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Evidências Empíricas para Economias Subdesenvolvidas

3.3. Crescimento Econômico e Pobreza: Does the Rising Tide Lift All

3.3.2. Evidências Empíricas para Economias Subdesenvolvidas

De acordo com a literatura abordada, a relação entre o desempenho macroeconômico e os indicadores sociais nas economias subdesenvolvidas, depende fundamentalmente de outros fatores além do comportamento do mercado de trabalho e da distribuição de renda salarial, tal como é o caso norte-americano. Esses fatores podem incluir desde as diretrizes da política econômica adotada em cada país em cada período, até mesmo características da comunidade em que cada família participa, assim como acesso a serviços de saúde, educação e oferta de bens de capital e instrumentos de progresso tecnológico.

Em um estudo empírico para a América Latina, Ranis & Stewart (2002) observaram que, durante as décadas de 1960, 1970 e 1980, houve um viés de política econômica pró- crescimento econômico na grande maioria dos países da região. Por outro lado, os investimentos no bem-estar social e na capacitação das pessoas foram muito baixos. Nos anos noventa, houve uma reversão dessa estratégia, e os investimentos sociais aumentaram, o que pode ser positivo para o futuro da região. Todavia, o baixo desenvolvimento humano dos países latino-americanos, acumulado pelo descaso político nos períodos anteriores, tornou-se ele mesmo um fator que atrasa o processo de crescimento econômico, já que os novos

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Todavia, o autor não explica qual é o mecanismo econômico que relaciona variações na taxa de desemprego e variações na taxa de pobreza da população idosa.

empregos criados demandam cada vez mais trabalhadores qualificados, em conseqüência ao desenvolvimento tecnológico que acontece no mundo inteiro. Portanto, os autores concluem que há um verdadeiro círculo vicioso entre subdesenvolvimento humano e recessão econômica na América Latina.

Um outro trabalho importante nesse sentido foi realizado por Aassve & Arpino (2007), que avaliou o impacto do crescimento econômico verificado no Vietnã ao longo da década de 90 sobre o bem-estar de sua população, controlando por características pessoais, regionais e demográficas do domicílios. Para sua análise, os autores utilizaram micro-dados da base “Vietnam LSMS”, a qual inclui variáveis de dois níveis, isto é, tanto relacionadas a cada domicílio em si, como também relacionadas à comunidade em que cada domicílio está integrado. Como exemplo de variáveis de nível comunitário envolvidas no banco de dados, pode-se citar o acesso de seus integrantes a serviços de educação e de saúde, assim como as características específicas da organização de sua atividade econômica (sobretudo nas áreas agrícolas, diferenciando-se as regiões de cultivo comunitário das regiões baseadas na propriedade privada), e o acesso a bens de capital e a fontes de progresso tecnológico. Com esse banco de dados, os autores valeram-se de uma metodologia de modelos hierárquicos dinâmicos entre os períodos de 1992-93 e 1997-98 para avaliar a evolução dos níveis de consumo domiciliar no país, além da mobilidade em relação à linha de pobreza.

Com sua análise, os autores chegaram a conclusões muito interessantes. Em primeiro lugar, o crescimento econômico vietnamita possibilitou um verdadeiro catch-up (convergência) social, de modo que os domicílios mais pobres, ou com características que os associam à pobreza48, obtiveram maiores taxas de crescimento do consumo ao longo do período estudado. Em segundo lugar, observou-se o impacto de uma mudança na estrutura econômica nacional ao longo da década, de modo que os domicílios localizados nas regiões rurais obtiveram crescimento médio de consumo cerca de 7% menor do que aqueles localizados em regiões urbanas, inclusive em relação às famílias lideradas por indivíduos mal qualificados e desempregados. Terceiro, a correlação de características domiciliares intraníveis é elevada, o que justifica o uso da metodologia de modelos hierárquicos e a importância das características da comunidade sobre o bem-estar familiar, em termos de consumo, crescimento da renda e menor propensão à pobreza. Contudo, características como

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o acesso à saúde e à educação, a etnia e o grau de organização da produção econômica estão correlacionadas com o nível de riqueza e consumo inicial de cada domicílio, mas não com o seu crescimento ao longo do período. Para isso, o fator de nível comunitário mais importante, de acordo com as conclusões dos autores é a dotação de recursos relacionados ao transporte entre as regiões do país, como estradas.

A distribuição de choques sobre a renda de diferentes quantis da população em crises macroeconômicas também foi explorada empiricamente por Maloney et al. (2004). Os autores focaram seu estudo ao caso do México, durante a crise da Tequila (1994-95), tendo acesso a microdados de 9.877 domicílios.

Os resultados do estudo apontam que a maior variância da renda frente a choques econômicos provém dos trabalhadores informais, que enfrentam maior volatilidade econômica setorial e maior flexibilidade de seu mercado de trabalho. Contudo, os mais prejudicados pelos choques, isto é, os que se mantiveram mais pobres durante a crise, foram os membros de famílias cujo chefe encontra-se em situação de desemprego crônico (isto é, desempregado mesmo nos períodos fora da crise). O estudo também revelou uma surpresa aos especialistas no assunto, isto é, o impacto menor das crises se deu sobre os domicílios de menor nível de educação do chefe. Segundo os autores (MALONEY ET AL., 2004, pg. 168):

Put differently, households with less educated heads generally have lower variance in their household incomes. The reasons are not clear. On the upside, perhaps the possibilities for income growth are lower for the less well-educated. On the downside it is possible that fewer opportunities to smooth income through credit markets or savings dictate that households take measures to reduce downside volatility – for example, by putting additional workers in the labor market if the household head’s job is lost.

No entanto, os autores explicam que as conclusões de seu trabalho sobre o bem-estar social nas famílias mexicanas não são precisas, pela ausência de dados sobre fatores importantes do comportamento econômico dos indivíduos frente a choques. Por exemplo, faltam dados sobre a poupança e o acesso ao crédito pelas famílias mexicanas. Se os pobres estiverem sendo excluídos dos mercados financeiros49, o impacto dos ciclos macroeconômicos será maior sobre o seu nível de consumo, fazendo com que o seu bem-estar caia de maneira mais acentuada do que o bem-estar dos mais ricos.

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Tal como foi apontado anteriormente por Ferreira et. al (2000), Agénor (2001), Lustig (2000) e Dymski (2007 e 2008).

Outro trabalho empírico aplicado à realidade mexicana foi elaborado por Antman & Mckenzie (2005). Os autores utilizaram técnicas de pseudo-painel para mensurar as características da mobilidade de renda da população, tanto em termos absolutos, como em termos condicionais, isto é, como efeito transitório de choques. Foram utilizados dados quadrimestrais da “Encuesta Nacional de Empleo Urbano” de 1987 a 2001. Essa base consiste em um painel rotativo, no qual os mesmos indivíduos são acompanhados por 5 quadrimestres consecutivos. Os autores chegaram à conclusão de que a mobilidade, em geral, é maior no setor rural do que no setor urbano do país. Além disso, a mobilidade condicional, decorrente de choques, é elevada, mas a mobilidade absoluta é lenta, o que indica que os efeitos dos choques sobre a renda dos indivíduos tende a se dissipar rapidamente ao longo do tempo. Ou seja, a desigualdade de renda no México não se deve a efeitos prolongados de choques sobre a renda das pessoas, mas sim a efeitos fixos individuais, tais como o grau de educação, o gênero, a raça, a coorte de idade, o ambiente familiar e institucional, as habilidades produtivas e o acesso a recursos de capital.

3.4. Crescimento Econômico, Desigualdade e Pobreza em uma Perspectiva