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PARTE III: APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.1 DESENVOLVIMENTO DAS FASES DA DESTINAÇÃO TURÍSTICA

4.1.2 Segunda fase

É possível destacar que “o fluxo turístico trouxe a essas comunidades receptoras um grande número de visitantes que se identificou com estes lugares, e que passou a frequentá-los com mais assiduidade.” (VASCONCELOS e CORIOLANO, 2008, p.266). Aos poucos, ainda na década de 1980, percebe-se um aumento acentuado do número de veranistas, instalação de segundas residências e relatos das primeiras transformações socioespaciais. A comunidade começa então a ser beneficiada com algumas melhorias que iriam contribuir para mudanças significativas, tais como foi destacado em um relato:

“O momento que chegou energia elétrica na praia (1980) e os benefícios advindos com esse marco.” (Depoimento de N3).

Gradativamente, a praia da Pipa passou a ser escolhida como destino de veranistas e turistas, concretizando um fluxo de visitante mais acentuado. Nesse momento, caracterizado na pesquisa como 2ª fase, as casas de veraneio passaram a ser as principais opções de hospedagem para turistas que sempre frequentavam o local.

Assim, Pipa passa a ser visitado pelos veranistas que começam a compartilhar o território dos nativos, com a propagação das casas de veraneio. As belezas naturais despertam o interesse de empresários, que passaram a enxergar o fluxo de visitantes como possibilidade de novos negócios (GONÇALVES, 2010). Nesse sentido, Brandão (2013, p. 175) destaca que “entre as décadas de 1980 e 1990, consolidou-se a prática da segunda residência em Pipa, cujos imóveis eram negociados, na maioria dos casos, para antigos visitantes estrangeiros e de outros estados do Brasil.” É possível destacar que:

A grande maioria dos projetos do turismo residencial depende fortemente da apropriação privada da paisagem e dos recursos naturais; dunas, lagoas, rios, praia e restingas precisam ser envolvidos no interior dos empreendimentos, pois o “turista residencial” necessita ter um contato direto com esses ativos; qualquer projeto que não incorpore esses elementos no seu portfólio irá perder em competitividade (SILVA, 2010, p.189).

Em conformidade com E19, os nativos já deslumbravam possíveis negócios e optaram por vender suas casas nas áreas mais nobres e migrar para a região mais afastadas, nas proximidades da mata. Por isso, os poucos moradores que não foram seduzidos e permanecem vivendo na rua principal, são vistos como símbolo de resistência.

Em decorrência de tais características, as áreas de belezas naturais privilegiadas começam a ser redefinidas para o mercado imobiliário, ampliando os desajustes ambientais e sociais. Tratando sobre turismo residencial (TR), Aledo et al. (2013, p.4), convidam a pensar:

Sobre o espaço social e a economia política do lazer juntamente com representações e ideologias que o justificam. O estudo da produção da relevância do TR- as residências, as infra-estruturas e serviços anexos- não pode ser reduzido a um enfoque meramente técnico destinado a maximizar a eficiência do produto ou seu ordenamento no espaço.

Vários entrevistados forasteiros relembram o momento que conheceram Pipa, ainda nas décadas de 1980 e 1990 e decidiram se fixar:

“O povo era hospitaleiro demais e eu me apaixonei [...] Então foi criando um vínculo de bem querer com o lugar, um lugar maravilhoso, paradisíaco mesmo, que imagina isso com mais vamos dizer originalidade né, era muito legal, muito tranquilo. Aí passei 1 ano, 2 anos aqui, quando eu comprei esse espaço aqui, só uma birosquinha e botamos um restaurante aqui, primeiro bar restaurante da Pipa foi

meu, assim com esse foco dos estrangeiros, pessoas de fora né, na década de 80.” (Depoimento de E4).

Na praia da Pipa, Araújo (2002) pondera que na mesma proporção que ocorreu a ocupação dos trechos pelos empreendimentos turísticos, vai dando-se também a erradicação da vegetação local para dar espaço às aspirações do mercado.

Em algumas destinações brasileiras, percebe-se os empreendimentos turísticos se estruturando em decorrência de uma demanda que começa a tomar forma. Ou seja, a partir do momento em que se constata o aumento da procura de visitantes em determinados lugares ou atrativos específicos, a iniciativa privada passa a enxergar a situação como oportunidade de mercado, idealizando estruturas que serão fundamentais para dar suporte ao turismo.

“A Pipa cresceu sem planejamento. Começou pela vila de pescadores e foi chegando os surfistas e foi se hospedando na casa de um morador porque aqui não tinha pousada, não tinha hotel, as pessoas que faziam comida eram daqui e essas pessoas foram acolhendo os surfistas e eles foram levando o nome de Pipa para o resto do país e do mundo, e foi assim que foi vindo essa demanda toda.” (Depoimento de E13).

O problema é que na maioria das vezes, o mercado turístico se estrutura de maneira desorganizada, priorizando a mão de obra barata e/ou serviços de familiares como artifício para sustentação dos estabelecimentos.

Em alguns casos, percebe-se notadamente a falta de qualificação e o despreparo para manutenção desses equipamentos, além de dificuldades financeiras, talvez por isso, poucos nativos conseguiram ter espaço nos negócios turísticos. Em um primeiro momento, o nativo foi absorvido, mesmo sem preparo, pelo mercado de trabalho, mas à medida que o destino foi progredindo e atraindo mais pessoas de fora, em sua maioria, capacitados, os nativos foram gradativamente excluídos dos postos de trabalho.

“Alguns próprios empresários cederem capacitações conjuntas porque ele vai depender dessa mão de obra, só tinha essa mão de obra. Só que depois que a cidade começa a desenvolver, começa a atrair outras pessoas porque agora já tem uma cara de cidade, o que necessita, o básico para morar lá.” (Depoimento de E11). A população nativa acaba tendo grande dificuldade de participar desse processo, conforme analisado por Aledo et al. (2013, p.15-16) no qual os residentes em Pipa tem “uma participação cidadã fraca, falta de capital econômico que os impede de competir com o capital

nacional e internacional e falta de formação e empreendedorismo confinando-os a posições subalternas e os baixos salários dentro de turismo.”

Em campo, foi possível constatar poucos nativos que se destacam nos negócios turísticos como N3:

“Que nasceu e cresceu em Pipa e hoje é proprietária, junto com o esposo, de uma barraca de praia, restaurante e pousada com 10 chalés.” (Depoimento de N3). “Em meio a uma situação muito precária, vislumbrou a chegada dos visitantes como oportunidade de negócio, começou a vender cocada e assim, passou a ter uma renda melhor e vida mais tranquila financeiramente. Até hoje continua com a mesma atividade, mas a filha quem comercializa diretamente nas areias da praia, tendo uma freguesia muito boa em virtude da qualidade do seu produto.” (Depoimento de N4).

De fato, durante essa época, a demanda de veranistas e novos visitantes começa incitar a população local e empreendedores forasteiros, sob a perspectiva de vislumbrar negócios de amplitude turística.