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Momento para assinatura do termo de compromisso de ajustamento de conduta

CAPÍTULO II. INQUÉRITO CIVIL

3.11. Momento para assinatura do termo de compromisso de ajustamento de conduta

tão logo haja concordância por parte do causador do dano em adequar sua conduta ao mínimo previsto pela legislação em vigor.

Pode ser tomado por quaisquer dos órgãos públicos legitimados, como tutela preventiva ou reparatória à lesão a direito metaindividual verificado, ressaltando-se, ainda, que a assinatura do título executivo extrajudicial é facultativa.

No âmbito do Ministério Público do Trabalho, o ajuste de conduta é firmado, em sua maior parte, após a conclusão das investigações em sede de procedimento investigatório ou de inquérito civil, encerrando tal etapa. O compromisso deverá permanecer em acompanhamento para aferir o cumprimento/descumprimento das obrigações estipuladas, tendo sido recentemente expedida Recomendação nº 14/2010154 pela respectiva Corregedoria do Órgão Ministerial no sentido de que os TAC´s firmados nos autos dos procedimentos preparatórios ou inquéritos civis deverão permanecer em acompanhamento de suas cláusulas, adotando-se diligências de maior eficácia e celeridade para a fiscalização.

Também é comum a celebração de termo de ajuste de conduta perante a Gerência Regional do Trabalho e Emprego para observância do mínimo previsto pela legislação em vigor em respeito aos direitos metaindividuais dos trabalhadores. Na hipótese de discordância quanto à assinatura, o Auditor Fiscal do Trabalho tem o dever de ofício de remeter cópia que instruirá denúncia a ser encaminhada ao Ministério Público do Trabalho objetivando a adoção das medidas cabíveis na esfera de atuação do “Parquet”. Frise-se, ainda, que o termo de compromisso de ajustamento de conduta firmado perante o Ministério do Trabalho e Emprego encontra previsão legal no artigo 627-A da CLT, com a mesma natureza jurídica de título executivo extrajudicial.

O termo de compromisso poderá, ainda, ser firmado no bojo da ação judicial correspondente, podendo revestir-se da forma de ajuste de conduta, ou, então, de acordo judicial. Neste aspecto, há certa dissonância doutrinária a respeito da matéria.

A primeira hipótese diz respeito à ação civil pública ou à ação civil coletiva que já estejam tramitando e Ministério Público do Trabalho e réu firmam termo de compromisso

154Expedida em 18.11.2010.

MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO. Recomendação 14/2010. Disponível

de ajustamento de conduta na via extrajudicial, informando ao juízo, mediante petição, sobre a composição entre as partes.

Na segunda hipótese, também se encontra em curso ação civil pública ou ação civil coletiva já ajuizada e as partes requerem a homologação de acordo durante a audiência judicial, ou, ainda, por petição juntada aos autos.

Pois bem.

Uma corrente de entendimento defende que, na primeira situação abordada, tendo sido celebrado o ajuste de conduta na via extrajudicial, durante o curso de ação civil pública ou ação civil coletiva, haveria a perda do interesse de agir superveniente (falta de utilidade ou necessidade do provimento jurisdicional), razão pela qual o juiz deveria extinguir o processo sem exame do mérito, por ausente uma das condições genéricas para o regular exercício do direito de ação, a saber, o interesse de agir (artigo 267, IV do Código de Processo Civil). A celebração de termo de ajuste de conduta na esfera extrajudicial tornaria desnecessário qualquer provimento jurisdicional, sendo cabível tão somente ação anulatória para discussão das cláusulas estipuladas no compromisso.

José dos Santos Carvalho Filho155, dentre outros autores, defende tal vertente, sustentando que a correta solução para a lide, quando firmado o ajuste de conduta no bojo da ação civil pública deveria ser a extinção do processo sem resolução do mérito:

“A outra situação possível diz respeito à hipótese em que o compromisso é firmado pelo réu no curso do processo, mas perante o órgão jurisdicional, normalmente ao momento da audiência de instrução e julgamento. Se o réu decide firmar o compromisso e o autor da ação concorda com seus termos, o instrumento, apesar de firmado perante o juiz, tem caráter autônomo, ou seja, tem a mesma natureza do compromisso extrajudicial, valendo, portanto, como título executivo extrajudicial. O efeito, será, por conseguinte, rigorosamente idêntico ao ocorrido na situação anterior: extinção do

processo sem resolução do mérito.

