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O estudo da relação entre pensamento e palavra na consciência desenvolvida se apresenta como um desafio, dada às peculiaridades de sua construção, e, por se tratar de um processo complexo, sutil e misterioso da psique humana.

A meta da investigação de Vigotski (2001), e seu direcionamento teórico, é apresentar a relação entre pensamento e a palavra, como um processo dinâmico que vai do pensamento à palavra, da palavra ao pensamento, em constante desenvolvimento.

O desenvolvimento dessa relação passa por fases, estágios, transformações próprias, um desenvolvimento funcional que abdica do aspecto puramente etário para apresentar o movimento do processo de pensamento, da idéia à palavra.

A expressão do pensamento não acontece somente na palavra, mas ela se torna sua materialização, sua existência concreta, palpável. Ela é a própria expressão da consciência desenvolvida.

Dado ao dinamismo do pensamento, suas características são de unificar e estabelecer relações entre as coisas. Seu fluxo e movimento são percebidos na execução de algum trabalho, na resolução de tarefas, no movimento interno por meio de planos transitando para a palavra e da palavra para o pensamento.

A atividade principal, de uma análise da relação do pensamento com a palavra, é o estudo das fases, dos planos pelos quais passa o pensamento que se materializa na palavra.

A análise realizada por Vigotski (2001) levou à discriminação de dois planos na linguagem. O primeiro se refere ao aspecto semântico, interior da linguagem, e, o segundo, ao aspecto físico e sonoro exterior que, apesar de constituírem uma unidade, tem leis de desenvolvimento diferenciadas. A unidade da linguagem é complexa e heterogênea.

A existência do movimento da linguagem, nos aspectos semântico e físico, é apresentada em vários fatos relacionados ao desenvolvimento da linguagem da criança. Os dois mais importantes serão mencionados. O primeiro se refere ao aspecto externo da linguagem se desenvolver na criança a partir de uma palavra, depois, no sentido de uma frase simples, e da relação de frases resultarem em proposições complexas, e numa linguagem coordenada e formada pela variedade desenvolvida de orações.

Portanto, ao assimilar o aspecto fásico da linguagem a criança trilha o caminho que vai das partes para o todo. Por seu significado, a primeira palavra equivale a uma frase inteira, uma oração resumida, breve.

No desenvolvimento do aspecto semântico da linguagem, a criança inicia-se pelo todo, por uma oração, e, só com o desenvolvimento dentro de um tempo, passa a apreender as unidades particularizadas e semânticas, os significados de certas palavras. Estes são desmembrados em uma série de significados verbais interligados, o seu pensamento resumido e expresso em uma oração também concisa.

Ao observar os momentos inicial e final no desenvolvimento dos aspectos semânticos e fásico da linguagem, pode-se concluir que eles transcorrem em sentidos opostos. O semântico desenvolve-se pela via que vai do todo para a parte, ou seja, da oração para a palavra. Já o aspecto fásico, externo, segue o caminho que vai da parte para o todo, ou seja, da palavra para a oração.

Nos dois planos, semântico e sonoro da linguagem, não há confluência nos movimentos. Podem unir-se em uma linha, mas podem, também, transitar por linhas totalmente opostas. Podem apresentar uma unidade interior, entre ambos os aspectos da linguagem, ou podem, no processo de desenvolvimento infantil, manifestar grande discrepância entre eles.

O pensamento da criança inicia-se de forma inteira e confusa, e manifesta-se em uma palavra isolada, como se a criança escolhesse uma vestimenta de linguagem sob medida para seu pensamento. O pensamento da criança se separa se desmembra e passa a se edificar a partir de unidades particulares, trilhando o caminho das partes para o todo desmembrado em sua linguagem. A linguagem não é a imagem da estrutura do pensamento refletida no espelho. Ao transformar-se em linguagem, o pensamento refaz sua estrutura e transforma-se. Ele não se exprime de forma total, mas se realiza na palavra.

Por todas as análises realizadas por Vigotski (2001), pode-se dizer que os processos de desenvolvimento dos aspectos semântico e sonoro da linguagem, de sentidos opostos, são processos dialéticos, constituem uma autêntica unidade por força de sua oposição.

