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Com o objetivo de estudar os efeitos do hábito parafuncional de bruxismo sobre os indivíduos, em 1977, Glaros & Rao realizaram uma extensa revisão da literatura. Estes efeitos foram divididos em: 1) efeitos sobre a dentição; 2) sobre o periodonto; 3) sobre os músculos mastigatórios; 4) sobre a articulação temporomandibular; 5) sobre a dor de cabeça e 6) sobre o comportamento psicológico. Os autores puderam concluir que os estudos revisados indicavam uma variedade de efeitos individuais e que estes variavam de suaves a severos. Consideraram ainda que tanto pesquisadores quanto clínicos deveriam assumir a correlação positiva entre bruxismo e os efeitos estudados. No entanto ressalvaram a necessidade de mais estudos a respeito.

Em 1988, Rugh & Harlan realizaram uma revisão de literatura enfocando a natureza do bruxismo noturno, seus efeitos, teorias etiológicas, formas de diagnóstico e estratégias de tratamento. Segundo os autores, o bruxismo é uma desordem do sono induzida centralmente, mediada ou iniciada comumente pelo estresse emocional diurno e estando quase sempre associada a uma resposta estimuladora durante o sono. Consideram ainda que a obtenção de uma estimativa real de pacientes bruxistas é extremamente difícil, pois, na maioria das pessoas, o bruxismo ocorre durante o sono e em geral o paciente não está ciente do seu hábito, sendo, em alguns casos, informado

que range os dentes por familiares. A predominância do bruxismo situa-se na faixa etária de dezenove a 45 anos. Os autores acreditam que a maioria das pessoas tem alguma vez na sua vida alguns episódios suaves de bruxismo. Contudo, somente 5% dos bruxistas se estendem para a patologia. Quanto aos sintomas, os autores colocam que a maioria dos pacientes bruxistas apresenta mínimo desgaste dentário e, periodicamente, elevação da rigidez dos músculos mastigatórios. Entretanto, os 5% da população com prolongado e intenso bruxismo noturno podem apresentar severos desgastes dentaários, dores musculares, cansaço ao acordar, travamento da mandíbula e limitação dos movimentos mandibulares, podendo ainda comprometer a articulação temporomandibular, provocando estalidos devido ao deslocamento do disco articular ou remodelação da ATM. Em relação ao diagnóstico, consideram que as facetas de desgaste dos dentes visualizadas no modelo de gesso se constituem na melhor forma de reconhecimento do bruxismo. No que diz respeito ao tratamento, acreditam que não existe, absolutamente, cura para o bruxismo, entretanto, muitas estratégias estão disponíveis para limitar seus efeitos adversos. As abordagens mais utilizadas e efetivas, a longo prazo, incluem os programas de controle do estresse e placas interoclusais para proteger os dentes e o sistema mastigatório.

Devido às controvérsias existentes na literatura com relação ao papel do bruxismo na etiologia das Desordens temporomandibulares, Lobbezoo & Lavigne (1997) revisaram a literatura pertinente ao assunto. Os autores concluíram que é extremamente difícil estabelecer uma relação de causa e efeito entre DTM e bruxismo devido o grande número de influencias envolvidas. Consideraram que uma simples relação causal direta resultaria numa incompleta descrição da etiologia da DTM, pois uma idéia comum, é a de que o bruxismo leva a sinais de sintomas característicos de um ou mais subtipos de DTMs. Em adição os autores sugerem a utilização da polissonografia como um critério para diferenciar o bruxismo da normalidade, desde que o bruxismo relacionado ao sono seja discriminado de sua variante diurna.

Em 1997, Attanasio realizou um levantamento bibliográfico sobre o bruxismo focalizando aspectos epidemiológicos, etiologias, assim como formas de diagnóstico e tratamento. Segundo o autor, a atividade bruxista é a mais destrutiva dentre todas as desordens do sistema mastigatório, podendo ocorrer em até 90% da população. Além

disso, verificou que a maior incidência ocorre entre a adolescência e os 40 anos de idade, diminuindo posteriormente com o avanço da idade. Segundo o autor, a determinação da prevalência do bruxismo é difícil pelo fato de a maioria dos indivíduos não estar ciente desse hábito. Quanto à etiologia, relata que ainda há controvérsias entre os autores. Acredita que o bruxismo pode ocorrer em intervalos variáveis para cada indivíduo, dependendo de períodos de estresse emocional ou físico experimentados pelo paciente, assim como do “estresse antecipado” (estresse que ocorre anteriormente ao evento estressor), podendo ser agravado pelo consumo de álcool bem como de alguns tipos de medicamentos. O bruxismo tem sido associado ainda a desordens do sono e a distúrbios no sistema nervoso central. Desse modo, conclui que o bruxismo tem origem multifatorial. O autor enfatiza a necessidade de diferenciação entre o padrão de desgaste causado pela atrição durante a mastigação normal daquela oriunda do ranger de dentes durante o bruxismo. A mastigação normal reflete padrão de desgaste caracterizado por facetas em dentes antagônicos que não se alinham, já o padrão de desgaste que o paciente mantém durante o ranger dos dentes reflete o alinhamento das facetas de desgaste entre os dentes superiores e inferiores. Outra indicação da presença de bruxismo é a percepção de sensibilidade dolorosa ou fadiga nos músculos mastigatórios ao despertar.

