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Desigualdade e Pobreza nos Modelos de Crescimento Econômico

3.2. Desigualdade, Pobreza e Ciclos Econômicos: Aspectos Teóricos

3.2.2. Desigualdade e Pobreza nos Modelos de Crescimento Econômico

A visão tradicional nas teorias sobre o crescimento econômico é que a sua dinâmica exerce um efeito de trickle-down sobre a pobreza, isto é, de transferência relativa de recursos

dos ma

a ceda, é ecessário que o crescimento seja forte o suficiente para elevar a demanda agregada por

preg

ma metodológico a mensuração do impacto do crescimento econômico sobre a pobreza. O autor aponta o

Em primeiro lugar, é o crescimento conômico com variações distributivas que favorecem os indivíduos mais pobres, de modo is ricos para os mais pobres da economia. Segundo essa visão, a acumulação de capital tende a elevar o montante de recursos disponíveis nos mercados de crédito da economia, de modo que os mais pobres têm cada vez mais condições de investir em seus negócios para procurar melhorar as suas condições de vida.

Contudo, de acordo com Gafar (1998), o crescimento econômico é necessário, mas não suficiente, para reduzir a pobreza de uma população. Para que a pobrez

n

em os e elevar os salários reais de todos os trabalhadores. Isso não ocorre, por exemplo, se o crescimento for urbano-viesado, mais intensivo em capital físico, financeiro e humano do que em mão-de-obra, e concentrador de empregos sobre os indivíduos mais qualificados. Nesses casos, a pobreza pode até mesmo aumentar com o crescimento econômico.

Segundo Deaton (2004), o impacto do crescimento econômico sobre a pobreza depende da distribuição da renda e do consumo entre os agentes econômicos. Além disso, importa a direção desse crescimento, isto é, se beneficia mais os mais ricos, os mais pobres, ou a sociedade como um todo. Por fim, o autor argumenta que há um proble

n

“Efeito Al Capone”, segundo o qual, com o crescimento econômico, as atividades econômicas informais dos países subdesenvolvidos passam a ser cada vez melhor mensuradas empiricamente. Como as atividades informais estão geralmente ligadas aos mais pobres, a redução da pobreza nesses casos de crescimento tende a ser sobreestimada.

Os fundamentos da relação teórica e empírica entre crescimento econômico e pobreza são explorados por Ravallion (2004), de acordo com a teoria do crescimento pró-pobre. Esse conceito pode ser entendido por dois conceitos distintos.

e

que a pobreza diminui mais do que diminuiria sem essas mudanças. Em resumo é o crescimento no qual a variação positiva da renda dos indivíduos pobres é superior à dos não- pobres. Em segundo lugar, é o crescimento econômico compatível com uma redução na pobreza mensurada com base em algum índice absoluto.

Observando diversos trabalhos empíricos, Ravallion chega à conclusão geral de que não há uma correlação entre variações na desigualdade e crescimento econômico. No entanto,

o autor observa que as estimativas sobre a evolução de indicadores de desigualdade não são totalmente confiáveis, por dois motivos principais. Primeiro, erros de medida nesses estudos ão muito comuns. Segundo, porque os índices de desigualdade mais comuns (como o

Por outro lado, é fácil observar que o crescimento econômico tende a reduzir os

e isso ocorre devido a dois fatores primordiais.

Em primeiro lugar, pelo nível inicial de desigualdade na economia. Quanto maior for a esigualdade inicial em um país, por exemplo, menores deverão ser os ganhos dos mais

, e é maior ou igual à unidade, de modo ue a desigualdade tem retornos decrescentes, isto é, maiores níveis de desigualdade têm

A desigualdade não deve ser vista como função apenas da renda. Ela pode ser de turez

s

coeficiente de Gini) não são apropriados para se avaliar a variação da pobreza ao longo do tempo, tanto porque são incapazes de diferenciar em quais quantis de renda que ocorrem as variações de desigualdade, como também porque medidas relativas podem acabar por ignorar a evolução da pobreza absoluta na economia.

indicadores de pobreza na sociedade. Ou seja, o crescimento é naturalmente pró-pobre pela segunda definição do termo, mas não conclusivamente pela primeira. Todavia, a elasticidade da redução da pobreza em função do crescimento tende a variar muito de economia para economia,

d

pobres em relação ao crescimento33. Ravallion apresenta a seguinte equação para estimar essa hipótese:

taxa redução da pobreza = [constante x (1 – índice desigualdade) ] x taxa crescimento (1)

Nessa equação, o termo constante é negativo, o termo entre colchetes representa a elasticidade da pobreza em função do crescimento

q

progressivamente menor impacto sobre a elasticidade conforme a desigualdade aumenta. Em ambientes de alta desigualdade, a equação mostra que os pobres se beneficiam pouco do crescimento. Em uma hipotética situação de desigualdade extrema, só um indivíduo da sociedade se apropria dos ganhos do crescimento.

na a multidimensional, como, por exemplo, de acesso a meios de acumulação de capital humano e físico, ou de acesso a bens públicos, como bens de infra-estrutura e serviços sociais.

