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O desenvolvimento de uma teoria de securitização em torno da questão imigratória: a criminalização do solicitante de refúgio e dos demais migrantes

2 AS QUESTÕES IMIGRATÓRIAS COMO O ÚLTIMO BASTIÃO DA SOBERANIA ESTATAL: SEGURANÇA INTERNACIONAL E A GESTÃO DAS

2.1 Soberania estatal e imigração: qual a relação?

2.1.2 O desenvolvimento de uma teoria de securitização em torno da questão imigratória: a criminalização do solicitante de refúgio e dos demais migrantes

Como tratado no tópico anterior, o fim da guerra fria provocou uma série de transformações no cenário global em termos de segurança, com ameaças de características diferentes daquelas vislumbradas pelas correntes tradicionais sobre segurança.

Os perigos deixaram de ser apenas a iminência de uma guerra ou de conflitos armados com outros Estados, as ameaças à segurança coletiva hoje podem vir de qualquer lugar e mesmo de qualquer pessoa, não há mais um comando central, um Estado a ser responsabilizado.

O fantasma do terrorismo transformou o imigrante em inimigo e serviu para justificar uma crescente tendência de securitização de fronteiras externas por parte, especialmente, de Estados desenvolvidos, haja vista a maior capacidade econômica, técnica e tecnológica destes para tanto.

183

BUZAN, Barry; WAEVER, Ole; WILDE, Jaap de. Security: A new framework for analysis. London: Lynne Rienner Publishers, 1997, p. 195 e 209.

Mas o que significa securitização? Trata-se de uma técnica por intermédio da qual certas questões são apresentadas como sendo ameaças existenciais, que requerem medidas emergenciais, servindo para justificar ações fora dos limites do procedimento político normal, não sendo necessário que tal questão se constitua de fato como uma ameaça, o que importa é que a mesma seja apresentada como tal e que a

opinião pública a aceite como tal184.

A securitização de um tema de forma bem sucedida requer a reunião de três componentes: ameaças existenciais, ações emergenciais e efeitos nas relações entre

entes distintos sobre as quais passam a ser possíveis ações extra-legais185.

Ressalte-se a lição de Buzan, Waever e Wilde acerca da principal característica da técnica de securitização, ―The distinguishing feature of securitization is a specific rhetorical structure (survival, priority of action ‗because if the problem is not

handled now it will be too late, and we will not exist to remedy our failure‘)‖186.

Infere-se que um dos principais elementos para a securitização de um determinado tema é o uso de uma retórica especial no que concerne ao assunto, de forma a transformar aquela questão em algo essencial para a sobrevivência de certo objeto de referência.

A teoria utilitarista de Mill alinha-se com este tipo de pensamento, em que a segurança aparece como essencial para a manutenção da própria vida dos indivíduos e de seus respectivos bens.

Considerando a definição apresentada para o termo securitização, assim como os elementos necessários para a sua caracterização em torno de uma matéria, pode se afirmar que tal técnica favorece o desenvolvimento de políticas discricionárias, dando aos que estão no poder a possibilidade de explorar essas ameaças com finalidades domésticas, muitas vezes eleitoreiras.

Atualmente os Estados são obrigados a enfrentar perigos difusos para os quais as correntes tradicionais sobre segurança não conseguem apresentar respostas

184

BUZAN, Barry; WAEVER, Ole; WILDE, Jaap de. Security: A new framework for analysis. London: Lynne Rienner Publishers, 1997, p. 23-25.

185

BUZAN, Barry; WAEVER, Ole; WILDE, Jaap de. Security: A new framework for analysis. London: Lynne Rienner Publishers, 1997, p. 26.

186

BUZAN, Barry; WAEVER, Ole; WILDE, Jaap de. Security: A new framework for analysis. London: Lynne Rienner Publishers, 1997, p. 26.

satisfatórias, demanda-se na doutrina de Relações Internacionais um alargamento da

agenda de segurança em comparação com o defendido pelos tradicionalistas187.

Diante desta conjuntura observa-se uma tendência à securitização das mais diversas questões dentro dessa nova agenda de segurança. Dentre as ameaças internacionais constantemente reiteradas nos discursos políticos de vários países,

inclusive no Brasil188, estão os imigrantes, estando presente nesses discursos de

restrição, até mesmo, a defesa quanto à necessidade de alteração do Estatuto dos Refugiados, com o fito de promover modificações que venham a restringir ainda mais

as hipóteses de reconhecimento da condição de refugiado189.