Neste mesmo ano Kampe et al. apresentaram parte de um estudo clínico, psicológico e fisiológico, com indivíduos bruxistas há 5 anos. O objetivo deste trabalho, foi descrever um grupo de bruxistas crônicos através das seguintes variáveis: 1) saúde geral; 2) sinais e sintomas de DCM: localização, intensidade, e duração dos sintomas; estado dental; 3) ocorrência e freqüência de hábitos parafuncionais; 4) diferenças dos sintomas de DCM entre os indivíduos que rangem ou não os dentes; 5) correlações entre o Índice de Disfunção Anamnésico (Ai), Índice de Disfunção Clínica (Di), ranger de dentes, apertamento dental e todas as variáveis clínicas e anamnésicas. Foram selecionados 29 indivíduos bruxistas, confirmado pela constatação de sons de ranger noturno de dentes relatado por outros, hipertrofia dos músculos masseter, desgaste oclusal excessivo e dor nos músculos mastigatórios e ATM, com idade entre 23 e 68 anos. Todos responderam a questionário e foram examinados clinicamente sobre parafunções orais, dores no pescoço, costa e ombros, dores de cabeça; tipo, intensidade, freqüência, posição e duração dos sintomas; história médica e medicação. Destes, 55% manifestaram sintomatologia diária.

Os sintomas mais comuns foram dor na face ou articulação (48%) e a rigidez mandibular pela manhã (44%). Os sinais clínicos mais prevalentes foram sensibilidade à palpação muscular (76%), ruídos articulares (55%) e sensibilidade articular à palpação lateral (66%). Os resultados demonstraram correlações significativas entre indivíduos bruxistas e sinais e sintomas de DCM; entretanto, os autores são cuidadosos quanto a generalizar suas conclusões em função do número reduzido da amostra.

Em 2000, Gavish et al. investigaram a prevalência e inter-relação de várias atividades parafuncionais e verificaram suas associações e contribuição para a presença de vários sinais e sintomas de DTM. Foram avaliados 248 indivíduos do sexo feminino, com quinze a dezesseis anos, que responderam a questionário com relação aos seguintes sintomas: ruídos articulares, dificuldade de abertura bucal, travamento da mandíbula, dor articular, limitação da abertura bucal, tensão muscular, e aspectos semelhantes na família, além de hábitos orais como apertamento e bruxismo diurno (freqüência/dia), bruxismo e apertamento noturno (freqüência/dia) e “jogar a mandíbula” (realizar movimentos não funcionais sem contato dos dentes). O exame clínico constou de máxima abertura bucal (1,2% com menos de 40mm e 19,2% mais de 60mm), ruídos articulares em abertura e fechamento bucal (clicks em 37,7% e crepitação em 1,2%), sensibilidade dolorosa à palpação das ATMs (35,1%), presença de facetas de desgaste nos caninos(em esmalte 38,4%; esmalte e dentina 18,4%), mucosa jugal marcada (9%), presença de edentações na lateral da língua e sensibilidade moderada a palpação muscular(23,4%). Os autores puderam concluir que mascar chicletes foi o hábito de maior prevalência entre os voluntários (odor, prazer e relaxamento), sendo associado à sensibilidade muscular e ruídos articulares. O “jogar com a mandíbula” foi associado aos distúrbios articulares. Com relação ao bruxismo, foi observada uma prevalência diurna de 22%, e noturna de 12,7% A associação entre bruxismo e sensibilidade muscular à palpação e distúrbios da articulação não foi significante. No entanto foi encontrada uma significante associação (p<0,001) entre bruxismo diurno e bruxismo noturno relatado.

