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4.2.1 Resposta do Lactato ao Exercício Físico

Alguns autores sugerem que com a diminuição da oferta de O2, a respiração mitocondrial

é estimulada pelo aumento da adenosina-difosfato (ADP), pelo fosfato inorgânico (Pi) e pelo

NADH extramitocondrial. Esses mesmos fatores estimulam a glicólise anaeróbia, a qual

aumenta a formação de NADH extramitocondrial. Tais modificações, combinadas com o

aumento do NADH mitocondrial, resultam em um aumento ainda maior do NADH

citoplasmático, o qual desvia a ação da lactato-desidrogenase (LDH) em direção à formação de

lactato (Brooks, 1991).

Apesar da controvérsia existente em relação aos mecanismos que controlam a produção

de lactato, a literatura nas últimas décadas vem relatando que a concentração de lactato no

sangue varia pouco do repouso para exercícios moderados, todavia, exercícios intensos e muito

intensos oferecem aumentos exponenciais da concentrações de lactato, tanto no músculo quanto

no sangue (Wasserman et al., 1967).

Vale salientar que a concentração de lactato depende do balanço entre a liberação de

lactato – influenciado principalmente pela produção de lactato nos músculos em atividade, não

refletindo, porém a sua produção total – e sua remoção do sangue. Nesse sentido, embora o

músculo esquelético seja o maior sítio de produção e liberação de lactato durante o exercício,

outros órgãos – como fígado e pele – podem também produzir e liberar lactato. Durante o

com outra porção, menos significativa, podendo ser convertida em glicose (Wasserman et al.,

1989; Brooks, 1991).

O aumento exponencial do lactato sanguíneo decorrente de uma determinada intensidade

submáxima de esforço pode refletir um aumento exponencial de sua liberação pelo músculo

e/ou uma diminuição da capacidade de remoção. Essa menor remoção pode ocorrer pela

diminuição do fluxo de sangue para a região explânica – fígado e rins – em intensidades de

esforço acima do limiar anaeróbio, refletindo em incapacidade dos músculos em extrair e oxidar

o lactato na mesma velocidade em que ele é liberado. Assim, em exercícios de cargas

retangulares, em intensidades menores ou iguais ao limiar anaeróbio, verifica-se um equilíbrio

dinâmico de lactato sanguíneo, já em exercícios acima do limiar anaeróbio observa-se acúmulo

de lactato sanguíneo (Wasserman et al., 1967; Beaver et al., 1986).

4.2.2 Resposta da Glicemia ao Exercício Físico

Durante o exercício o comportamento da glicemia é um ponto chave para os sistemas de

controle hormonal, fazendo com que o organismo responda a diferentes situações como em

jejum e/ou pós-absorção para manter a homeostasia da glicose no sangue.

Winder et al. (1979) e Winder (1985) descrevem o importante papel dos mecanismos

fisiológicos existentes para regulação hormonal da glicogenólise e gliconeogênese hepática

durante o exercício, onde tanto o glucagon como as catecolaminas plasmáticas podem

potencializar esses sistemas e refletir em aumento da glicemia.

A manutenção ou aumento das taxas glicêmicas durante exercícios tanto de cargas

constantes como incrementais respectivamente, podem ser explicados tanto pelas maiores

pelo aumento da intensidade do exercício, promovendo a maior liberação de hormônios

hiperglicemiantes como o glucagon e a adrenalina (Chmura et al., 1994).

Um estudo de Simões et al. (1999) investigou o comportamento da glicemia e lactato

sanguíneo durante testes incrementais em pista, com a utilização de diferentes metodologias

(com e sem hiperlactatemia induzida). Nesse estudo observou-se que a glicemia, em ambos os

protocolos adotados, apresentou aumento em intensidades superiores ao limiar anaeróbio,

demonstrando comportamento semelhante com as concentrações de lactato no sangue.

