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CAPÍTULO II. INQUÉRITO CIVIL

3.19. Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT)

3.19.7. Algumas questões polêmicas

3.19.7.1. Destinação da indenização

Um dos pontos que causa grande celeuma diz respeito à relação entre o bem lesado e a destinação do recurso ao fundo.

Como medida antecedente, deve-se priorizar a tutela jurisdicional preventiva (artigo 11 da Lei 7.347/85) como forma de evitar o dano aos direitos metaindividuais e, em segundo plano, socorrer-se da tutela reparatória ou compensatória se frustrada a primeira hipótese.

No caso de ter ocorrido o dano, a primeira corrente sustenta a necessidade de privilegiar o retorno do bem lesado ao status “quo ante” (tutela específica).

A segunda tese argumenta que, ante a impossibilidade de retorno ao estado anterior, a reparação deve guardar correspondência entre o bem lesado e a destinação do recurso (tutela reparatória). A doutrina utiliza, de forma recorrente, o exemplo de danos afetos ao meio ambiente.

A terceira corrente defende que a compensação judicial pecuniária nem sempre é possível, seja pela indivisibilidade do bem coletivo lesado, seja em razão da inexistência de titulares a serem indenizados ou, ainda, pela impossibilidade de serem identificáveis. Para essa vertente, então, é possível a destinação diversa ao recurso do fundo em prol de outro bem ou em outra localidade.

Importante mencionar que o Decreto nº 1.306/94 adotou o entendimento de que os recursos arrecadados deverão estar relacionados com a natureza da infração ou do dano causado e que os mesmos serão prioritariamente aplicados na reparação específica do dano causado, sempre que possível (artigo 7º).

Na área trabalhista, tanto as “astreintes” estipuladas no termo de compromisso de ajustamento de conduta em caso de descumprimento das obrigações de fazer e de não fazer, quanto a indenização pelo dano genérico correspondente deverão, em regra, reverter ao FAT, que é o fundo específico para reparação dos direitos difusos e coletivos tutelados.

No ajuste de conduta, a indenização pelo dano genérico traduz-se em obrigação de dar, de maneira que esta poderá ser pecuniária ou compensatória. Na primeira hipótese, o montante deverá reverter ao correspondente fundo de proteção de direitos metaindividuais, conforme a respectiva esfera de atuação (estadual ou federal). Na segunda hipótese, tem sido admitida a reversão do valor da indenização a órgãos públicos, a compra de bens a entidades, a realização de obras ou projetos sociais. Sempre que possível, é importante resguardar-se a devida correspondência entre a destinação realizada e a lesão perpetrada.

Após longas discussões no âmbito do “Parquet” Trabalhista, a questão relativa à destinação dos recursos provenientes do descumprimento de TAC e outras multas é objeto do processo administrativo nº 000000003033/2008 que tramita, atualmente, perante o Conselho Superior do Ministério Público do Trabalho e cujo objeto diz respeito à proposta de normatização da matéria no âmbito da Instituição.

Em resposta à consulta realizada, a Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público do Trabalho adotou o entendimento sobre a possibilidade de mitigação do valor da multa estipulada no ajuste de conduta por obrigação alternativa que tenha relação com o interesse público objeto do compromisso. Neste sentido, transcreve-se226:

226MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO. Ata da 167ª Reunião ordinária da Câmara de Coordenação e

Revisão do Ministério Público do Trabalho. Disponível em: <https://intranet.pgt.mpt.gov.br/camara/detalhe.php?cod_info=1841&cod_pai=>1> Acesso em: 02 dez. 2009.

"Processo PGT/CCR/nº 4174/2009 – Assunto: Consulta sobre

destinação de multa em TAC – Interessados: PRT-4ª Região (Ofício de Santa Maria) - Relatora: Maria de Fátima Rosa Lourenço. A

Câmara de Coordenação e Revisão deliberou, por unanimidade, que é possível a mitigação do valor da multa cominada em termo de compromisso (Orientação nº 08/CCR), assim como, em caso de descumprimento do pactuado haver substituição da sanção cominada por obrigação alternativa que guarde consonância com o interesse público perseguido no ajuste. Deve o membro responsável em cada caso concreto garantir que o descumprimento da obrigação alternativa dê ensejo ao restabelecimento da multa anteriormente acordada, fazendo-se necessário, para tanto, um cuidadoso acompanhamento do cumprimento da obrigação alternativa, nos termos do voto da Relatora”.

Decisão mais recente da CCR227 conclui no mesmo sentido, ou seja, sobre a possibilidade de substituição da indenização pecuniária a título de dano moral coletivo em obrigação alternativa, observando-se os princípios da função social e outros que informam a Administração Pública228:

Processo PGT/CCR/nº 6940/2010 – Assunto: Destinação de indenização de dano moral coletivo – Interessados: PRT 4ª Região e MPT - Relator: Rogério Rodriguez Fernandez Filho. A Câmara de

Coordenação e Revisão deliberou, por unanimidade, ser possível a substituição da indenização em pecúnia para um modo mais efetivo de recomposição da ordem jurídica, se o membro vislumbrar melhor utilização da verba por meio de instrumento ou atividade mais apropriada para reconstituição do bem da vida. Sua solução, no entanto, deverá primar pelos princípios da função social e outros que informam a administração pública, nos termos do voto do Relator.

É relevante mencionar que o Tribunal de Contas da União apresenta, todavia, entendimento contrário à destinação das multas previstas no termo de compromisso de ajustamento de conduta de forma diversa à prevista pela legislação em vigor, ou seja, aos Fundos de Direitos Difusos ou de Amparo ao Trabalhador ou, quando muito, para órgãos ligados à atribuição-fim do Ministério Público do Trabalho, como a Gerência Regional do Trabalho e Emprego ou a Polícia Federal.

Enfatize-se, ainda, que o Conselho Nacional do Ministério Público entendeu como lícita a reversão da multa prevista em termo de compromisso de ajustamento de conduta em obrigação alternativa, ressaltando-se, contudo, o entendimento quanto à

227Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público do Trabalho.

228MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO. Ata da 179ª reunião ordinária da Câmara de Coordenação e

Revisão do Ministério Público do Trabalho. Disponível em: <https://intranet.pgt.mpt.gov.br/camara/detalhe.php?cod_info=3312&cod_pai=1> Acesso em: 27 out. 2010.

impossibilidade de destinação de medida compensatória em prol do Parquet, ainda que de forma indireta229. Assim, caso as campanhas publicitárias contra o trabalho escravo sejam viabilizadas em publicações de coletâneas de atos administrativos do Ministério Público e de sua legislação institucional, ou mesmo na capacitação de seu pessoal, a reversão de multas estipuladas em TAC poderia configurar, em tese, benefício à Instituição proponente. Neste sentido, entende-se que a reversão de multas estipuladas em ajustes de conduta para propagandas contra o trabalho escravo, desde que viabilizadas sem a vinculação do Ministério Público é legal e não possui vedação pelos Órgãos de controle da Instituição.

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