Esse discurso restritivo em relação aos imigrantes não recai sobre o típico turista ou sobre aquele imigrante considerado pelo Estado de destino como mão-de-obra qualificada, principalmente se houver carência de profissionais qualificados na área de expertise profissional do mesmo.

Sobre certas categorias de imigrantes, no entanto, como, por exemplo, solicitantes de refúgio, migrantes forçados em razão de situações de perigo que não estão amparadas pelas hipóteses de inclusão da Convenção de 1951 e migrantes por questões econômicas, verifica-se uma maior resistência de muitos Estados no que tange à recepção e ao acolhimento dessas pessoas, podendo essa resistência ser ainda mais agravada dependendo do país de origem e/ou etnia a que pertence o imigrante.

Com o advento do que se chamou de Primavera árabe, a Itália e a França, por exemplo, restringiram a entrada de imigrantes de vários países africanos, ainda que

possam ser considerados, nos termos da Convenção de Genebra, como refugiados190.

Na Europa, especialmente, a guerra na Síria teve uma importante contribuição para este cenário de securitização de fronteiras, inclusive pelo mar. O grande número de refugiados e solicitantes de refúgio sírios que chegaram, ou tentaram

187

VILLA, Rafael Duarte. A segurança global multidimensional. Lua Nova, São Paulo: CEDEC, nº 46, 1999, p. 99-118, pp. 118.

188

Em pronunciamento feito em sua conta do Twitter o Presidente Jair Messias Bolsonaro declarou que: ―O Brasil é soberano para decidir se aceita ou não migrantes. Quem porventura vier para cá deverá estar sujeito às nossas leis, regras e costumes, bem como deverá cantar nosso hino e respeitar nossa cultura. Não é qualquer um que entra em nossa casa, nem será qualquer um que entrará no Brasil via pacto adotado por terceiros. NÃO AO PACTO MIGRATÓRIO‖. BOLSONARO, Jair Messias. Pacto

Migratório: Brasília, 09 jan. 2019. Twitter: @jairbolsonaro. Disponível em: https://twitter.com/jairbolsonaro/status/1082924268361519104 Acesso em 16 fev. 2019.

189

SILVA, João Carlos Jarochinski. Uma análise sobre os fluxos migratórios mistos. In: RAMOS, André de Carvalho; RODRIGUES, Guilherme; ALMEIDA, Guilherme Assis de (Org.). 60 anos de ACNUR: perspectivas de futuro. São Paulo: Editora CL-A Cultural, p. 201-220, 2011, p. 210.

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SILVA, João Carlos Jarochinski. Uma análise sobre os fluxos migratórios mistos. In: RAMOS, André de Carvalho; RODRIGUES, Guilherme; ALMEIDA, Guilherme Assis de (Org.). 60 anos de ACNUR: perspectivas de futuro. São Paulo: Editora CL-A Cultural, p. 201-220, 2011, p. 210.

chegar ao território europeu, somados à ascensão da extrema direita e ao medo do

terrorismo191 favoreceram e ainda favorecem a disseminação da visão de que o

refugiado representa uma ameaça para a segurança dos Estados.

Refugiados são exemplos de como os Estados podem sucumbir a violência, a tortura e a opressão, logo, são representações vivas das piores mazelas da vida em sociedade e da potencial falência do estado de ordem estatal e por isso as reações a eles tipicamente envolvem uma mistura de simpatia por sua situação e preocupação de que

eles possam ser os portadores da doença que destruiu suas próprias sociedades192.

Percebe-se que a questão imigratória internacionalmente tem sido debatida de forma bastante conservadora, em que se fomenta o fortalecimento da identidade nacional como forma de oposição e de repulsa aos imigrantes, sejam eles voluntários ou forçados193.

O uso de uma retórica sensacionalista e populista, por vezes xenofóbica, por figuras políticas de diferentes partidos, por governantes e pela própria mídia, fomenta a percepção de que a imigração está fora de controle e que é de interesse nacional a contenção dos fluxos imigratórios, assim como de que solicitantes de refúgio devem ser

vistos como migrantes ―ilegais‖ 194

.

Com os avanços tecnológicos dos meios de comunicação, ―a comunicação se tornou possível à escala do planeta, deixando saber instantaneamente o que se passa

em qualquer lugar do mundo195. Essa aproximação dos fatos de repercussão

internacional, mas que ocorreram em outros países, proporcionada pela mídia e, até mesmo, por redes sociais, dão a falsa sensação de que as dificuldades enfrentadas em certos locais e/ou por certos Estados são problemas mundiais.