O segundo fato importante, no campo do desenvolvimento da linguagem infantil, ocorre em um período mais tardio desse desenvolvimento. Relaciona-se à gramática que se adianta à lógica. A criança emprega adequadamente as conjunções que esclarecem as relações de causa e efeito, temporais, adversativas, condicionais e outras em sua linguagem cotidiana, porém não apresenta consciência do aspecto semântico de tais conjunções. Não consegue, ao longo de toda a idade escolar, empregar as conjunções de forma arbitrária.

O resultado de tudo isso é que os movimentos dos aspectos semânticos e fásico da palavra não coincidem em termos de desenvolvimento no processo de apropriação das estruturas sintáticas complexas. A discrepância, ou descompasso entre a gramática e a lógica no desenvolvimento da linguagem da criança, não elimina sua unidade, podendo, inclusive,

viabilizar a unidade interna do significado e da palavra, traduzindo relações lógicas complexas.

Há, também, o descompasso entre os aspectos semânticos e fásicos no funcionamento do pensamento desenvolvido, que é de grande relevância no estudo da relação pensamento e palavra. Para se descobrir tal discrepância, é necessário realizar uma análise funcional, apesar, da análise genética fornecer conclusões fundamentais também de cunho funcional.

A análise funcional da linguagem destaca a discrepância entre o sujeito gramatical e psicológico e o predicado. Demonstra que, numa frase complexa, o predicado psicológico pode ser qualquer termo integrante da oração. Desde que tal termo assuma o acento lógico, cuja função semântica é, exatamente, destacar o predicado psicológico.

O exemplo posto por Vigotski (2001) elucida bem tal fato: na frase “O relógio caiu” mostra que, dependendo da situação em que a frase for pronunciada, terá um sentido. No caso de se perceber o relógio parado e se indagar sobre o que aconteceu com ele e ouvir a resposta “O relógio caiu”, como já existia uma consciência representativa do relógio, este passa a ser o sujeito psicológico – aquilo de que se fala. Nesse caso, as articulações: gramatical e psicológica coincidem, mas isso pode não ocorrer.

Em outra situação, uma pessoa ouve um barulho de um objeto que caiu e pergunta o que caiu. A resposta é “o relógio caiu”. Nesse caso, antes não havia a consciência representativa do objeto que caiu. Portanto, “caiu” é aquilo de que se fala, o sujeito psicológico. Aquilo que se diz desse sujeito, surge na consciência, é uma representação: é o relógio que no caso, é o predicado psicológico.

Segundo Vigotski (2001), a correspondência entre a estrutura gramatical e a estrutura psicológica da linguagem pode não ser tão freqüente quanto se imagina. É possível que só se teorize, e na prática, tal correspondência não ocorra. Em todo lado, as categorias gramaticais

ou formais ocultam categorias psicológicas: a fonética, a morfológica, o léxico, a semântica, o ritmo, a métrica e a música.

Apesar da discrepância entre os aspectos fásico e semântico da linguagem, há a unidade e, tal descompasso, pressupõe tal unidade. A discrepância não impede a concretização do pensamento na palavra, é condição básica para que o movimento entre o pensamento e a palavra possa desenvolver.

Vigotski (2001) utilizou-se de dois exemplos para explicar como as mudanças da estrutura formal e gramatical levam a uma mudança profunda de todo o sentido da linguagem, clarificando a dependência interna entre os seus dois planos. A tradução da fábula “A cigarra e a formiga”, do francês para o russo, em que a cigarra foi substituída pela libélula. O gênero gramatical predominou sobre o significado real para garantir a intenção do texto e, para tanto, foi necessário impingir características da cigarra à libélula.

O segundo exemplo se refere à tradução do poema “O pinheiro e a palmeira”, que, para garantir a nuance semântica do texto original, o pinheiro foi substituído pelo cedro. Um outro autor fez a tradução do mesmo poema conservando a integridade do mesmo. Com isso, o poema, em outra língua, perdeu a nuance semântica acarretando mudanças semânticas em todo o discurso. O que parecia uma simples mudança de um detalhe gramatical, em tais condições, levou à modificação de todo o aspecto semântico do discurso.

