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7. DISCUSSÃO

7.5 Efeitos da Intensidade do Exercício Resistido no Controle Glicêmico

Diversos estudos (Minuk et al., 1981; Delvin et al., 1987; Holloszy et al., 1987; Wing et

al., 1988; Burstein et al., 1990; Martins & Duarte, 1998; Poirier et al., 2001; Bruce & Hawley,

2004; Hawley & Houmard, 2004; Tokmakidis et al., 2004) tem procurado investigar os efeitos

do exercício aeróbio no controle glicêmico e sensibilidade à insulina em diabéticos tipo-2. Para

tanto, os efeitos do exercício resistido na resistência à insulina e na homeostasia da glicose vem

ganhando atenção nos últimos anos (Fluckey et al., 1994; Eriksson et al., 1997; Honkola et al.,

1997; Ishii et al., 1998; Castaneda et al., 2002; Dunstan et al., 2002; Baldi & Snowling, 2003).

Vale ressaltar que apenas um desses estudos investigou os efeitos agudos do exercício resistido

no controle glicêmico em sujeitos diabéticos tipo-2 (Fluckey et al., 1994). Com isso o presente

estudo procurou investigar os efeitos agudos de sessões de exercícios resistidos em diferentes

intensidades, sendo uma delas supostamente abaixo do LL e LG previamente identificado

As tabelas 59, 60 e 61 apresentaram os resultados para as sessões de testes retangulares

realizados nas condições 23%1RM, 43%1RM e CONT. Foram analisados os efeitos do

exercício resistido em forma de circuito (25 min) durante sua execução, bem como durante 120

minutos pós-exercício e comparados ao repouso de cada sessão. Foi observada uma redução

significativa da Glic (p<0,001) em ambas as sessões de exercício (23%1RM e 43%1RM), em

todos os momentos durante os exercícios e 120 minutos pós-exercício. Na sessão controle essa

redução também foi evidenciada (p<0,001) a partir dos 15 minutos da recuperação devido ao

tratamento com agentes hipoglicemiantes e dieta balanceada (tabela 2), favorecendo a captação

de Glic e conseqüentemente o controle glicêmico mesmo sem a intervenção do exercício físico.

No entanto, nas sessões de exercício observou-se que o controle glicêmico potencializava-se já

após o primeiro circuito de exercícios (8 minutos após o início da sessão), enquanto na sessão

sem exercício esse controle glicêmico (Glic reduzida) fora observado apenas nos momentos que

correspondiam à recuperação do exercício, ou seja, 40 minutos mais tarde.

De maneira geral, analisando o comportamento glicêmico nas três sessões retangulares

de exercício, é possível inferir que a sessão 23%1RM proporcionou uma maior redução na Glic

absoluta (figura 32) e percentual (figura 33) perdurando até 15 minutos pós-exercício com

redução de aproximadamente 32% (de 120,8 para 81,3 mg.dl-1) em comparação a sessão

controle (p<0,05) com uma queda nesse mesmo momento de 20%. Já a sessão a 43%1RM

apresentou esse mesmo comportamento, porém, de forma mais atenuada (figura 32 e 33)

quando comparado a sessão controle (p>0,05) com uma redução na glicemia em 27% aos 15

minutos pós-exercício.

Com isso, optou-se por calcular a AAC em todos os pontos após o início das sessões

retangulares (tabelas 59, 60 e 61) procurando quantificar o estresse glicêmico em cada ponto,

controle, essa variável reflete a área total de Glic a qual a amostra de diabéticos tipo-2 do

presente estudo estava submetida durante as sessões (23%1RM, 43%1RM e CONT) e 120 min

após as mesmas. Como demonstrado (tabela 62 e figura 36) uma sessão de exercícios resistidos

a 23% de 1RM contribuiu significativamente para o controle glicêmico de diabéticos tipo-2. O

cálculo da ATAC (mg.dl-1 x min) na sessão a 23%1RM apresentou valores reduzidos até 75

minutos pós-exercício quando comparado ao dia controle (p<0,05). Além disso, tendências a

valores significativos também foram observadas aos 90 minutos (p=0,058) e 120 minutos

(p=0,060) pós-exercício na sessão a 23%1RM quando comparada a sessão CONT. Por outro

lado, a ATAC referente à sessão 43%1RM não apresentou diferenças nem com a sessão CONT

nem com a sessão 23%1RM.

Poucos estudos investigaram os efeitos agudos do exercício resistido no controle

glicêmico de diabéticos tipo-2. Fluckey et al. (1994) investigaram o efeito de uma sessão de

exercícios resistidos entre 50 e 100% de 10RMs no comportamento glicêmico e sensibilidade à

insulina em diabéticos tipo-2, e verificaram uma queda significativa nos níveis de insulina até

18 horas pós-exercício, entretanto, a melhora da resposta insulinêmica não foi acompanhada por

uma queda nos níveis de Glic, sugerindo que esse tipo de exercício pode influenciar na ação da

insulina, atenuando a hiperinsulinemia do indivíduo diabético, e refletindo na necessidade de

uma menor carga de insulina para uma mesma Glic, ou seja, uma melhora na sensibilidade à

insulina.