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Segundo Ravallion, o contrário também é verdadeiro, isto é, em algumas situações a desigualdade pode proteger os pobres de efeitos mais severos decorrentes das contrações econômicas.

Mesmo nessas situações, ela dificulta o aproveitamento de oportunidades, e prejudica os mais pobres frente a crescimento econômico.

Em segundo lugar, a elasticidade de redução da pobreza em função do crescimento

ndo ncontradas em patamares muito elevados, podem se tornar fatores que inibem o crescimento econôm

em relação aos menos pobres, cuja ensuração relativa é realizada por meio de um fator de ponderação incluído no indicador. A etodo

e trabalho, a rodutividade e os retornos da educação à mão-de-obra.

econômico depende das variações da distribuição de renda em cada sociedade, o que depende fundamentalmente de fatores institucionais específicos a cada uma. Por outro lado, também depende da natureza setorial e regional do crescimento econômico, e da sua relação com a distribuição da população pobre nessas regiões e setores da economia34.

Ravallion conclui seu trabalho argumentando que a desigualdade e a pobreza, qua e

ico. Isso pode ocorrer por dois fatores: primeiro, pela exclusão financeira, de acordo com mecanismos semelhantes aos apresentados por Dymski (2007 e 2008), Agénor (2001) e Lustig (2000)35; segundo, pela instabilidade macroeconômica causada por conflitos sociais que atrapalhem as decisões de política econômica por parte das autoridades competentes.

Essa mesma problemática foi abordada por Kakwani et al. (2006). Os autores procuraram desenvolver uma nova metodologia de mensuração de um crescimento econômico pró-pobre, levando em conta não apenas a variação da média da renda, mas também a desigualdade (variância) dessa renda entre os indivíduos. O crescimento pró-pobre é, nesse trabalho, entendido como um crescimento econômico que reduz a desigualdade, isto é, que reduz a privação relativa dos indivíduos mais pobres

m

m logia de decomposição dos efeitos incluídos nessa noção de crescimento pró-pobre procura explorar as relações entre o crescimento econômico e o mercado de trabalho, incluído variáveis tais como o nível de emprego, as horas trabalhadas, a força d

p

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Ravallion cita como exemplos a concentração de pobres nas regiões rurais da China e da Índia, ao passo que o crescimento econômico recente nesses países tem caráter urbano-viesado.

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“In many developing countries, a plausible way this can happen stems from the existence of credit market

failures, which mean that some people are unable to exploit growthpromoting opportunities for investment in (physical and human) capital. And it will tend to be the poor for whom these constraints are most likely to be binding. With declining marginal products of capital, the output loss from the market failure will be greater for the poor. So the higher the proportion of poor people there are in the economy the lower the rate of growth. Then poverty is self-perpetuating.” (RAVALLION, 2004, pg. 18).

Assim, algumas teorias mais modernas sobre o crescimento econômico procuram levar em conta os efeitos da desigualdade e da pobreza, tanto exógena como endogenamente, sobre o ritmo e os aspectos qualitativos do processo de desenvolvimento econômico.

Um modelo teórico buscando estudar a relação entre a desigualdade salarial e os ciclos econômicos foi elaborado por Barlevy & Tsiddon (2004). Os autores desenvolveram um modelo de equilíbrio geral para explicar a desigualdade salarial entre diferentes trabalhadores, a qual é supostamente causada por mudanças tecnológicas. Assim, de acordo com o modelo, as pessoas mais aptas a trabalhar com a dada tecnologia tendem a ganhar mais durante um certo período de tempo, até que os salários convirjam. Além disso, supõe-se que a aptidão do trabalhador é, em parte, endógena, dependendo das suas escolhas intertemporais entre trabalho e estudo. De acordo com a sua racionalidade, os indivíduos escolhem trabalhar nos períodos de maior produtividade, isto é, durante as expansões econômicas, e se dedicarem aos estudos nos momentos de recessão. Assim, diante de crises, há um crescimento do desemprego (voluntário, por parte de agentes que se retiram do mercado de trabalho para se qualificar), e da desigualdade, de acordo com os diferenciais de aptidão dos trabalhadores frente à