Lobbezoo & Naeije, em 2001, realizaram uma revisão da literatura enfocando a etiologia do bruxismo, com o objetivo de estabelecer quais fatores etiológicos poderiam ser relacionados a essa desordem. Segundo os autores, todos os estudos designaram o

bruxismo como um fenômeno controverso com etiologia multifatorial, complexa e de difícil interpretação e comprovação. Os fatores etiológicos considerados na literatura foram de origem periférica (morfológicos) e de origem central (patofisiológicos e psicológicos). Fatores morfológicos, como oclusão mutilada, interferências oclusais e desarmonias articulares e anatômicas, foram considerados durante muito tempo, como os mais importantes para o início e perpetuação desta parafunção. Contudo, atualmente acredita- se que esses fatores desempenham um papel muito pequeno, na etiologia do bruxismo. Recentemente este, tem sido relacionado aos fatores patofisiológicos, tais como: distúrbios do sono e alterações químicas cerebrais. Credita-se também à utilização de certos medicamentos, drogas, fumo e o consumo excessivo de álcool envolvimento na etiologia do bruxismo. Tem sido sugerido que o estresse e certas características de personalidade (tais como ansiedade) desempenhem um importante papel na iniciação e perpetuação do bruxismo. Com base nos estudos avaliados, os autores concluíram que o bruxismo seria mediado principalmente por fatores de origem central, isto é, fatores patofisiológicos e psicológicos.

Winocur et al, em 2001, se propuseram a avaliar a contribuição de algumas atividades parafunçionais para a presença de sintomas de DTM em adolescentes, com ênfase especial no hábito de mascar chicletes e “jogo mandibular”. Foi utilizada uma amostra de 323 voluntárias com idades entre quinze e dezesseis anos. Todas responderam a questionário quanto a: 1) hábitos orais diários como: mascar chicletes, morder objetos, morder cravo, roer unha, morder a língua ou lábios, jogo mandibular e mastigar apenas de um lado; 2) sintomas de DTM; 3) sintomas associados com bruxismo noturno como: dor muscular ao despertar, dor de cabeça matinal. O hábito de mascar chicletes foi relatado por 62,4% das adolescentes. Uma associação significativa foi verificada entre o “jogo mandibular” e a dor na área dos ouvidos, cansaço mandibular durante a mastigação, morder tecidos bucais, roer unhas, apoiar a cabeça no antebraço, ruídos nas articulações e travamento mandibular. Baseados nestes resultados os autores colocaram que estas atividades parafuncionais poderiam ser chamadas de “hiperatividade mandibular”, onde algum tipo de parafunção precisaria ser constantemente realizado, e que o “jogo mandibular” seria um hábito prejudicial, associado de maneira significativa aos sintomas de DTM.

Ainda em 2001, Ciancaglini et al. investigaram a relação do bruxismo com dor craniofacial e sintomatologia no sistema mastigatório em uma amostra de 438 voluntários adultos, com idades entre dezoito e 75 anos. Os voluntários foram entrevistados por meio de questionário sobre suas condições orais, sintomas de distúrbios mastigatórios, dor craniofacial e no pescoço. Os autores observaram uma prevalência de bruxismo de 31,4%. O bruxismo apresentou uma associação com dificuldade na abertura e fechamento da boca, ruídos na articulação temporomandibular, dor craniofacial, sensibilidade dolorosa na movimentação mandibular, rigidez ou fadiga mandibular e dor no pescoço, na análise de uma só variável. Os autores levantaram a hipótese de que muitos mecanismos podem induzir à dor craniofacial e disfunção temporomandibular; o bruxismo, induzindo a uma prolongada estimulação da atividade mecânica e neuromuscular no sistema mastigatório, teria lugar no rol das patogêneses que influenciariam as dores faciais e disfunções temporomandibulares.

Com o intuito de verificar a prevalência e os fatores de risco associados ao bruxismo, Ohayon et al., em 2001, entrevistaram por telefone 13.057 indivíduos em três diferentes países com faixa etária entre 15 e 100 anos de idade (4.972 indivíduos do Reino Unido, 4.115 indivíduos da Alemanha e 3.970 na Itália). A presença de bruxismo foi avaliada segundo os critérios da ASDA: 1) ocorrência de rangimento dos dentes durante o sono e; 2) presença de pelo menos um dos seguintes sinais: desgaste anormal dos dentes, desconforto nos músculos mandibulares e sons associados ao ranger de dentes. O bruxismo durante o sono foi estudado em relação às quatro principais classes de variáveis: 1) informações sociodemográficas; 2) outras variáveis do sono (por exemplo horário sono/vigília, ronco, fala durante o sono, sonolência durante o dia); 3) uso de substâncias psicoativas e; 4) variáveis psicológicas ou psiquiátricas. Os resultados apresentaram uma prevalência de bruxismo em 8,2% da amostra (1.059 indivíduos), sendo que, destes, 54,4% (568 indivíduos) preencheram os critérios da ASDA, enquanto que 3,8% da amostra, ou seja, 491 indivíduos apresentaram ranger de dentes durante o sono, mas sem a presença dos demais fatores associados (desgaste anormal dos dentes, desconforto nos músculos mandibulares e sons associados ao ranger de dentes). O estudo conclui que o bruxismo é muito comum na população geral, diminui com a idade, e a maior prevalência

