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A Literatura Infanto-Juvenil: uma perspectivação do Mundo e um modo de conhecimento

deve ser um leitor atencioso no que à realidade diz respeito e, deve também, ter consciência daquele que é o seu lugar tendo em conta as transformações na educação.

Deste modo, podemos afirmar que a escola tem como principal objetivo cooperar na formação de indivíduos conscientes, que procurem a sua auto-realização e o conhecimento do mundo que os rodeia.

1.4. A Literatura Infanto-Juvenil: uma perspectivação do Mundo e um modo de conhecimento

A Literatura Infanto-Juvenil oferece à criança um desenvolvimento emocional, social e cognitivo inegável. Desenvolver o interesse e o hábito pela leitura é um processo constante, que começa desde muito cedo, em casa, que encontra um modo de aperfeiçoamento na escola e continua pela vida inteira.

A Literatura Infanto-Juvenil, quando utilizada de uma forma adequada, é um instrumento de enorme importância na construção de conhecimento do aluno, levando-o a despertar para o mundo da leitura não somente como um ato de aprendizagens significativas, mas também como uma aprendizagem que proporcione prazer. Deste modo, e segundo Pires (2000), a literatura torna-se, de facto, indispensável. Na Educação Pré-Escolar, os educadores devem trabalhar diariamente com a literatura, pois esta constitui um material indispensável, que faz emergir a criatividade infantil e desperta o artista escondido em cada criança. Nestas idades, as crianças devem ser presenteadas com textos literários, de modo a que seja favorecida a difusão do gosto pela literatura, como forma de lazer e diversão (Pires 2000: 34).

20 “(…) todas as áreas de conteúdo constituem, de certo modo, formas de

conhecimento do mundo. Assim, a área de Expressão e Comunicação que permite à criança explorar as possibilidades e limitações do seu corpo, em si mesmo e nas relações com o espaço e com os objectos, que lhe proporciona ocasiões de utilizar e aperfeiçoar diferentes meios de expressão e comunicação, contribui para compreender melhor o mundo e dispor de meios para o representar e dar sentido.” (Ministério da Educação 1997: 79)

Através da leitura, a criança vai-se apropriando de culturas e saberes reunidos tradicionalmente pelo Homem e vai conquistando informações que a irão ajudar na construção do seu conhecimento.

Através das histórias que vai ouvindo, a criança vai adquirindo novos conhecimentos. Aprende a nomear tudo aquilo que a rodeia, nomeadamente, as plantas e os animais, o mar, o rio, os montes e as ribeiras, a floresta e muitos outros elementos pertencentes à natureza e ao mundo. As histórias facilitam na compreensão do lugar ocupado pelo ser humano relativamente aos restantes seres da natureza, assim como também na relação entre os próprios seres humanos. É através das histórias que as crianças testam a aplicação de novos conceitos como pai, mãe, irmão, avó, primo, avô, construindo, desse modo, as suas próprias relações de parentesco e pertença à sociedade.

As histórias acabam por se tornar numa ferramenta de ensino-aprendizagem cujo objetivo passa por dar a conhecer às crianças as regras da sociedade, o modo de estar no mundo e as formas de agir sobre ele. Ao partilhar uma história, o conhecimento acaba por não ser apenas concretizado por uma criança, mas por uma geração que acaba por alcançar uma nova visão do mundo, um novo entendimento, uma cultura ou mesmo uma ideologia.

O Educador/Professor que utiliza a Literatura Infanto-Juvenil como meio de atingir determinado objetivo, deve ter sempre em consideração a importância do papel que desempenha como estimulador, orientador e mediador entre os alunos com quem trabalha (que se encontram em formação) e a literatura, sendo esta a forma de chegar a novos conhecimentos.

21 “O mundo que rodeia as crianças é um encadeado de fenómenos

naturais e sociais em constante mudança. Com a sua curiosidade inata, as crianças fazem perguntas sobre esse mundo, interessam-se pelo que acontece à sua volta, procuram respostas para as suas perguntas, expressam hipóteses e aprendem a apreciar o seu meio e a sua história; isto é, vão conhecendo a realidade próxima. Ao mesmo tempo, é muito importante aproximar os pequenos das diferentes e variadas fontes de informação (… ) e que o docente se apresente como mediador entre a informação e o grupo.” (S. A. 2012: 18)

Por outro lado, deve também ser consciente de que a criança começa agora a sua busca do conhecimento, através da sua interacção com o mundo, quer através de uma repetição das tradições familiares, quer através dos valores e ideias colocados pela própria sociedade. É, nestas circunstâncias, que podemos afirmar a importância da escola no entendimento da literatura.

“A justificativa que legitima o uso do livro na escola nasce, pois, de um lado, da relação que estabelece com seu leitor, convertendo-o num ser crítico perante sua circunstância: e, de outro, do papel transformador que pode exercer dentro do ensino, trazendo-o para a realidade do estudante (Zilberman & Lajolo, 1985: 25).