No presente estudo o comportamento glicêmico não foi investigado a partir de um teste

de tolerância à glicose, talvez impossibilitando comparações com outros estudos, e sim a partir

da comparação das concentrações glicêmicas entre sessões de exercício e sessão controle. Os

apresentam efeito hipoglicemiante significativo quando comparado ao controle. Por outro lado,

a sessão de exercícios de maior intensidade (43%1RM) não diferiu da sessão controle.

Apesar da sessão mais intensa (43%1RM) do presente estudo não ter apresentado efeito

adicional no controle glicêmico em relação à sessão controle, talvez sessões de exercício

resistido com maior intensidade possibilitem uma maior sensibilidade à insulina, como

evidenciado no estudo de Fluckey et al. (1994), através de um efeito agudo tardio, atenuando a

hiperinsulinemia da amostra de diabéticos estudada até 18 h pós-exercício sem mudanças no

comportamento glicêmico. Estudos adicionais investigando os efeitos agudos do exercício

resistido em diabéticos tipo-2, acompanhando variáveis como a insulina e a Glic e utilizando

metodologias como um teste de tolerância a glicose devem ser realizados.

Durante o exercício o aumento da captação de Glic pode ocorrer tanto dependente de

insulina pelo aumento da sensibilidade desse hormônio, como pela própria musculatura sem

ação da insulina favorecendo a entrada de glicose na célula (Wasserman et al., 1991b).

No presente estudo não foi possível analisar o comportamento da insulina, entretanto,

uma redução significativa na Glic foi observada após realização de exercícios a 23%1RM, e a

possível explicação para essa ocorrência pode ser suportada por alguns estudos. Greiwe et al.

(2000) aplicando 60 minutos de exercício em cicloergômetro a 65% do VO2pico em indivíduos

saudáveis, observou uma aumentada expressão do conteúdo de GLUT-4 após a atividade. Dela

et al. (1994) demonstraram que esse aumento no GLUT-4 em resposta ao exercício aeróbio, em

diabéticos tipo-2 (58,0±2,0 anos de idade), pode ser menor quando comparado a sujeitos da

mesma idade e peso sem a doença, porém, maior (p<0,05) quando comparado a indivíduos sem

exercício. Outro estudo em modelo animal (Kawanaka et al., 1997) aplicando duas horas de

natação por cinco dias com 2% do peso corporal, evidenciou um aumento de 87% no conteúdo

controle (p<0,01). Além disso, alta correlação foi evidenciada entre GLUT-4 muscular e

responsividade a insulina (r=0,98; p<0,05) até 42 horas pós-treinamento, sugerindo que as

variações na responsividade da insulina com o destreinamento (42 h após) podem ser devido as

mudanças no GLUT-4 muscular.

Quando considerado os benefícios do exercício resistido, os achados de Kawanaka et al.

(1997) podem estar associando-se com os resultados encontrados por Fluckey et al. (1994), que

demonstraram uma melhor ação insulínica até 18 horas pós-treinamento resistido em diabéticos

tipo-2 suportando as hipóteses de que o controle glicêmico, observado no presente estudo

(diminuição da Glic - figuras 32, 33 e 36), pode ter ocorrido tanto por uma maior sensibilidade à

insulina como por um conteúdo de GLUT-4 aumentado em resposta ao exercício resistido a

23%1RM, possibilitando uma maior captação de Glic nos diabéticos tipo-2 estudados.

Entretanto, estudos adicionais investigando o aumento da expressão protéica e de mRNA de

GLUT-4 após uma sessão de exercícios resistidos em diabéticos tipo-2 são necessários.

Com relação às [Lac], observou-se um aumento significativo (p<0,05) durante a

realização das sessões de exercícios (23%1RM e 43%1RM) os quais permaneceram elevadas

até 30 minutos pós-exercício em ambas as sessões (tabelas 59 e 60). Após os 45 minutos de

recuperação pós-exercício as [Lac] retornaram aos valores de repouso pré-exercício (p>0,05), e

como esperado a sessão de exercício mais intensa promoveu um maior aumento do lactato ao

fim do 2º e 3º circuitos de exercícios e 15 minutos pós-exercício quando comparada a sessão

menos intensa (p<0,05). Esses resultados demonstram a maior contribuição da via glicolítica na

produção de energia para a sessão 43%1RM quando comparada a 23%1RM, podendo-se gerar

hipóteses de correlações inversas com a menor captação de glicose como apresentado nas

figuras 32 e 33. Contudo, mais estudos são necessários para avaliar os efeitos da via de

As [Lac] durante a realização das sessões retangulares não apresentaram valores

absolutos representativos das intensidades abaixo do LL, principalmente nos circuitos 2 e 3 de

exercício (tabela 49 e 59), apesar de demonstrarem valores diferentes entre as duas sessões

(figura 31), sugerindo as diferenças nas intensidades dos exercícios realizados abaixo e acima

do LL em exercício resistido. Esses resultados podem ser explicados a partir da característica de

exigência do exercício resistido, que predominantemente é neuromuscular, onde no decorrer da

realização de uma série desse tipo de esforço, as contrações intramusculares tendem a aumentar,

potencializando a oclusão parcial dos leitos vasculares envolvidos com a musculatura em

atividade dificultando assim a remoção de produtos de degradação (ex.: [Lac]) produzidos

durante o esforço.