Esse fenômeno se torna ainda mais forte quando tais fatos acabam se repetindo em locais diferentes, especialmente, quando provocam a adoção de medidas

191

Temas que serão abordados nesta subseção. 192

GIBNEY, Matthew J. Security and the ethics of asylum after 11 September. Forced Migration

Review, nº 13, june 2002, pp. 40-42, p. 41. Disponível em: https://www.fmreview.org/sites/fmr/files/FMRdownloads/en/september-11th-has-anything-changed.pdf Acesso em 05 Dez. 2018.

193

SILVA, João Carlos Jarochinski. Uma análise sobre os fluxos migratórios mistos. In: RAMOS, André de Carvalho; RODRIGUES, Guilherme; ALMEIDA, Guilherme Assis de (Org.). 60 anos de ACNUR: perspectivas de futuro. São Paulo: Editora CL-A Cultural, p. 201-220, 2011, p. 210.

194

MILLS, Ben. Continental Drift: Realigning the Humanitarian Purpose and Practical Reality of International Refugee Law in Western States. Refugee Review: Re-conceptualizing Refugees and

Forced Migration in the 21st Century, v. 2, n. 1, p. 42-58 , Jun. 2015, p. 51-52. Disponível em:

https://refugeereview2.wordpress.com/articles/continental-drift-b-mills/ Acesso em 25 set. 2018. 195

SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 6ª ed. São Paulo: Editora Record, 2001, p. 20-21.

políticas por parte de Estados desenvolvidos, o que supostamente demonstra que há um

interesse, ou mesmo, uma preocupação global em relação àquela matéria196.

Nesse contexto as diferenças locais são esquecidas, as mídias nacionais se homogenizam, tornando-se globalizadas, o que se dá não apenas pela repetição de manchetes e de imagens, mas pelo protagonismo das mesmas personagens de forma recorrente197.

Essa globalização das mídias nacionais e a consequente aproximação dos problemas externos à realidade das pessoas pode ser observada em relação às questões imigratórias. Fala-se hoje em uma crise imigratória mundial, no entanto, apesar das migrações serem uma questão global, não significa que as dificuldades enfrentadas pelos Estados membros da União Europeia são as mesmas enfrentadas pelo Brasil, ou ainda que os desafios migratórios brasileiros são os mesmos vivenciados pela Argentina, Colômbia, México ou qualquer outro país da própria América Latina.

Para o desenvolvimento de uma teoria da securitização em torno da questão imigratória, que justifique a adoção de medidas excepcionais e extraordinárias no enfrentamento da questão, é necessária a aceitação de tal questão como uma ameaça. Não sendo sequer importante descobrir se de fato essa ameaça é "real", uma vez que uma certa situação tenha uma ampla importância como questão de segurança, afirmar que a ameaça não é "real" tem pouco efeito198.

O discurso e a retórica acerca da ameaça que os imigrantes podem representar para a segurança dos Estados, por meio do uso reiterado do termo ilegal, são utilizados como modo de criminalização desses migrantes, sendo a disseminação da informação utilizada de forma insidiosa, por um lado buscando instruir, mas por outro

tendo como principal objetivo convencer199.

Observa-se esse tipo de discurso insidioso em alguns trabalhos acadêmicos, inclusive:

196

―The seemingly simultaneous arrival of ilegal migrants at borders around the world is an effect of the technologies of globalization.We can see three of these stories side by side in the same newspaper, or one after another on the same television program. This fuels the moral panic: ―we‖ the rich are under siege – it is happening everywhere, all the time‖. DAUVERGNE, Catherine. Making people illegal: what globalization means for migration and law. New York: Cambridge University Press, 2008, p. 49. 197

SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 6ª ed. São Paulo: Editora Record, 2001, p. 20.

198

DAUVERGNE, Catherine. Making people illegal: what globalization means for migration and law. New York: Cambridge University Press, 2008, p. 100.

199

SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 6ª ed. São Paulo: Editora Record, 2001, p. 20.

O que existe em comum na maioria dos grupos de imigrantes são as desvantagens socioeconómicas e posições precárias que os coloca em risco de cair no mundo da criminalidade. As diferenças culturais entre grupos com condições sociais semelhantes levam a diferentes construções das suas comunidades e preservação da sua identidade étnica e cultural. Essa diferença cultural é importante na explicação dos vários graus da criação e acesso a oportunidades sociais e económicas. Os imigrantes são um grupo suscetível a riscos e podem colocar riscos em termos do desvio e crime, não sendo muito diferentes da maioria dos grupos nestes termos (Albrecht, 2002). Estas atitudes muitas vezes dão origem a atos violentos, não apenas confinado a guerras como a guerra na Bósnia ou Kosovo em 1990 mas pelo resto da Europa. Milhares de ataques violentos e dezenas de mortes, algumas cometidas por alas de extrema-direita e outras cometidas por denominadas pessoas comuns, geralmente jovens, são o rosto da violência étnica200.

