• Nenhum resultado encontrado

3.5. Alternativas Políticas para o Controle dos Efeitos dos Choques

3.5.1. Políticas Macroeconômicas

O ideal para se proteger a população de uma economia de choques recessivos é a administração de uma estrutura macroeconômica capaz de fazer com que esses ciclos negativos sejam evitados. Por exemplo, é sabido que a volatilidade dos fluxos internacionais de capitais tende a provocar bolhas especulativas e instabilidades de expectativas nas economias de sistema financeiro mais fraco e de pior regulação. Por isso, é recomendável a adoção de políticas que fortaleçam os sistemas financeiros nacionais e que proporcionem credibilidade às instituições econômicas de cada país, principalmente mediante o equilíbrio contínuo da balança de pagamentos. Lustig (2000) apresenta uma série de propostas para políticas macroeconômicas com o objetivo de proteger a população, particularmente as pessoas mais pobres, dos efeitos dos ciclos econômicos.

Em primeiro lugar, em relação à política cambial, a autora recomenda a adoção de taxas flutuantes, as quais permite um ajuste da economia doméstica mais rápido e menos custoso em termos de recessão e desemprego frente a choques externos50. Além disso, em economias em que o mercado de trabalho é rígido, principalmente em termos de inflexibilidade de salários nominais, o ajuste de mercado frente ao choque negativo se dá com mais vigor nas quantidades (nível de emprego e de produto, principalmente), do que nos preços, de modo que a manutenção de taxas de câmbio fixas pode potencializar esse efeito. Contudo, as taxas de câmbio flutuantes possibilitam que os governos permitam descontrole monetário, sob a forma de taxas de inflação relativamente mais elevadas. Isso ao mesmo tempo prejudica a população mais pobre, excluída dos instrumentos de proteção financeira, e leva à perda de credibilidade do país frente aos agentes investidores internacionais, o que, no longo prazo, pode tornar a economia nacional mais vulnerável a novos choques externos. Por isso, a autora recomenda a implantação de controles institucionais sobre políticas monetárias e fiscais, como, por exemplo, a independência dos bancos centrais, a definição das diretrizes orçamentárias nacionais de maneira centralizada em ministérios apropriados, evitando a captura dessas políticas por interesses oportunistas no poder Legislativo, e a busca de maior transparência do gasto público e do processo fiscal em cada país.

50

Em uma economia com taxas de câmbio fixas, choques externos negativos que criam uma expectativa de desvalorização da moeda nacional faz com que os agentes retirem suas aplicações do país, para não sofrerem perdas de rendimentos. Isso provoca uma fuga de capitais do país, e faz com que governo execute uma política monetária restritiva, comprando títulos e pressionando os juros internos para cima, com o objetivo de manter o valor da moeda doméstica. Contudo, o efeito sobre os juros comprime a demanda agregada interna, restringindo o crédito para consumo e investimentos, o que exerce um efeito recessivo sobre a economia doméstica.

Em segundo lugar, em relação à política financeira, a autora reconhece que os países subdesenvolvidos costumam apresentar mercados financeiros mais vulneráveis, que produzem ineficiências em relação à alocação de capital, na forma de bolhas especulativas, comportamento de manada por parte dos investidores, problemas de informação generalizados e baixa credibilidade frente ao público. Assim, quando essas economias permitem demasiada liberdade a fluxos de capitais internacionais, pode haver um problema de sobre- endividamento externo por parte do sistema financeiro doméstico, causado em função das falhas de mercado já descritas, criando uma tendência a crises financeiras sistêmicas crônicas nesses países. Por isso, enquanto as economias não forem capazes de criar fortes instituições de organização financeira, é melhor que seus governos controlem as entradas de capital externo de curto prazo.

