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IV. PRÁTICA LETIVA

4.6 Reflexões sobre a intervenção pedagógica

4.6.3 Desporto e Saúde

“Na interacção do homem com o contexto, estabelecem-se, permanentemente, fenómenos de adaptação mútua. Quando esta relação dialéctica é estabelecida com base na cinestesia e a formação do homem é fundamental, estamos perante uma actividade desportiva.”

(Almada, 2008, p. 217)

A saúde não consiste apenas na ausência de doença ou de enfermidade, é um estado de equilíbrio do ser humano em completo bem-estar físico, mental e social (Organização Mundial de Saúde - OMS, 1946). O profissional de desporto tem, juntamente com profissionais de outras áreas, a responsabilidade de agir para promover a saúde dos indivíduos.

Por definição, trata-se de um trabalho de equipa onde é preciso definir o trabalho que cada um deve fazer e como o articular com o trabalho dos outros (Lopes et al., 2014b).

O professor de EF é um dos profissionais que, devido ao caráter obrigatório da escolaridade e da própria disciplina que lidera, poderá ter um papel fundamental. O PNEF (2001), documento que guia todo o trabalho do docente afirma que as aulas de EF devem garantir ao aluno “uma atividade física correctamente motivada, qualitativamente adequada e em quantidade suficiente, (...) numa perspectiva de educação para a saúde” (p. 9).

Como deve o professor interpretar esta “educação para a saúde” e o que deve/pode fazer para educar para a saúde? Utilizando principalmente o PNEF apresenta- se algumas possibilidades.

O primeiro passo poderá passar por aprofundar, junto dos alunos, a compreensão da importância da prática regular de atividade física. Parece ser importante sensibilizar para que seja entendido como um dos fatores de saúde ao longo da vida, no sentido de incrementar os níveis de aptidão física, na perspetiva da melhoria da qualidade de vida, saúde e bem-estar.

Alguns exemplos retirados do PNEF: (i) consolidar e aprofundar os conhecimentos e competências práticas relativos aos processos de elevação e manutenção das capacidades motoras; (ii) Alargar os limites dos rendimentos energético-funcional e sensório-motor, em trabalho muscular diversificado, nas correspondentes variações de duração, intensidade e complexidade; (iii) Identificar e interpretar os fenómenos da industrialização, urbanismo e poluição como fatores limitativos das possibilidades de prática das atividades físicas e da aptidão física e da saúde das populações; (iv) Conhecer e interpretar os fatores de saúde e risco associados à prática das atividades físicas e aplicar as regras de higiene e de segurança. (v) Relacionar a Aptidão Física e Saúde e identificar os fatores associados a um estilo de vida saudável, nomeadamente o desenvolvimento das capacidades motoras, a composição corporal, a alimentação, o repouso, a higiene, a afetividade e a qualidade do meio ambiente; (vi) Compreende a relação entre a dosificação da intensidade e a duração do esforço, no desenvolvimento ou manutenção das capacidades motoras fundamentais na promoção da saúde;

Diferentes estratégias devem ser montadas pelo professor ao longo das suas aulas para procurar cumprir com alguns desses objetivos. Poderão ser aproveitados todos os momentos de aula mas também os trabalhos para casa e outras atividades extra curriculares/visitas de estudo para tal.

Além disso, o professor de EF deve conseguir que o aluno aplique essas recomendações e desenvolver uma prática desportiva fora da escola. De facto, ninguém pode forçar o aluno a fazê-lo e não é por ter consciência da importância e dos riscos associados que irá praticar. Desenvolver o gosto pela prática desportiva regular e autónoma parece então ser essencial.

Por exemplo, o professor pode assegurar o aperfeiçoamento dos jovens nas atividades físicas da sua preferência, de acordo com as suas características pessoais e motivações como está apontado no PNEF. De facto, existe uma multitude de matérias disponíveis bem como imensas formas de as utilizar para que os alunos se aproximem dos seus limites, sofrendo então alguma adaptação com prazer e satisfação. “O Desporto é um meio multifacetado e que pode atuar de uma forma agradável e motivante (não precisamos de pôr açúcar à volta da pílula amarga)” (Lopes et al., 2014b, p.4).

É primordial ainda entender que o professor de EF, não se pode contentar em aplicar receitas e reproduzi-las de forma massificada, acreditando que irão ter o mesmo efeito em todos os alunos. Todos têm necessidades, gostos, sensibilidades diferentes. Sabe-se que os estímulos devem ser adaptados em quantidade, qualidade e intensidade para criar um estímulo suficiente, capaz de desencadear uma reação de adaptação (perto dos limites de cada um) (Lopes et al., 2014b).

Por exemplo, é evidente que uma carga externa de uma corrida de 10 minutos, em fila, 2 à 2, todos ao mesmo ritmo à volta do campo (como acontece em muitas aulas de EF) não terá a mesma carga interna para os 20 e poucos alunos da turma e em momentos diferentes (frequência cardíaca, dores articulares/musculares, sensação de esforço, desmotivação, se está a frente ou atrás, etc.).

Trata-se de diferenças nos planos, físico, psicológico e social que devem ser considerados quando se pretende promover a saúde do indivíduo. O professor de EF tem que construir a sua intervenção conhecendo esta realidade, percebendo a sua importância e dominando as metodologias para lidar com elas. “É mais fácil aplicar padrões estereotipados, formatar em vez de educar, massificar em vez de personalizar” (Lopes et al. 2013, p.7).

Finalmente, considerando que a EF é um meio privilegiado para a transformação do Homem, acredita-se que o professor deve educar para a saúde sensibilizando os alunos para a importância da prática de atividade física regular, encontrar formas prazerosas de participar nas aulas de EF e encorajar a prática desportiva extraescolar, personalizar tanto quanto possível as prescrições às necessidades de cada aluno mas sobretudo compreender o Homem como um todo.

A atividade desportiva é um meio poderoso que deve ser agilizado utilizando os diferentes grupos de atividades desportivas disponíveis, com princípios ativos distintos que permitam solicitar, quando bem utilizados, comportamentos que resultem (se induzidos) no desenvolvimento de capacidades, como a tomada de decisão, a montagem de estratégias, a capacidade de adaptação, o espírito crítico, a autonomia do aluno, entre outros.

Compete aos professores de EF não desvalorizar nenhuma das variáveis em jogo e encontrar um equilíbrio entre elas de forma personalizada, para não comprometer os resultados da sua atuação, sendo coerente com a definição de saúde da OMS (1946) mas

também com o caráter holístico do Homem. “E é fundamental que se perceba que o Homem não é só fisiológico ou anatómico. É bem mais do que isso” (Lopes et al., 2014b).

V. ATIVIDADE DE INTERVENÇÃO NA COMUNIDADE