Neste trabalho, Amemori et al. (2001) apresentaram um novo sistema para mensurar os movimentos mandibulares noturnos em três dimensões usando PIN (sensor foto-diodo), integrado com o polissonógrafo, incluindo a eletromiografia (EMG), eletroencefalografia (EEG) e eletrooculografia (EOG). Este sistema foi aplicado também para investigar a influência do bruxismo noturno no sistema estomatognático. Três indivíduos entre 26 e 32 anos de idade (dois do sexo feminino e um do sexo masculino) participaram deste estudo piloto. Dois deles relataram o hábito de bruxismo (segundo os critérios da ASDA) e um indivíduo não relatou os sintomas de bruxismo ao ser questionado mas apresentava alguns sintomas de DTM, como sensibilidade na musculatura pela manhã, que sugere o hábito de apertamento dentário durante o sono. Todos os indivíduos foram avaliados em laboratório do sono por uma noite. Os autores consideraram este método indicado para avaliação, devido a grande sensibilidade e pequena dimensão do sensor, a ausência de interferências entre os sinais (EMG), e a possibilidade de detectar os movimentos mandibulares sem interferir na oclusão normal do indivíduo. Para análise dos resultados, um evento foi caracterizado como bruxismo quando apresentou atividade EMG 5% acima da contração voluntária máxima (CVM) , e o movimento mandibular para cada evento foi classificado de acordo com três padrões: apertamento, ranger de dentes e misto. A freqüência e duração dos eventos foram: 4,5-10,9 e 47,8-174,9 sh-1

respectivamente. O bruxismo tipo apertamento foi o mais freqüente nos três indivíduos e as atividades EMG durante o apertamento foram mais intensas que o ranger de dentes.

Carlsson et al. (2003) testaram a hipótese de que o bruxismo e outras parafunções orais na infância seriam identificados como prognosticadores de bruxismo, outras parafunções orais e desgaste dentário após 20 anos. Para tanto retomaram a amostra de 402 indivíduos selecionados com 7, 11 e 15 anos, 20 anos após o exame inicial. Foram contatados 378 indivíduos (94%) do grupo original, com 27, 31 e 35 anos quando da realização deste trabalho. A todos foi enviado questionário, com retorno de 85%. Cem indivíduos do grupo com 35 anos, (81%), foram examinados clinicamente quanto à função e disfunção do sistema mastigatório. O questionário incluiu perguntas sobre a presença de sintomas no sistema mastigatório, dores de cabeça, estresse, depressão, parafunção oral, trauma prévio no rosto, tratamento da DTM neste período e necessidade atual de tratamento. No exame clínico foram avaliados: extensão dos

movimentos mandibulares, deflexão em abertura e fechamento bucal, ruídos articulares, travamento ou luxação, dor nos movimentos mandibulares, dor muscular ou na ATM à palpação, dentes inclusos, características e grau de desgaste oclusal. Os resultados sugeriram uma possibilidade de 3 vezes da presença de bruxismo no primeiro exame se confirmar após 20 anos. Os autores estabeleceram as seguintes conclusões: 1) relatos de bruxismo, travamento dentário, ranger de dentes, roer unhas e/outras parafunções na infância foram prognosticadores das mesmas parafunções orais 20 anos após. Sugerindo que as parafunções orais poderiam ser um traço persistente em muitos indivíduos; 2) os prognosticadores de dois componentes do bruxismo, travamento dentário diurno e ranger de dentes noturno, não foram os mesmos, o que apóia a hipóteses de que estas duas parafunções oclusais possam ser entidades diferentes; 3) a oclusão Classe II de Angle e o desgaste dentário na infância previram um desgaste dentário maior na fase adulta; e 4) a interferência do lado não funcional reduziu o risco de desgaste dentáriol extensivo de dentes anteriores nos 100 indivíduos de 35 anos de idade.

3 PROPOSIÇÃO

Foi propósito deste estudo avaliar em fichas de arquivos, oriundas de amostra de universitários selecionados na Faculdade de Odontologia do Centro Universitário Hermínio Ometto:

1) A prevalência de desordens temporomandibulares;

2) A existência de associação entre DTM e presença de Interferências Oclusais, Bruxismo, Hipermobilidade Articular, Ruídos Articulares e Tratamento Ortodôntico.

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