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Análise textual: do poema ao conto

DESTINADOR Pai Natal

OBJETO Ajudar DESTINATÁRIO Pai Natal OPONENTES Não há SUJEITO Gui ADJUVANTES

Gui, Pai Natal, Quim, Meninos,

39 No que diz respeito ao narrador, estamos perante um narrador heterodiegético e omnisciente. A narrativa é feita na terceira pessoa demonstrando (o narrador) conhecer todos os pormenores e pensamentos existentes: “… João cresceu feliz e aprendeu a ser justo, leal, amigo dos seus amigos e defensor do seu reino.” (Oom 2010: 6); “O Rei de Castela sentiu-se ameaçado com esta novidade e, certa manhã, convocou os homens da sua confiança.” (Oom 2010: 10); “Os portugueses ficaram entusiasmados e sentiam-se muito seguros. Tinham o homem certo à frente do país, um homem bom e sensato.” (Oom 2010: 16). É possível observar a imparcialidade no modo como narra tudo aquilo que vai acontecendo, com predomínio do diálogo e da narração. É também possível verificar que, de um modo ténue, o narrador simpatiza com aquele que é o herói da história, o Rei D. João I, e enaltece as suas ações tal como podemos verificar nas expressões que se seguem: “Os anos passaram e João era agora um homem” (Oom 2010: 8); “O povo sabia das grandes qualidades e do valor de João, o Mestre de Avis.” (Oom 2010: 8); “E as boas memórias que deixou a Portugal acompanharam D. João I por muito mais tempo.” (Oom 2010: 18).

No que diz respeito às personagens, verificamos que D. João I é o protagonista da história já que nele que se centram todos os acontecimentos narrados. Nada é referido sobre a sua caraterização física. Por outro lado, no que toca à caraterização psicológica sabemos que D. João “cresceu feliz e aprendeu a ser justo, leal, amigo dos seus amigos e defensor do seu reino.” (Oom 2010: 6). No que respeita às restantes personagens que integram esta história (Nuno Álvares Pereira, Povo do Reino, Rei de Castela e o Infante D. Henrique) e no que diz respeito à sua fisionomia, nada se sabe, pois não há qualquer retrato físico. Por outro lado, no que concerne às suas características psicológicas, sabemos que Nuno Álvares Pereira era “um militar muito talentoso e inteligente” (Oom 2010: 11) e grande amigo de D. João I. O povo do Reino confiava plenamente nas capacidades de D. João I e, por isso, escolheu-o para seu rei, tal como demonstra a expressão que se segue: “O povo sabia das grandes qualidades e do valor de João, o Mestre de Avis. Por isso, não hesitou em escolhê-lo para futuro rei” (Oom 2010: 8). Quanto ao Rei de Castela, podemos dizer que é ambicioso pois não hesitou em querer conquistar reino liderado por D. João I: “Preciso de juntar o meu exército! Vamos conquistar Portugal!” (Oom 2010: 10). Finalmente, sabemos que o Infante D. Henrique é filho de D. João I e que, apesar de muito jovem, era muito curioso e “mostrava já um gosto especial por tudo o que era novo” (Oom 2010: 18).

40 No que respeita à ação, esta é uma narrativa simples tal como podemos verificar na sinopse que se segue: João, foi educado por uma ordem religiosa e militar que lhe incutiu diversos valores de suma importância. O país estava a viver uma fase difícil já que era necessário encontrar um rei que garantisse a independência do país. O povo sabia das grandes qualidades e do valor de João, o Mestre de Avis. Por isso, não hesitou em escolhê-lo para futuro rei. Apesar das tentativas do rei de Castela para conquistar o Reino liderado por D. João I isso não aconteceu já que D. João teve a preciosa ajuda do seu grande amigo Nuno Álvares Pereira que consegui arranjar forma de derrotar o exército castelhano. Os portugueses ficaram entusiasmados e sentiam-se muito seguros. Tinham o homem certo à frente do país, um homem bom e sensato. Posteriormente, e aquando de uma visita de D. João às suas terras do Algarve, achou que estaria na altura de Portugal partir à conquista de novas terras. Com a ajuda do seu filho Infante D. Henrique começou a preparação da aventura dos Descobrimentos que se iniciou com a conquista de Ceuta, uma cidade rica e poderosa.

Esquema Actancial de Greimas (apud Soares 2003: 11)

DESTINADOR Vontade de ajudar o país econquistar novas terras OBJETO Combater o Rei de Castela DESTINATÁRIO Reino de Portugal OPONENTES Rei de Castela SUJEITO D. João ADJUVANTES Nuno Álvares Pereira, Infante D. Henrique, Povo do Reino

41 2.3.4. El Rei D. Sebastião, O Desejado

Para finalizar, passamos à análise do conto (que é também um volume) de El Rei D. Sebastião, O Desejado, da coleção “Era uma vez um Rei…” (cf. anexo V).