Aqui, no entanto, a prática tem demonstrado erronia técnica em relação ao desfecho do processo: diante do compromisso do réu e da concordância do autor, o juiz profere decisão homologatória do termo. Tal desfecho não é o correto na situação. Se o instrumento de compromisso constitui documento autônomo, qualificando-se como título executivo extrajudicial, não cabe qualquer homologação por parte do

juiz; na verdade, nem a lei prevê o condicionamento de eficácia do termo

à aferição judicial levada a efeito pela sentença homologatória, nem o compromisso se configura, como visto, em instrumento de transação, mas sim de assunção unilateral de obrigações pelo réu, o que satisfaz o interesse do autor”.

No mesmo sentido, preleciona o autor em epígrafe156:

“Nessa hipótese, não mais se encontrará presente o interesse de agir

necessário à propositura da ação. A razão é simples: o reconhecimento

do devedor previamente à ação importará desfecho próprio de autocomposição, desaparecendo a necessidade e a utilidade da via judicial para satisfazer a pretensão do interessado (heterocomposição)”.

A segunda corrente sustenta que, se as partes requerem em juízo a homologação de um acordo, seja na própria audiência, ou, então, por mera petição juntada aos autos, neste caso, o provimento jurisdicional seria uma sentença homologatória de acordo (artigo 269, III do Código de Processo Civil), aplicável à segunda hipótese supra referida. Diante disso, uma linha de entendimento157 defende que há dois tipos de compromisso de ajustamento de conduta, um extrajudicial e outro judicial. Uma vez celebrado acordo em juízo, a natureza do título transmudar-se-ia para sentença homologatória e, portanto, judicial, tese que parece ser a tese mais correta. Assim argumentam, inclusive, Hugo Nigro Mazzilli158 e Raimundo Simão de Melo159.

Para a desconstituição do termo de acordo homologado pelo juízo em sede de ação civil pública ou ação civil coletiva será cabível ação rescisória (artigo 485 do Código de Processo Civil). Aplicável, ainda, o disposto pela Súmula 259160 do Tribunal Superior do Trabalho.

Na prática, contudo, os juízes do Trabalho costumam homologar o acordo que foi entabulado, pelas partes, em sede da ação judicial correspondente (civil pública ou civil

156CARVALHO FILHO, José dos Santos. op. cit., p. 234.

157Citam-se os autores Paulo Cezar Pinheiro Carneiro e Geisa de Assis Rodrigues.

158Neste sentido se manifesta o autor: “O compromisso extrajudicial não exige homologação em juízo; será,

portanto, um título executivo extrajudicial. Mas, se for tomado em juízo e sobreviver sua homologação judicial, deixará, obviamente, de ser título executivo extrajudicial para ser um título judicial.” MAZZILLI, Hugo Nigro. O inquérito civil. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 317.

159“A finalidade do termo de ajuste de conduta do inquirido às exigências legais é a solução do litígio, no

menor prazo possível, mediante a prevenção ou reparação do bem lesado ou ameaçado de lesão. Assim, pode o mesmo ser tomado extrajudicialmente, como aludido nos itens anteriores, ou no bojo de uma ação civil pública ou coletiva perante o Judiciário. A diferença é que, enquanto extrajudicialmente só o Ministério Público do Trabalho e os órgãos públicos podem formalizá-lo (§ 6°, do art. 5° da LACP), judicialmente qualquer co-legitimado do mesmo artigo 5° pode tomá-lo, cabendo ao juiz homologá-lo ou não, conforme se convença do preenchimento dos requisitos indispensáveis à sua validade - cumprimento integral da reparação e estabelecimento de cominação. Outra diferença diz respeito à forma de impugnação; na primeira hipótese, por meio de ação anulatória ou de ação civil pública reparadora dos direitos violados e, na segunda, através de ação rescisória (CLT, art. 831, parágrafo único). Na primeira, a natureza do título é extrajudicial, na segunda, é judicial”. MELO, Raimundo Simão de. Ação civil pública na Justiça do

Trabalho. São Paulo: LTr, 2002. p. 87.

160“TERMO DE CONCILIAÇÃO. AÇÃO RESCISÓRIA.

Só por ação rescisória é impugnável o termo de conciliação previsto no parágrafo único do art. 831 da CLT. Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003.

coletiva), ainda que formalizado mediante termo de compromisso de ajustamento de conduta pactuado na esfera extrajudicial.

Por fim, tanto o Anteprojeto do Código Brasileiro de Processos Coletivos quanto o novo Projeto de Lei 5139/2009 que versa sobre a Ação Civil Pública não inseriram alterações no que tange ao assunto “momento para a celebração do termo de compromisso de ajustamento de conduta”.

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