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3 ESTÁGIO ATUAL DA COBRANÇA DO CRÉDITO FISCAL NA

3.4 Consequências das vicissitudes do sistema de cobrança

3.4.1 Elevada carga tributária

Os números colhidos em pesquisas diretas, como aquela realizada pelo IPEA sobre o custo da execução fiscal, mas também nas estatísticas do Poder Judiciário brasileiro e no crescente estoque de Dívida Ativa da União e dos demais entes da federação, demonstram que há grande volume de recursos públicos pendente de recuperação.

A principal forma de reação utilizada pelos governos para enfrentar o problema de perdas arrecadatórias decorrentes do insucesso na recuperação desses créditos, tem sido o aumento de tributos211.

209

DINAMARCO, Cândido Rangel. A instrumentalidade do processo. 14. ed. São Paulo: Malheiros, 2009, p.332; GUIMARÃES DE CAMPOS. Gustavo Caldas. Execução Fiscal e efetividade. São Paulo: Quartier Latin, 2009, p.165.

210 MARTINS, Marcelo Guerra. Tributação, propriedade e igualdade fiscal: sob elementos de direito e

economia. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010, p. 237.

211 GUIMARÃES DE CAMPOS. Gustavo Caldas. Execução Fiscal e efetividade. São Paulo: Quartier Latin,

O aumento da carga tributária é a forma rápida e, até certo ponto, eficiente de cobrir as perdas decorrentes das altas taxas de inadimplemento conjugadas com a ineficiência do sistema de cobrança. Isso porque, há uma demanda grande de recursos para a manutenção de toda estrutura e obrigações do Estado que não pode esperar a lenta ou quase remota recuperação dos créditos fiscais não pagos. Sem contar que esses custos são incrementados inclusive pela longa tramitação das execuções fiscais.

Assim, ao invés de adotar práticas legais de maior rigidez com os devedores, parece ter sido mais rápido, e até certo ponto, eficaz para os governos, exigir ainda mais daqueles que permanecem firmes no seu compromisso com a manutenção do Estado, pagando seus tributos em dia212.

E, a considerar os dados apontados nas execuções fiscais da União, em que as pessoas jurídicas são as que mais devem (maior parte dos ajuizamentos) e menos pagam (menor índice de recuperação)213, fica muito claro que muitas vezes as pessoas físicas tem pago preço alto pela ineficiência na aplicação das normas tributárias.

A carga tributária total brasileira nos últimos cinco anos tem estado na faixa dos 30% do PIB Nacional, Gráfico 2:

Gráfico 2 - Variação da Carga Tributária Brasileira total e por esfera de governo entre 2006 e 2010 em função do PIB.

Fonte: Receita Federal do Brasil214

212 NABAIS, José Casalta. Por um estado fiscal suportável: estudos de direito fiscal. Coimbra: Almedina,

2005, p. 79.

213

INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Custo unitário do processo de execução fiscal

na Justiça Federal. Brasília, DF, 2011. Disponível em:

<http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/livros/livros/livro_custounitario.pdf>. Acesso em: 1 fev. 2012.

214 RECEITA FEDERAL DO BRASIL. Carga Tributária no Brasil – 2010. Disponível em:

<http://www.receita.fazenda.gov.br/historico/EstTributarios/Estatisticas/default.htm>. Acesso em: 1 fev. 2012.

23,75% 24,40% 24,92% 23,45% 23,46% 9,02% 8,90% 9,23% 8,59% 8,47% 1,46% 1,50% 1,64% 1,54% 1,63% 34,23% 34,79% 35,80% 33,58% 33,56% 0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00% 25,00% 30,00% 35,00% 40,00% 2006 2007 2008 2009 2010 União Estados Municípios Total

Com efeito, essa carga tributária tem provocado um crescente desequilíbrio fiscal. Isso porque, a maior oneração recai justamente sobre aqueles que pagam, como tem acontecido com o constante majoração/arrecadação dos tributos indiretos. Como bem retrata Joaquim José de Barros Dias Filho215:

Entretanto, seguindo na seara do Direito tributário, as propostas de reformas são tópicas, no máximo visam uma melhor forma de verter mais tributos aos cofres públicos, sem se ater para temas que impliquem numa efetiva arrecadação em face daqueles que podem contribuir mais. As mesmas também não visam promover uma curativa desoneração das exações que recaem sobre os menos privilegiados que, e.g., restam submetidos a uma forte carga de tributação indireta que a todos atinge de forma semelhante, onerando em demasia, sem dúvidas, o menos favorecido.

Dados divulgados pelo IPEA dão conta que 60% dos impostos pagos pelas famílias são indiretos (recaem sobre o consumo) e os 10% mais pobres da população pagam dez vezes mais tributos indiretos216.

De acordo com o último levantamento da Receita Federal do Brasil (RFB) sobre a carga tributária do Brasil, ano 2010, o sistema tributário brasileiro é dependente da arrecadação dos tributos sobre o consumo. De fato, eles correspondem a 48,57% da arrecadação total217, enquanto a tributação sobre a renda tem decrescido, Gráfico 3:

Gráfico 3 – Carga tributária total por base de incidência de 2006 a 2010.

Fonte: Elaboração própria

215 DIAS FILHO, Joaquim José de Barros. A implementação de mudanças através da legitimação do discurso de

cotejo com a ausência de transformações estruturais na seara tributária. Revista dos Procuradores da Fazenda

Nacional, edição especial, estudos sobre o novo modelo de cobrança da Dívida Ativa, ano 12, n. 9, p. 39-49,

2010.

216 INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Brasil Econômico (SP): mais pobres arcam com

a maior parcela da carga tributária brasileira, aponta IPEA. Disponível em:

<http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=10180&Itemid=75>. Acesso em: 14 mar. 2012.

217 Carga Tributária no Brasil 2010. SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL. Carga Tributária

no Brasil 2010. Disponível em:

<http://www.receita.fazenda.gov.br/Publico/estudoTributarios/estatisticas/CTB2010.pdf. Acesso em: 15 mar. 2012. 18,61% 19,41% 20,53% 19,89% 18,40% 24,06% 23,96% 24,12% 26,05% 26,15% 3,17% 3,29% 3,28% 3,37% 3,57% 47,81% 47,07% 48,72% 47,36% 48,57% 0,0% 20,0% 40,0% 60,0% 80,0% 100,0% 2006 2007 2008 2009 2010 Renda Folha de Salarios Propriedade Bens e Serviços

É amplamente noticiado que a Receita Federal, ano a ano, tem obtido números recordes de arrecadação218. Realidade essa que convive com o crescente estoque de Dívida Ativa da União e o diminuto percentual de recuperação via execução fiscal.

Assim, o Estado, ao invés de promover justiça fiscal, por meio da construção de um sistema de cobrança eficiente que promova igualdade na distribuição da carga fiscal, prestigiando os valores previstos na Constituição Federal (art. 150, inciso II, da CF/88), tem escolhido o meio mais rápido e fácil de obter recursos, onerando excessivamente os contribuintes que pagam219, para manter ou elevar os números da arrecadação.

Contudo, a opção por não enfrentar os problemas estruturais que tornam a recuperação dos créditos fiscais ineficiente, mantendo a arrecadação por meios artificiais como o aumento da carga tributária, tem repercutido negativamente. De fato, a postura governamental tem alimentado um sistema autofágico: eleva-se a carga tributária e, ao mesmo tempo crescem as taxas de inadimplência, outra consequência perversa da ineficiência220.