P por Aghion & Bolton (1997), o

feito de trickle-down sobre a pobreza ocorre, mas é afetado por imperfeições e s inovações tecnológicas vindas com o choque. Contudo, conforme a economia cresce, a convergência de salários reduz gradualmente a desigualdade. De acordo com essa teoria, conclui-se que as recessões em si não provocam diretamente a desigualdade, que provém dos diferenciais de aptidão dos trabalhadores, mas colaboram com o seu crescimento em momentos que já está tendendo a crescer.

or outro lado, de acordo com o modelo apresentado e

particularidades do sistema econômico. Essa teoria baseia-se na idéia de que a economia é composta por agentes que maximizam intertemporalmente uma função de utilidade de Leontief envolvendo níveis de consumo (c) e de lazer (b), assim como um custo de esforço sobre seus empreendimentos (C):

) ( } ; ) 1 min{( c b C p U = −δ δ − (3)

Para isso, os agentes podem tomar três tipos de decisão ao longo de suas vidas, de acordo com sua dotação de recursos em cada momento. Os agentes mais pobres só podem alocar seu tempo trabalhando. Os agentes de classe média podem alocar seu tempo no trabalho, e parte de sua dotação inicial de recursos em seus próprios empreendimentos. Já os

agentes de classe alta podem, além de trabalhar e de aplicar recursos em seus negócios, podem investir nos mercados de crédito, e financiar os empreendimentos alheios. Contudo, essa economia apresenta um problema de custo moral, já que a probabilidade de um

preendimento obter sucesso (p) é função do es a

rentabilidade do negócio (r). Como os agentes mais pobres se apropriam de menor parcela da ntabilidade de seus negócios, a qual fica, em sua maior parte, com os proprietários do

is de cada agente:

em forço individual do investidor (a) e de su

re

capital investido, eles têm menos incentivos para se esforçar no sucesso de seus empreendimentos. Dessa forma, o custo de esforço é uma função decrescente do nível de dotação de recursos inicia

a rp2 p 2 ) ( = (4) Os empreendedores maxi

esperada de seus negócios (pr), o custo do capital pago aos seus proprietários e o custo de esforço em seu sucesso:

C

mizam uma função-lucro envolvendo a rentabilidade

) ( ) ( ) 1 ( { max pr p w w C p p − − ρ − (5)

A solução desse problema é dada por:

⎟ ⎠ ⎞ ⎜ ⎝ ⎛ = r w w a w p( ) 1 (1 )ρ( ) (6)

se apropriam de parte dos ganhos dos empreendimentos alheios devido ao custo de seu capital. Contudo, com a acumulação de capital, eleva-se a oferta de fundos na e

Nessa equação, a taxa de juros ρ é uma função inversa da dotação inicial de recursos do agente. Devido ao problema de custo moral, já descrito anteriormente, essa taxa tende a ser mais elevada para os agentes pobres, o que cria um problema de restrição de crédito na economia.

Na dinâmica do desenvolvimento econômico proposta por esse modelo, o efeito

trickle-down ocorre pela acumulação de capital, que eleva a oferta de fundos emprestáveis na

economia. Assim, no início, há um acirramento da desigualdade, já que os agentes inicialmente mais ricos

conomia, o que aumenta a concorrência entre os capitais e reduz a taxa de juros. Com isso, a classe média começa a ganhar cada vez mais dinheiro de seus investimentos, ao

passo que os pobres tendem a se aproximar da classe média. Em resumo, as desigualdades não são eliminadas no steady state desse modelo (ou no longo prazo), mas há uma redução substancial da pobreza.

Os autores concluem sua teoria sugerindo que políticas permanentes de distribuição de nda podem equalizar as oportunidades de investimento pelos agentes e aumentar a

eficiên r seu

sforço em garantir sucesso nos seus empreendimentos, reduzindo assim seu custo moral. Como

r de seu salário de reserva. Isso, por sua vez, pode ocorrer tanto devido a características particulares do indivíduo, como indicadores de produti

trabalhadores também sofre oscilações cíclicas. re

cia da economia, já que os ganhos de renda pelos mais pobres tendem a eleva e

essas políticas incentivam novos investimentos na economia ao mesmo tempo em que incentivam o maior sucesso dos novos empreendimentos, elas elevam o produto de steady

state da economia, e, nesse sentido, são consideradas pelos autores como eficientes no sentido

de Pareto.