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DESPERDÍCIO

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1 FATOS E FUNDAMENTOS TÉCNICO-JURÍDICOS SOBRE A ÁGUA E SUA GESTÃO

1.2 DESPERDÍCIO

A ilusória abastança de água no Brasil e no mundo tem dado guarida ao desperdício. O nítido é uma poluição desordenada e a ausência de investimentos necessários para despoluição de mananciais, bem como para a conscientização política e educacional do verdadeiro conceito de água. Infelizmente, este líquido ainda é considerado pela maioria da população mundial como um bem livre, abundante e sem valor econômico.

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Disponível em <http://www.tratabrasil.org.br/novo_site/cms/templates/trata_brasil/util/pesquisa7/pesquisa7 .pdf> Acesso em 14 nov 2010.

Com relação à seara urbana, o consumo diário médio de água por pessoa nos grandes centros urbanos brasileiros oscila entre 250 a 400 litros. O volume é mais que o dobro do considerado ideal pela ONU, fixado em 110 litros/dia32.

O Brasil também detém o recorde negativo de desperdício de água por habitante em termos globais. Mais de 50% da água tratada é desperdiçada em capitais como Porto Velho, Macapá, Teresina, São Luis, Maceió, Manaus e Rio de Janeiro33.

Ademais, localiza-se no Brasil o bairro recordista mundial em uso de água por habitante. Trata-se do Setor Lago Sul, região nobre de Brasília, Distrito Federal. De acordo com a Agência Brasil, o gasto médio de água por pessoa no bairro chega a 1.000 litros por dia, enquanto em algumas regiões africanas a média diária pode chegar a menos de 1 litro34.

Sobre a situação das águas no Brasil, Aldo da C. Rebouças tece os seguintes comentários:

O país é dotado, também, de uma vasta e densa rede de drenagem que nunca seca sobre mais de 90% do território nacional, engendrando, certamente, a idéia de abundância de água no Brasil. Como corolário, sempre foi considerado um luxo, no Brasil, tratar esgotos antes de lançá-los nos rios. Entretanto, a Organização Mundial de Saúde (OMS), verifica que o investimento de cada um dólar em saneamento básico, significa uma redução de quatro a cinco dólares nas despesas hospitalares. Por outro lado, em decorrência do relevo, predominam os rios de planalto, que apresentam em seus leitos rupturas de declive, vales encaixados, entre outras características que lhe conferem um alto potencial para a geração de energia elétrica. Desta forma, apesar do Código Nacional de Águas, de 1934, ser constituído de três livros, apenas o de número III, que trata do potencial hidrelétrico dos rios, foi regulamentado. Neste quadro, o uso múltiplo da gota de água disponível continua sendo um grande desafio à lógica das grandes obras. Como corolário, no Brasil, os dados do último censo (IBGE, 2000) mostram que, da população de quase 170 milhões de pessoas, perto de 138 milhões vivem nas cidades. Todavia, cerca de 64% das nossas empresas de água não coletam os esgotos domésticos e 110 milhões de brasileiros não têm esgoto tratado. Os mais pobres desse grupo, em torno de 11 milhões, não têm sequer acesso à água limpa para beber. Enquanto isso, os índices de perdas totais da água tratada e injetada nas redes de distribuição das cidades variam de 40% a 60% no Brasil, contra 5% a 15% nos países desenvolvidos. Além disso, mais de 40 milhões de brasileiros não recebem água de forma regular, não podem confiar na qualidade da água que chega nas suas torneiras e vivem num penoso regime de rodízio ou de fornecimento muito irregular da água. Essa situação vexatória ocorre em um país cuja disponibilidade média de água nos rios que nunca secam está na casa dos 34 mil m3/hab/ano, o que coloca o Brasil, como membro das Nações Unidas, na classe dos países ricos de água doce do mundo. Além disso, deve-se considerar a possibilidade de utilização de 25% da contribuição dos fluxos subterrâneos que deságuam nos rios, o que corresponde a quase 4 mil m3/hab/ano. Porém, o que mais preocupa nessa situação é que este drama sanitário nas cidades do Brasil não tem merecido a devida atenção das autoridades constituídas – Executivo, Legislativo, Judiciário – ou dos partidos políticos. É constrangedor verificar que os problemas de saneamento básico nas cidades do porte de Manaus,

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Disponível em <http://correiodobrasil.com.br/desperdicio-de-agua-no-brasil-e-recorde/148403/> Acesso em 04 jul 2010.

33

Disponível em <http://www.tratabrasil.org.br/novo_site/?id=6747> Acesso em 01 fev 2010.

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Santarém e Belém, situadas nas regiões hidrográficas do Amazonas/Tocantins (onde estão perto de 80% das descargas de águas dos rios do Brasil) pouco diferem daqueles encontrados no semi-árido do Nordeste (Fortaleza), na zona úmida costeira do Nordeste (Recife), na região Sudeste (São Paulo) ou na região Sul (Porto Alegre), por exemplo. Além disso, embora a falta de saneamento básico constitua uma das grandes questões de saúde pública no Brasil, a inércia tradicional no desenvolvimento de políticas públicas integradas – águas que fluem nos rios, águas subterrâneas e reúso de águas, principalmente – tende a agravar ainda mais o problema. 35

Com relação à agricultura e como aduzido em linhas volvidas, estima-se que 73% do consumo de água no Brasil seja oriundo desta atividade econômica, sendo que tal porcentagem pode aumentar em razão da má utilização ou não-utilização de técnicas de irrigação adequadas.

De acordo com Manuel Alves Filho a agricultura tem grande peso no consumo de água:

A agricultura irrigada tem sido apontada como uma das grandes vilãs do desperdício de água no Brasil. O manejo inadequado por parte de agricultores tem levado ao consumo exagerado desse recurso natural. Não por outra razão, alguns estados, entre eles São Paulo, criaram nos últimos anos legislações impondo a cobrança pelo uso da água na irrigação, bem como em outras atividades produtivas, como forma de combater abusos. 36

Embora seja a maior responsável pelo desperdício, haja vista que se estime que cerca de 60% da água destinada à agricultura seja perdida, a realidade no Brasil acerca deste assunto é temerária também em razão de outros maus usos que levam a crer estarem ligados à cultura do brasileiro.

De acordo com o IBGE (2000), são desperdiçados 20% dos alimentos (desde a colheita até a mesa da comunidade) e 50% da água tratada. Com relação à energia elétrica, os brasileiros desperdiçam meia produção anual de Itaipu ou 9,5% da média total anual. Como exemplo de desperdício está o uso irracional de aparelhos elétricos e luzes acesas desnecessariamente37. Além disso, existem as perdas decorrentes da deficiência técnica e administrativa dos serviços de abastecimento de água, provocadas, por exemplo, por vazamentos e rompimentos de redes e tantos outros tipos de ações que ensejam a compreensão de que o desconhecimento e a falta de orientação da população têm sua enorme parcela de culpa no desperdício detectado no País.

35

REBOUÇAS, Aldo da C.. 2003, p. 342.

36

ALVES FILHO, Manuel. 2007, p. 4.

37

Disponível em <http://www.terrabrasil.org.br/noticias/materias/pnt_problemasamb.htm> Acesso em 04 jul 2010.

Por fim, como não é possível citar todos os exemplos gritantes de desperdício de água no território brasileiro e no mundo, encerra-se este tópico aduzindo que, infelizmente, de acordo com a Rede das Águas, no Brasil, o gasto desnecessário com a água tem chegado a 70% do consumido38.

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