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Faculdade e recusa quanto à assinatura do compromisso Implicações

CAPÍTULO II. INQUÉRITO CIVIL

3.12. Faculdade e recusa quanto à assinatura do compromisso Implicações

O termo de compromisso de ajustamento de conduta tem por finalidade adequar a conduta do ofensor ao mínimo previsto pela legislação em vigor, através da estipulação de obrigações de fazer e de não fazer, sob pena de cominação de multa pecuniária em caso de descumprimento.

Quaisquer dos órgãos públicos legitimados poderão tomar compromisso de ajustamento de conduta, sendo, pois, facultativa a assinatura por parte do causador do dano.

No entanto, na hipótese de discordância, será ajuizada ação civil pública para correção do dano causado, seja ele relativo à lesão afeta ao meio ambiente, ao consumidor, aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, bem como a qualquer outro interesse difuso ou coletivo ou, ainda, por infração da ordem econômica e da economia popular ou, por fim, à ordem urbanística. Neste caso, além do pedido de tutela antecipada para cessação imediata da lesão perpetrada ou iminente, dos pedidos definitivos de obrigação de fazer e de não fazer constantes da exordial, poderá ser acrescido pedido de indenização a título de dano moral coletivo.

É importante que seja esclarecido, ao causador do dano, antes da celebração do termo de compromisso de ajustamento de conduta, que a concordância com suas cláusulas se trata de mera faculdade do mesmo e, que na hipótese de discordância, a via judicial da ação civil pública será o instrumento a ser utilizado para sanar as irregularidades perpetradas para correção das lesões a direitos transindividuais.

Na seara trabalhista, uma vez constatada a lesão e, na hipótese de o causador do dano discordar do teor do termo de compromisso de ajustamento de conduta proposto pelo Ministério Público do Trabalho, outra alternativa não restará senão o ajuizamento da

correspondente ação civil pública para correção das irregularidades afetas aos direitos sociais metaindividuais dos trabalhadores, no âmbito da relação de emprego. Da inicial deverão constar obrigações de fazer e de não fazer, pedido de tutela antecipada, conforme a hipótese, cumulável com pleito de indenização por dano moral coletivo, valor reversível ao Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).

As obrigações previstas no termo de compromisso de ajustamento de conduta firmado perante o Ministério Público do Trabalho poderão versar sobre as seguintes áreas de atuação, tudo na esfera das relações de trabalho, a saber: meio ambiente do trabalho, trabalho portuário e aquaviário, liberdade sindical, combate às fraudes trabalhistas, inclusive em face da Administração Pública, à discriminação, ao trabalho infantil e ao trabalho escravo.

A atual Resolução 69/07 do Conselho Superior do Ministério Público do Trabalho estipula que “o Ministério Público do Trabalho poderá firmar termo de compromisso de ajuste de conduta, com o responsável pela ameaça ou lesão aos interesses ou direitos mencionados no artigo 1º da Resolução, visando à reparação do dano, à adequação da conduta às exigências legais ou normativas ou, ainda, à compensação e/ou à indenização pelos danos que não possam ser reparados”.

Hugo Nigro Mazzilli161 assevera que:

“O compromisso de ajustamento é garantia mínima, não limite máximo de responsabilidade. Seu objeto o distingue de uma vera e própria transação do direito civil: enquanto esta versa interesses disponíveis de partes maiores e capazes, o compromisso de ajustamento versa adequação de conduta do compromitente, em matéria que diga respeito a interesses de lesados transindividualmente considerados, sem quaisquer concessões do compromissário quanto ao direito material em jogo, de que não é titular”.

Como os órgãos que podem tomar compromisso de ajustamento não têm disponibilidade do direito material controvertido, o compromisso deve versar as condições do cumprimento das obrigações (modo, tempo, lugar, etc); nunca poderá versar a disponibilidade do próprio direito controvertido162”.

Situação diversa é aquela referente ao ajuste celebrado pelo causador do dano perante o Parquet Trabalhista ou outro órgão público legitimado, mas que seja objeto de discordância por parte de outros interessados.

161MAZZILLI, Hugo Nigro. op. cit., p. 385. 162Id., loc. cit.

Pois bem, nesta hipótese, é possível, a qualquer legitimado, a propositura da ação judicial cabível para tutela da pretensão a ser formulada perante o Poder Judiciário e que envolva a matéria objeto do termo de compromisso de ajustamento de conduta. Neste sentido, transcreve-se o seguinte ensinamento163:

“Além disso, mesmo que o órgão ministerial ou outro órgão público legitimado aceite a proposta do causador do dano no sentido de reparar a lesão, ou concorde, por exemplo, com sua proposta de cessar a atividade poluidora nos prazos e condições determinadas, ainda assim a transação ou compromisso de ajustamento não obstarão o acesso à jurisdição pelos legitimamente interessados. Entender o contrário seria admitir que lesões a interesses transindividuais pudessem ser subtraídas do controle jurisdicional, por mero ato de aquiescência administrativa de qualquer órgão público legitimado, o que nosso sistema constitucional não permite. Em suma, diante de seu caráter de garantia mínima, qualquer co- legitimado poderá discordar do compromisso e propor a ação judicial cabível. Ou mesmo tentar alcançar compromisso de ajustamento mais abrangente que o obtido anteriormente”.

Conclui-se, portanto, que a assinatura do compromisso é facultativa ao causador do dano, porém, nesta hipótese, não restará outra alternativa ao Ministério Público senão o ajuizamento da ação civil pública para impedir ou cessar a lesão aos direitos metaindividuais lesados, ainda que potencialmente.

É importante mencionar que a celebração de ajuste de conduta implica inúmeras vantagens ante a redução de lides individuais no âmbito do Poder Judiciário acerca da lesão metaindividual constatada, face a solução do dano difuso, coletivo ou individual homogêneo, a presunção de boa-fé por parte daquele que se obriga através da assinatura do compromisso, bem como a garantia de que não será judicialmente acionado, salvo na hipótese de descumprimento das obrigações pactuadas de forma devidamente comprovada.

3.13. Revisão, por Órgão Superior, do ato que promove o arquivamento das peças

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