Em se tratando da regulação da glicemia em diabéticos tipo-2, o exercício físico pode

estimular a captação muscular de glicose, onde geralmente o transporte de glicose para as

células ocorre via insulina. No entanto, na condição diabética isso poderia se tornar mais difícil

devido aos possíveis defeitos na via de sinalização da insulina (Bruce & Hawley, 2004; Holmes

& Dohm, 2004; Ivy, 2004; Krook et al., 2004). Contudo, o transporte pode ser potencializado

durante a realização de exercícios (Maughan et al., 2000), devido à translocação aumentada do

GLUT-4, atuando na captação da glicose sem a necessidade de insulina.

Nesse sentido, o propósito desses processos, citados anteriormente, é fornecer substrato

para o trabalho muscular e manter a concentração plasmática de glicose. Vale ressaltar que, cada

um desses processos é controlado por mais de um hormônio, que estarão influenciando de forma

mais pronunciada ou não as taxas glicêmicas (Brooks et al., 1996). Assim, é possível que

exercícios de cargas retangulares a intensidades supra ou sub-limiares resultem,

4.2.3 Resposta da Ventilação ao Exercício Físico

Durante exercícios leves e moderados uma maior quantidade de oxigênio em relação aos

níveis de repouso é requerida pelos tecidos, permitindo que a ventilação (VE) aumente

proporcionalmente ao aumento do volume de oxigênio consumido (VO2) e volume de dióxido

de carbono produzido (VCO2) (Skinner & McLellan, 1980; Davis, 1985). Sob essas condições o

aumento da VE ocorre principalmente por um aumento da profundidade da respiração

(Maughan et al., 2000). Sob essa intensidade de exercício, considerando o aumento na demanda

metabólica, com predomínio de produção de energia a partir do metabolismo aeróbio, alguns

autores denominam essa fase de hiperpnéia isocápnica (Denadai, 2000).

Com o aumento da intensidade do exercício e, conseqüentemente, das concentrações

sanguíneas de lactato, a acidez metabólica devido à produção de íons hidrogênio (H+) se

acentua, resultando em aumentos na VE e VCO2 maiores que o VO2, ocorrendo com isso um

aumento desproporcional no equivalente ventilatório de oxigênio (VE/VO2) e taxa de troca

respiratória (RER) que então estariam possibilitando a identificação da transição aeróbia-

anaeróbia (Skinner & McLellan, 1980). Com esses expressivos aumentos nas variáveis supra

citadas, considerando exercícios intensos e o acúmulo do lactato sanguíneo, a hiperpnéia passa a

ser substituída pela hiperventilação, ou seja, aumento da VE acima da demanda metabólica,

agora devido principalmente a frequência respiratória (Maughan et al., 2000), mecanismo

atuando na tentativa de compensar a acidose metabólica decorrente da maior intensidade de

exercício (Skinner & McLellan, 1980).

Segundo Skinner & McLellan (1980), Beaver et al. (1986a), Maughan et al. (2000) e

Simões (2002), o aumento da VE ocorre especialmente devido ao aumento da produção de CO2,

diminuição das reservas alcalinas, resultando em queda do pH sanguíneo a partir de uma

determinada intensidade de exercício. Essas alterações podem estimular com maior intensidade

o centro respiratório, no tronco cerebral, responsável pelo controle respiratório, com

consequente hiperventilação e identificação do limiar ventilatório. Esse mecanismo foi

demonstrado por Beaver et al. (1986) indicando um novo método de identificação do limiar

anaeróbio, pela variação gasosa.

Entretanto, a identificação do limiar anaeróbio a partir das respostas ventilatórias e sua

similaridade às respostas lactacidêmicas tem sido alvo de alguns estudos. Hagberg et al. (1982)

investigou pacientes que apresentavam a síndrome de McARDLE (deficiência na fosforilase

muscular) durante exercício incremental, sugerindo que a “população especial” estudada

apresentava normalmente o aumento da VE e de forma exponencial próximo aos 70% do

VO2máx sem que ocorresse acúmulo de lactato sanguíneo, além do que os aumentos na

ventilação e lactatemia não apresentam relação de causa-efeito.