A análise dos dois planos da linguagem leva a concluir que a discrepância entre eles, mostra um movimento, uma transição da sintaxe dos significados para a sintaxe da palavra, a metamorfose da gramática do pensamento em gramática das palavras, a transformação da estrutura semântica com sua materialização em palavras.

Quando os aspectos fásico e semântico da linguagem não coincidem, não acontece o entendimento pleno do enunciado discursivo, pois, as sintaxes semânticas e da palavra não

aparecem simultaneamente, mas pressupõem uma transição e um movimento de uma para a outra. Esse processo complexo de transição dos significados para os sons se desenvolve.

A decomposição da linguagem em seus aspectos semânticos e fonológicos surge apenas no processo de desenvolvimento: a criança precisa diferenciar ambos os aspectos da linguagem; conscientizar-se da diferença e da natureza de cada um desses planos, para tornar possível a passagem pelos estágios que se pressupõe, no processo vivo da palavra conscientizada.

A criança passa, inicialmente, pela fase da não conscientização das formas e dos significados das palavras e pela não diferenciação deles.

Em seguida, a criança percebe a palavra em sua estrutura sonora como propriedade inseparável do objeto. Tal fenômeno parece próprio de toda consciência lingüística primitiva. Respostas das crianças a questões como “por que a vaca se chama vaca”, mostram que, antes da idade escolar, a criança explica os nomes dos objetos pelas suas características próprias: “a vaca se chama vaca porque têm chifres”.

A criança, nessa fase, não consegue substituir o nome de um objeto por outro, pois, ao transferir o nome, teria que transferir suas propriedades e, isso lhe seria impossível. Portanto, nesse momento, há uma estreita e indissolúvel ligação entre as propriedades do objeto e seu nome.

Os aspectos sonoro e semântico da palavra ainda são uma unidade imediata, indiferenciada e não conscientizada pela criança. No início do desenvolvimento verbal da criança, a diferenciação e conscientização começam a acontecer. De sorte que ocorre a fusão dos planos sonoro e semântico e a distância entre eles cresce com a idade. A cada estágio no desenvolvimento e na conscientização dos significados das palavras correspondem a sua relação específica entre os aspectos semântico e fásico da linguagem e sua via específica de transição do significado para o som.

Com referência à função comunicativa dos significados, a comunicação da criança, por meio da linguagem, está ligada de forma direta à diferenciação dos significados das palavras e à tomada de consciência de tais especificidades.

Na construção do significado da palavra, há, em sua estrutura semântica a sua referencialidade concreta e o seu significado e é importante verificar que eles não coincidem.

Funcionalmente, pode-se diferenciar as funções indicativa e nominativa da palavra, como também a sua função significativa. O estudo comparativo das relações estruturais e funcionais do início, meio e final do desenvolvimento, mostrou a existência da seguinte lei genética: no início do desenvolvimento, na estrutura da palavra, existe a referencialidade (o conceito, informação ou imagem mental que o signo transmite ao seu usuário) concreta, exclusiva e, dentre as funções, existem a indicativa e nominativa. O significado independente da referencialidade concreta e a significação independente da indicação e nomeação do objeto aparecem em momento posterior e se desenvolvem pelas vias genéticas e funcionais.

Ao se comparar as peculiaridades estruturais e funcionais da palavra da criança e do adulto tem-se:

Quadro 2 - Referencialidade concreta

Referencialidade concreta

Criança Adulto Inicio do desenvolvimento existe a

referencialidade concreta exclusiva – funções indicativa e nominativa.

Manifestação nítida e intensa.

Manifestação menos visível e mais fraca

A palavra é parte do objeto, uma de suas propriedades – a ligação é indissolúvel.

A palavra pode separar-se do objeto facilmente; pode substituir o objeto no pensamento; pode ter vida autônoma.

Diferenciação insuficiente da referencialidade concreta e do significado da palavra A palavra está simultaneamente mais

próxima e mais distante da realidade.

A palavra se aproxima totalmente da realidade.

(elaborado pela autora)

No início do desenvolvimento, a criança não consegue diferenciar o significado verbal e o objeto, o significado e a forma sonora da palavra. A diferenciação começa a ocorrer, na medida em que se desenvolve a generalização.

