvolvimento da linguagem infantil ocorrem de forma que, inicialmente, a criança sempre vai pronunciar palavras isoladas, os substantivos. Em seguida, aos substantivos, são incorporados os verbos e a criança começará a comunicar-se por meio de frases com dois termos. No terceiro período, aparecem os adjetivos e, quando a criança já se utiliza de um número significativo de frases, aparece o relato como a descrição de desenhos.

Assim, a linguagem infantil começa por palavras soltas, isoladas, ou seja, por substantivos que designam objetos de existência concreta, distanciados de qualquer contexto. Aparece, então, a oração de duas palavras que introduz o predicado e há o domínio do verbo pela criança. Surge, na linguagem exterior da criança, paulatinamente a frase composta e, ao

final de alguns anos ela domina as orações compostas, suas partes principais e subordinadas, e o encadeamento das orações dá lugar ao relato, de certa forma, coerente.

A linguagem, em seu aspecto funcional desenvolvido, apresenta duas facetas: o lado fonético, a sua faceta verbal, mantém relação com o aspecto exterior da linguagem, e a faceta semântica da linguagem, seu lado significativo, que consiste em dar sentido ao que é dito e em retirar o significado do que se vê, se ouve e se lê.

Documentos relacionados