Iniciaremos a análise do conto em estudo tendo em conta as coordenadas espácio-temporais nele presentes. A história inicia com a expressão Era uma vez que nos permite ingressar num mundo do faz de conta, voando para um lugar e tempo indeterminados, permitindo uma melhor adesão do leitor / ouvinte. Do mesmo modo, a expressão com que o conto termina (“Vivia na esperança de o ver regressar, como diz a lenda, montado no seu cavalo, numa manhã de nevoeiro.” (Oom 2010: 24)) ajuda na indefinição já comentada, isto é, confirma a indefinição temporal e o pacto realizado entre narrador e leitor / ouvinte, que entra e sai do mundo dos sonhos sem dar por isso. Existe a perceção de que tudo ocorreu há muito notando-se a passagem do tempo através de expressões como “algumas semanas mais tarde…” (Oom 2010: 9); “Algum tempo mais tarde…” (Oom 2010: 12); “No dia em que fez catorze anos...” (Oom 2010: 14). O mesmo acontece relativamente ao espaço, uma vez que sabemos que a ação ocorre no nosso país, existindo uma breve passagem pelo Norte de África, onde acaba por travar uma batalha com os Mouros a fim de conquistar aquelas terras.

No que respeita ao narrador, estamos perante um narrador que, apesar de não participante, conhece todos os pensamentos e pormenores da narrativa, tal como podemos verificar nas expressões seguintes: “D. João III, o então rei de Portugal, ficou muito feliz: iria finalmente ter um neto.” (Oom 2010: 7); “Sentia-se uma grande insegurança e restava a esperança do neto de D. João III que estava prestes a nascer.” (Oom 2010: 9); “No dia em que fez catorze anos, Sebastião foi finalmente coroado rei.” (Oom 2010: 14); “Porém, em Portugal, o povo não queria acreditar na morte do seu bondoso e jovem rei.” (Oom 2010: 24).

É possível também observar a imparcialidade do narrador através do modo como descreve tudo aquilo que vai acontecendo. Apesar do modo subtil, é possível ainda perceber que o narrador simpatiza com o herói da história, o D. Sebastião, e valoriza a sua coragem e determinação, como podemos verificar na seguinte caraterização: “O seu caráter aventureiro, destemido e muito determinado…” (Oom 2010: 14).

42 Passando de seguida às personagens do conto em análise, verificamos que, o protagonista desta história é D. Sebastião, já que é sobre ele que recaem todas as atenções, ou seja, é em D. Sebastião que se centram todos os acontecimentos que vão sendo narrados. No que respeita à sua fisionomia, sabemos que era um “menino ruivo, de pele muito branquinha cheia de sardas e de olhitos azuis” (Oom 2010: 12). Sabemos também que foi coroado rei no dia em que fez catorze anos. Por outro lado, e no que toca ao seu caráter, sabemos que era “aventureiro, destemido e muito determinado” (Oom 2010: 14) e não dava ouvidos àqueles que o queriam aconselhar.

No que respeita às restantes personagens referidas neste conto (Pai, D. João III, Povo, D. Catarina, D. Henrique), podemos considerá-los apenas figurantes já que nenhuma intriga se desenvolve devido ou em volta de uma destas personagens. Apenas são referidas com o intuito de dar explicação àquilo que vai acontecendo ao protagonista. No entanto, e no que se refere ao pai de D. Sebastião, sabemos que desejava ter um filho. Apesar desse seu desejo, acabou por morrer antes de o conhecer. No que respeita ao povo, e tendo em conta a situação que se vivia no país, era um povo preocupado com o problema de sucessão que poderia acontecer e ansioso com o nascimento de D. Sebastião, que obteve o cognome de Desejado.

No que concerne à ação, esta é uma narrativa bastante simples, sem quaisquer intrigas secundárias, tal como podemos verificar na sinopse que de seguida se apresenta de D. Sebastião, O Desejado: Sebastião era um menino muito desejado pelo seu pai, que há muito ambicionava ter um filho. No entanto, tudo na vida deste menino iria acontecer de uma forma rápida e inesperada. Mesmo antes de Sebastião nascer, o seu pai morreu. Esta notícia abalou o país já que, com a morte do seu pai, era ele o novo herdeiro do trono. Quando Sebastião nasceu, todos se sentiram aliviados com a boa- nova. Algum tempo depois, D. João III, seu avô, acaba por morrer e Sebastião foi escolhido como seu sucessor. No entanto, e como Sebastião era ainda muito pequeno, foi a D. Catarina e, depois, a D. Henrique quem coube a governação de Portugal. Sebastião apenas foi coroado rei no dia em que fez catorze anos. Era destemido, aventureiro e muito determinado. Por isso mesmo, não dava ouvidos a ninguém e decidiu, após grandes preparativos, reconquistar as terras que haviam sido abandonadas pelo seu avô no Norte de África. No entanto, nada iria correr como Sebastião estava à espera e a batalha com os mouros terminou da pior forma, apesar da persistência de D.

43 Sebastião. Em Portugal, ninguém queria acreditar na morte do seu rei e todos viviam na esperança de o ver regressar montado no seu cavalo, numa manhã de nevoeiro.

Esquema Actancial de Greimas (apud Soares 2003: 11)

O esquema supra mencionado estabelece as relações entre as personagens e clarifica muito sobre a ação dos contos. Estes e outros conceitos, constantes das nossas abordagens textuais (Capítulo II) serão, de modo didáctico, aplicadas na sala de aula em duas modalidades de abordagem, conforme o público-alvo: as crianças do Pré-Escolar e os alunos do 1º Ciclo do Ensino Básico.

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