Muitos Estados taxaram solicitantes de refúgio de forma negativa, sendo uma das formas mais recorrentes o uso disseminado do termo migrante ilegal ou migração ilegal.

Ressalte-se que não existe, no entanto, pessoa ilegal, assim como por ser o direito de locomoção um direito humano básico, garantido na Declaração Universal de Direitos Humanos, também não pode a migração por si só ser classificada como ilegal, pelo menos no que concerne à perspectiva de que a saída do indivíduo de seu país de origem com destino ao território de outro Estado por si só não constitui qualquer tipo de ilegalidade.

O predomínio do termo ―ilegal‖ também ressalta uma mudança na percepção quanto ao valor moral dos imigrantes. Enquanto anteriormente infrações imigratórias não eram consideradas como atos criminosos, aquelas pessoas que entram e permanecem sem autorização em um Estado do qual não são cidadãs são cada vez mais

percebidas como ―criminosas‖ 201

.

Essa identificação, primeiro como transgressor e, em seguida, como migrante, facilita a aceitação pública da ampla gama de medidas de repressão que têm

sido adotadas202. Observa-se, assim, o crescimento da importância do direito criminal e

da força policial como parte do processo imigratório203.

200

SILVA, João Paulo Ventinhas Barroso e. As fronteiras da União Europeia e as políticas quanto à imigração ilegal. CEDIS Working Papers – Direito, Segurança e Democracia, nº 20, nov. – 2015, pp. 1-24, p. 08. Disponível em: http://cedis.fd.unl.pt/wp-content/uploads/2017/10/CEDIS-working- paper_DSD_AS-FRONTEIRAS-DA-UNIAO-EUROPEIA-E-AS-POLITICAS-QUANTO-À-

IMIGRAÇÃO-ILEGAL.pdf Acesso em 15 dez. 2018. 201

DAUVERGNE, Catherine. Making people illegal: what globalization means for migration and law. New York: Cambridge University Press, 2008, p. 16-17.

202

DAUVERGNE, Catherine. Making people illegal: what globalization means for migration and law. New York: Cambridge University Press, 2008, p. 16-17.

203

―Broader parts of migration management have been put under criminal law, in the UK and on the Continent as well as in North America and Australia. The (re-)location of detention facilities to the perimeter, such as the remote counties of Sicily, Louisiana, and the Negev, or to camps established

Essa tendência de criminalização dos imigrantes irregulares e solicitantes de refúgio e de uso de força policial e/ou militar nas fronteiras para impedir a entrada de certas categorias de migrantes se coaduna com a concepção de Weber acerca do Estado e o exercício de sua soberania, sendo aquele entendido ―como uma comunidade humana que, dentro dos limites de determinado território (...) reivindica o monopólio do uso

legítimo da violência física‖204

.

Este tipo de interpretação a respeito da ideia de soberania provoca outras espécies de monopólio estatal, o monopólio de legitimidade da mobilidade e também o

monopólio sobre a própria identidade do indivíduo, sua nacionalidade205.

Essa aceitação da concepção weberiana de soberania faz com que o direito do Estado de controlar a entrada e a saída de seu território seja entendido como um princípio de direito internacional, com poucas exceções como o regime internacional de

refugiados206, o que explica o motivo do direito internacional dos refugiados estar sob

―ataque‖ dos Estados no sentido de mitigar as garantias promovidas por este ramo do direito.

Com base nessa lógica, o uso da retórica da criminalização consiste em um esforço para dissuadir as tentativas de migração e, ainda, incentivar aqueles que já se encontram no território de outro Estado a retornarem. Somado a esse discurso, políticas de autoproteção estão sendo desenvolvidas em um clima de medo em detrimento dos

direitos humanos e dos direitos dos solicitantes de refúgio207.

abroad in New Guinea, Nauru, and the like further criminalizes migrants. As Joanna Parkin has put it, ‗the constant reinforcement of border patrols, tightening of conditions of entry, expanding capacities for detention and deportation and the proliferation of criminal sanctions for migration offences, accompanied by an anxiety on the part of the press, public and political establishment regarding migrant criminality‘ have produced something approaching a ‗criminalization of migration‘ (2013: 1)‖ ABRAHAM, David. Law and Migration: many constants, few changes. In: BRETTEL, Caroline B; HOLLIFIELD, James F.