Quando o processo de desenvolvimento encontra-se em sua etapa final ou dos conceitos verdadeiros, surgem as relações complexas entre os planos semântico e fásico da palavra.

Tal diferenciação de ambos os planos cresce ao longo dos anos e é acompanhada do desenvolvimento do caminho que o pensamento percorre no curso da modificação da sintaxe dos significados em sintaxe das palavras.

Nessa transformação da relação lógica, o pensamento imprime a marca do acento lógico em uma das palavras de uma frase, colocando em destaque o predicado psicológico sem o qual a frase não é passível de ser compreendida.

A ação de falar exige a transição do plano interior, semântico, para o exterior, fásico, sonoro, enquanto o entendimento da fala pressupõe o movimento inverso do plano sonoro, externo da linguagem para o semântico, interno.

Em se tratando do plano semântico, é necessário compreender mais profundamente a estrutura interna da linguagem, pois, se trata do plano da linguagem interior. Para compreender a natureza psicológica da linguagem interior, faz-se necessário que se realize um estudo específico sobre os dados fundamentais sem os quais não se pode conceber a relação entre pensamento e palavra.

A questão primordial, entendida por Vigotski (2001), por ser o pioneiro em tal estudo, foi a clarificação terminológica de linguagem interior. Ela já foi confundida com memória verbal, que é um dos momentos determinantes dela, mas não encerra todas as suas especificidades.

Abdicando-se de um relato histórico sobre a linguagem interior, pode-se citar a tese que alicerça sua concepção. A linguagem interior é uma formação particular, específica de linguagem, com particularidades próprias, mas com uma relação complexa com as outras modalidades de linguagem, sob o prisma de sua natureza psicológica.

A linguagem interior tem uma função com especificidade própria e, para estudá-la, é necessário diferenciá-la tanto do pensamento quanto da palavra e distinguir suas particularidades. Ela é uma linguagem individualizada, para si, enquanto a linguagem exterior é coletiva cuja meta é o outro.

Portanto, é claro que a linguagem interior é oposta à linguagem exterior e por suas características torna-se uma área de difícil investigação na psicologia, segundo Vigotski (2001).

Em termos experimentais, o estudo da linguagem interior permaneceu quase inacessível até se conseguir aplicar o método genético. O desenvolvimento foi o pilar mais importante para a compreensão de tal linguagem com toda sua complexidade e seu status de uma das funções interiores mais difíceis de ser explicada da consciência humana.

As investigações vigotskianas elegeram a linguagem egocêntrica como a porta aberta, o método fundamental para o entendimento da linguagem ou discurso interior. Isto, porque ela é vocalizada, sonora, exterior, mas, ao mesmo tempo, interior por sua estrutura e suas funções.

Portanto, com tais características, a linguagem egocêntrica, em sua manifestação exterior, é um experimento natural no que tange à análise objetiva e funcional de seu aspecto externo. Permite um estudo dinâmico no processo de desenvolvimento da linguagem egocêntrica, observando o declínio de certas peculiaridades e a ascensão de outras. Com isto, pode ocorrer o julgamento das tendências do desenvolvimento da linguagem interior, separando o essencial e o secundário que se perde ao longo do processo. Por fim, pode-se concluir qual a natureza da linguagem interior, ou seja, o movimento da linguagem egocêntrica para a interior.

Vigotski (2001) propõe para a linguagem egocêntrica da criança, a seguinte teoria: ela é uma das formas em que se manifesta a transição dos modos de atividade social, coletiva, para as funções individuais, isto é, das funções interpsicológicas para as intrapsicológicas.

A transição é a lei geral que ocorre no desenvolvimento das funções psíquicas superiores. Tais funções iniciam-se de forma participativa, em cooperação, e só então são transferidas, pela criança, para o campo das suas formas psicológicas de atividades. A linguagem para si é fruto da diferenciação da função social da linguagem para os outros, externa.

O caminho do desenvolvimento da criança é a individualização gradual que surge embasada, alicerçada na sociabilidade interior da criança.

Há semelhança entre a linguagem egocêntrica e a linguagem interior: é independente, tem uma função autônoma que está na base da orientação intelectual, da consciência da superação de obstáculos, da reflexão e do pensamento. Desenvolve-se por uma linha de ascendência e de evolução, em sua destinação genética, que trilha pelas vias de desenvolvimento construtivo, criativo e cheio de significado positivo.

