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2.1 PRESSUPOSTOS DOS ESTUDOS DO TURISMO

2.1.4 Desenvolvimento sustentável versus crescimento

O termo “desenvolvimento sustentável” vem sendo amplamente discutido desde a década de 80 com sua apresentação no relatório de Brundtland, objeto do documento “Nosso Futuro Comum”, lançado pela Organização das Nações Unidas (ONU). “A ideia de uma crise ambiental passou a ser cada vez mais difundida, até o ponto em que ficou claro que a

principal causa da crise estava relacionada ao modelo de desenvolvimento vigente.” (CONTI e ANTUNES, 2012, p.213).

No entanto, percebe-se ainda um distanciamento entre o debate e as ações práticas relacionadas aos princípios da teoria da sustentabilidade no que diz respeito aos impactos ambientais, equidade social, distribuição de renda, crescimento econômico, participação da sociedade no processo decisório e a própria definição ainda é alvo de muitas indagações.

Desenvolvimento sustentável também pode ser um conceito vago. Sustentável em que sentido? Sustentável para quem? No meu entendimento, o desenvolvimento que queremos é aquele sustentado nas sólidas bases da justiça social, mas seria possível construir uma sociedade mais justa por meio do turismo? Naturalmente não. Todavia, pode-se fazer do desenvolvimento do turismo um instrumento a favor do alcance deste objetivo, mas para isso seria necessário conduzir o processo de desenvolvimento do turismo segundo a premissa da busca por justiça social. Mas essa não tem sido a tônica da ação dos sujeitos hegemônicos da política e da economia. Por isso, não é, também, evidentemente, a tônica do desenvolvimento do turismo (CRUZ, 2006, p. 340).

O desenvolvimento local sustentável pode ser entendido como uma alternativa para viabilizar o crescimento econômico, ao mesmo tempo, considerando o desenvolvimento, objetivando melhoria na qualidade de vida das pessoas por intermédio da inclusão, se detendo também aos aspectos sociais e políticos (CÂNDIDO, VASCONCELOS E SILVA 2010).

Conti e Antunes (2012, p.214) corroboram que na lógica do desenvolvimento local “se destaca o pressuposto da organização da sociedade civil em nível local para a viabilização de empreendimentos comunitários e a gestão sustentável dos recursos comuns.”

Nessa dimensão, Hanai (2012) pondera que o turismo, por representar a base econômica de muitas localidades, teria também condições de promover projeções para o desenvolvimento, sendo a população autóctone favorecida com o processo.

O desenvolvimento sustentável da atividade turística precisa ser tido de maneira mais responsável e em consonância com os limites dos recursos naturais. Infelizmente, percebe-se que grande parte dos discursos políticos são voltados aos reflexos da atividade turística, sendo tratados os números quantitativos como maiores motivadores para o incremento da atividade.

“O turismo pode (e deve) contribuir com o desenvolvimento econômico, entretanto é preciso superar a ideia que concebe o mero crescimento econômico como sinônimo de progresso.” (SONAGLIO, 2017, p.81). Destinam atenção prioritária para o crescimento econômico, exaltando números e estímulo desenfreado ao turismo de massa, desconsiderando, muitas vezes, a capacidade de carga das destinações.

Sabe-se que mesmo o turismo sendo “uma atividade que inter-relaciona aspectos econômicos, sociais, ambientais e culturais, teve seu desenvolvimento quase que exclusivamente pautado pelo viés econômico, que levou ao processo de massificação do turismo, o chamado turismo de massa.” (QUARESMA e CAMPOS, 2006, p.143).

Destarte, vêm à tona as conceituações em torno de crescimento e desenvolvimento, havendo uma significativa diferenciação entre os significados, quando existe “crescimento econômico não significa que esteja havendo desenvolvimento. O processo de desenvolvimento é um sistema que se desdobra em estruturas físicas, econômicas, sociais e demográficas que se inter-relacionam no contexto global.” (ALVES, 2010, p. 57).

Portanto, crescimento está prioritariamente ligado à acumulação econômica, enquanto que desenvolvimento está vinculado à melhoria das condições de vida e bem-estar da população, com condições mais igualitárias e propícias a diminuição das desigualdades sociais.

Hanai (2012, p.204) alerta que “o desenvolvimento sustentável não nega o crescimento, mas se refere à necessidade de mudar a qualidade do crescimento”. É comum perceber uma supervalorização quanto à dimensão econômica, de maneira imediatista, em detrimento das demais vertentes. Isso culmina na fragilidade do sistema político, que volta o planejamento e atuação para o eixo das questões econômicas como prioridade das estratégias de governo.

