7. DISCUSSÃO
7.2 Determinação do Limiar de Lactato e Glicêmico em Exercício Resistido por Diferentes
Quando analisadas as intensidades de ocorrência do LL e LG em exercício resistido, foram obtidos valores entre 31,0±5,3 e 32,1±6,1% de 1RM para leg press e 29,9±8,5 e 32,1±8,5% de 1RM para supino, sendo valores próximos aos achados de Barros et al. (2004). Estes autores observaram, em uma população de jovens saudáveis, que o LL ocorre entre 28,8±3,3 e 32,2±4,4% de 1RM para os exercícios de rosca direta e leg press, respectivamente.
No presente estudo a ocorrência do LG em exercício resistido, especificamente em leg
press, foi em torno de 89% (figuras 25 e 28), onde em um dos voluntários estudados não foi possível identificar esse limiar pelo método convencional (ponto de equilíbrio entre a produção
e a captação de glicose no sangue).
Existem poucos estudos determinando intensidades correspondentes ao LL e LG em
exercício resistido, e os possíveis mecanismos que explicam esse fenômeno nesse tipo de
exercício ainda merecem novas investigações, principalmente em relação ao comportamento da
glicemia e hormônios relacionados durante séries incrementais em exercício resistido. Têm-se
indicativo de um estudo em modelo animal (Petrofsky et al., 1981) que em contrações estáticas
superiores a 20% de 1RM ocorre um aumento da pressão intramuscular que linearmente vai se
acentuando em relação ao aumento da intensidade do exercício, provocando oclusão parcial e
um menor fluxo sanguíneo. Já em esforços dinâmicos realizados em humanos, como os
utilizados no presente estudo, outros autores (Villiger et al., 1995) sugerem que acima de 30%
de 1RM essa redução no fluxo sanguíneo estaria ocorrendo devido ao colabamento dos capilares
resultando em aumentada produção de ácido láctico, permitindo assim a identificação de uma
intensidade de exercício a partir da qual a [Lac] estaria aumentando de forma desproporcional.
Especula-se que esse fenômeno possa ser marcado principalmente por um fator hemodinâmico,
como indicado no estudo de Petrofsky et al. (1981), onde com o aumento da tensão muscular
devido à pressão intramuscular promovida pelas maiores cargas e sendo maior que a dos
capilares levando-os ao colabamento. Uma hipóxia muscular estaria se instalando, diminuindo a
oferta de oxigênio, com conseqüente aumento da ativação da via glicolítica e acúmulo de lactato
sanguíneo.
Em exercícios resistidos também foram utilizados outros métodos fundamentados no
QLac (semelhante ao exercício em cicloergômetro), possibilitando a identificação do LLLP e
LLBP a partir de inspeção visual (v), como proposto por Barros et al. (2004) e exemplificado
para um voluntário nas figuras 18 e 22 no presente estudo. Além disso, a aplicação da função
polinomial (p) (figura 19 e 23) possibilitou a identificação do LLLP e LLBP matematicamente.
Assim, de maneira semelhante aos resultados em cicloergômetro, a resposta do QLac em leg
press (figura 26) e supino (figura 29) evidenciou um comportamento de curva com formato de ˝U˝ para essa variável, suportando a identificação visual do LL pelo ponto mínimo da curva,
bem como pela aplicação da função polinomial para todos integrantes da amostra.
Com relação as intensidades absolutas de ocorrência do LL durante testes incrementais
em exercício resistido, estas corresponderam no leg press a uma carga entre 46 e 60% do peso
corporal dos participantes, já no supino, provavelmente devido a menor massa muscular
envolvida em relação ao leg press, esses valores foram em torno de 18 e 26% do peso corporal
da amostra estudada (diabéticos tipo-2 com uma idade média de 47,2±12,4 anos). Analisando o
estudo de Barros et al. (2004) e fazendo essa mesma relação com as médias apresentadas para
treinados, nos exercícios leg press – LP e rosca direta - RD, verificou-se que os treinados
apresentam o LL a 204 e 23% do peso corporal para LP e RD respectivamente, enquanto que
para os não treinados corresponde a 116 e 15% do peso corporal para LP e RD respectivamente.
Os resultados do estudo de Barros et al. (2004) aproximam-se aos do presente estudo quando
analisado apenas membros superiores, entretanto, uma discrepância é observada com relação
aos membros inferiores, talvez pelas diferenças na idade e histórico de patologia e inatividade
física com conseqüente deterioração da força, principalmente para membros inferiores na
amostra de diabéticos tipo-2 do presente estudo.
