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Desestímulo dos órgãos envolvidos na cobrança

3 ESTÁGIO ATUAL DA COBRANÇA DO CRÉDITO FISCAL NA

3.4 Consequências das vicissitudes do sistema de cobrança

3.4.4 Desestímulo dos órgãos envolvidos na cobrança

Órgãos Fazendários abarrotados de processos, Procuradorias com crescente estoque de dívida e processos para acompanhar e Judiciário congestionado. Eis o quadro forjado pela ineficiência do sistema administrativo e judicial de cobrança dos créditos fiscais.

Alastra-se a sensação de impotência de todos os órgãos que compõem o sistema de cobrança dos créditos tributários diante do volume de processos e da falta de perspectivas de resolução237.

Grande do Sul (PUCRS), 2011, p.66. Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/images/pesquisas- judiciarias/Publicacoes/relat_pesquisa_pucrs_edital1_2009.pdf>. Acesso em: 14 mar. 2012.

234

INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Custo unitário do processo de execução fiscal

na Justiça Federal. Brasília, DF, 2011. Disponível em:

<http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/livros/livros/livro_custounitario.pdf>. Acesso em: 1 fev. 2012.

235

Ibid., p. 32.

236 MADEIRA, Daniela Pereira. A força da jurisprudência. In: FUX, Luiz. O novo processo civil brasileiro:

Avolumam-se também as críticas a atuação dessas instituições. As divergências entre elas se multiplicam a ponto de levarem a troca de acusações238 sobre de quem seria a responsabilidade pelo atual estágio de ineficiência239. O mais grave desse quadro é que a postura adotada por essas instituições frente ao problema gera distanciamento e, portanto, a busca de soluções isoladas. A situação gera uma crise entre as instituições.

Por fim, resta a sensação de que o trabalho realizado, a duras penas, no âmbito de cada das envolvidas é ignorado, desvalorizado, face ao descrédito perante a Sociedade, cuja sensação geral é de total ineficiência240.

Segundo pesquisa realizada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) encomendada pelo CNJ, intitulada ―As inter‐relações entre o processo administrativo e o judicial (em matéria fiscal), a partir da identificação de contenciosos cuja solução deveria ser tentada previamente na esfera administrativa‖, há verdadeiro desprestígio da instância administrativa de cobrança e do trabalho ali realizado, que quando não é desconsiderado, é repetido na via judicial, o que implica na duplicação desnecessária de esforços, custos241. Isto, conforme mencionado supra, impacta diretamente no tempo de tramitação das execuções fiscais e reduz as possibilidades de recuperação do crédito.

Quando o processo chega então às Procuradorias e, posteriormente, ao Judiciário, em grande volume, a sensação que se tem é de impotência, porque sequer é possível realizar o ato básico para a regular formação da relação processual que é a citação, por inexistência de dados para localização dos devedores ou mesmo bens penhoráveis. Procuradorias e o Judiciário ficam de mãos atadas, enquanto a quantidade de processos cresce, assustadoramente, a cada ano242.

Essa realidade gera desestímulo nessas instituições e, muitas vezes, redunda em atuações protocolares de procuradores, servidores do Judiciário e juízes. Isso porque nenhum 237 BRASIL. Ministério da Justiça. Secretaria de Reforma do Judiciário. II Pacto Republicano. Disponível em:

<http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJ8E452D90ITEMID87257F2711D34EE1930A4DC33A8DF216PTBRNN. htm>. Acesso em: 21 ago.2011.

238

BARROS, Humberto Gomes de. Execução fiscal administrativa. Disponível em: <http://www.cjf.jus.br/revista/numero39/artigo01.pdf>. Acesso em 28 jul. 2012.

239 MAIA JUNIOR, Mairan Gonçalves. Considerações críticas sobre o anteprojeto da lei de execução fiscal

administrativa. Disponível em <http://www2.cjf.jus.br/ojs2/index.php/cej/article/viewArticle/924 >. Acesso em

2 ago. 2011.

240 DINAMARCO, Cândido Rangel. A instrumentalidade do processo. 14. ed. São Paulo: Malheiros, 2009, p.

332.

241

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Departamento de Pesquisas Judiciárias. A execução fiscal no

Brasil e o impacto no Judiciário. Brasília: Conselho Nacional de Justiça, 2011. Disponível em:

<http://www.cnj.jus.br/images/pesquisas-judiciarias/Publicacoes/pesq_sintese_exec_fiscal_dpj.pdf>. Acesso em: 14 mar. 2012.

242

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Justiça em Números 2010. Brasília: Conselho Nacional de Justiça, 2011. Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/images/programas/justica-em-

deles acredita em perspectivas de sucesso para as execuções fiscais, que não chegam a lugar nenhum. A execução fiscal seria apenas uma forma de justificar para a Sociedade que algo está sendo feito para resgatar esses créditos não pagos, mesmo que as instituições envolvidas não creiam na eficácia do trabalho que desenvolvem.

Contudo, é preciso estar ciente que a simples diminuição do volume de execuções fiscais, sem o efetivo resgate dos créditos, não pode ser considerada uma solução para o problema, seja de uma perspectiva institucional, seja social. Não se faz reforma tributária, nem se promove justiça fiscal sem resolver, em primeiro lugar, o problema do resgate desses créditos inadimplidos.

Conforme mencionado, as práticas isoladas existem. Há iniciativas no âmbito das procuradorias, de dar tratamento diferenciado para execuções de grandes dívidas, no intuito de racionalizar o trabalho diante de uma carga desumana de processos. O IPEA ratificou a eficácia dessas iniciativas, registrando percentual mais elevado de resgate nos processos de dívidas maiores, só possível também em face da atenção especial dada a esses feitos por juízes e servidores das varas especializadas.

Posturas como essas demonstram que ainda há possibilidade de diálogo entre as instituições, mas também que o trabalho cooperativo entre elas ainda é muito reduzido.

Como se vê, os resultados da ineficiência do sistema de cobrança tem sido, além de graves, perniciosos no sentido de que tem implicado na corrosão do sentido de cidadania fiscal, de que o dever fundamental de pagar tributos deve ser compartilhado igualmente por toda a sociedade, segundo sua capacidade tributária243.

No estágio atual, não só é profícua, como necessária a correção desse sistema de cobrança que se tornou caótico.

243 NABAIS, José Casalta. Por um estado fiscal suportável: estudos de direito fiscal. Coimbra: Almedina,

4 ANÁLISE DOS SISTEMAS DE COBRANÇA DO CRÉDITO FISCAL NO DIREITO