A vocalização, uma característica da linguagem egocêntrica, declina para dar lugar à abstração que se desenvolve a partir do aspecto sonoro da linguagem, e é um dos principais traços constitutivos da linguagem interior. A abstração é fruto da progressiva diferenciação da linguagem egocêntrica com a linguagem comunicativa, da crescente capacidade da criança para pensar, imaginar as palavras, de operar com a imagem delas, ao invés de pronunciá-las.

A principal distinção entre a linguagem interior e a exterior é a ausência de vocalização da primeira, ela é silenciosa.

Pode-se concluir que a linguagem interior é uma função discursiva específica e original por sua estrutura e sua forma de funcionar. Organiza-se em um plano diferenciado do

plano da linguagem exterior, mas mantém com ela uma inseparável unidade dinâmica de transições de um plano a outro.

A disposição das palavras na frase, das frases no discurso, a relação lógica das frases entre si e sua construção gramatical constituem a peculiaridade fundamental da linguagem interior, ou seja, sua sintaxe é absolutamente específica.

Há, na linguagem interior, a tendência original para a abreviação da frase e da oração, no sentido de se manter o predicado e os outros termos da oração a ele ligados, a custa da omissão do sujeito e das palavras a ele vinculadas. É a tendência para uma sintaxe predicativa característica da linguagem interior, ou seja, sua forma sintática basilar é a predicatividade.

A predicatividade pura aparece na linguagem interior em dois casos específicos: numa situação de resposta e numa situação em que o sujeito a ser enunciado é de conhecimento antecipado dos interlocutores. Em ambos os casos, o sujeito da enunciação está presente nos pensamentos do interlocutor. Se existe coincidência nas suas idéias, há a compreensão, o entendimento se concretiza só por meio de dois predicados.

Uma questão central, para toda linguagem interior, é o problema da abreviação. A simplicidade da sintaxe, a condensação do enunciado do pensamento, o número reduzido de palavras estão na base da tendência à predicatividade. Tais características da linguagem interior podem levar à compreensão total ou ao seu oposto, o desentendimento. Se o sujeito é comum aos pensamentos dos interlocutores, a compreensão acontece com sucesso.

Tolstói (conforme citado por Vigotski, 2001) comenta sobre o grande contato psicológico, entre as pessoas de convívio intenso, levar a uma comunicação baseada na linguagem de meias palavras, abreviada, com total entendimento, na maioria dos casos. Em tal contexto, a linguagem abreviada com a compreensão, ao invés de exceção, é uma regra entre esses tipos peculiares de interlocutores.

Na linguagem exterior, o fenômeno da abreviação ocorre quando há um sujeito comum no pensamento dos interlocutores. Neste caso, há a compreensão total com o uso do discurso abreviado, com a grande simplificação da sintaxe. Porém, em caso contrário, o entendimento não acontece nem que se use o discurso desenvolvido.

Portanto, a comunicação só é passível de ser compreendida, se os interlocutores se habituarem a apreender o pensamento alheio, a entrarem em contato psicológico com o outro. Quanto maior o contato, maior a possibilidade de comunicação por meias palavras, até mesmo de idéias complexas.

Com base no entendimento sobre o fenômeno da abreviação na linguagem exterior, que ocorre somente em alguns casos, Vigotski (2001) concluiu que na linguagem interior tal fenômeno é inerente a ela. Sempre que ela funciona, há a abreviação.

Para maior clareza sobre a importância do fenômeno da abreviação para a linguagem interior, o autor fez uma comparação entre a linguagem exterior, a escrita e a interior.

Na linguagem escrita, como há a ausência do interlocutor, é necessário que se empregue muitas palavras para comunicar cada pensamento isolado. O pensamento emitido se expressa nos significados formais das palavras, diferenciando da linguagem falada que conta com a presença do interlocutor e com certas peculiaridades próprias da linguagem exterior.

Como o discurso escrito é realizado sem a presença do interlocutor, ele utiliza-se da decomposição sintática em seu grau máximo e, raramente, pode contar com a compreensão por meio das meias palavras ou por causa de juízos predicativos.

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