A literatura não pode nunca ser restringida a um fenómeno de linguagem, uma vez que este não se encontra isolado. É, pelo contrário, resultado de uma experiência social e cultural.

Quando nos remetemos ao contexto educacional, a literatura para a infância deve ser considerada tendo em conta a experiência socioeconómica e cultural de cada entidade.

Com o intuito de que a literatura para a infância alcance os benefícios desejados no que diz respeito ao desenvolvimento cognitivo e à aprendizagem da criança, é indispensável que o professor adeqúe o livro às suas (das crianças) necessidades e interesses, tendo em conta a etapa de desenvolvimento em que a criança se encontra. Esta ideia é de inúmera importância pois a criança compreende aquilo que lê, ou lhe lêem, em conformidade como o seu contexto social, isto é, as influências recebidas do ambiente sociocultural em que se encontra inserido e em conformidade com o seu nível de desenvolvimento cognitivo.

22 “A formação escolar do leitor passa pelo crivo da cultura em que esta se

enquadra. Se a escola não efetua o vínculo entre a cultura grupal ou de classe e o texto a ser lido, o aluno não se reconhece na obra, porque a realidade representada não lhe diz respeito.” (Aguiar 1989: 16).

De acordo com as Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar a área do Conhecimento do Mundo

“(…) tem alguma correspondência com o “Estudo do Meio” proposto pelo programa do 1º ciclo cujos grandes blocos (…) podem também constituir referências para a educação pré-escolar. Cada um deles aponta para diferentes áreas científicas que são necessárias para enquadrar e sistematizar a compreensão do mundo.” (Ministério da Educação 1997: 80).

A aprendizagem do Estudo do Meio é iniciada no 1º Ciclo do Ensino Básico, no entanto, esta área está relacionada e começa a ser tratada através de uma das áreas de conteúdo da Educação Pré-Escolar, o Conhecimento do Mundo. Deste modo, cabe aos educadores de infância apoiar as crianças e ajudá-las na construção de conhecimentos para que se encontrem melhor preparadas para o Estudo do Meio que se inicia no 1º Ciclo.

Segundo Gaspar (2003), “a área do Conhecimento do Mundo baseia-se na curiosidade natural das crianças, assim como na sua vontade natural em compreender melhor o mundo que as rodeia, daí os porquês serem tão frequentes nestas idades”. Cabe, assim, ao educador proporcionar às crianças um ambiente encorajador para que elas se sintam à vontade para colocar as questões.

Nos primeiros anos do ensino, o livro infantil é utilizado como forma de sustentação ao desenvolvimento da leitura e escrita dos alunos, já que existe uma preocupação mais acentuada no que respeita à alfabetização. No entanto, e com a crescente implementação da interdisciplinaridade no ensino, a literatura para a infância vem agora ser um suporte para a introdução de novos conteúdos, tais como o conhecimento do mundo.

Os livros podem, então, ser utilizados pelos Educadores/Professores para a introdução de novos conceitos relativos ao conhecimento do mundo sendo que é através das histórias infantis e infanto-juvenis que as crianças poderão ter contacto com essas novas realidades.

23 Não devemos nunca considerar o livro infantil apenas como meio para atingir o objetivo da alfabetização, isto é, como mero veículo para o ensino da leitura e da escrita. O livro infantil pode ser um extraordinário veículo condutor de aprendizagens relativas ao conhecimento do mundo pois “quando ampliado às séries iniciais, atua diretamente nas ações de curiosidade e descobertas, incluindo a imaginação e a criatividade muito freqüentemente ativas no início da idade escolar” (Freitas, Silva & Vizza 2014: 2).

Conseguimos, então, afirmar que os livros podem ser utilizados não apenas para a Língua Portuguesa mas, e pelo contrário, devem ser utilizados para os mais diferentes conteúdos, nomeadamente, o conhecimento do mundo.

No entanto, temos perceção de que no dia-a-dia das escolas, algumas das obras literárias são inatingíveis por parte das crianças, isto porque existe nos educadores um medo inerente de que as crianças rasguem ou danifiquem o livro. Em concordância com Madga Soares (apud Maricato 2005: 18), esta atitude de restrição por parte do educador acaba por produzir nas crianças uma visão do livro como sendo algo aborrecido, uma vez que não pode ser manuseado. Não obstante, os alunos só começaram a ter cuidado com os materiais, quando se mantêm em contacto com eles, isto é, só assumem uma responsabilidade quando são tidos como responsáveis.

O livro e o ato de ler têm de ser revalorizados, pois “um povo que lê, nunca será um povo de escravos” (Godinho apud Soares). Passaremos, de seguida, à nossa leitura.

Capítulo II