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Evolução da Pobreza no Brasil durante a Década de Oitenta

2.3. Evolução da Pobreza na Economia Brasileira Contemporânea:

2.3.1. Evolução da Pobreza no Brasil durante a Década de Oitenta

Durante toda a década de oitenta, a economia brasileira foi afetada por ciclos macroeconômicos de curto prazo, que determinaram o nível de renda nacional e a incidência da pobreza. Segundo Rocha (2003), a taxa média de crescimento do PIB brasileiro durante essa década foi a menor desde a Segunda Guerra Mundial, e seus efeitos sobre a pobreza só ão foram maiores devido à redução do crescimento populacional que também se verificou

ualdade no Brasil n

nos anos oitenta.

Barros & Mendonça (1995a), em um estudo empírico comparando dados do Censo Demográfico de 1980 e da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (PNAD) de 1990, observaram que houve uma elevação nos indicadores de pobreza durante a década, motivada por dois fatores. Em primeiro lugar, pelo comportamento da taxa média de crescimento econômico anual, da ordem de -1,5%. Em segundo lugar, pela elevação da desigualdade de renda, já que, segundo os dados apresentados, a proporção da renda nacional apropriada pelos 20% mais ricos do país passou de 63% em 1980 para 65% em 1990, ao passo que a renda apropriada pelos 50% mais pobres reduziu-se de 14% para 12%. De acordo com Barros et al. (1997) e Barros & Mendonça (1995b), a elevação dos indicadores de desig

durante essa década refletiu que os segmentos mais pobres da sociedade, associados a enore

proporção de pessoas baixo da linha de pobreza no país caiu de 35% para 23,7% com a implantação do plano.

lação brasileira total reduziu-se de 34% para 30%. Isso vai de frente à t

período. Segundo a

mia, especialmente acentuado sobre os estratos urbanos e metropolitanos das regiões mais dinâmicas do país, afetou a todos de forma

m s índices de escolaridade, sofreram as crises com maior intensidade.

Os ciclos de curto prazo enfrentados pela economia brasileira nesse período foram divididos por Rocha (1992) em três fases. De 1981 a 1983, o país passou por uma recessão, que elevou os indicadores de pobreza, e foi mais intensa nas regiões urbanas e metropolitanas do país. De 1984 a 1985, a economia se recuperou, liderada pelo crescimento das exportações, de modo que a pobreza reduziu-se de maneira nacionalmente equilibrada17. A partir de 1986, com a implantação dos planos de estabilização econômica, os indicadores de pobreza no país acompanharam os ciclos inflacionários. Particularmente em 1986, quando foi implantado o plano Cruzado, reduziu-se bruscamente a pobreza todo o país. Isso se deve não apenas devido à política de estabilização monetária de congelamento de preços, mas também devido a políticas de abono salarial, de reajustes aos trabalhadores acima da inflação, o que proporcionou maiores ganhos para a base da distribuição de renda (famílias mais pobres). Porém, essa redução foi mais intensa nas metrópoles do centro-sul do país do que no Norte e no Nordeste, regiões as quais enfrentaram maiores problemas de abastecimento, decorrentes do próprio congelamento de preços. Em resumo, segundo o estudo, a

a

Depois, com a nova aceleração da inflação, essa taxa subiu para 30%.

Utilizando dados da PNAD de 1981 a 1990, Rocha (2003) observou que, enquanto que o número total de pessoas abaixo da linha de pobreza permaneceu estável ao longo da década, a proporção de pobres em relação à popu

ese de que o país passou por uma fase de empobrecimento absoluto nesse autora (2003, pg. 98),

(...) a sensação de empobrecimento, na época tão alardeada, pode ser em parte imputada ao estancamento do processo de melhoria da renda e de forte mobilidade social, que vinha ocorrendo simultaneamente com a urbanização e modernização do país. O impacto do stop and go da econo

direta ou indireta, tanto devido ao comportamento da renda, como pela clara redução do investimento público na área social.

Em relação à dinâmica regional dos índices de pobreza, Rocha (2003) verificou uma menor participação da região Nordeste na pobreza do país. Para a autora, as crises enfrentadas

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A menos para a região metropolitana do Rio de Janeiro, que manteve uma trajetória de empobrescimento ao longo de todo o período.

no período foram mais intensas, em média, nas regiões e áreas mais modernas da economia nacional, já que foram essas regiões que sofreram maior impacto do ajuste do processo produtivo decorrente das crises, sobretudo em termos de pressão de mudanças tecnológicas18 para o corte de custos por parte das empresas. Assim, o maior efeito de empobrecimento se deu sobre os trabalhadores urbanos não-qualificados, principalmente das metrópoles de São aulo e do Rio de Janeiro. Todavia, o ranking geral da proporção de pessoas abaixo da linha

, em termos de privações de direitos, características de emprego e de domi

Segundo a autora (1

idos investimentos do setor público. Em outras palavras, a curto prazo estas carências são relativamente inelásticas em relação ao nível de renda dos pobres, dados o

ias observadas em São Paulo e

P

de pobreza nas metrópoles brasileiras pouco se alterou.