A FC obtida durante a realização das sessões de testes retangulares em exercício

resistido tendenciou a apresentar um comportamento semelhante com a lactatemia (tabelas 59,

60 e 61 e figuras 34 e 31). Observando as variações durante a realização dos exercícios (figuras

34) a FC não apresentou diferenças significativas entre as sessões. Porém, a sessão realizada

com maior intensidade (43%1RM) refletiu em valores significativamente maiores (p<0,05) de

FC até 60 e 90 min pós-exercício quando comparados à sessão controle, enquanto que para a

sessão menos intensa (23%1RM) esses aumentos persistiram apenas até 30 minutos pós-

exercício quando comparados ao controle (figura 34).

Alguns autores (Alonso et al., 1998; Almeida & Araújo, 2003) relatam em seus estudos

o aumento linear da FC em decorrência da intensidade do exercício progressivo aeróbio, bem

como os efeitos crônicos desse tipo de exercício na FC já são constatados de longa data

(Karvonen et al., 1957).

Por outro lado, respostas cardiovasculares em função do exercício resistido ainda são

influência do intervalo de recuperação na FC e duplo produto (DP) em decorrência de séries de

extensão de joelho em jovens saudáveis. Esses autores concluíram que apesar da FC não sofrer

variação em intervalos de recuperação de até dois minutos, o DP apresentou-se

significativamente maior (p<0,05) quando comparado tempo de recuperação de um e dois

minutos, tendo importante aplicação prática na prescrição de exercícios resistidos em

populações especiais como a do presente estudo, uma vez que os mesmos podem apresentar

problemas cardiovasculares como por exemplo PAM elevada (tabela 2), sugerindo a partir dessa

análise maiores tempos de recuperação entre séries, e sessões de exercício resistido abaixo do

LL (ex. 23%1RM) por apresentar menor taxa de sobrecarga ao miocárdio e ainda resultar em

diminuição significativa da Glic durante e após a realização dos exercícios.

Quando analisada a PSE durante as sessões de testes retangulares, como esperado devido

ao aumento do volume de trabalho realizado ao longo da sessão, verificou-se um aumento

significativo dos valores de PSE dentro de cada sessão (tabelas 59 e 60), sendo esses valores

maiores ao fim dos circuitos 2 e 3 quando comparados ao 1º circuito (p<0,05). Na figura 35

observou-se que além dos aumentos intra-sessão, diferenças significativas da sessão 23%1RM

comparada à sessão 43%1RM imediatamente após o fim do 2º circuito (p<0,01) e 3º circuito

(p<0,001) também ocorreram. A média dos valores perceptuais relatados pela amostra do

presente estudo imediatamente ao fim da sessão de exercícios menos intensa (23%1RM) foi

11,8±2,5, enquanto que para a sessão mais intensa (43%1RM) essa foi 14,3±2,8 pontos na

escala. Considerando que a PSE correspondente ao LL em exercício resistido no presente estudo

foi de 10,8±2,5 e 13,9±2,9 para supino e leg press respectivamente, com uma média geral entre

ambos os exercícios de 12,3±3,1 pontos na escala, nossos resultados demonstram que

intensidades de exercício resistido abaixo do LL e LG proporcionam menores valores de PSE

validada em exercícios aeróbios (Borg, 1982), os valores médios apresentados no presente

estudo estão de acordo com valores em torno de 12 a 13 pontos para intensidades

correspondentes ao LA evidenciado por outros estudos (Kunitomi et al., 2000; Pardono, 2005).

A explicação para esses valores acima e abaixo do LL e LG em exercício resistido

estarem de acordo a outros estudos com modelos aeróbios, pode ser justificada a partir da base

psicofísica para utilização dessa escala que fundamentalmente aplica-se aos sinais sensoriais do

sujeito questionado em qualquer tipo de esforço, sem talvez considerar a referência cognitiva

(tipo de exercício realizado), onde a interação dos esforços articulares e musculares e aspecto

cardiorrespiratório permitem ao sistema nervoso central configurar o esforço percebido (Borg,

1982).

Os resultados de PSE encontrados no presente estudo vêm a contribuir para a

fundamentação teórica em relação à realização de exercícios abaixo das intensidades limiares

propostas em esforços resistidos, onde já se evidenciou essa importância a nível metabólico

(controle glicêmico no presente estudo) e cardiovascular (taxa de sobrecarga imposta ao

miocárdio em esforços de menor intensidade), visto as características e implicações da amostra

estudada (diabetes tipo-2). Entretanto, novos estudos devem ser realizados visando um maior

esclarecimento em relação à utilização desses limiares e suas implicações no exercício resistido

nas diversas populações, principalmente portadoras de patologias, bem como da utilização da