Migration Theory: Talking across Disciplines. 3. ed. New York: Routledge, p. 289-317, 2015, p. 300-

301. 204

WEBER, Max. Ciência e Política: duas vocações. São Paulo: Cultrix, 2006, p. 56. 205

CASAS-CORTES, Maribel; COBARRUBIAS, Sebastian; PICKLES, John. Changing borders, rethinking sovereignty: towards a right to migrate. REMHU - Revista Interdisciplinar Mobilidade

Humana, Brasília, Ano XXIII, n. 44, p. 47-60, jan./jun. 2015, p. 38. Disponível em:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1980-85852015000100047 Acesso em 12 set. 2018.

206

CASAS-CORTES, Maribel; COBARRUBIAS, Sebastian; PICKLES, John. Changing borders, rethinking sovereignty: towards a right to migrate. REMHU - Revista Interdisciplinar Mobilidade

Humana, Brasília, Ano XXIII, n. 44, p. 47-60, jan./jun. 2015, p. 38. Disponível em:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1980-85852015000100047 Acesso em 12 set. 2018.

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TRAN, Olivia. From ―Boat People‖ to ―Irregular Maritime Migrants‖: A Re-conceptualization of Seaborne Refugees after 40 years. Refugee Review: Re-conceptualizing Refugees and Forced

A ascensão da direita e extrema direita no mundo muito se deve a propagação desse discurso eleitoreiro que tem como fito incriminar o imigrante, principalmente, se este pertencer a certos países ou etnias, bem como se professar certas

religiões208 – como é o caso da percepção que se tem hoje acerca dos mulçumanos,

muitas vezes injustamente taxados de terroristas.

Por muito tempo os partidos de extrema direita foram associados às maiores atrocidades da história humana, especialmente no continente europeu, entretanto, a partir da década de 80 observou-se o crescimento dessa corrente política em vários Estados209.

Antes defensores de pautas impopulares, atualmente os políticos da extrema direita encontraram o meio de conquistar eleitores, apelando para as ansiedades quanto

à uma transformação cultural, sem assumirem abertamente uma posição de racismo210.

Os novos partidos de extrema-direita cada vez mais desafiam o padrão social democrata de centro-esquerda, se aproveitando dos temores de muitos dos eleitores de que suas sociedades estão se transformando muito rapidamente e estão

perdendo suas identidades nacionais por causa da imigração211.

Observa-se no contexto atual a presença das condições de facilitação para a securitização da questão imigratória, quais sejam, a demanda interna por um ato de fala em torno de questões de segurança; as relações sociais e, consequentemente, de confiança existentes entre o ator securitizador, disseminador de um determinado discurso de segurança, e a sua audiência, capaz de propiciar a assimilação do discurso

propagado; e as características próprias da ameaça que facilitem a sua securitização212.

A realidade atual mostra que tais condições não estão concentradas apenas em uma parte do globo, nos últimos anos o fenômeno da securitização, principalmente das questões imigratórias, esteve presente como fator decisivo nas eleições de vários Estados – França, Itália, Estados Unidos, Brasil –, sendo o imigrante, especialmente o

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SILVA, João Carlos Jarochinski. Uma análise sobre os fluxos migratórios mistos. In: RAMOS, André de Carvalho; RODRIGUES, Guilherme; ALMEIDA, Guilherme Assis de (Org.). 60 anos de ACNUR: perspectivas de futuro. São Paulo: Editora CL-A Cultural, p. 201-220, 2011, p. 210.

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VEUGELERS, John W. P. A Challenge for Political Sociology: The Rise of Far-Right Parties in Contemporary Western Europe. Current Sociology, v. 47, n. 4, October – 1999, pp. 78-100, p. 78. 210

RZAYEVP, Ayaz. Morbid symptom: immigration and the rise of far-right populism in Western Europe. Baku: Center for Strategic Studies under the President of the Republic of Azerbaijan, 2017, 06- 07.

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RZAYEVP, Ayaz. Morbid symptom: immigration and the rise of far-right populism in Western Europe. Baku: Center for Strategic Studies under the President of the Republic of Azerbaijan, 2017, 06- 07.

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BUZAN, Barry; WAEVER, Ole; WILDE, Jaap de. Security: a new framework for analysis. London: