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USUÁRIOS SUJEITOS À COBRANÇA

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2 COBRANÇA PELO DIREITO DE USO DA ÁGUA: SOLUÇÃO PARA A GESTÃO SUSTENTÁVEL DO RECURSO?

2.5. USUÁRIOS SUJEITOS À COBRANÇA

Os principais usuários sujeitos ao pagamento pelo uso da água são as companhias de saneamento, a indústria e o irrigador.

Empresas de saneamento e abastecimento público são usuários de consumo bastante expressivo e aos quais corresponde o maior montante arrecadado pelo uso da água.

O usuário industrial é o que configura como aquele que tende a ser o maior poluidor, pois suas descargas de resíduos sólidos e efluentes comprometem a qualidade das águas. Veja o que diz Maria Luiza Machado Granziera:

A indústria utiliza os recursos hídricos de várias formas, em seus processos produtivos: uso consuntivo, em que há consumo da água na própria produção, com pequeno retorno, como é o caso da indústria de bebidas; para o resfriamento de máquinas, em que a água é devolvida praticamente na mesma quantidade captada, porém em temperatura diferente daquela em que houve a captação, e também para a diluição de efluentes, que devem respeitar os padrões de lançamento estabelecidos.131

Quando uma indústria lança seus esgotos132 em determinado rio ou lago sem o devido tratamento, pode ocorrer poluição em níveis tais que dificultem ou impeçam o uso por outros usuários da mesma fonte hídrica.

financiar todos os projetos e obras – nem poderiam, pois esse não seria o objetivo fundamental da cobrança -, pode contribuir para a melhoria da qualidade dos recursos hídricos”.

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GRANZIERA, Maria Luiza Machado. 2006, p. 134.

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Ainda em consonância com as considerações de Maria Luiza Machado Granziera (2006, p. 127/128), “os esgotos lançados in natura nos corpos hídricos têm sido fonte de preocupação da sociedade, dos governos e do Ministério Público. Essa questão chegou a suscitar a indagação acerca da competência do Poder Judiciário para determinar à Administração Pública, titular dos serviços, a tomada de medidas de caráter essencialmente administrativo, sem ferir o princípio da independência dos poderes. Parece não haver dúvida de que ‘o lançamento de esgotos domésticos nos cursos d’água sem prévio tratamento e desconforme os padrões legalmente estabelecidos é atividade poluidora porque degrada a qualidade do bem objeto da tutela legal, lança matéria em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos, deteriora a qualidade de recursos ambientais e prejudica o bem-estar da população’. A matéria assume maior interesse tomando-se como exemplo o Estado de São Paulo, cuja Constituição Estadual de 1989 veda, no art. 208, ‘o lançamento de efluentes e esgotos urbanos e industriais, sem o devido tratamento, em qualquer corpo d’água, sendo que o Decreto nº 8.468/76, que

Assim, a cobrança deve incidir sobre cada metro cúbico de água reservado no corpo hídrico, para atender à demanda de um usuário, quais sejam para captação, consumo, diluição de efluentes e até para outros usos aparentemente inofensivos, como geração de energia hidroelétrica ou navegação.

No caso do Brasil, já se vislumbra a preocupação de empresas com a questão da escassez da água. No Primeiro Fórum Brasileiro sobre Água, organizado pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), em 05.12.2006, São Paulo, representantes de empresas, governo e sociedade civil discutiram sobre proteção e gestão dos recursos hídricos.

Neste evento, chegou-se a quatro desafios na gestão das águas. Veja o que diz Vladimir Passos de Freitas:

... os quatro grandes desafios na gestão dos recursos hídricos feita pelas empresas são: competição pelo uso da água; desenvolvimento de novas formas de reciclar seus insumos; demanda de investimento em novas tecnologias e em processos operacionais que reduzam o consumo por unidade de produção e garantam a qualidade da água e aumento no custo de operações comerciais133

No que pese a importância de se superar estes desafios, a cobrança pelo uso dos recursos hídricos feitas às indústrias é fundamental e é ferramenta indispensável na busca por mitigação da poluição e uso racional das águas.

Com relação à atividade agrícola, se não for conduzida dentro dos padrões de proteção do solo e das águas, é um fator considerável de degradação ambiental, pela escassez da água que pode provocar, pela poluição hídrica ocasionada pelo emprego de agrotóxicos e pela erosão.

A produção agrícola abastece de alimentos os grandes centros urbanos e pela quantidade de água consumida e desperdiçada para tal deve participar ativamente dos processos de gerenciamento das águas134.

regulamenta a Lei nº 997/76, estabelece padrões de qualidade e de lançamento de efluentes nos corpos hídricos e na rede de esgotos. A norma é competente e não gera dúvida quanto ao fato de o lançamento de efluentes poluir as águas. Os serviços de saneamento são prestados por empresas estaduais, concessionárias de serviços públicos de saneamento, controladas pelo poder público de águas. De forma pouco expressiva, há empresas particulares, concessionárias dos serviços, cujos contratos de concessão encontram-se sob a égide das Leis nºs 8.987/95 e 9.074/95, que regulamentaram o art. 175 da Constituição Federal e da Lei nº 11.079, de 30-12-04, que institui normas gerais para licitação e contratação de parceria público-privada no âmbito da administração pública. Considerando inicialmente os serviços prestados pelo poder público, tem-se que à Administração Pública cabe tomar as medidas necessárias a garantir a salubridade e a proteção ambiental. Quanto isso não ocorre, o Ministério Público, busca no Judiciário um remédio para essa ação ou omissão”.

133

FREITAS, Vladimir Passos de. 2008, p. 23.

134

Como ensina Maria Luiza Machado Granziera (2006, p. 132), “a Política Nacional de Irrigação foi fixada por meio da Lei nº 6.662, de 25-6-79, alterada pela Lei nº 8.657, de 21-5-93 e regulamentada pelo Decreto nº 89.496,

Todavia, os pequenos e micros agricultores que não se encaixarem como sujeitos passíveis de isenção da cobrança em razão de incidência de uso insignificante devem ser protegidos de uma cobrança incompatível com sua frágil realidade financeira.

Neste caso, o Poder Público pode criar uma contrapartida do ponto de vista ecológico, ou seja, ajudar financeiramente na implementação de técnicas de irrigação que visem a economia da água. Além disso, pode incentivar os agricultores a participarem de eventos que discorram sobre os perigos do lançamento de agrotóxicos nas águas, bem como alertar a respeito de futura escassez, concomitantemente às palestras que disponham sobre o manejo correto dos novos sistemas de irrigação.

Desta forma, o objetivo da cobrança pelo uso da água será alcançado e o pequeno agricultor não será sacrificado. Pelo contrário, tal procedimento ensejará a aquisição de aparelhagem que evitará o desperdício no processo de irrigação e poderá até mesmo aumentar a produção, tendo em vista que a utilização de aparelhos rústicos nem sempre consegue corresponder às expectativas do produtor.

Assim, o pequeno agricultor também será cobrado e contribuirá, como os demais usuários, para a mitigação de desperdício e poluição dos rios.

Também existe a figura do usuário doméstico que é o mais fácil de ser gerenciado, pois, em regra, seu consumo é limitado, tendo em vista que as famílias já possuem um controle de valores despendidos com a água. No entanto, como o todo é substancial, importante cobrar pelos excessos caracterizados por falta de atenção e exagero de conforto.

de 29-3-84, também alterado pelo Decreto nº 2.178, de 17-3-97. Essa política tem como objetivo o aproveitamento racional de recursos de água e de solos para a implantação e desenvolvimento da agricultura irrigada, atendendo-se a princípios como a preeminência da função social e utilidade pública do uso da água e solos irrigáveis e o estímulo e maior segurança às atividades agropecuárias, prioritariamente nas regiões sujeitas às condições climáticas adversas (art. 1º, I e II). Cabe salientar que as disposições dessa norma reportam-se à água e ao solo, o que reforça o entendimento de que a gestão dos recursos hídricos só pode ocorrer se coadunada com o ordenamento do solo, embora as competências constitucionais no que se refere ao último sejam do Município, ao contrário dos sistemas de decisão sobre gerenciamento de recursos hídricos. Dessa forma, o exercício da competência municipal deve, com base no próprio princípio da Federação, considerar a necessidade de convergências nas várias decisões, nas diferentes instâncias, com fundamento no princípio da finalidade, que aqui consiste na tomada de decisão visando à proteção do recurso hídrico, para as atuais e futuras gerações”. Quanto à Lei nº 8.171, de 17.01.1991, que estabelece a política agrícola, a autora segue aduzindo que “o Conselho Nacional de Política Agrícola define regras de proteção ao meio ambiente e de conservação dos recursos naturais e fixa, para o Poder Público, o dever de, entre outras atividades, promover a recuperação de áreas em fase de desertificação e coordenar programas de incentivo e estímulo à preservação das nascentes dos cursos d’água e do meio ambiente. (...) Quanto à irrigação e à drenagem, o art. 84, inciso IV, estabelece que compete ao Poder Público apoiar estudos para a execução de obras de infra-estrutura e outras relevantes ao aproveitamento das bacias hidrográficas, áreas de rios perenizados ou vales irrigáveis, com vista na melhor e mais racional utilização das águas para irrigação”.

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