O desenvolvimento sustentável questiona o modelo capitalista de crescimento econômico, não sendo um posicionamento contrário, mas resistente ao modo como a coisa acontece, com apropriações desiguais, destruição desenfreada, distribuições injustas, degradação em prol da acumulação de riquezas.

Chou (2013, p.226) destaca que o crescimento veloz do turismo ocasiona “um aumento na receita de renda das famílias e do governo através dos efeitos multiplicadores, melhorias na balança de pagamentos e o crescimento do número de políticas governamentais para o turismo promovido.” Ao remeter ao montante econômico gerado pelo turismo os números não deixam dúvidas sobre a significância da atividade:

Porém também contribuem para que as ações e políticas públicas e privadas direcionadas para o desenvolvimento do turismo privilegiem tal dimensão econômica do fenômeno, ou seja, a atividade, e deixem de contemplar as outras dimensões que ele também impacta, seja a social, a cultural, a ambiental ou a política (FRATUCCI, 2014, p.91).

A aspiração por crescimento induz o setor público a perder o controle da situação, ao mesmo tempo em que cresce a pressão de empresários, trade turístico e demais interessados na atividade, tornando o conflito mais complicado e longe de controle. Com o passar do tempo, o processo continua e aumenta a dependência, trazendo saturação do destino e destruição de seus recursos de base (SHOEB-UR-RAHMAN e SHAHID, 2012).

É possível atentar que à medida que o turismo absorve características de massa, os autóctones tendem a se afastar, acarretando em muitas situações, sentimento de antipatia em relação à atividade (ALVES, 2010). Por conseguinte, o desenvolvimento sustentável do turismo deve ser uma preocupação latente, e esse tipo de turismo precisa ser cautelosamente pensado antes de qualquer ação que induza seu crescimento.

Corroborando, Fratucci (2004, p.92) ressalta que o olhar, “ainda hoje hegemônica, que vê o turismo apenas pelo prisma economicista, impede que o seu desenvolvimento contribua plenamente para um processo sustentável gerador de melhorias na qualidade de vida das sociedades envolvidas, sejam elas receptoras ou emissoras de visitantes.” Acredita-se que a partir do momento em que houver uma verdadeira adoção das questões sustentáveis no turismo, isso poderá ser tido como um diferencial capaz de mudar paradigmas e promover melhorias sociais e ambientais permanentes.

É possível minimizar os impactos negativos, com estratégias de planejamento que tornem os segmentos turísticos socialmente mais acessíveis, ambientalmente aceitos, economicamente viáveis e com efeitos multiplicadores para as sociedades envolvidas. Nesse sentido, Bacal et al. (2007, p.176) complementam esclarecendo que “a atividade turística é apresentada como um dos setores que podem gerar crescimento econômico conjugado ao desenvolvimento social, em particular nos países emergentes”. Evidencia-se oportunidade para lugares como o Brasil, que apresenta singulares características com potencial para vários segmentos do turismo.

Os estudos em torno do turismo apontam ações indispensáveis vinculadas ao seu desenvolvimento, considerando que seus diversos segmentos requerem atenção especial para o planejamento e as fases que o constituem, a fim de ampliar os benefícios e reduzir os impactos maléficos provenientes de tais atividades. Scótolo e Panosso Netto (2015, p.37) colocam que o desenvolvimento de um local de potencialidade turística:

Está sujeito aos tipos de estratégias que são implantadas e às características de cada local. Considerando que cada região (em esfera macro ou micro), cada país, cidade, vilarejo ou comunidade possui características próprias que devem ser consideradas no âmbito do planejamento turístico, seria ousado afirmar que o turismo sempre é gerador de desenvolvimento local.

No entanto, é possível constatar que de maneira geral poucos destinos tem sistematizado planos, estratégias e políticas para verdadeiramente implantar um desenvolvimento sustentável do turismo (ROMÁN e FONT, 2014).

É consensual que o turismo proporciona significativas transformações nas localidades com reflexos diretos na economia. Contudo, para ser possível um desenvolvimento satisfatório, torna-se evidente a necessidade de elementos básicos, desde os recursos naturais e culturais, além de infraestrutura e estratégias públicas voltadas a estruturação da atividade (NÓBREGA, 2012).

Diante do conceito de desenvolvimento sustentável, não admite-se tratar de planejamento urbano sem considerar suas dimensões ambiental e social, estando estritamente interligados. Mas não são raros os lugares que desenvolvem uma estrutura turística pautada exclusivamente nas aspirações e desejos dos turistas, deixando de lado, ou mesmo excluída, uma parcela significativa da população.