Em um estudo anterior, Rocha (1998) utilizou uma base de dados da PNAD para 23 áreas de análise, incluindo metrópoles, áreas urbanas e rurais de todas as regiões do país. Com o trabalho, a autora concluiu que a relação entre a participação populacional e a participação da incidência de pobreza assumiu um caráter cada vez mais regional (em termos de regiões Norte e Nordeste versus regiões centro-sul) do que de caráter rural versus urbano. Contudo, a pobreza pareceu ser mais intensa

cílios, exatamente nas localidades onde ela é menor proporcionalmente. 992, pg. 556),

Assim, a pobreza metropolitana é melhor qualificada quando levadas em conta as carências de saneamento, habitação, assistência médica e educação, que não podem ser sanadas por acréscimos marginais da renda, dependendo essencialmente de bem- suced

tamanho dos déficits existentes e as dificuldades operacionais envolvidas em eliminá- los.

Além disso, o estudo demonstrou que o padrão de desigualdade da incidência de pobreza entre as regiões brasileiras pouco se alterou no período. Os ciclos de curto prazo tiveram impactos diferenciados regionalmente, de acordo com as especificidades das economias locais, tais como a seca no Nordeste (1983), a reestruturação produtiva industrial do eixo Rio-São Paulo, e o maior impacto do plano Cruzado sobre esse mesmo eixo, em que os problemas de distribuição de mercadorias foram menos intensos. A desigualdade em nível nacional, por outro lado, se mostrou muito sensível às tendênc

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Segundo Rocha (1992, pg. 547), “Em termos do setor moderno, a crise induz uma reestruturação das

unidades produtivas, em termos de composição do produto, mudanças tecnológicas e racionalização de custos em geral, o que, por sua vez, acarreta um grande impacto sobre os rendimentos da mão-de-obra de menor qualificação. Nas regiões metropolitanas menos desenvolvidas, o efeito de empobrecimento causado pela crise macroeconômica é essencialmente reflexo, conseqüência da perda de dinamismo em nível nacional. Além disso, ele é amortecido pelas características de inserção da população no mercado de trabalho segundo ramos de atividade”.

no Nordeste, tanto por causa de sua grande participação na população nacional, como também pelas suas posições extremas na distribuição regional do PIB.

Por fim, o estudo indicou que a pobreza ao longo do período foi tomando uma natureza cada vez mais urbana do que rural, mesmo com a desaceleração do processo migratório no país. Segundo Rocha, isso se deveu não apenas à reestruturação da estrutura

dustrial, mas também à instituição de uma política de renda mensal vitalícia para todos os

eis frente a ciclos de curto prazo do que as medidas tradicionais de renda, além de ensurar melhor os recursos disponíveis da população mais pobre do país, como, por

empl

dos. Contudo, em lação à qualidade dos domicílios, os indicadores continuaram em um nível baixo. Por fim,

a PNAD, ao passo que in

idosos no país, no valor de um salário mínimo. Essa política teve um impacto anti-pobreza muito forte nas regiões rurais do país, nas quais o custo de vida é muito baixo.

Em um outro estudo, Rocha (1996a) fez uma análise da pobreza no Brasil utilizando uma metodologia baseada na definição de linhas de pobreza por gastos com consumo. Essa metodologia, segundo a autora, tem as vantagens de contar com indicadores de bem-estar mais estáv

m

ex o, provenientes de doações e transferências, e não captadas nos estudos convencionais de renda.

A autora chegou aos resultados esperados com esse estudo. Os indicadores de bem- estar com base no consumo tiveram um comportamento mais estável (cerca de 29% da população estava abaixo da linha de pobreza, nos anos de 1981 e 1990), mesmo com condições macroeconômicas adversas no período. Além disso, verificou-se melhorias nos indicadores sociais, tanto para indivíduos pobres, como para não-pobres, mesmo em um ambiente no qual as condições de trabalho tenham se deteriorado para to

re

observou-se uma concentração regional da pobreza no país, verificada na região rural do Nordeste e nas periferias das metrópoles de São Paulo e do Rio de Janeiro.

Em resumo, nesse estudo, Rocha (1996a) concluiu que houve uma redução de pobreza absoluta no Brasil durante a década de 80. Segundo a autora, esse resultado difere de trabalhos como o de Barros & Mendonça (1995a) por três motivos. Em primeiro lugar, por controlar as variações regionais de custo de vida da população, utilizando diferentes linhas de pobreza para diferentes áreas geográficas. Em segundo lugar, por utilizar 1981, quando a crise já estava instalada no país, como ano-base para análise com dados d

outros estudos utilizaram dados do Censo de 1980, anteriores à eclosão da crise. Por fim, a

autora ção pobre no país

omo conseqüência da crise, o que amenizou em parte o seu impacto. sugeriu a ocorrência de uma redução do custo de vida da popula c