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2.3 CONFLITOS EM ÂMBITO GERAL

2.3.3 Dimensões ambientais, sociais, econômicas e os conflitos decorrentes do

A questão ambiental envolve as relações entre sociedade e natureza, sendo a problemática em torno das questões ambientais evidenciada, principalmente, devido a degradação demasiada e o consumismo proveniente da era moderna, decorrentes dos significativos avanços tecnológicos.

A conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, ocorrida em 1972, em Estocolmo, foi um marco na discussão sobre os impactos ambientais, debatendo ações necessárias para uma mudança de mentalidade da população, com o desenvolvimento da proposta de educação ambiental e trazendo a interdisciplinaridade como foco da nova abordagem (LEFF, 2000).

A interdisciplinaridade envolta das questões ambientais diz respeito a evolução dos paradigmas na busca de integração de áreas diferentes das ciências, no caminho de formalizar um saber ambiental. Dessa forma, o estudo de um objeto com intersecção de várias áreas apresenta-se como um importante mecanismo para a produção de conhecimento de maior complexidade, implicando inter-relação entre disciplinas distintas que interagem entre si na geração de constatações científicas inovadoras.

Deve-se ponderar que os conflitos que envolvem o ambiente estão diretamente relacionados aos aspectos políticos, sociais, econômicos e ecológicos. Apesar disso, ainda são limitados os estudos ou estratégias de intervenção que adotam uma abordagem integrada e interdisciplinar para tratar das especificidades dos conflitos ambientais (BOB e BRONKHORST, 2010).

Fica evidente a necessária conexão de áreas do conhecimento e pesquisas interligando as várias concepções que rodeiam os conflitos, notadamente, os de cunho ambiental. Barquín et al. (2012, p.348) reforçam que “as questões ambientais transcendem os limites de qualquer disciplina e exigem novas abordagens, metodologias e alternativa ou complementar teorias para construir uma nova disciplina: a nova ciência ambiental.” Assim, a grande conquista da interdisciplinaridade nesse campo transita na concepção de um saber ambiental, com adoção de medidas mais eficazes para preservação dos recursos naturais.

A utilização intensiva dos bens comuns tem estado entre as preocupações da sociedade atual, suscitando novos debates que envolvem economistas e ambientalistas, tendo como ponto de partida para análise o uso indiscriminado do meio ambiente para atender anseios das atividades econômicas (TOMIO e ULLRICH, 2015).

Ao analisar a natureza e sua apropriação como recurso e matéria para as economias, pode-se constatar uma divergência nas suas relações. À medida que a natureza satisfaz ao ritmo normal, com todos os processos biofísicos, há um aumento da eficiência do ciclo ecológico. Obstante, o crescimento econômico envolve uma apropriação dos recursos naturais, em prol de acúmulo de renda, impactando no sistema natural em virtude da eficiência econômica que rodeia seus objetivos primários.

É verdade que nos últimos anos percebe-se maior preocupação da população em relação aos problemas ambientais, por outro lado, o ser humano tem utilizado de maneira cada vez mais intensa os recursos naturais. É possível constatar que o turismo tal como outras atividades econômicas, envolve:

Uso/ exploração de muitos recursos naturais no seu desenvolvimento e pode-se dizer que na maioria dos casos, a viabilidade do turismo depende diretamente do ambiente e dos ecossistemas. Esta dependência não ocorre apenas na perspectiva de uso (transformação e fabricação) para obter "matérias-primas" e produtos como em outras atividades, mas em preservar estes para criar "valor" ao "atrativo turístico" (TOMIO e ULLRICH, 2015, p.178).

Tal atitude retrata uma dicotomia, mostrando assim, uma evidente postura sobre o consumismo, decorrente da globalização e da tecnologia, concomitante ao momento em que o discurso sobre preservação e manutenção dos bens naturais é muito recorrente.

O homem tem a tecnologia como ferramenta capaz de transformar o mundo, no entanto, esse recurso pode conduzir tanto a benefícios como malefícios, podendo ser refletido na própria humanidade e no ambiente (desmatamento, poluição, descontroles, etc.). Os avanços tecnológicos tem contribuído para encurtar distâncias, facilitar os deslocamentos e ampliar a gama de possibilidades de se fazer turismo. A ascensão da classe econômica também contribui significativamente para que as pessoas tenham mais acesso as atividades turísticas, passando a fazer parte da vida de muitas pessoas. O turismo tem um significativo destaque na conjuntura atual, considerando que:

Deslocamentos para lazer, as viagens de férias, o entretenimento associado à viagem, tem feito milhares de pessoas se movimentarem no mundo, principalmente pela existência de meios de transportes rápidos, fáceis e com uma rede que conecta quase sem restrições a maior parte do mundo organizado pelo capital (AZEVEDO et al., 2013, p.11).

É notável que as mudanças de valores e melhores condições econômicas tem impulsionado o desenvolvimento do turismo, já que as sociedades passaram gradativamente a valorizar o tempo livre, que é refletido nas questões de lazer, entretenimento e realização de viagens turísticas. Com isso, percebe-se uma classe social mais exigente e aspirante de segmentos do turismo que atendam suas demandas e aspirações, bem como o nível mais criterioso de exigência pela oferta de atividades variadas.

Quando versa sobre os aspectos socioeconômicos, são citados impactos provenientes diretamente do turismo e também os efeitos indiretos, que reluzem sobre o retorno induzido nos vários setores, por meio da injeção de recursos financeiros que movimentam a economia e faz com que haja maior circulação de renda. Talvez essa seja uma das grandes linhas impulsionadoras do turismo, já que as justificativas mais utilizadas para sua promoção dizem respeito aos retornos econômicos que proporcionam para os destinos.