Esses achados dão suporte para prescrições de exercícios resistidos em intensidades
relativas ao LL nessas diferentes populações, valendo destacar a necessidade de mais estudos
com objetivos de confirmar tais relações baseadas no peso corporal, idade, especificidade de
treinamento e principalmente estado de saúde (com ou sem e tipo da patologia apresentada),
contribuindo para a aplicação prática dos profissionais que utilizam do treinamento resistido
para melhora da aptidão funcional.
A escala de percepção de esforço utilizada no presente estudo foi construída a partir do
esforço somático durante exercícios em cicloergômetro, onde a base psicofísica para utilização
dessa escala aplica-se mais aos sinais sensoriais do que a própria estrutura cognitiva de
referência como, por exemplo, o tipo de exercício que está sendo realizado, levando em conta os
esforços articulares e musculares, funções respiratória e cardiovascular, bem como o sistema
nervoso central integrando e configurando o esforço percebido (Borg, 1982).
Sendo assim, o comportamento da PSE durante as séries incrementais em exercícios
resistidos foi avaliado no presente estudo, apesar de não apresentar relação direta (valores
absolutos) com os pontos da FC como proposto por Borg (1982), talvez devido à escala ser
apresentou aumento linear com a FC no leg press (figura 27) e no supino (figura 30). Quando
analisados os valores médios de PSE correspondentes ao LLLP (figura 27) e LLBP (figura 30)
obteve-se valores de 10,8±2,5 e 13,9±2,9 respectivamente, apresentando diferenças
significativas (p<0,01) como evidenciado na tabela 49.
Apesar de os valores de PSE não terem sido acompanhadas pela FC no momento de
ocorrência dos limiares quando analisados leg press e supino respectivamente, essas diferenças
acompanharam as [Lac] (tabela 49), onde a possível explicação para os maiores resultados
perceptuais durante o LL em supino pode se dar devido ser o segundo teste realizado no mesmo
dia com um descanso de apenas 30 minutos do teste em leg press, gerando um maior estresse
metabólico como evidenciado pelas concentrações de lactato (tabela 49).
Brooks (1991), revisando os conceitos e variações do lactato durante exercício e
recuperação, demonstrou que a [Lac] é dependente da produção e remoção desse metabólito
pelo organismo. Contudo, essas duas variáveis podem sofrer alterações quando partindo de
condições diferentes, como no teste incremental em supino devido à realização de esforço
prévio até exaustão (teste em leg press) e o tempo de 30 minutos de recuperação entre um teste
e outro talvez não ter sido o suficiente para o lactato sanguíneo retornar aos valores de repouso,
como evidenciado nessa mesma amostra em outra fase do estudo (figura 31) um tempo de 45 a
60 min para uma significativa remoção do lactato, além disso, no estudo de Brooks (1991) é
apresentada uma figura onde o lactato no sangue 20 minutos após realização de exercícios tende
a retornar aos valores basais, o que talvez possa não ter ocorrido no presente estudo após
realização do teste em leg press até o início do teste em supino (30 minutos de recuperação).
Apesar dos maiores valores para [Lac] e PSE nas intensidades correspondentes aos
limiares obtidos em leg press em comparação ao supino (tabela 49), verificou-se que o estresse
significativas quando comparado às intensidades de obtenção dos limiares para ambos os
exercícios incrementais resistidos (tabela 49), fortalecendo a utilização dos métodos para
determinação das intensidades limiares neste tipo de exercício em diabéticos tipo-2.
Em exercícios resistidos apesar de não ter ocorrido diferença estatisticamente
significativa entre as intensidades relativas (%1RM) correspondentes ao LL e LG nos métodos
propostos (tabela 49), observou-se que o LLpLP tendenciou a superestimar os valores obtidos
nos outros métodos (exemplo – figuras 17, 18 e 19 e tabela 49). Tais resultados vem ao encontro
do já descrito previamente em relação a utilização da função polinomial, explicando dessa
forma as maiores intensidades absolutas (kg) encontradas do LLpLP quando comparadas ao LLLP
e LLvLP (tabela 49).
Por outro lado, quando comparada às intensidades absolutas (kg) correspondentes ao LL
e LG nos diferentes métodos entre leg press e supino, como esperado, observou-se menores
valores para supino em todos os métodos quando comparado ao leg press (tabela 49), devido a
maior massa muscular envolvida na realização deste último exercício como refletido nas
maiores 1RM obtidas previamente para membros inferiores em relação aos membros superiores
(tabela 3).