Uma outra explicação para a vulnerabilidade e fragilidade dos sistemas financeiros dos países subdesenvolvidos é a teoria do ciclo reverso, apresentada por Resende & Amado (2007). Segundo essa hipótese, as deficiências na estrutura produtivo e no sistema financeiro dos países subdesenvolvidos, tais como a falta de mecanismos de financiamento de investimentos de longo prazo, fazem com que os seus ciclos de crescimento dependam de divisas externas. Contudo, o mercado internacional de crédito é concentrado em países subdesenvolvidos e opera sobre condições de elevada incerteza, de modo que, em momentos de maior preferência pela liquidez, como em conseqüência de expectativas mais desfavoráveis para o futuro, tende a ocorrer corte de linhas de crédito para investimentos nos países de maior risco, isto é, países subdesenvolvidos. A instabilidade nos mercados financeiros internacionais torna-se um fator que limita o ciclo de crescimento dos países subdesenvolvimentos, isto é, produz um ciclo reverso.

Além disso, é recomendável a adoção de uma política fiscal contra-cíclica, isto é, executada com o objetivo de contrabalançar o impacto de choques recessivos na economia. Para que isso seja possível, é imprescindível que os governos sejam dotados de um processo de decisão fiscal transparente e ágil, e com reputação favorável em relação a sua responsabilidade frente aos agentes econômicos. Lustig (2000) recomenda a criação de fundos de estabilização, criados pela poupança de recursos públicos nos períodos de crescimento econômico acelerado, e usa esses recursos para suavizar os ciclos de negócios, elevando seus gastos durante as recessões, e poupando durante as expansões mais intensas. Esse fundo deve ser composto por recursos acumulados na forma de títulos estrangeiros de alta liquidez, cujo

valor nominal é estável ao longo do tempo, e com disponibilidade imediata pelos governos, quando for preciso. A autora destaca a importância de que a utilização dos recursos do fundo seja de acordo com regras institucionais definidas pelo poder Legislativo, evitando o seu controle discricionário por parte de governos oportunistas.

Em relação aos períodos em que o choque recessivo já está instalado, a bibliografia, como Ravallion (2004), sugere que se faça uma administração macroeconômica pró-pobre das crises, pela escolha de políticas de ajuste que visem o retorno ao equilíbrio econômico o mais depressa possível e que não penalize demasiadamente os mais pobres, principalmente pela seleção do ajuste fiscal. Segundo Lustig (2000), o impacto das políticas de ajuste macroeconômico frente a choques recessivos prejudica com maior ou menor intensidade a população pobre de acordo com três fatores. Em primeiro lugar, das condições iniciais da economia. Em segundo lugar, na natureza intrínseca do choque, isto é, quais setores da economia são mais afetados pelo ciclo. Terceiro, por fim, do tipo de políticas de ajuste adotadas51. O ajuste fiscal envolvido no processo deve igualmente manter um viés pró-pobre, evitando a inclusão de cortes de gastos que beneficiam preponderantemente as famílias mais pobres da sociedade, como em relação à educação básica, a serviços de saúde preventiva e a obras de infra-estrutura relativas ao acesso à água, saneamento e urbanização.

Tobin (1993) é mais flexível em relação à administração macroeconômica de choques recessivos. Pensando em uma economia desenvolvida, menos vulnerável a crises de credibilidade e de instabilidade financeira, o autor sugere que o estímulo macroeconômico em termos de políticas fiscal e monetária expansionistas é positivo em momentos de desemprego elevado. Para o autor, em momentos de elevadas taxas de desemprego, os salários nominais tendem a se tornar rígidos, de modo que o crescimento da demanda agregada não tenha viés inflacionário. Por outro lado, a criação de demanda efetiva por políticas macroeconômicas expansionistas gera crescimento no nível de emprego no curto prazo. Para que se gere permanentemente novos empregos, pensando numa perspectiva de longo prazo, é necessário que ocorra investimentos governamentais em infra-estrutura, políticas de educação e de treinamento para os trabalhadores menos qualificados, e medidas para o fortalecimento das instituições econômicas do país.

51

Segundo Lustig (2000), apesar dos efeitos recessivos das políticas de ajuste macroeconômico frente a choques, a perda de bem-estar ainda tende a ser maior caso os governos não venham a adotá-las.