A circulação de divisas decorrentes do turismo pode conduzir ao desenvolvimento social das localidades onde estão inseridas, considerando os empregos criados, ampliação de

oportunidades de capacitação, maior arrecadação de impostos, melhoria na infra-estrutura, acessibilidade. O retorno econômico não diz respeito apenas aos recursos financeiros, mas também as benfeitorias e progressos nos espaços, promovidas por intermédio da atividade.

Entretanto, em muitos casos, os impactos sociais e ambientais não são considerados no planejamento do turismo, causando significativos prejuízos tanto às sociedades como aos recursos naturais. Bacal (2007, p.180) destaca que “enquanto os efeitos econômicos do turismo são amplamente estudados em quase todos os países, as consequências no âmbito sociocultural têm sido bastante negligenciadas.”

Grimm et al. (2013, p.37) expõem a importância do envolvimento dos seres humanos com os aspectos naturais “refletir sobre integração do homem e natureza, numa inter-relação vivencial com o ecossistema, costumes e a história local, deve ser balizado pelo envolvimento do turista nas questões relacionadas à conservação do meio ambiente.”

O turismo se apropria dos aspectos naturais para proporcionar lazer e entretenimento aos seres humanos, podendo destacar uma crescente parcela da população que valoriza e utiliza os serviços turísticos. Dessa maneira, vem gradativamente adquirindo relevância no âmbito global, sendo uma prática bastante incentivada nas sociedades modernas.

É possível constatar que “turismo e meio ambiente são interdependentes. O ambiente físico fornece lotes de atrações para os turistas. Assim, a difusão do turismo surge com alguns óbvios benefícios e custos em termos de meio ambiente, sociedade, cultura e assim por diante.” (SHOEB-UR-RAHMAN e SHAHID, 2012, p.57).

Dentre as segmentações do turismo, pode-se destacar as de vinculação com os aspectos da natureza, ou seja, que tem o ambiente como protagonista no processo de desenvolvimento das atividades. É válido destacar que as novas condições urbanas têm levado uma parcela significativa da sociedade à busca incessante de maior contato com os recursos naturais durante os períodos de tempo livre.

O turismo está vinculado a uma série de elementos, sejam eles culturais, de lazer, esportes, gastronomia, de aspiração social cada vez mais evidente, gerando atividades econômicas específicas para atender as necessidades de mercado e como consequência, geram mudanças no meio urbano (IGARZA e CAMPDESUÑER, 2012). Assim, o turismo utiliza a natureza como espaço propício para a prática de várias atividades de lazer, criando uma gama de variações e possibilidades, sendo possível destacar o segmento litorâneo como um dos nichos de maior impulso turístico na Região Nordeste do Brasil.

Sobre o assunto, Oliveira (2007, p.194) avigora dizendo que no nordeste brasileiro “seu litoral é um grande receptor de investimentos turísticos mundiais. Os estados que

compõem a região apresentam um grande potencial ou vocação turística, haja vista seus inúmeros atrativos.” Refletindo sobre a utilização dos recursos naturais na atividade turística, Tomio e Ullrich (2015, p.173) colocam que:

O turismo é uma das áreas em que ocorre o uso de recursos naturais, com intenções econômicas e sociais. Entre as opções para sua prática se destacam os segmentos que envolvem recursos naturais, como o ecoturismo e o turismo de natureza, que buscam e utilizam espaços naturais que permitem o desenvolvimento de atividades de lazer em contato com a natureza. Nestes segmentos, os recursos naturais são tratadas como "matéria-prima" transformada em produto de consumo para os turistas. O uso desses recursos naturais também implica valores sociais além dos econômicos.

Percebe-se a instalação do turismo costeiro em áreas que deveriam ser protegidas pelo seu intenso valor como patrimônio da humanidade. Entretanto, acabam sendo privatizados e destruindo os recursos de uso comum, causando além de impactos naturais, o sentimento de revolta pela destruição demasiada de tais recursos, resultando no surgimento de conflitos que se desdobram em muitas comunidades turísticas.

Vasconcelos e Coriolano (2008) analisam que um dos principais impactos maléficos do turismo em zonas costeiras trata-se da implantação de infraestrutura, bem como, a ausência de suporte básico, tais como projeto de destinação adequada de esgotos e resíduos sólidos provenientes dessas instalações turísticas. Alban (2008, p.7) também leva a reflexão sobre a dinâmica perversa que envolve a instalação dos complexos turísticos nas praias das costas nordestinas, constatando que “na grande maioria dos casos, a infraestrutura chega, viabiliza o boom turístico, mas não o sustenta. De tal modo, logo em seguida vem a saturação e a degradação social e ambiental dos complexos.” (ver figura 8).

Figura 8- Dinâmica perversa do turismo nas Costas Nordestinas

Fonte: Alban (2008).

Diante do cenário que se formou em torno do turismo no Brasil, em virtude da valorização e incremento da demanda turística, prioritariamente no segmento litorâneo, é possível constatar os crescentes impactos socioespaciais que rodeiam a atividade, sendo elementos que devem ser considerados para traçar uma gestão mais sustentável dos destinos.

Degradação Sócio- Ambiental Boom Turístico Imobiliário Dotação de Infra- Estrututura Praia da Moda Praia Deserta